sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Cordelista João Firmino (1940 - 2013)


Publicado no site G1/SE, em 17/02/2013.

No dia 1º de fevereiro de 2013, a cultura sergipana perdeu uma de suas mais importantes referências na literatura de cordel. Aos 73 anos, faleceu, vítima da leucemia, o escritor João Firmino Cabral. O poeta dá nome à primeira cordelteca do Brasil, instalada na Biblioteca Municipal Clodomir Silva, uma das unidades da Secretaria Municipal de Cultura e Eventos (SMCE).

João Firmino deu início a sua carreira como cordelista ainda na adolescência, quando trabalhava na lavoura em Itabaiana, cidade natal de João. Com o auxilio do poeta Manoel D’Almeida Filho, seu mestre, produziu o primeiro folheto, onde descrevia uma profecia de Padre Cícero em versos. Esse trabalho o levou a receber, em 2002, a medalha de Mérito Cultural Serigy, concedida pela PMA. Com a morte, o escritor deixa vaga também a cadeira de número 36, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), que ocupava desde 2008.

A banca instalada no Mercado Municipal Antônio Franco, no Centro de Aracaju, era onde João Firmino comercializava seus livretos de cordel, sem deixar de incentivar e inclusive patrocinar a produção de outros cordelistas locais. O acervo de títulos postos a venda pelo poeta só não era superior, em número, ao conjunto de obras disponíveis para consulta na cordelteca que ele é patrono na Bliblioteca Clodomir Silva, o qual contribuiu também, escrevendo considerável parcela dos exemplares expostos.

Segundo a coordenadora de Extensão e Eventos da Clodomir Silva, Maria José, o poeta mantinha um estreito relacionamento com a Biblioteca. "Sua última visita foi em maio de 2012, participando como escritor convidado para uma oficina literária que reuniu professores e estudantes da rede pública de ensino. Foi uma perda muito grande para literatura de Sergipe, pois galgou seu espaço, com seus folhetos de cordel em sua banquinha. Nós da Biblioteca temos uma grande honra em ter a cordelteca com o nome dele, foi uma escolha magnífica", comenta.

A diretora da Biblioteca Clodomir Silva, Fátima Góes, fala sobre a homenagem do dia 28 deste mês. "Estamos reunindo amigos e admiradores de João Firmino, que são cordelistas, para um sarau poético, onde serão declamados versos do escritor. A família também foi convidada e de imediato aceitou comparecer a homenagem", revelou, convidando toda comunidade aracajuana para o evento.

Antônia Amorosa de Menezes, Coordenadora de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura e Eventos (SMCE), visualiza no legado deixado pelo poeta um exemplo para as futuras gerações. "Com a perda de João Firmino renasce a importância de repensarmos novos projetos em favor da literatura de cordel, que façam surgir novos Joões Firminos", comenta Amorosa, que estuda um projeto que integre as Bibliotecas da Secretaria à rede municipal de ensino, a fim de incentivar a produção da literatura de cordel entre os estudantes.

A Cordelteca João Firmino Cabral foi criada em 2003 e possui mais de 500 títulos, escritos por cerca de 36 cordelistas sergipanos e de outros locais, como Alda Cruz, Eduardo Fiscina, Chiquinho de Além Mar, Agulão e Pedro Amaro. Todo acervo fica à disposição, para consulta, dos frequentadores da Biblioteca Municipal Clodomir Silva, localizada na rua Santa Catarina, nº 314, bairro Siqueira Campos.

Perfil

João Firmino Cabral nasceu em 1 de janeiro de 1940, em Itabaiana / Sergipe. Filho de Pedro Firmino Cabral (cantador de feira e embolador) e Cecíclia da Conceição (roceira).

Agricultor desde menino, começou já na juventude a demonstrar interesse pelas letras: comprava então folhetos da Literatura de Cordel, que usava como cartilha, pois com eles aprendeu a ler.

Aos 17 anos, com o auxílio do seu mestre, o poeta Manoel DAlmeida Filho, descobriu sua vocação poética e escreveu seu primeiro folheto, uma Profecia do Padre Cícero.

Daí por diante, não lhe faltou mais inspiração e todas obras de sua autoria são bem aceitas pelo povo.

João Firmino Cabral

Falar de cultura nordestina é também falar de Literatura de Cordel. Intitulada pela forma como são vendidos os folhetos, ou seja, dependurados em barbantes (cordões), esse tipo de literatura pode ser encontrada nos mercados, feiras e bancas de jornais.

O cordel chegou à Península Ibérica no século XVI e aportou no Brasil quando Salvador ainda era capital da nação. Por volta de 1750, os folhetos começaram a surgir no Brasil, quando logo se espalhou pelo Nordeste. Atualmente, Sergipe é referência em Literatura de Cordel, uma vez que mantém em sua história nomes como João Firmino Cabral.

PORTAL INFONET - O que o fez optar pela Literatura de Cordel?

JOÃO FIRMINO CABRAL - A minha história com a Literatura de Cordel começou há 50 anos e teve como principal influência o estilo cantador de feira e embolador do meu pai, Pedro Firmino Cabral. Ainda na juventude, comecei a interessar-me pelos folhetos e acabei utilizando a literatura para aprender a ler.

INFONET - Quais autores e produções serviram como referência na escolha da Literatura de Cordel?

JFC - O autor que mais me serviu de referência foi o paraibano Manoel d'Almeida Filho, autor de obras, como "Vida, Vingança e Morte de Corisco" e "A Menina que Nasceu Pintada com as Unhas de Ponta e a Sobrancelha Raspada". Manoel tornou-se membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), no Rio de Janeiro, em 1995.

INFONET - Como se sente sendo um dos fundadores da ABLC?

JFC - Lisonjeado. Sergipe é tido como referência em Literatura de Cordel pelo interesse de escritores em traduzir a cultura nordestina para o resto do mundo. Prova disso é o desempenho do cordelista Gilmar Ferreira, que no dia 17 de Abril, tomou posse na cadeira nº 2 da ABLC.

Banca no mercado Antônio Franco é atração para sergipanos e turistas

INFONET - Sergipanos e turistas visitam constantemente a sua banca no Mercado Antônio Franco. Com a exibição, seus folhetos estão sendo divulgados em outras regiões do Brasil ou mesmo no exterior?

JFC - No Brasil já divulguei meu trabalho em estados nordestinos, como o Maranhão, Piauí, Paraíba e Bahia, embora Sergipe seja meu ponto de venda fixo. Como diversas instituições no exterior, a exemplo das faculdades, já aderem ao cordel, tive livros publicados na França e em Portugal.

INFONET - Em que você se inspira no momento em que elabora os cordéis?

JFC - A minha maior inspiração é a natureza. Além dela, julgo serem as histórias do cangaço bastante interessantes, já que a cultura nordestina está muito presente nos versos cordelianos. Interesso-me também por temas polêmicos, como o racismo, o qual me rendeu duas produções.

INFONET - Das 60 obras publicadas, quais foram as mais consagradas?

JFC - Gosto muito dos folhetos "A vingança de um inocente", "História, Vida e Morte de Luiz Gonzaga" e "A revolta de um escravo". As mais novas produções têm o enfoque na política brasileira, cujos títulos são "Os Corruptos do Brasil" e "A revolta de um escravo".

INFONET - Há um novo projeto em andamento?

JFC - Estou sempre buscando novas idéias para a construção dos cordéis. Conforme a inspiração, os trabalhos se mantêm em andamento.

Por Nubia Santana.

Texto e imagem reproduzidos do site: onordeste.com

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