domingo, 10 de maio de 2020

Professor João Gomes Cardoso Barreto não morreu. Encantou-se!

João Gomes Cardoso Barreto: uma alma diferente!

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 9 de maio de 2020

Professor João Gomes Cardoso Barreto não morreu. Encantou-se!
Por Jozailto Lima (Coluna APARTE)

Dou-me por muito triste com a morte do amigo professor João Gomes Cardoso Barreto, ocorrida neste sábado, 9, quando ele completava 90 anos, um mês e um dia.

Ex-secretário de Estado da Educação, o professor João Gomes Cardoso Barreto, de família tradicional da histórica Maruim, era um raro exemplar humano, do tipo que tratava os demais humanos com uma humanidade que parece que estamos progressivamente perdendo.

Sempre coladinho em sua Olga tão afável quanto ele, João era uma presença viva em Aracaju. Praticava uma cordialidade presencial e porosa. Presencial que digo é a do tipo de ligar telefonicamente para saber como a pessoa amiga estava - o que resulta numa clara manifestação, uma declaração por certo, de afeto nestes tempos de mensagens eletrônicas.

João me ligava constantemente. E sempre chegava leve, com sua voz forte, segura, macia. Nunca impositiva. Queria sempre saber de mim. Da minha família, de notícias da política. De livro e de poesia. O agradabilíssimo sem enjoo e sem afetação morava neste João.

A última vez que me ligou foi no dia 21 de abril, uma terça-feira feriado nacional em memória de Tiradentes. Eu estava no banzo dessa quarentena. Quisemos saber um do outro, como estavam se cuidando.  Na última sexta, dia 8, foi a vez de eu fazer isso.

Às 11h09 da manhã a vozona firme dele me atende ao celular. Diz-me de tom bem sustentado que estavam ele e Olga trancadinhos em casa, sentindo-se muito bem, revelou-me que fizera 90 anos no dia 8 de abril, me reforçou que não tinham filhos, perguntou pelos meus e eu lhe informei.

Na conversa sobre filhos, em tom de brincadeira eu disse-lhe que ele poderia me adotar, do que ele riu alto e zombou de mim, afirmando que “seria ótimo ser o pai ainda que adotivo de um intelectual”.

João era este. João era assim. A conversa durou 2m33s. Tão boa. Tão humana. Ao desligar, jurei a mim mesmo: quando esta pandemia passar, vou fazer uma visita a Olga e a João. Mas ele não me esperou. Hoje, eu e o meu projeto de visitação nos sentimos órfãos - daí o dar-me por triste.

No dia 16 de novembro de 1967, ao tomar posse numa vaga na Academia Brasileira de Letras, João Guimarães Rosa, o João de Cordisburgo, e de “Grande Sertão: Veredas”, disse em eu discursos que “a gente morre é para provar que viveu”.

Sim, o nosso João daqui viveu. E viveu bem. Mas esse seu xará mineiro, que faleceu três dias depois da posse, ainda inscreveu na literatura nacional, como a negar a outra frase, a afirmação de que “as pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Vou então pedir licença a esse nobre João mineiro para patentear que o nosso João Barreto não morreu. Encantou-se. E, encantado, paira sobre todos nós. Estou lhe vendo flanar, amigo. E nem dou-lhe adeus, para que fique sempre em forma do que sempre fora: a cordialidade encarnada.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

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