Legenda da foto: Reinaldo Moura: gozava a vida e não empunhava o poder que exerceu como adaga de afronta a nada
Publicação compartilhada do site JLPOLÍTICA, em 11 de novembro de 2021
Respeitável, Reinaldo Moura foi uma figura que encantou na vida e na política
Por Jozailto Lima (da coluna APARTE)
Estar vivo é um prenúncio claro e irrevogável de morte, esta senhora nos braços de que repousarão todos os que vivem. Uns mais cedo, outros mais tarde.
Mas a morte do bom camarada Reinaldo Moura, nesta quinta-feira, 11 de novembro, traz inoculado um conteúdo pessoal de angústia muito forte. Porque angústia mata. Aliás, tudo mata.
Liderança política e humana das melhores e das mais abalizadas que as terras sergipanas já produziram, Reinaldo Moura sentiu a mão forte da angústia ao ver o filho André Moura condenado a oito anos de prisão em regime fechado e à perda dos direitos políticos por cinco anos - incluso aí o veto à permissão para exercer funções nas esferas de Governos.
Tudo isso por obra e graça do Supremo Tribunal Federal, em decisões do dia 29 de setembro deste ano. Portanto, há menos de dois meses, e em virtude de uma banda de cuscuz azedo na qual André Moura teria enfiado o dedão durante a gestão de Juarez Batista em Pirambu há 20 anos.
Ali, com o filho pregado na cruz das dificuldades políticas futuras, Reinaldo Moura, que foi uma figura que encantou na vida e na política, sentiu fortemente a pancada. Chorou por três dias seguidos e nunca mais foi mesmo. A partir de então, viu crescer e se desdobrar em sua aba um pesado toldo de tristeza.
Claro que, pelo lógico princípio de que quem está vivo tem um compromisso inadiável com a morte, Reinaldo Moura haveria de morrer um dia.
Ele, obviamente, tem coração, tem veias e veias são vasos que empacam, rompem e comprometem os aquadutos - ou sanguedutos - do corpo e levam à morte.
Reinaldo Moura teria morrido vítima de um aneurisma cerebral, que é uma dilatação num dos vasos sanguíneos que levam irrigação até o centro do cérebro.
Mas angústia provoca isso? Um dos insumos do aneurisma cerebral é a hipertensão arterial, e angústia e desconforto pessoais ocasionam isso. São traumas que dão em trombos.
Reinaldo Moura era uma figura alegre, despojada, sempre risonha, humorada, inteligente, muito participativo dos debates políticos nas mídias sociais - inclusive com um vídeo semanal dando sempre pitacos sobre tudo. Nem de perto aparentava os 77 anos que tinha - dentro de mais um mês faria 78.
Mas desde a condenação de André, de quem sempre teve imenso orgulho, Reinaldo murchou. A esta Coluna Aparte e a seu titular, com quem se dava muito bem, pediu para sair um pouco de cena. Quis, desde aquele dia do STF, hastear sua bandeira existencial a meio mastro. Achava que filho atalharia tudo isso e isso tudo se resolveria.
“Mas o anjo do Senhor, de quem nos fala o Livro Santo / Desceu do céu pra uma cerveja, junto dele, no seu canto / E a morte o carregou, feito um pacote, no seu manto”, como diriam os versos da canção “Pequeno perfil de um cidadão comum”, do nosso filósofo-compositor Belchior.
O nosso Reinaldo Moura, a quem muitos sergipanos chamavam de Rei, pela raiz do nome, nasce em Japaratuba em 11 de dezembro de 1943, e sempre viveu e esteve bem acima da perspectiva de “um cidadão comum”, embora se irmanasse esse tipo.
Reinaldo foi radialista de respeito em Aracaju e em Salvador nos anos 70, vereador aracajuano, deputado estadual por cinco mandatos e conselheiro do Tribunal de Contas. Na Alese e no TCE, chegou às Presidências.
Era um homem de transigências. De diálogos e de bons modos, como insistiria a canção do Belchior. Um sujeito que convivia tão harmoniosamente com os contrários que acabava sendo acolhido por eles. E muito bem acolhido Era vocacionado para o legislativo, o que exerceu até no papel do fiscal de contas do TCE.
Em síntese, Reinaldo era um líder e uma pessoa humana e social de poucos defeitos. Certamente, de mais virtudes. Era um tipo que gozava a vida e não empunhava o poder que exerceu nela como uma adaga de afronta a nada e nem a ninguém.
Mas, infelizmente, os aneurismas são insensíveis e não prestam a atenção em quem é a pessoa a cujos crânios eles se propõem a estrangular.
O corpo de Reinaldo Moura está sendo velado na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe e às 7h da manhã desta sexta, 12, será levado em cortejo até o Estádio João Hora, do seu time Sergipe do coração, de onde será encaminhado para uma cremação. Que vá em paz.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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