segunda-feira, 1 de abril de 2019

Artigo de Clara Angélica Porto

Foto reproduzida do Facebook/Clara Angélica Porto e postada pelo blog SERGIPE..., 
para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no Facebook/Clara Angelica Porto, em 31 de março de 2019

Em janeiro de 1969, pouco depois do criminoso AI-5, eu era uma jovem universitária. Tinha uma coluna diária na Gazeta de Sergipe chamada Vida Social. Como comecei jornalismo pouco antes de fazer 17 anos, convidada por Ivan Valença, papai e Orlando Dantas conversaram e ficou decidido que eu aceitaria o convite, mas nunca pisaria os pés na redação, onde só tinha homens. E assim foi que me tornei a pequena musa da Gazeta. Todos os dias, por volta das 4 horas, deixava minha coluna no balcão da frente, com Ivan, ou seu Orlando. Ouvia as vozes da redação, do outro lado da parede fina: ‘Ela está aqui!’ Ancelmo Gois, que na época era foca do jornal, encarregava-se de avisar. ‘Ela hoje está de azul... de amarelo...’ Ancelmo ficava olhando pela porta entreaberta que dava acesso à redação. Nino Porto, meu irmão, mandava acabar a saliência. Eu tentava não rir. E seu Orlando me olhava sobre os óculos de leitura com aqueles olhos cor de esmeralda e balbuciava algo inaudível que significava que a coluna estava entregue e está na hora de ir embora. Eu adorava essa corte diária e saia de lá me sentindo linda e querida. Ezequiel Monteiro, que também tinha olhos de esmeralda, passou a deixar pequenos poemas diários no quadro verde de avisos. Seu Orlando respeitava, Ivan curtia muito e não apagavam, para que eu pudesse ler, afinal era poesia de Ezequiel para a musa do jornal. E assim é que todos os dias, eu ganhava uma estrofe amorosa de Ezequiel, que hoje, lamento não ter anotado. Com o passar do tempo, daria um caderno. Aí Ancelmo, além de anunciar somente ‘ela chegou’, anunciava ‘tá lendo’, ‘tá rindo’ ...
Hunald Alencar dizia que eu era a cronista que é notícia. Porque eu fazia teatro, organizava festas com Pedrito Barreto, aprontava em Aracaju. Já o pai dele, Clodoaldo de Alencar, dizia que eu escrevia Vida Socialista, pelo teor político da minha coluna.
O que eu não sabia era que estava no olho dos militares, que acompanhavam de perto a minha vida, sem a admiração dos colegas da Gazeta.
Eu havia sido convidada por Wellington Mangueira para compor como Secretária de Imprensa a chapa para eleição do DCE encabeçada por João Gama. Ganhamos a eleição, o que logo me colocou na lista negra do 28 BC, e passaram a me seguir diuturnamente, sem que eu percebesse. Seu Ursino, Ramos, muito amigo da família, percebeu um Jeep que andava devagar onde quer que eu fosse e ficou desconfiado, mas nada falou, para não me assustar nem a meus pais. Apenas ficou atento e passou a me dar conselhos como nunca sair sozinha de noite.
Em dezembro de 68 fomos veranear na Atalaia Nova, o que foi muito incentivado por seu Ursino, que convenceu papai, que estava relutante, apesar da oferta generosa de Guega (Aglae Fontes), que ofereceu a casa que não iria usar naquele verão.
Em janeiro, atravessei o rio de tó-tó-tó com meu irmão Carlos Henrique, que sempre me acompanhava e cuidava, para vir a Aracaju me matricular na Faculdade. Ao chegarmos na nossa casa da rua S. Cristóvão, fui logo trocar de roupa. Lembro ter escolhido um vestido amarelo que eu gostava muito, e fiz uma trança para domar os cabelos de muita praia e poucos cuidados. Alguém chamou. Eu e Carlos Henrique corremos para o portão de ferro da grande varanda e vimos um senhor careca, moreno alto, que perguntou pela jornalista Clara Angelica. ‘Sou eu, o que deseja?’ O homem disse ‘chame a sua mãe, deve ser ela, você é uma menina’. Retruquei: ‘Não senhor, sou eu mesma. Pode falar’. Então ele me comunicou que eu estava indiciada pelo exército brasileiro e teria que seguir com eles para o 28BC. Carlos Henrique disse que a irmã dele não iria sair sozinha num Jeep com dois homens, que ele estava ali representando meu pai e que eu precisava me matricular na Faculdade. O homem respondeu que eu teria que estar dentro de uma hora no 28BC. Carlos Henrique disse que iria comigo de ônibus e o homem aceitou, dizendo para não ousarmos não ir, pois eles estavam de olho. Seu Ursino, que também morava na rua São Cristóvão, viu o Jeep passar e o seguiu, compreendendo o que estava acontecendo. Foi à Atalaia Nova e avisou meus pais. Papai, que era amigo de infância do General Djenal Tavares de Queiroz, logo telefonou para ele, avisando e pedindo interferência. O General prometeu ajudar.
Fui de ônibus com Carlos Henrique para o 18 do Forte e subimos a então já famosa colina.
Lá chegando, dois homens já me aguardavam e avisaram a meu irmão que eu seria levada para um interrogatório e ele podia ir embora. Carlos Henrique disse que iria esperar por mim e ficou sentado no galpão, enquanto eu seguia com os homens.
Na sala, haviam três homens, um diante de uma máquina de escrever, e mais dois, um dos quais moreno de bigode e que se apresentou a mim como Major Bandeira.
Logo que sentei, de frente ao Major, ele me apontou uma pasta enorme e alta, cheia do que parecia documentos e fotos e perguntou: ‘Sabe o que é isso’? Respondi que não. Ele então iniciou um pequeno discurso de que eu era muito jovem, bonita e inteligente, de boa família e não devia andar com quem não presta. Eu ouvia atenta e calada. O major abriu a pasta e começou a me mostrar fotos onde eu aparecia, ora dançando feliz em festinhas do DCE na faculdade de Química, ora na praia, na piscina da Atlética, comprando maquiagem em A Moda, na faculdade, na posse do DCE. Depois jogava colunas na minha frente, onde eu defendia igualdade social, liberação da mulher; em uma delas eu defendia maternidade para mulheres que queriam ser mães mas não queriam casar; em outra, eu louvava o conhecimento de história e dialética de Wellington Mangueira; em outra, uma crônica sobre o casamento de meu primo Carlos Cruz com Maria Stael. O major pedia o porque de cada coisa. Na crônica de Carlinhos e Stael, eu encerrava falando da felicidade deles e de como era triste que numa sociedade desigual, nem todos pudessem viver momentos lindos como aquele.
Foi aí que o major me ofereceu um cigarro, que aceitei. Um homem veio por trás de mim e deu um tapa no cigarro, antes que eu o tivesse acendido. O cigarro voou longe e meus lábios sangraram um pouco. Fitei o major longamente, calada. Nada disse. Ele não me olhou de volta. E continuou falando como se nada tivesse acontecido. Serviu-me um cafezinho, que deixei ali, na mesa, sem tocar. A um certo momento, não resisti e peguei o café para tomar um gole. Outro tapa fez a xicrinha de plástico voar longe. Dessa vez, atingiu meu dedo mindinho. Um outro homem entrou e falou ao ouvido do major. Não sei quanto tempo havia se passado, algumas horas, pois passamos muito tempo olhando e explicando o dossiê.
A partir desse momento, o major mudou o tom do discurso, e passou a me dar conselhos. Que me limitasse a escrever crônica social, que não falasse de política, muito menos de política estudantil. Que eu era filha de um homem honrado e devia ter cuidado. Chegou até a falar de si e da família e pedir que eu os promovesse no jornal. Eu escutava a tudo calada.
Então ele passou a me perguntar se eu conhecia Wellington, João Gana, Jackson Barreto, Didi Macedo, Alencar e Aglae, uma lista imensa. Eu ia dizendo que sim, que conhecia todos, que Aracaju era uma cidade pequena e todos nos conhecíamos. Ele tentou aprofundar sobre o nível dessas relações e eu, que rapidamente entendi que ele havia recebido um recado favorável para mim (pensei logo em papai e general Djenal), menina de trança com sorriso meigo, desviava e a tudo respondia sem nada dizer. Tornei-me mestra em falar e falar e nada revelar. Sou assim até hoje. Acho que aprendi naquele dia. Ficamos assim horas, ele tentando colher e eu me fazendo de desentendida, fazendo cara de menina.
Foi aí que ele disse que iria me liberar, mas que ficariam de olho. A partir daquele momento, minhas colunas seriam previamente censuradas e só se publicaria o que passasse. Fez uma lista de assuntos que eu não podia escrever.
Quando sai da sala, onde havia entrado umas 9 h da manhã, já eram quase 4 horas da tarde. Encontrei Carlos Henrique sentadinho, a me esperar. Nosso abraço foi intenso.
Voltamos direto para a Atalaia Nova, onde encontramos nossos pais, com seu Ursino ao lado, amigo de verdade é assim. Pediram que eu não falasse sobre o assunto com ninguém, a pedido do general Djenal. Assunto morto, disse papai - é uma ordem!
Com o coração em frangalhos, fui para o quarto finalmente chorar e depois, Carlos Henrique me levou para tomar um banho de mar, que foi curativo e libertador.
Ao chegar na Gazeta para deixar a coluna, seu Orlando, grave, me chamou para uma conversa e disse que não era só eu, todo o jornal estava sob vigilância diária e nem uma palavra seria publicada sem censura prévia. Aconselhou-me que desse um tempo sem falar em política e questões sociais, que me detivesse a assuntos sociais e não socialistas e a assuntos culturais. Foi a época que publiquei muita coisa do movimento hippy que começava nos Estados Unidos, e usava arte como metáfora de mensagens.
Continuei indo varias vezes com Didi Macedo no fusquinha dela, para as imediações da fábrica do Bairro Industrial às 5 da manhã, distribuir panfletos mimeografados e cheirando a álcool, que a turma executiva clandestina fazia nas caladas da noite. Cobríamos os números da placa do fusca de Didi com fita isolante preta, um 0 virava um 8, cada dia uma invenção. Papai me trancou no quarto para eu não ir para o congresso de Ibiuna, eu havia sido convidada por Wellington. Foi Tina no meu lugar.
Também continuei dando as aulas de Wellington nas escolas públicas dos bairros e era Jackson Barreto quem me acompanhava, levava de ônibus. Enquanto eu dava as aulas, ele conversava com os estudantes levando clareza - os dois ensinávamos, eu dentro e ele, fora da sala de aula. Depois Jackson, um cavalheiro, me deixava na porta de casa, exigência de papai, e caminhava para a casa dele na rua de Estância. Fazíamos tudo por Wellington. Amávamos Wellington, que era nosso grande líder e muito nos ensinava.
Nesse mesmo ano, em setembro, conheci o homem que viria a ser meu marido pouco mais de um ano depois.
Ivan Valença um dia escreveu sobre mim, que a repressão me levou a buscar o amor, que acabou me levando para longe.
Mas ficou a marca desse dia. Em todas as minhas memórias de Aracaju, todas lindas, ficou a cara daquele major de bigode, daquele tapa, do gosto de sangue na boca. Ficou o retrato da amargura da ditadura militar no Brasil. O que se passou comigo nada é, comparado aos horrores sofridos por nossos amigos próximos e por milhares de brasileiros.
Não há nada para comemorar.
Ditadura nunca mais!

Texto reproduzido do Facebook/Clara Angelica Porto

sábado, 30 de março de 2019

Genealogia Sergipana


Publicado originalmente na fanpage Facebook/Lilian Rocha, em 23 de março de 2019

Genealogia Sergipana 

Sempre fui muito ligada à família e, sobretudo, a histórias de família. Adoro saber os costumes da época, como os casais se conheceram, onde moravam, por que os filhos receberam aqueles nomes, enfim, esse sempre foi um assunto que me fascinou. Infelizmente, poucas são as pessoas que sequer sabem o nome completo dos seus avós e, muito menos, dos seus bisavós...

Mas eu conheci uma pessoa infinitamente mais curiosa que eu. Que lia, pesquisava, perguntava e anotava tudo o que ia descobrindo. Esse homem se chamava CARLOS CABRAL DE ANDRADE e era o irmão mais velho de minha mãe. Foi com ele que aprendi o significado da palavra “genealogia”.

Tio Carlos era completamente fascinado por Genealogia. Ele pesquisou tanto sobre a nossa família “Cabral de Andrade” que acabou descobrindo muito mais do que imaginava sobre os nossos antepassados. Como ele era de Capela, assim como seus pais, ele foi “andando para trás”, literalmente, até conseguir chegar aos fundadores de Capela: o capitão Luiz de Andrade Pacheco e sua esposa, Perpétua de Matos França. Esse simpático casal fez uma doação de terras, no valor de 100 mil réis, para o patrimônio da “Capela da Purificação de Nossa Senhora”. Depois que eles morreram, seu filho mais velho, Diogo Pereira Soares, doou mais 500 braças de terras à mesma capela. Isso explica, portanto, a origem do nome do município de “Capela”, já que a cidade começou a surgir em torno da velha capelinha.

E pesquisando esses velhos arquivos do século XVII, tio Carlos descobriu também que esse casal teve, pelo menos, 5 filhos. O primeiro foi Diogo que também doou terras, o segundo foi um padre e a terceira se chamava Lourença. É justamente esta Lourença que deu origem à nossa família...
Lourença se casou com o capitão Jorge Palatem, um descendente de alemão, e com ele teve dois filhos: Maria Perpétua e Manuel.
Maria Perpétua quis imitar sua mãe e também se casou com um capitão, chamado Francisco. Só que, ao contrário de sua mãe, Perpétua foi mais longe e teve 11 filhos! Seu filho mais velho chamava-se Antônio de Melo Vieira Cabral, mas era conhecido como “Capitão Melão” (cá com meus botões, eu imagino que ele devia ser gordo e como seu sobrenome era “Melo”, virou “Melão”...). Ele também foi longe, teve 10 filhos!

Mas é o segundo filho do capitão Melão o que mais nos interessa! Ele recebeu o mesmo nome do seu bisavô: Jorge Palatem de Melo Cabral. Esse Jorge teve 8 filhos, mas é o primeiro deles o que mais nos interessa...
Chamava-se Francisco Vieira de Melo Cabral. Francisco se casou com uma prima distante, chamada Honorina Telles, mas o casamento só durou 8 anos, pois ele morreu com apenas 35 anos, coitado, deixando duas filhas ainda crianças: Maria Noêmia, com 6 anos, e Graziela, com 5.
Maria Noêmia Telles Cabral foi justamente a mãe de tio Carlos, de minha mãe e de mais 7 tios. E minha avó.

Tio Carlos acabou descobrindo, portanto, os dois primeiros sobrenomes que deram origem à nossa família, pelo lado materno: TELLES + CABRAL. Restava, agora, descobrir os nossos antecedentes pelo lado paterno, ou seja, de onde teria vindo o nosso sobrenome “Andrade”...
Para isso, vamos voltar lá pra história daquele simpático casal que fundou Capela e teve 5 filhos...

Como já vimos, a terceira foi Lourença que deu origem à família de minha mãe. Depois de Lourença, nasceu Tomaz de Aquino, o quarto filho.
O primeiro filho de Tomaz chamava-se Luís de Andrade Pacheco. Luís se casou com Maria Rosa e teve 8 filhos. Mas é o primeiro deles o que mais nos interessa...

Chamava-se João de Andrade Vieira. João nasceu em Divina Pastora, casou-se com Joana e teve 8 filhos (o povo de antigamente era danado pra fazer filho...). Mas é o sexto filho o que mais nos interessa....

O nome dele também era João de Andrade Vieira, ou seja, o mesmo nome do seu pai. João se casou com Maria Rosa e teve duas filhas apenas: Fausta e Francisca.
Vocês podem até se espantar: duas filhas só? Pois é, eu também achei estranho e, por isso, fui logo olhar a data de falecimento dele e descobri que ele morreu com 29 anos apenas. Ou seja, só teve mesmo tempo de fazer duas filhas...
Bom, quando João morreu, suas filhas eram bem novinhas ainda. Fausta tinha 4 anos e Francisca, 2. Aos 21 anos, Fausta se casou com José Vieira de Andrade e teve 10 filhos. Já Francisca se casou com Pedro, que já tinha sido casado duas vezes, e teve 13 filhos! Mas é Fausta quem mais nos interessa...

Como já disse, Fausta teve 10 filhos: Emília, Maria Rosa, Francisco, Jovino, Júlio (pai de Aminthas Garcez, do cartório, e de todos esses “Garcezes” tão conhecidos: Sylvio, Décio, Carmelita, Armando, João, Paulo, Fernando, Isaura, Luís...) Amélia, Adelina (mãe do jornalista Orlando Dantas), Afonso, Eduardo e Cristina.
Mas é Francisco Vieira de Andrade, o terceiro filho dela, que vai dar no pai de minha mãe...

Francisco, que era Vieira de Andrade, se casou duas vezes. A primeira vez, com uma prima sua, chamada Maria Hercília Barreto Dantas, e teve 9 filhos: Antão, Esther (mãe de Maria Esther, de Pedro Barreto - pai de Pedrito Barreto – e de Cenyra), Bráulio, Raul, Heribaldo, Cleodice, Aloysio, Jandyra e Cordélia, todos "Dantas Vieira".
Quando sua mulher morreu, aos 60 anos, Francisco se casou de novo, quatro meses depois, com outra prima sua, chamada Elvira Cabral Leite. E com ela, teve mais dois filhos: Fernando e Ary Cabral Vieira.

Foi justamente Antão Correa de Andrade, o primeiro filho de Francisco, que se casou com minha avó Maria Noêmia. Ela “veio” lá da parte de Lourença e ele “veio” de Tomaz de Aquino, a terceira e o quarto filho dos fundadores de Capela, respectivamente.

Tio Carlos, então, descobriu os novos sobrenomes que deram origem à nossa família pelo lado paterno: DANTAS + VIEIRA. E de quebra, os Barreto e os Andrade.
E ele gostou tanto do que descobriu, que não parou mais de descobrir. Foi um incansável estudioso do assunto, por mais de 30 anos e deixou seus registros escritos à mão em mais de 20 cadernos. Sonhava em publicar, pelo menos, um deles, justamente o que continha a história de nossa família. Mas morreu em 1998, antes de realizar esse sonho.
Com o seu falecimento, parte de sua biblioteca gigantesca e todo o seu acervo de genealogia passou às mãos e aos cuidados de Petrônio, meu irmão, um outro apaixonado por livros. Mas criou-se um impasse: ninguém entendia de genealogia. E agora? Foi aí que Ricardo, meu irmão mais velho, decidiu dar continuidade àquele trabalho de três décadas.
A essa altura, já existia computador e um programa próprio pra isso que consegue cruzar as informações e vai aumentando o número de dados. Mas, para isso, era preciso digitalizar todos aqueles velhos cadernos de tio Carlos escritos à mão. E Ricardo mergulhou fundo nessa árdua tarefa. Passou para o programa de computador todos esses dados, escaneou todas as fotos e aumentou, significativamente, o número de informações E como tio Carlos, também sonhou em publicar esse trabalho. Mas morreu em 2006, antes de ver realizado esse sonho.

Com o seu falecimento, Petrônio se rendeu. Sabia que agora caberia a ele a responsabilidade de publicar e, mais do que depressa, arregaçou as mangas e tratou de aprender a mexer naquele estranho programa. Com a ajuda valiosa de um primo nosso, chamado Ricardo Teles, outro apaixonado por genealogia e que já tinha publicado o primeiro volume de Genealogia Sergipana, os dois conseguiram aprontar o segundo volume e me deram para fazer a revisão...
Bom, pra vocês terem uma ideia, isso aconteceu há mais de 3 anos atrás. O que era pra ser só uma revisão, acabou virando um trabalho enorme. Como revisar um trabalho cheio de referências, de notas de rodapé e com tantos nomes e datas que obedeciam a uma numeração estranha, feita em algarismos romanos? Confesso que foi duro! Acho que “desmanchei” esse livro umas vinte vezes, pois é um trabalho tão minucioso, que cada vez que eu retornava, depois de uma pausa de algumas semanas, por exemplo, eu já tinha esquecido qual a linha de raciocínio que eu tinha usado...
Mas devo confessar que foi um trabalho apaixonante, sem dúvida nenhuma. À primeira vista, parece um livro muito sem graça, que “não tem o que ler”. Mas é ali mesmo, no meio daquelas centenas de nomes e datas, que a gente vai conhecendo a história de muitas pessoas, de muitas famílias.
Tive pena, por exemplo, de uma certa senhora que teve vários filhos e todos morreram ainda crianças. Fiquei imaginando de que doença elas teriam morrido...
Descobri também que era muito comum um viúvo se casar com a cunhada...
Descobri que era costume batizar o próximo filho com o mesmo nome do filho que havia morrido antes. Na genealogia, isso é indicado com a observação “o segundo no nome”...
Descobri, também, que muitos dos sobrenomes “de Jesus”, “dos Anjos”, “de São José”, “da Natividade”, “da Anunciação”, por exemplo, na verdade não eram sobrenomes e sim, apenas denominações católicas que os pais davam, normalmente, às filhas, por algum motivo.

Mas descobri, principalmente, que tio Carlos tinha razão quando nos dizia que quase todos nós éramos “primos”. E a prova disso foram os vários sobrenomes que foram se juntando aos da minha família: Sobral, Mota, Guimarães, Ribeiro, Vasconcelos, Almeida, Figueiredo, Leite, Accioly, Monte, Garcez, Carvalho, Oliveira, Machado, Duarte, Góes, Muniz, Campos, Maynard, Sousa e tantos outros...

Muito mais que um livro, portanto, este é um trabalho de 60 anos que não podia ficar guardado na gaveta. Um sonho acalentado por tio Carlos Cabral e meu irmão, Ricardo. E que, graças à determinação de Petrônio e à colaboração de Ricardo Telles vai, enfim, ser realizado.

Porque, como dizia Raul Seixas, “um sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só; mas um sonho que se sonha junto é realidade...”

(Lilian Rocha – 23.03.19)

É com muito prazer que convidamos vocês para a realização deste sonho!

Dia: 10 de abril de 2019 (aniversário de Carlos Cabral)
Local: ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS
Horário: 18:30

Texto e imagem reproduzidos da fanpage Facebook/Lilian Rocha

Luiz Americano, um sergipano na história da MPB


Publicado originalmente no Facebook/Marcos Cardoso, em 29 de março de 2019

Luiz Americano, um sergipano na história da MPB

Por Marcos Cardoso

Há 59 anos, no dia 29 de março de 1960, morria no Rio de Janeiro o músico Luiz Americano Rego. Nascido em Itabaiana, ele tinha 60 anos e foi, além de compositor, um dos mais virtuosos clarinetistas e saxofonistas brasileiros.

Ele fez sucesso como compositor, intérprete e foi um solista de destaque e muito solicitado, gravando com os mais prestigiados cantores e orquestras da época. Atuou no teatro musicado e participou como músico de estúdio das orquestras da Rádio Mayrink Veiga, entre os anos 1930-1950, e da Rádio Nacional, até a sua morte. Ainda na década de 20 foi músico da Rádio Sociedade, a primeira do Brasil.

Segundo o “Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira”, o pai de Luiz Americano era mestre de banda em Aracaju e foi com ele que começou a estudar música aos 13 anos. Em 1918 foi servir ao Exército e entrou para a banda do seu quartel na capital sergipana. Serviu também em Maceió e, em 1921, foi transferido para o 3º Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro.

Depois que saiu do Exército, permaneceu no Rio e passou a atuar como instrumentista em diferentes orquestras e acompanhando algumas gravações realizadas na Odeon, onde gravou seu primeiro disco em 1927, interpretando ao saxofone a valsa “Leda” e o choro “Sentimento”, ambos de sua autoria.

Em 1928, foi para a Argentina, atuando na orquestra do baterista norte-americano Gordon Stretton. Trabalhou também com a orquestra do argentino Adolfo Carabelli. E atuou com Pixinguinha, Donga e João da Bahiana no Cabaré Assírio. Em 1929, gravou, ao clarinete, o choro "Dindinha" e, ao saxofone, o choro "Lysses", de sua autoria.

Regressou ao Rio de Janeiro em 1930, quando formou um conjunto de danças denominado American Jazz Orquestra, que durou dois anos. Em 1931, gravou na RCA Victor, de sua autoria, o choro "Numa serenata" e a valsa "Lágrimas de virgem", que foi uma das músicas de destaque do ano.

Em 1932, passou a integrar o Grupo da Velha Guarda atuando ao lado de Pixinguinha, Donga, entre outros. Logo integrou o grupo Diabos do Céu, formado por oito músicos também regidos por Pixinguinha. No mesmo ano, gravou no saxofone o choro "Eu te quero bem" e no clarinete, a valsa "Melodia de um olhar", ambos de sua autoria.

Nessa época, realizou gravações para a Odeon mostrando um repertório próprio no qual se destacam o choro "É do que há" e a outra vez a valsa "Lágrimas de virgem". Esta lhe rendeu em direitos autorais o suficiente para comprar a casa em que residiu no bairro de Brás de Pina.

Em 1933, Sérgio Brito colocou letra na valsa "Ao luar", que foi gravada na Odeon pelo cantor Castro Barbosa. Em 1934, gravou de sua autoria o choro "De passagem pela Arábia" e a valsa "Léa". No mesmo ano, gravou do maestro Radamés Gnattali o choro "Serenata no Joá" e a valsa "Vilma".

Em 1936, foi contratado como músico da Rádio Transmissora do Rio de Janeiro. No mesmo ano acompanhou a cantora Carmen Miranda no filme “Alô, Alô, Brasil”. Em 1938, a “Pequena Notável” o convidaria para ir com ela aos Estados Unidos, mas ele que já era conhecido como o homem da “clarineta de ouro” preferiu continuar no Rio.

Em 1937, integrou o Trio Carioca, com Radamés Gnattali ao piano e Luciano Perrone na bateria, numa inusitada experiência musical para a época. A idéia do grupo surgiu de Mister Evans, diretor da gravadora RCA Victor, inspirado no sucesso mundial do trio do clarinetista Benny Goodman. O Trio Carioca gravou apenas um disco com os choros "Cabuloso" e "Recordando", de Radamés Gnattali.

No mesmo ano gravou de Luperce Miranda o choro "Alma do norte" e participou como instrumentista da gravação da marcha "Mamãe eu quero", de Jararaca e Vicente Paiva. Gravou também com o Trio de Saxofones, criado por ele, a valsa "Irmã branca", de Lauro Paiva, e o choro "Eu te quero bem", de sua autoria.

Em 1938, gravou, também de sua autoria, a rumba "Meu Brasil" e o choro "O pandeiro do João da Bahiana", uma homenagem ao pandeirista pioneiro do samba carioca e, de Vicente Paiva, a valsa "Como é bom viver" e o choro "Um chorinho na Urca".

Em 1940, fez parte do grupo de músicos escolhidos por Pixinguinha, a pedido do maestro Heitor Villa-Lobos, para realizar apresentações e gravações com o maestro britânico Leopold Stokowski, que visitava o Brasil. No mesmo ano gravou ao saxofone a valsa "Vertigem", de Donga.

Participou de programas na Rádio Record, em São Paulo, e gravou com a Bandinha do Guedes na gravadora Colúmbia. Também foi da Rádio Globo.

Luiz Americano foi o solista na introdução do fox "Renúncia", sucesso que projetou o cantor Nélson Gonçalves, em 1942. Também acompanhou Silvio Caldas, Francisco Alves e Cartola. E, além de Pixinguinha, sempre esteve muito próximo de Jacob do Bandolim.

Em 1944, ele acompanhou com seu conjunto a cantora Aracy de Almeida na gravação dos sambas "O galo onde canta janta", de Roberto Cunha e Isidoro de Freitas, e "Na parede da igrejinha", de Ary Barroso. No ano seguinte, também com seu conjunto, acompanhou Aracy de Almeida na gravação dos sambas "Ele disse adeus", de Marino Pinto e Claudionor Cruz, e "João Cegonha", de Rubens Soares e David Nasser.

Em 1948, gravou na Continental, de sua autoria, o choro fandango "A clarineta do Garapa" e o choro polca "Um baile na Covanca". No ano seguinte gravou com Raul de Barros e Sua Orquestra, de sua autoria, os choros "Estes são outros quinhentos" e "Não está com tudo".

Ele não parava de ser solicitado e, no mesmo ano, fez parte do elenco e como músico do filme “E o mundo se diverte”, ao lado de Grande Otelo e Oscarito.

Em 1953, foi contratado pela gravadora Todamérica, onde estreou com os choros "Saxofone, por que choras?", de Ratinho, e "É do que há", de sua autoria, e as valsas "Aurora", de Zequinha de Abreu, e "Lágrimas de virgem", de sua autoria. Lançou pela RCA Victor os LPs "Chora, saxofone" e "Luiz Americano e seu conjunto".

Luiz Americano morreu provavelmente de cirrose, segundo noticiou o jornal “O Globo” na época, no Hospital do Radialista, onde ficara internado por mais de dois meses. Deixou viúva Erika Rego e três filhos, Leda, Lysses e Iolanda, frutos do primeiro casamento com Dulcineia. Foi sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier (Cemitério do Caju), zona norte do Rio.

Ainda no começo dos anos 1960, a RCA lhe prestou homenagem editando elepê com seus maiores sucessos. Em 2001, foi homenageado pelo selo Intercdrecords com o CD "Luiz Americano - Saxofone, por que choras?”, com 14 das suas principais interpretações.

Ary Barroso, em entrevista para a "Revista da Música Popular", em 1954, citou Luiz Americano como um dos mais importantes músicos da música popular brasileira.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marcos Cardoso

terça-feira, 19 de março de 2019

Sergipe perde uma grande figura humana com morte de Pascoal Nabuco

Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila:  um homem forte em seu tempo

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA. em 18 de Mar de 2019

Sergipe perde uma grande figura humana com morte de Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila

Sergipe perdeu nesta segunda-feira, dia 18 de março, um homem ativo, respeitado e de imensa valia nos campos da política, da justiça do Estado e de outras esferas do relacionamento humano. Trata-se do desembargador aposentado Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila, que partiu aos 81 anos – iria fazer 82 no dia 17 de agosto. Ele é de 1937.

Pascoal Nabuco foi de um tudo em Sergipe: prefeito de Estância, preso político, promotor de Justiça, secretário de Estado e desembargador, chegando à Presidência do Poder Judiciário sergipano. Era um homem conciliador, estudioso do Direito e das conformidades políticas e humanas. Tinha apenas uma cara.

Aposentado há 11 anos, em 2017 Pascoal Nabuco lançou mais um dos seus livros - e neste não deixou pedra sobre pedra na classe política de 1946 a 2016. Deu o nome de “Visão da Política de Sergipe” e o subtítulo “Tudo como dantes”. Não fez gracinha com ninguém.

Pascoal Nabuco faleceu em Salvador, na Bahia, onde esteve internado por quase um mês com problemas de enfisema pulmonar com evolução para renal. “Foram 29 dias de muito sofrimento e muito cuidado numa UTI. A dor é imensa”, disse, entre choros, a viúva, a conselheira aposentada do Tribunal de Contas de Sergipe, Maria Isabel Nabuco D’Ávila.

O velório está programado para acontecer no Cemitério Colina da Saudade, aqui em Aracaju, a partir da meia noite deste dia 18 e o sepultamento, nesta terça, 19, às 17 horas.

“O desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila foi um estudioso do Direito, um magistrado exemplar que, com dignidade, exerceu a jurisdição plena no Estado de Sergipe. Como presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe no biênio 2003-2005, realizou uma administração inovadora, voltada para o engrandecimento da instituição, merecendo, por isso, toda a admiração dos seus colegas”, disse à Coluna Aparte o desembargador Osório de Araújo Ramos Filho, atual presidente do Poder Judiciário.

O desembargador Diógenes Barreto reconheceu o valor de Pascoal Nabuco no mundo da magistratura e lamentou a morte dele. “Para mim, Pascoal Nabuco foi um homem de uma inteligência ímpar e de bom relacionamento”, disse o desembargador.

“Dentro da magistratura, ele sempre tentou conciliar, mesmo em momentos difíceis e de divergências. A marca que o doutor Pascoal Nabuco me deixa é a de uma pessoa apaziguadora. Capaz de resolver as coisas difíceis no diálogo. Eu tenho por ele um respeito muito grande. De modo, que trata-se de uma perda irreparável”, completou Diógenes.

O procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Sergipe, Eduardo d’Ávila, vai nessa mesma linha. “Para Ministério Público e para o Judiciário, Pascoal Nabuco foi um ícone. Foi um grande administrador, grande colaborador do sistema de Justiça. É um homem que com certeza nos fará muita falta”, diz Eduardo.

Pascoal Nabuco era filho de João Nabuco D’Ávila e Maria de Lourdes Nabuco D’Ávila e nasceu em Riachuelo. Passou a morar em Aracaju em 1948, onde foi aluno do Colégio Tobias Barreto, em regime de internato e depois formou-se na Faculdade de Direito de Sergipe em 1961. Ele deixa dois filhos: Pascoalzinho e Jacqueline.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

Nota de falecimento: Desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila

Imagem reproduzida do site g1.globo.com e postada pelo blog SERGIPE...

Trecho de nota publicada no site: TJSE JUS, em 18 de março  de 2019

Nota de falecimento: Desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila

É com pesar que informamos o falecimento do Desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila, ex-Presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE). O velório será realizado no Cemitério Colina da Saudade, em Aracaju, a partir das 23 horas, desta segunda-feira, 18/03, onde ocorrerá também o sepultamento, amanhã, às 17 horas.

Filho de João Nabuco D’Ávila e Maria de Lourdes Nabuco D’Ávila, nasceu em Riachuelo/SE, em 17 de agosto de 1937. Passou a morar em Aracaju em 1948, onde foi aluno do Colégio Tobias Barreto, em regime de internato. Formou-se na Faculdade de Direito de Sergipe em 1961. Casou-se em 1966 com Maria Isabel Carvalho, neta do Desembargador João Baptista Carvalho, primeiro Presidente do TJSE.

Antes de ingressar no Ministério Público, como Promotor de Justiça, em 1980, Pascoal Nabuco foi Prefeito de Estância, onde não concluiu o mandato por conta do regime militar. Ascendeu ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe em 5 de agosto de 1996. Foi Corregedor-Geral de Justiça no biênio 1999-2001, quando criou a Vara de Penas Alternativas e a Central de Mandados; e Presidente do TRE/SE no biênio 2001-2003.

Assumiu a Presidência do TJSE no biênio 2003-2005, quando reformou o antigo prédio do Tribunal de Justiça, o Palácio Silvio Romero, na Praça Olímpio Campos, criando no local o Memorial do Judiciário; construiu o Arquivo Judiciário, instalou os Fóruns Integrados e realizou um grande concurso para o TJSE. Aposentou-se em agosto de 2007...

Fonte: tjse.jus.br

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Morre o desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila

O desembargador faleceu nesta segunda, 18 (Foto: TJSE)

Publicado originalmente no site do Portal Infonet. em 18 de março de 2019

Morre o desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila

Faleceu nesta segunda-feira, 18, o Desembargador Manuel Pascoal Nabuco D’Ávila, ex-Presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE). Ainda serão noticiadas informações sobre o velório e sepultamento.

Filho de João Nabuco D’Ávila e Maria de Lourdes Nabuco D’Ávila, nasceu em Riachuelo/SE, em 17 de agosto de 1937. Passou a morar em Aracaju em 1948, onde foi aluno do Colégio Tobias Barreto, em regime de internato. Formou-se na Faculdade de Direito de Sergipe em 1961. Casou-se em 1966 com Maria Isabel Carvalho, neta do Desembargador João Baptista Carvalho, primeiro Presidente do TJSE.

Antes de ingressar no Ministério Público, como Promotor de Justiça, em 1980, Pascoal Nabuco foi Prefeito de Estância, onde não concluiu o mandato por conta do regime militar. Ascendeu ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe em 5 de agosto de 1996. Foi Corregedor-Geral de Justiça no biênio 1999-2001, quando criou a Vara de Penas Alternativas e a Central de Mandados.

Assumiu a Presidência do TJSE no biênio 2001-2003, quando reformou o antigo prédio do Tribunal de Justiça, o Palácio Silvio Romero, na Praça Olímpio Campos, criando no local o Memorial do Judiciário; construiu o Arquivo Judiciário, instalou os Fóruns Integrados e realizou um grande concurso para o TJSE. Aposentou-se em agosto de 2007.

No dia 6 de junho de 2018, abriu as portas da sua residência e concedeu entrevista, por mais de duas horas, ao Vivas Memórias, Projeto do TJSE que tem como objetivo preservar a história de pessoas que contribuíram para o Judiciário e para a sociedade sergipana. Um pequeno trecho da entrevista, que será disponibilizada na íntegra no Memorial do Judiciário, foi exibido na edição 294 do Programa Sergipe Justiça, e pode ser visto... (à partir da marca do tempo > 5:59)

Fonte: TJSE



Texto, imagem e vídeo reproduzidos dos sites Infonet e YouTube

domingo, 10 de março de 2019

O Circo de Zé Bezerra


Publicado originalmente no site 93 Notícias, em 8 de março de 2019

O Circo de Zé Bezerra
Por Antonio Samarone

Hoje tem espetáculo, perguntava o palhaço... Tem sim senhor, respondia a molecada que ia atrás, no meio da rua... Cansei de correr atrás do palhaço, para ser marcado com uma tinta, e poder entrar de graça no grande circo. Era o Circo de Zé Bezerra.

Após o terceiro sinal, entrava uma voz grave: o Circo e Teatro José Bezerra, o palácio de lona verde, anuncia e apresenta... (e entreva um fundo musical). Esse era um sonho para a minha geração. O único espetáculo que conhecíamos era o circo. E o Circo de Zé Bezerra era espacial.

Zé Bezerra, filho de Tibério Bezerra e Antonieta Bezerra (Antonieta da Pensão), casado com Dona Lourdes, filha de João Giba. Gente de Itabaiana. Não tenho como provar, mas se sabe que Zé Bezerra foi aluno de Procópio Ferreira. Zé Bezerra era um grande artista: ator, cantor, mágico e palhaço (Biriba). Como palhaço, ele contracenava com Brocoió e Tita.

O dia de maior suspense, a cidade parava, o circo revestia-se de negro, era quando o mágico José Bezerra colocava a sua mulher no espaço. Isso mesmo, solta, podia-as passar um aro em torno da mulher, como prova que não existia nenhum fio invisível. Se dizia que Zé Bezerra hipnotizava a plateia. Eu cheguei a ir com o bolso cheio de limão, pois acreditava que chupando limão quebrava o encanto, e só assim eu poderia saber a artimanha do artista. Por causa do risco, a mulher que ele colocava no espaço era Dona Lourdes, a própria esposa.

Além de circo, com palco e picadeiro, era também teatro. Cada dia com uma peça diferente. A louca do Jardim era casa cheia. A peça era uma adaptação para o teatro de um cordel, que começava em versos: “vinde musa mensageira, do reino de Eloim/Traz a pena de Apolo e escreva aqui por mim/o assassino da honra ou a louca do jardim.”

Instalado num alçapão no centro do palco do circo ficava o “Ponto”, profissional do teatro responsável por “assoprar”, em voz baixa, as falas que deviam ser repetidas, em voz alta, pelos atores. Eu conheci o teatro no Circo de Zé Bezerra, e fiquei com boa impressão.

A grandeza do Circo era Zé Bezerra e a família. A morena Iracema (filha), melhor rumbeira do Brasil. Era o segundo ato do espetáculo. Iracema com um pequeno saiote, rebolando as cadeiras, quando levantava um babado e podia-se ver a caçoula da dançarina, quase um short para os padrões de hoje, aquilo levava a patuleia ao delírio. Tudo beirava a inocência, comparando-se com as atuais dança da Rede Globo.

Iracema era casada com Vivaldo, músico do circo. Em Itabaiana, todos desconfiavam de Vivaldo. Só podia... Eita tempos atrasados. Circulando o poleiro do circo, passava um menino vendendo um “binoculo de foto”, gritando: o retrato de mãe, o retrato de mãe; era o retrato de Iracema, e não dava para quem queria.

O outro filho de Zé Bezerra, Iranildo, era o malabarista. Lourdes, a esposa, atriz nas peças encenadas. Tinha mais um filho, o mais novo, que eu não lembro o nome. O Circo de Zé Bezerra quando chegava numa cidade, pelo povo, não sairia mais. Não esqueci de Antonieta, uma portuguesa que cantava com sotaque lusitano. Uma velhinha saliente. Sempre a casa cheia. Em Aracaju, o Circo de Zé Bezerra armava perto da Rodoviária Velha, e a temporada durava mais de três meses.

Dona Breguedela, dona do rendez-vous de Itabaiana, deixava o espetáculo começar, apagarem-se as luzes, para ela entrar com as suas meninas. Só iam para as cadeiras. A discrição de Dona Breguedela no circo chamava a atenção. Pois, até mulher-dama se dava ao respeito. Elas também acompanhavam a procissão de Santo Antônio. Era tradição.

O circo acabou, faz tempo. Zé Bezerra foi assassinado em Queimadas, na Bahia. O seu corpo foi sepultado numa cova rasa. Sergipe, e Itabaiana em especial, não pode apagar da memória histórica esse grande artista. Tá na hora das autoridades procurarem a família, para transladar o corpo de Zé Bezerra para um cemitério em Itabaiana, e no local, erigir um monumento em sua homenagem. Enquanto ele não caia no completo esquecimento.

Publicado também no blogdesamarone.blogspot.com

Texto e imagem reproduzidos do site: 93noticias.com.br

‘Josa - O Vaqueiro do Sertão’

Imagem: Divulgação
Reproduzida do site: jornaldodiase.com.br

‘Josa - O Vaqueiro do Sertão’

José Grigório Ribeiro, Josa, nascido na cidade de Simão Dias, se tornou um vaqueiro muito famoso na região devido à habilidade na arte de amansar animais. Ele também foi vendedor de frutas na feira da cidade, amansador de burro brabo, militar e costureiro. Mas foi a arte de compor, cantar e tocar sanfona que projetou Josa para o universo artístico e o transformou em um dos principais nomes da cultura sergipana.

Fonte: Assessoria de Imprensa

sábado, 9 de março de 2019

Mulheres na Polícia Militar do Estado de Sergipe: 30 anos de história

Turma de sargento formadas no Pará – 1990
Foto: Arquivo Pessoal

Publicado originalmente no site do CINFORM, em 9 de março de 2019

Mulheres na Polícia Militar do Estado de Sergipe: 30 anos de história

 Da Redação 

As pioneiras romperam barreiras e ingressaram na Corporação em 20 de fevereiro de 1989

Há 30 anos a Polícia Militar do Estado de Sergipe conta com a força feminina na luta diária pela preservação da ordem pública. As pioneiras romperam barreiras e ingressaram na Corporação em 20 de fevereiro de 1989.

As primeiras mulheres foram admitidas por meio do concurso para o Curso de Formação de Oficiais (CFO) e do Curso de Formação de Sargentos (CFS). Rita de Cássia Silvestre e Fátima Cristina Fontes seguiram carreira e foram para a reserva remunerada como coronéis, último posto da Polícia Militar. As sargentos Carmelita Dantas e Joanete Dias concluíram o curso no Estado do Pará, retornando a Sergipe como as primeiras praças da Instituição.

Em 1991, a PMSE formou as primeiras policiais no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cfap), localizado no Bairro América, em Aracaju. Ao todo, seis sargentos concluíram o curso, sendo que três delas ainda permanecem em atividade, a capitã Evangelina de Deus Santos e as tenentes Marlene e Denise.

Capitã Evangelina  (Foto: Arquivo Pessoal)

A capitã Evangelina foi aprovada no CFO realizado em 2003 e hoje ocupa a função de Auxiliar na Assessoria de Comunicação da PM. De acordo com a oficial, o seu ingresso na Polícia por meio das primeiras turmas femininas, representou algo inovador, uma verdadeira quebra de paradigmas. “Nós mulheres, conquistamos espaço inserindo as qualidades femininas na Corporação, contribuindo para uma polícia mais humanizada. No início foi preciso desbravar um ambiente majoritariamente masculino, com respeito e simpatia. Hoje, após 28 anos de trabalho, cultivo grandes amizades possibilitadas pela PM, dentro e fora da Corporação”, destacou a capitã.

Já no ano de 1993, 49 mulheres foram admitidas por meio do primeiro concurso para soldados, que previa vagas para o sexo feminino. A sargento Cândida Rosa fez parte daquela turma e carrega consigo o orgulho de ter sido uma das soldados pioneiras em Sergipe. “Dentro de um pelotão composto apenas por mulheres, enfrentamos muitas cobranças e desafios, todos superados pelo amor à profissão, mesmo arriscando a própria vida, fato juramentado na conclusão do curso”. Ainda de acordo com a sargento, “apesar das lutas diárias nós somos guerreiras e sempre encontramos força em Deus para enfrentar as batalhas com sabedoria, acreditando em dias melhores na carreira profissional” afirmou a policial que exerce suas funções no Quartel do Comando Geral (QCG).

Pelotão feminino – 1993 (Foto: Arquivo Pessoal)

A sargento Adriana Ferreira também foi aprovada no concurso de 1993 e faz questão de frisar os avanços que ocorreram ao longo de 26 anos de polícia. “Em todo esse tempo muitas coisas mudaram. Somos uma geração de pioneiras que segue na luta por mais reconhecimento, tanto na sociedade como dentro da Instituição. Somos também mulheres que batalham por nossas famílias e por um mundo onde se preserve a educação, o respeito e os valores do ser humano”, concluiu a militar.

Atualmente, 452 mulheres integram a Polícia Militar do Estado de Sergipe, desde a graduação de soldado, que é a porta de entrada da instituição para as praças, passando por cabo, sargento e subtenente, até o posto superior do oficialato. Em três décadas, elas conquistaram os espaços merecidos com muita honra e trabalho, arriscando as suas vidas por um Sergipe de paz e harmonia.

Fonte: Agência Sergipe de Notícias

Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Exposição “Tempo de Contar” celebra Centenário de Joel Silveira

 Fonte da Foto: Revista Manchete

Joel Silveira foi correspondente dos Diários Associados na Segunda Grande Guerra
Fonte da Foto: Agência Nacional

Publicado originalmente no site do CINFORM, em 19 de fevereiro de 2019

Exposição “Tempo de Contar” celebra Centenário de Joel Silveira

Da Redação 
    
Por Suyene Correia [suyenecorreia@cinform.com.br]

Apesar de seu nome estar estampado numa das pontes mais importantes de Sergipe, de  ter sido um dos poucos correspondentes brasileiros na Segunda Grande Guerra, ser considerado um dos mais importantes jornalistas do Brasil e um dos precursores do “New Journalism”, Joel Silveira ainda é uma personalidade desconhecida para muitos de seus conterrâneos.

Por isso, a exposição “Tempo de Contar- Centenário de Joel Silveira”, em caráter permanente, na Biblioteca da Universidade Tiradentes (UNIT), Campus Farolândia, tem como um dos principais objetivos, oportunizar ao público que circula pelo prédio, um contato com a história desse ilustre sergipano.

Dividida em dois núcleos, a exposição sob a curadoria da historiadora Sayonara Viana e da diretora da Biblioteca da UNIT, Maria Eveli Pieruzi de Barros Freire, conta com uma parte introdutória, em que através de uma linha do tempo, é possível acompanhar fatos marcantes da vida desse lagartense, nascido no dia 23 de setembro de 1918.

O segundo núcleo é dedicado ao Memorial Joel Silveira, onde se encontra parte da sua biblioteca particular, assim como fotografias, bilhetes de personalidades da área artística, medalhas, troféus e diplomas recebidos ao longo da sua carreira profissional.

O acervo de Joel Silveira chegou em agosto de 2018, à UNIT, a partir da doação da filha do homenageado, Elizabeth Silveira. Ela pensou em doar o acervo pessoal do pai para a Biblioteca Nacional, mas ao ser convidada para participar de evento comemorativo do centenário de nascimento de Joel Silveira, na Universidade Tiradentes, preferiu que esse rico material viesse para Sergipe.

Durante três meses, os quase seis mil itens do acervo foram tratados, higienizados e catalogados por uma equipe especializada na própria universidade particular. A partir daí, começaram os trabalhos de seleção dos itens que serviriam para a exposição, tendo em vista que era um material muito diverso, da década de 1930 até a morte do jornalista, no dia 15 de agosto de 2007.

“Pesquisando sobre sua obra completa, escolhemos ‘Tempo de Contar’ (1985) para auxiliar na narrativa da exposição, que começa pela infância, seguindo pelo início dos trabalhos como jornalista e escritor, até sua participação como correspondente da Segunda Grande Guerra. Em várias entrevistas, inclusive, Joel Silveira disse que amadureceu muito durante essa cobertura. Ele voltou, aparentemente, mais velho, mais maduro e com um texto mais brilhante”, explica Sayonara Viana.

A acidez dos seus textos fez com que recebesse a alcunha de víbora, pelo chefe Assis Chateaubriand, que lhe dá como primeira missão, nos Diários Associados, a possibilidade de cobrir a Segunda Guerra Mundial. Mas antes de chegar a esse ponto alto da carreira do jornalista sergipano, o visitante percorrerá um caminho definido pelas curadoras, através de plotagens nas paredes- idealizadas pela designer Gabi Ettinger-, onde é possível acompanhar sua trajetória de vida, da infância até a fase adulta, bem como frases de sua autoria, de jornalistas que apreciam o seu trabalho e até uma poesia, “Quantos Caminhos Há no Mundo”, enviada para seu irmão Paulo, quando Joel já morava no Rio de Janeiro.

Com apenas 14 anos de idade, Silveira já escrevia em “A Voz Operária” e liderava o Grêmio Literário Clodomir Silva, do Colégio Atheneu Pedro II. Também chegou a escrever em “A Voz do Atheneu” e, em 1936, escreveu seu primeiro romance “Desespero”, sendo contemplado com o prêmio Clodomir Silva. Com 19 anos, partiu no navio Itagiba em direção ao Rio de Janeiro, a fim de estudar Direito e se distanciar do pai que tinha pensamentos “burgueses” demais para o gosto do jovem esquerdista.

Lá, começou a trabalhar no “Dom Casmurro”, a mais importante publicação literário-jornalística dos anos de 1930, que contava com nomes ilustres, a exemplo de Carlos Lacerda, Rachel de Queiroz, Aníbal Machado, Cecília Meireles, Graciliano Ramos, Jorge Amado.

Após esse contato com parte da intelectualidade carioca, Joel Silveira trabalharia ainda na revista Diretrizes, onde escreveria uma crônica “1943: Eram assim os Grã-finos em São Paulo”, chamando a atenção de Assis Chateaubriand, que o contratou tempos depois para os Diários Associados. Foi aí, que o jornalista sergipano se notabilizou no jornalismo brasileiro, como o correspondente estrangeiro mais jovem (26 anos) a cobrir a Segunda Guerra Mundial.

Na primeira parte da exposição, é possível conferir algumas fotos do jornalista no front italiano, onde passou 10 meses e cuja experiência singular, pode ser conferida no livro “Inverno da Guerra”, lançado em 2005. Além disso, também foram plotadas caricaturas dos amigos Manuel Bandeira e Cândido Portinari, a partir dos originais, presenteados por Augusto Rodrigues.

Mas é na sala reservada para o Memorial Joel Silveira, propriamente dito, que a exposição ganha força. A primeira coisa que nos deparamos, quando entramos no recinto, é a famosa estante da “Víbora” que continha um compartimento central, onde ele guardava suas garrafas de uísque 12 anos. Nesse móvel, que foi totalmente reformado, é possível encontrar em suas prateleiras, clássicos da literatura universal e brasileira, além da bibliografia completa do jornalista (foram 47 títulos).

Alguns troféus e prêmios importantes também chamam a atenção dos visitantes, a exemplo do Jabuti de 1986, concedido ao autor pelo lançamento de “Tempo de Contar”; o VI Prêmio Líbero Badaró- Destaque do Ano e uma peça em azulejo tendo o rosto de Joel Silveira, pintada por Rosa Faria, na época em que ele foi Secretário de Cultura do Estado de Sergipe, no final dos anos de 1980.

Numa das paredes do Memorial é possível observar fotos de Joel Silveira com familiares (irmãos, esposa, filhos e netos); com colegas de trabalho, como a icônica foto com os escritores que trabalhavam no Dom Casmurro; na cobertura da Segunda Grande Guerra e como correspondente internacional da revista Manchete, onde trabalhou 16 anos, tendo como chefe Zevi Ghivelder.

Também expostos na parede, é possível ler alguns bilhetes endereçados a Joel Silveira, por amigos ilustres como Aníbal Machado, Rubem Braga, Drummond, Caymmi, Jânio Quadros e Di Cavalcanti. Não faltam diplomas, medalhas, prêmios e até mesmo um certificado inusitado: o Título de Primeira Linha da Panair 1952, por ser um passageiro assíduo da empresa aérea.

Como se não bastasse tudo isso, várias estantes de ferro que ocupam a parte central da sala acolhem, em suas prateleiras, os livros que um dia Joel Silveira folheou. É possível encontrar títulos em várias línguas como japonês, russo, alemão, francês e inglês. Mas a maioria das publicações, que podem ser consultadas pelos visitantes, está em português, sendo algumas edições raras e até autografadas pelos autores.

A exposição de caráter permanente pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8 às 12h e das 14 às 18h, na Biblioteca da Universidade Tiradentes- Campus Farolândia. O acesso é gratuito.

Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Amorosa : "O calvário de uma história escrita com risos e lágrimas"


Publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, em 11 de fevereiro de 2019

Entrevista

Amorosa : "O calvário de uma história escrita com risos e lágrimas"

A exposição ‘No Coração de Alguém de Esteve Aqui’, em homenagem ao cinquentenário do poeta Araripe Coutinho, acontece na Galeria Jenner Augusto, até o dia 30 de março. Para a construção do caminho que coloca toda nudez revelada do poeta, da palavra ao corpo, um esforço coletivo da amiga Antônio Amorosa e do trio de profissionais Ana de Cáscia Martins, Hélio Aguiar e Luciana Galvão. É arte, cor, arquitetura e design de interiores na concepção e materialização do pensamento despido, do brilho intenso da ‘Estrela’, do ser humano leve de passagem breve, marcante e ensino permanente. É sobre a montagem, as lembranças, a saudade, as vontades e muito mais de Araripe Coutinho que Antônia Amorosa conversou com o JORNAL DA CIDADE. Boa leitura!

JORNAL DA CIDADE - exposição ‘No Coração de Alguém que Esteve Aqui’ despe em letras, ambientes e cores a presença do poeta Araripe Coutinho?
Antônia Amorosa - Sim. Ela traz a força da sua poesia, a generosidade do seu coração, a intensidade das suas ações, o calvário de uma história escrita com risos e lágrimas, que merece ser revisitada para ser melhor compreendida.

JC - Como se deu a construção do caminhar aos passos do poeta?
AA - Desde o dia em que seu pai me pediu para cuidar do seu acervo, que disse a ele do meu desejo de fazer uma exposição que desse às pessoas, a oportunidade que eu tive: conhecer seus múltiplos talentos, seus defeitos como suas virtudes, e entender por que seus aparentes excessos diziam mais sobre uma criança abandonada do que sobre um poeta. Quis montar esta exposição sob o olhar técnico e criativo de arquitetos e design de interiores, para revelar o menino, o poeta, o jornalista, o filho, o religioso, o cidadão comprometido com ações sociais e o ser humano que foi mal interpretado, merecendo ser realmente conhecido em sua nudez real.

JC - Inclusive, é pelo transitar e vivenciar vida e obra dele que a visitação é limitada?
AA - Não há limitação - apenas organização para promover um melhor conforto aos visitantes. Mas, qualquer pessoa que chegar de quarta a sábado, das 18h às 21h, no Espaço Semear, terá livre acesso, seguindo uma ordem de chegada.

JC - Feita a várias mãos, a mostra vai desde o que era público e notório ao que era reservado a amigos. Como foi e tem sido esse (re) encontro com as lembranças?
AA - Construir esta exposição ao lado de profissionais como Ana de Cáscia Martins, Hélio Aguiar e Luciana Galvão, tendo também a participação de Marianna Albuquerque foi, de fato, um profundo e emocionante mergulho, onde choramos várias vezes, sonhamos com ele, tivemos inspirações surpreendentes que resultaram em tudo que está presente nesta exposição. O mercado de arquitetura e design de interiores abre um novo caminho em Sergipe através deste emocionante trabalho.

 JC - Toda a ‘nudez’ (do corpo ao pensamento liberto!) de Araripe Coutinho se faz presente e respeitada em cada ambiente?
AA - Poucas pessoas sabem que Araripe era filho de uma índia, portanto, não encarava a nudez como nós! Para ele era tão natural como beber água. Andava nu em casa e recebia os amigos apenas com um lençol sobre seus ombros. Sobre o polêmico ensaio, o público se surpreende quando coloca os olhos numa fechadura e se depara com doze modelos seminus, usando a flor amarela, para questionar se as pessoas viram a arte ou o seu preconceito. O nu humano é lindo! Nós é que temos que aprender a enxergar com leveza.

JC - Há pretensão de levar a exposição para outros lugares, seja em Sergipe ou em outros estados?
AA - Somente Deus, eu e meus bons amigos sabemos do quanto renunciei ao meu trabalho de sobrevivência para realizar esta exposição porque fazer arte é missão, não é lucro. Bati em muitas portas, mas nem todos me apoiaram. Os que o fizeram estão registrados na entrada da exposição ou no livro de depoimentos. Matei um leão por dia, para esta exposição sair. E os profissionais caminharam lado a lado, cada um dando sua contribuição. Porém, quando Deus está num projeto, se Ele diz sim, quem não soma, perde uma grande oportunidade de se revelar grande. Quer conhecer alguém? Observe como trata com a cultura, o alto nível da educação. Quanto à continuidade, o acervo literário será doado ao Centro Cultural para que as pessoas possam ter acesso. Não tenho forças para manter esta exposição de forma permanente ou itinerante. Quem visitar, verá o tamanho da luta que foi travada, mas também verá o tamanho da nossa fé! A boa vontade muda qualquer coisa de lugar. Os homens é que têm sido frios com os homens. E o amor precisa mudar isso! Esta é uma exposição que prova o significado de uma verdadeira amizade.

JC - O que ainda vem por aí na celebração ao cinquentenário do poeta?
AA - A exposição segue até dia 30 de março. Após isto, faremos o procedimento oficial de entrega do acervo literário. A mobília terá um destino solidário, como sei que ele faria. Também lançaremos o site oficial com todas as suas obras, artigos e fotos que dispomos. Pretendemos também, se Deus me der forças, lançar o Concurso Literário Virtual “Araripe Coutinho”, no próprio site, para estimular novos escritores. Após isto, poderei olhar para o céu, procurar a primeira estrela e dizer: poeta, tudo que eu pude fazer para que nosso povo entendesse sua passagem pela terra, eu fiz. Agora, irei cuidar de mim e levar seu pai, de vez em quando, para ver o rio. Porque amar é uma escolha. E eu não acredito em nenhum amor que não sobreviva à morte.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

Vi a despedida de Athila, por Sebastião de Sá Figueiredo

Foto: Reprodução

Publicado originalmente no site do CINFORM, em 10 de fevereiro de 2019

Vi a despedida de Athila
Por Sebastião de Sá Figueiredo*

Acho que foi ele, o menino lagartense Athila Paixão, que vi domingo passado no Aeroporto de Aracaju. Havia um bocado de pessoas, possivelmente familiares vindos do povoado Brasília, Lagarto, que estavam ao seu lado no saguão do lugar vestidas com a camisa do Flamengo.

Faço agora a associação, porque o noticiário da tragédia do Ninho do Urubu diz que ele viajou de volta no domingo à tarde para o Rio. Em algum momento me detive no rosto do menino, porque seu tipo físico chamava a atenção, além das pessoas ao seu lado.

Também olhava para outras pessoas além daquele grupo, igualmente jovens, supondo que algumas delas iam embora definitivamente de Sergipe.

Quase menino fui embora para buscar vida nova em outra cidade. Fui e voltei depois de rodar meio mundo afora. Alguns de meus irmão não voltaram, assim como outros parentes.

Enquanto ficava mais tempo no lugar, permita-me viajar entre aspas, chegava mais avião e provavelmente Athila Paixão estava despachando sua bagagem com a família ansiosa.

Ninguém sabia o que viria depois. Apenas estávamos ali, desdenhando da vida. Fazia tempo que não ia ao Aeroporto e àquele domingo tinha sido uma opção acertada e casual para me distrair.

Lembrei, fazia tempo, de uma despedida no Aeroporto de Maceió, quando viajei para um país da Cordilheira dos Andes e teria que ficar por quase um ano longe de meus dois filhos. Vendo-os de longe, sofregamente, enquanto subia pela rampa da aeronave, em 1983.

Depois de tanto mexer com a emoção, era hora de ir embora nesse domingo; afinal, meu filho me esperava para gozar os últimos momentos do dia e se preparar para a aula de segunda-feira.

Enquanto isso, imaginava que o rapaz de 14 anos, que vestia a camisa da base do Flamengo, deveria estar chegando ao seu destino. Lá, onde ele buscava a vida e acabou chegando, dias depois, à estúpida morte com mais nove jovens atletas, infelicitando a não só desportistas brasileiros.

Eita mundo não tão surpreendente!

Sobre o Autor:
* Sebastião de Sá é professor aposentado dos cursos de Comunicação Social na Universidade Federal de Sergipe. Ex-presidente da Adufs (gestão 1995), o entusiasta do radialismo ajudou a trazer e a inaugurar os cursos de Rádio e Jornalismo no estado.

Texto e imagem reproduzidos do site: cinform.com.br