terça-feira, 20 de outubro de 2020

Sergipe e Bahia choram por Thomaz Cruz

Thomaz Cruz discursa nos 10 anos da ASM

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 14 de outubro de 2020

Sergipe e Bahia choram por Thomaz Cruz
Por Lúcio Prado (do blog Infonet)

A Medicina brasileira perdeu nesta quarta-feira, 14 de outubro, um dos seus mais emblemáticos vultos: Thomaz Rodrigues Porto da Cruz, ou simplesmente Thomaz Cruz. Descendente de importante família sergipana, uma das mais sobranceiras na história de Sergipe, filho de Carlos Rodrigues da Cruz, industrial progressista que presidiu a Fábrica de Tecidos Sergipe Industrial e de Celuta Porto Cruz, pessoa de primorosa formação cultural. O seu avô paterno, o médico baiano Thomaz Rodrigues da Cruz, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1871 com especialização em Paris e Londres, transferiu-se para Maruim no final do século XIX, onde conheceu Clara de Faro Rollemberg, irmã do senador Gonçalo Rollemberg, também de ilustre família sergipana. Com intensa vida política, empresarial e cultural no estado e ao lado do irmão, João Rodrigues da Cruz, fundaram a Fábrica Sergipe Industrial.

Thomaz Cruz também era neto pelo lado materno de Francisco de Souza Porto, importante político sergipano com atuação destacada nas cinco primeiras décadas do século XX. Candidato de consenso para presidir Sergipe, foi impedido de assumir o cargo em função da Revolução de 30. Chico Porto, como era conhecido, foi pai do médico Lauro Porto, falecido em 2010, aos 99 anos. As relações de Thomaz com o tio Lauro eram de profundo respeito e veneração.

Thomaz Cruz discursando na instalação da ASM em 1994. Eu escutando atentamente.

Falar da rica e profunda árvore genealógica de Thomaz Cruz, no entanto, não é escopo desse trabalho.  No entanto, urge que os historiadores de Sergipe se debrucem mais sobre esse destacado clã. Pois bem. Thomaz seguiu para a Bahia com o objetivo de estudar na vetusta Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, hoje bicentenária, a primaz do Brasil. Formando-se em 1964, fez especialização em endocrinologia nos Estados Unidos. Retornando à “Boa Terra”, destacou-se como referência indiscutível na especialidade que abraçou, com competência e seriedade. Realizando concursos, alcança a docência em trajetória memorável.

Na bicentenária Faculdade de Medicina da Bahia, Thomaz teve um périplo admirável, começando com a aprovação, em primeiro lugar, no vestibular e recebendo, na diplomação, o Prêmio Manoel Victorino.  Ingressou na FAMEB como auxiliar de ensino, depois passou a professor assistente e em seguida a professor adjunto. Chefiou o Departamento de Medicina e coordenou o Colegiado de Residência Médica da Universidade Federal da Bahia. Na sua tese para professor assistente, abordou o tema Acromegalia e defendeu posteriormente teses para o doutorado e a livre docência. Carreira meteórica que o levou a presidir a Faculdade de Medicina da Bahia de 1992 a 1996, sendo o primeiro diretor eleito pela comunidade universitária com resultado respeitado pela Congregação. Um feito extraordinário.  Na história da bicentenária instituição, apenas dois sergipanos chegaram a dirigir a faculdade. O outro foi João Francisco de Almeida, ainda no século XIX, de 1844 a 1855.

Com confrades das diversas academias brasileiras

Thomaz presidiu a Academia de Medicina da Bahia e tornou-se um dos padrinhos na fundação da nossa Academia, chegando a participar inclusive da  sessão solene para a sua instalação em 9 de dezembro de 1994, na Somese, quando profere entusiasmado discurso. A foto retrata o momento citado, ele no púlpito, e eu ao lado, como presidente da SOMESE. Nas comemorações do decenário da nossa Academia, em 2004, Thomaz está de volta com seleta e destacada delegação de acadêmicos da Bahia para prestigiar a festa da co-irmã e novamente se manifesta em exuberante oração, mostrando todo o seu orgulho e contentamento por tão expressiva data. Escritor e pensador, é autro de livros memoráveis, entre eles Perfis do meu apreço e Agudas e Crônicas. “Perfis do meu apreço” é uma consistente coletânea de discursos, conferências, artigos e crônicas que retrata em 730 páginas, toda a sua sensibilidade de cronista e memorialista, uma trajetória marcada pelo sacrossanto respeito à família, aos amigos e aos vultos baianos e sergipanos que permearam sua admirável história.

Thomaz Cruz, pelo legado que nos deixa, terá o seu nome gravado indelével no panteão dos grandes cientistas e médicos brasileiros.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blog

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