Artigo compartilhado de Post do Facebook/Luiz Eduardo Oliva, de 9 de janeiro de 2022
Soutelo: A Discreta Elegância de um Homem da Cultura
Por Luiz Eduardo Oliva *
Por quase quarenta anos o professor Luiz Fernando Ribeiro Soutelo foi uma referência ativa como intelectual, pontuando principalmente como um guardião das coisas da cultura sergipana. Recebo a notícia de sua morte, segunda, dia 03. Verifico-lhe a idade: 72 anos. Vou ao livro “Perfis Acadêmicos” da Academia Sergipana de Letras, escrito por seu presidente José Anderson Nascimento e vejo que desde 1985 ele já fazia parte daquela Academia.
O que é de admirar é que Soutelo ingressou como acadêmico bem jovem, aos 36 anos, numa Academia repleta de intelectuais da maior grandeza, muitos com idade avançada. Portanto foi companheiro de nomes que marcaram definitivamente a cultura sergipana.
Ao adentrar ao sodalício das letras sergipanas Soutelo recebeu a aprovação pelo voto e conviveu com nomes da estirpe intelectual do historiador Silvério Fontes, do médico e compositor Antônio Garcia, do professor Felte Bezerra, dos poetas Santo Souza, José Amado Nascimento, Clodoaldo de Alencar Filho, Wagner Ribeiro, Eunaldo Costa, das poetisas Núbia Marques, Gizelda Moraes, Carmelita Pinto Fontes da historiadora Thetis Nunes, da grande educadora Ofenísia Freire, do romancista Mário Cabral, do arcebispo Luciano Duarte, do jurista Bonifácio Fortes, do museólogo José Augusto Garcez, do intelectual multifacetado Luiz Antonio Barreto do poeta e crítico literário Manoel Cabral Machado, do jurista e ex-ministro Fontes de Alencar, do romancista e também jurista Artur Oscar de Oliveira Deda, dos escritores ex-governadores Seixas Dória e Luiz Garcia, do ex-senador e cartunista Gilvan Rocha, do historiador Acrísio Torres, do jornalista e escritor Ariosvaldo Figueiredo.
São remanescentes, na Academia, da época do ingresso de Soutelo somente Anderson Nascimento, José Abud, Francisco Rollemberg e Carmelita Fontes. Significa dizer que, literalmente e literariamente Soutelo representava uma testemunha viva do fazer cultural em Sergipe por quase meio século. Coube a ele a responsabilidade de suceder o médico e fabulista (um gênero raro) José Olino de Lima Neto na Cadeira de nº 30.
Embora fosse dono de uma cultura invejável, Soutelo atuava mais na retaguarda dos órgãos que colaborou. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe é um deles, o Conselho Estadual de Cultura outro, onde foi seu presidente e um dos mais longevos conselheiros, tendo contribuído e muito para a preservação do patrimônios= histórico e artístico de Sergipe. Soutelo tinha a delicadeza de ligar para os amigos e emitir opinião sobre assuntos diversos. Não raro ligava-me para comentar meus artigos publicados neste Jornal da Cidade. Da ultima vez, perguntei por uma palestra que ele fez no início dos anos 1990, demonstrando porque São Cristóvão era a quarta cidade mais antiga do Brasil. Contou-me do parecer do historiador Hélio Vianna ao Conselho Federal de Cultura que oficializava a primeira capital dos sergipanos no patamar de 4ª cidade mais antiga e ficou de me enviar o texto, mas logo ficou enfermo.
A assistente social e professora Guadalupe Oliva, que foi colega dele quando ambos lecionavam da Universidade Tiradentes destacou sua personalidade ímpar: “inteligente, elegante, discreto e parcimonioso era um homem de educação fina e delicadeza peculiar. Era o que poderíamos descrever como ‘o bom moço’ um personagem dos Tempos do Imperador”. E completou: “Soutelo era culto, amante da história e pesquisador nato, um homem admirável”.
O corpo do intelectual Luiz Fernando Soutelo foi velado na sede da Academia Sergipana de Letras. Além da família, amigos, intelectuais, artistas estiveram presentes. Como bem disse sua irmã Luiza Maria, em discurso emocionado de agradecimento aquele momento não parecia um velório e sim um encontro cultural e um congraçamento de amigos.
O ambiente, as conversas em torno da personalidade do acadêmico demonstrava o quanto Soutelo era querido e admirado. Soutelo, de fato, foi um homem aglutinador da cultura até no ultimo momento da sua despedida. Deixou uma obra vasta, em artigos que publicou, mas muita coisa inédita.
Como sugestão, o Estado de Sergipe, através do Conselho de Cultura, bem que poderá prestar a justa homenagem publicando, quiçá pela Editora Diário Oficial – Edise, o que nos legou Luiz Fernando Ribeiro Soutelo. Será uma homenagem também à cultura sergipana.
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* Advogado, poeta, ex-secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas.
** Artigo Publicado no Jornal da Cidade/SE, edição nº 14.529 de 08 a 10 de janeiro de 2022, onde Luiz Eduardo Oliva escreve quinzenalmente.
Texto reproduzido de post do Facebook/Luiz Eduardo Oliva