sábado, 8 de janeiro de 2022

'O Ídolo de Meu Marido', por Lilian Rocha



Publicado originalmente do Perfil do Facebook de Austeclino Rocha, em 7 de janeiro de 2022

 

O Ídolo de meu marido 

Por Lilian Rocha  


Nunca tive muito contato com Arivaldo Carvalho, mas posso dizer que aprendi a admirá-lo, mesmo antes de conhecê-lo, graças aos olhos apaixonados de meu marido, Austeclino Rocha. Nesses 38 anos de vida em comum, vezes sem conta eu o ouvi falando de Arivaldo, como um fã fala de seu ídolo.  


Mas ao contrário desses ídolos inacessíveis que a gente cultiva, Arivaldo Carvalho era real. Um homem comum, baixinho, simples, 20 e poucos anos mais velho que Austeclino. Mas tinha uma cabeça muito adiante do seu tempo e deve ter sido isso o que fascinou meu marido. 


Foi Arivaldo quem lhe deu o primeiro emprego, na Serraria Carvalho, um estabelecimento enorme, que ficava na Avenida Coelho e Campos. Tantas vezes a gente passe por lá, ele me aponta, todo orgulhoso, o lugar onde começou a trabalhar.  


Mas Arivaldo nunca foi um patrão para Austeclino. Era um amigo, acima de tudo. Talvez tenha sido também uma espécie de pai moderno, de espírito jovem, com quem ele tinha liberdade de conversar, de sonhar, de ousar... 


Mas ele foi, sobretudo, o grande companheiro de aventuras do meu marido. E de aventuras, Arivaldo entendia como ninguém. Tanto que seus esportes preferidos eram os mais arriscados. Ele amava a vida e queria vivê-la com toda a intensidade, tanto na terra, como na água e no ar. 


Apaixonado pela velocidade, foi ele quem trouxe, em 1968, juntamente com Fernando Melo e Eduardo Pina, os primeiros karts para Aracaju, o que acabou transformando meu marido num dos maiores campeões de kart… 


A princípio, as corridas eram na Praia de Atalaia e na praça Fausto Cardoso, mas logo Arivaldo conseguiu, junto ao governador, uma área do aeroclube e ali fundou o primeiro kartódromo de Aracaju.  


Várias vezes, ele e Austeclino viajaram juntos para correr em Salvador, o kart em cima do carro e o espírito sedento de aventuras… 

 

Também foi ao lado de Arivaldo que Austeclino participou da maior aventura de sua vida: o Rally da Integração Nacional, em julho de 1971.  


Para entender o que foi isso, basta dizer que os dois percorreram mais de 4000 km, do extremo norte ao extremo sul do país, num corcel 71, passando por várias capitais… 


Foram cerca de 10 dias fora de casa, num tempo em que não existia celular e que não era muito fácil mandar notícias... 


Foi também Arivaldo quem cultivou em Austeclino o sonho de voar e pilotar... 


Foram poucas as vezes que vi meu marido triste, nesses 38 anos. Mas ontem foi um desses dias em que ele esteve mais silencioso, absorto em suas lembranças. Com Arivaldo, foi-se também um grande pedaço da vida de meu marido. Sei que doeu. E a dor dele também doeu em mim. 


Por isso, sabendo quem foi Arivaldo e fã também de todo o seu pioneirismo, não acho justo que o nosso kartódromo continue sendo chamado de “Emerson Fittipaldi”, que nem sequer sabe onde fica nossa cidade. Nada tenho contra Fittipaldi, mas não vejo necessidade de “importarmos” ídolos, se temos os nossos. Assim como não foi justo batizarem uma de nossas melhores avenidas de “José Sarney”, que nem ídolo foi. Graças a Deus, repararam essa injustiça e hoje ela se chama “Inácio Barbosa”. 


Agora está mais do que na hora de repararmos outra injustiça e dar o nome do kartódromo a quem, de fato, merece ser chamado de ídolo: Arivaldo Carvalho! 


Texto e imagens reproduzidos do Perfil do Facebook/Austeclino Rocha 

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