João Gomes Cardoso Barreto: uma alma diferente!
Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 9 de maio de
2020
Professor João Gomes Cardoso Barreto não morreu.
Encantou-se!
Por Jozailto Lima (Coluna APARTE)
Dou-me por muito triste com a morte do amigo professor João
Gomes Cardoso Barreto, ocorrida neste sábado, 9, quando ele completava 90 anos,
um mês e um dia.
Ex-secretário de Estado da Educação, o professor João Gomes
Cardoso Barreto, de família tradicional da histórica Maruim, era um raro
exemplar humano, do tipo que tratava os demais humanos com uma humanidade que
parece que estamos progressivamente perdendo.
Sempre coladinho em sua Olga tão afável quanto ele, João era
uma presença viva em Aracaju. Praticava uma cordialidade presencial e porosa.
Presencial que digo é a do tipo de ligar telefonicamente para saber como a
pessoa amiga estava - o que resulta numa clara manifestação, uma declaração por
certo, de afeto nestes tempos de mensagens eletrônicas.
João me ligava constantemente. E sempre chegava leve, com
sua voz forte, segura, macia. Nunca impositiva. Queria sempre saber de mim. Da
minha família, de notícias da política. De livro e de poesia. O agradabilíssimo
sem enjoo e sem afetação morava neste João.
A última vez que me ligou foi no dia 21 de abril, uma
terça-feira feriado nacional em memória de Tiradentes. Eu estava no banzo dessa
quarentena. Quisemos saber um do outro, como estavam se cuidando. Na última sexta, dia 8, foi a vez de eu fazer
isso.
Às 11h09 da manhã a vozona firme dele me atende ao celular.
Diz-me de tom bem sustentado que estavam ele e Olga trancadinhos em casa,
sentindo-se muito bem, revelou-me que fizera 90 anos no dia 8 de abril, me
reforçou que não tinham filhos, perguntou pelos meus e eu lhe informei.
Na conversa sobre filhos, em tom de brincadeira eu disse-lhe
que ele poderia me adotar, do que ele riu alto e zombou de mim, afirmando que
“seria ótimo ser o pai ainda que adotivo de um intelectual”.
João era este. João era assim. A conversa durou 2m33s. Tão
boa. Tão humana. Ao desligar, jurei a mim mesmo: quando esta pandemia passar,
vou fazer uma visita a Olga e a João. Mas ele não me esperou. Hoje, eu e o meu
projeto de visitação nos sentimos órfãos - daí o dar-me por triste.
No dia 16 de novembro de 1967, ao tomar posse numa vaga na
Academia Brasileira de Letras, João Guimarães Rosa, o João de Cordisburgo, e de
“Grande Sertão: Veredas”, disse em eu discursos que “a gente morre é para
provar que viveu”.
Sim, o nosso João daqui viveu. E viveu bem. Mas esse seu
xará mineiro, que faleceu três dias depois da posse, ainda inscreveu na
literatura nacional, como a negar a outra frase, a afirmação de que “as pessoas
não morrem, ficam encantadas”.
Vou então pedir licença a esse nobre João mineiro para
patentear que o nosso João Barreto não morreu. Encantou-se. E, encantado, paira
sobre todos nós. Estou lhe vendo flanar, amigo. E nem dou-lhe adeus, para que
fique sempre em forma do que sempre fora: a cordialidade encarnada.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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