segunda-feira, 25 de março de 2024

'Vamos conhecer Aracaju através da música?', por Mário Sérgio Félix

Legenda da foto: Ismar Bareto tem lugar cativo na evocação a Aracaju

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 21 de março de 2024

Vamos conhecer Aracaju através da música?
Por Mário Sérgio Félix *

A nossa capital completou no último dia 17 de março 169 anos. Essa nossa menina cresceu, se tornou uma linda mulher cantada em versos e prosas por nossos poetas, cantores e compositores, poetisas, cantoras e compositoras.

Muitos declararam o seu amor, a sua poesia à nossa capital, e que se fôssemos fazer um programa musical sobre Aracaju acredito que teríamos músicas para promover esse programa em mais de três horas. E com certeza sobrariam músicas para outros programas.

Mas o intuito aqui não é de trazer músicas que enaltecem a nossa capital. Pretendemos mostrar uma forma de passeio, de forma a levar você aos quatro cantos da Aracaju de todos os sergipanos. Garanto: o nosso passeio será maravilhoso.

O professor, cantor e compositor Kleber Melo nos apresenta uma Aracaju de forma diferente, já nos remetendo à periferia. Nos versos de “Circular Cidade”, Kleber passeia e nos indica o quanto cresce essa cidade.

“Entro pela Soledade, saio pelo Lamarão,/ Camarão de água doce,/ ou quem sabe no Mosqueiro,/ que me entreguei por inteiro,/ e onde me fiz, Porto Dantas/ tantas desventuras, Alto do Jaqueira/ escura, ou nas trocas do Siqueira,/ acordei no Sol Nascente,/ peguei onda na Aruanda,/ Rua da Frente, como cresce/ essa cidade em grande velocidade, Matapuã e Getimana”. Sim, eis aí uma boa síntese-retrato!

Legal também é pegar carona com Paulo Lobo e descobrir que Aracaju tem é gente, viu? E gente que anda, passeia nas “Ruas de Ará”. E não pense que todos eles se escondem. Afinal, Paulinho dá o tom e nos diz quem são essas pessoas.

Segundo Paulinho, “tem gente que é terra,/ tem gente do mangue,/ tem velho safado, deputado marajá,/ preto que é nobre,/ tem até aquela senhora/ que vem lá da Soledade,/ um moço que vai trabalhar,/ e espia, dondoca doideca,/ doutor de traveca, tudo isso nas ruas de Ará!”.

E passeando pelas ruas de Ará, Paulinho descobre que “tem gente bacana,/ olha só, falsa baiana,/ boçal, tem vagal, tem paxá”,/ e arremata quando diz que na nossa cidade “tem mentira e verdade,/ todo dia nas ruas de Ará”.

Não sei se você sabe, mas Caetano já escreveu sobre a “Moqueca de Cação” do João do Alho – nosso histórico restaurante que não sobreviveu à pandemia de Covid.

Quem provou, provou e lambeu os “beiço”. Quem não provou, vai ficar com água na boca. Ah, e quer saber onde encontrar “Aracaju” por Caetano Veloso? Vai lá no disco “Cinema Transcendental, de 1979. Aliás, a música é uma parceria com Tomás Improta e Vinícius Cantuária. É muito legal Caetano mostrar o seu carinho por nossa capital.

Antônio Rogério e Chiko Queiroga também trazem o seu local predileto por nossa capital, quando te convidam para visitar as nossas “praças e avenidas tão belas,/ da Colina, vejo a cidade jovem,/ divina, meu coração se apaixona por essa menina”.

Não sei você, mas quando olho Aracaju da Colina, parece que estou abraçando uma “coisa” que muito amo, porque, claro, da colina, você abraça toda a cidade, do Santo Antônio, ao bairro mais longínquo que os nossos olhos podem alcançar.

Ainda em Aracaju, o poeta-cantor e jurista Sérgio Lucas nos convida a passear no Siqueira Campos, nos remetendo ao seu nome de origem, “De Lá do Aribé”.

Lucas invoca o grande agitador cultural Hilton Lopes para nos apresentar o que tem no Aribé. Alegria e muita festa não pode faltar, afinal de contas, “De Lá do Aribé”, tem quermesse, tem fogueira, tem carnaval, cada Igreja tem sua fé, cavalgada, tudo isso sendo trazido pelo alegre Hilton Lopes, com sua dança de pajé. Tudo isso de lá do Aribé.

Nas andanças por nossa capital, a nossa praia maior não pode faltar. Cantada em verso e prosa, uma se destaca pela sua poesia, os seus encantos. Afinal de contas, é lá que o poeta vai se inspirar, sob um céu azul, beijadas pelo mar, e o poeta arremata, chamando-a de “Praia do amor” - Atalaia, composição de Vilela.

Mas, se estamos falando de Aracaju, nada melhor do que sentir saudade e imaginar-se em nossa capital mesmo morando em outro lugar. Assim, se sentiu Ismar Barreto, ao compor “Viver Aracaju”. Realmente, Ismar tinha razão, porque “Tão longe de você,/ dá vontade de morrer,/ um poço de sofrer,/ rezando pra te ver”. Impossível não sentir saudade.

Ismar nos remete a uma saudade incomparável, como aquela que quando chegamos do interior, “descer a Laranjeiras, entrar no Calçadão”. Você já teve essa sensação? Hoje está mudado, mas a sensação antigamente era que realmente você estava chegando em Aracaju.

A cada audição dessa música, vivamos intensamente mais Aracaju. Quem não lembra, nos finais de tarde, de tomar uma lá no FAN’s e se Paschoal estivesse lá, o papo estava garantido.

E pra fechar o passeio, vamos pegar carona na companhia ainda de Ismar e percorrer um pouco as madrugadas de Aracaju. “Madrugada” talvez seja a letra mais fidedigna de um momento vivido em nossa capital. Segundo o próprio Ismar, “é o que se passa na madrugada!”

“A ronda da madrugada,/ é feita por putas, soldados,/ maridos, por gigolôs e garçons,/ por dedos e línguas ferinas,/ por pais infelizes e mãe cafetã,/ boêmios e analistas, loucos e bichas,/ palhaços e compositores,/ banheiros com fedentina e cocaína,/ amendoim, Brahma e cantores,/ madrugada, fauna e flora,/ melancolia foi embora./ Petistas e otimistas, ricos e artistas,/ urologistas e sapatões, atores,/ cheques sem fundos mil,/ mil vagabundos, contrabandeando corações,/ madrugada, inda é hora,/ a tristeza foi e chora (embora)”.

* É radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias com br

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