Publicado originalmente no Facebook/Antônio Samarone, em 07/09/2017.
Mestre da Medicina em Sergipe - Nestor Piva.
Por Antônio Samarone.
Nestor Piva, oitavo filho de Alberto Piva e Laura Piva,
nasceu em 13 de junho de 1930, em Salvador/BA. Imigrantes italianos, operários
de tecelagem, ao chegarem ao Brasil passaram pelas fábricas dos Matarazzos, em
São Paulo; Bangu, no Rio de Janeiro; Pelotas, Rio Grande do Sul; até chegarem a
fábrica dos Catarinos, em Salvador. Nestor Piva perdeu o pai aos três anos, o
irmão mais velho, Inocêncio Piva, assumiu as funções paternas. Estudou o
primário no Colégio do Professor Eufrates, em Salvador; e o restante dos
estudos no Ginásio da Bahia. Em 1948, ingressou na centenária Faculdade de
Medicina da Universidade Federal da Bahia, criada por D. João VI. A opção pela
patologia foi precoce, desde cedo trabalhou em laboratório e dominou as suas
técnicas.
Nestor Piva foi campeão juvenil no futebol pelo Galícia,
vice-campeão baiano de vôlei pelo Fluminense, e campeão de basquete pelo Bahia.
Por muitos anos jogou tênis na Associação Atlética de Sergipe; participou do
movimento de rádio amador, e tinha um xodó especial pela pescaria. Foi fundador
e presidente do Clube de Pesca de Sergipe. Um verdadeiro desportista.
Em 1954, o Dr. Augusto Leite convidou o professor baiano
Aníbal Silvani para assumir o serviço de patologia do Hospital de Cirurgia, em
substituição ao patologista alemão Konrad Schimitt, que retornava a sua terra.
Silvani não aceitou, mas indicou o seu aluno Nestor Piva, ainda doutorando para
o cargo. Piva chegava em Aracaju na sexta à tarde, trabalhava o final de
semana, e retornava na segunda para Salvador.
Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1954. Em
1955 organizou a disciplina de patologia da Faculdade de Medicina da Paraíba.
Um ano após voltou para Salvador onde assumiu por concurso o cargo de médico do
IAPC – Instituto de Aposentadoria dos Comerciários. Em 1959 transferiu-se para
Aracaju atendendo convite dos médicos Juliano Simões e Fernando Sampaio, para
retornar ao Hospital de Cirurgia que estava sem médico patologista. Augusto
Leite e o Senador Leite Neto, conseguiram que o IAPC colocasse Piva à
disposição do hospital. Todos os exames de patologia do estado, inclusive os do
Hospital Santa Izabel, passaram a ser realizados no laboratório montado por
Piva no Cirurgia. Um fato: ele não recebia nada por isso. Ele só montou outro
laboratório, no São Lucas, quando o curso de medicina deixou o Hospital de
Cirurgia.
Nestor Piva e Osvaldo Leite foram os primeiros professores
da Faculdade de Medicina de Sergipe, fundada por Antônio Garcia, lecionando
inicialmente histologia; e em seguida, professor titular da Patologia Geral,
Especial e Bucal. Somente com a saída das instalações da Faculdade de Medicina
do Hospital de Cirurgia, Piva resolveu fundar o seu Laboratório de Patologia no
Hospital São Lucas, em sociedade com duas ex-alunas. O Dr. Piva assimilou
rápido toda a modernidade e quis que o seu laboratório emitisse laudos com
imagens digitalizadas e com as técnicas mais modernas de imuno-histoquímica.
Em 1972, transferiu-se para Brasília onde assumiu por
concurso o serviço de patologia do Hospital das Forças Armadas. Nesse período
foi professor adjunto de patologia da Universidade de Brasília, ocupando o
cargo de chefe do Departamento. Permaneceu em Brasília por quatro anos,
regressando a Sergipe atendendo o convite do então reitor da UFS, economista
Aloísio Campos.
Na área administrativa, Dr. Piva exerceu vários cargos
públicos: foi Diretor do Instituto de Biologia (1969/70); Chefe do Departamento
de Medicina Interna e Patologia (1961/68); Diretor do Hospital Universitário,
na administração do Reitor Eduardo Garcia; Pró-Reitor de Graduação, onde
implantou o sistema de créditos na UFS, substituindo o antigo sistema seriado;
Vice-Reitor da UFS; foi Secretário de Educação do Estado de Sergipe por nove
meses, no governo de João de Andrade Garcez, tendo montado uma equipe de
notáveis na educação (Gizelda Morais, Carmelita Pinto Fontes, Beatriz Góis,
Núbia Marques, Carmen Mendonça, Silvério Fontes e Thetis Nunes). Com todos
esses cargos ocupados, Piva nunca deixou a sala de aulas. Nestor Piva nomeia um
dos hospitais do município de Aracaju.
Foi um dos fundadores e primeiro presidente do Sindicato dos
Médicos de Sergipe, onde atuou por dois mandatos. No início da década de 1980,
um grupo de médicos recém-chegados da residência médica, desconhecido, estava
decidido em fundar o sindicato dos médicos em Sergipe. Como legitimar esse
sindicato, junto a uma categoria conservadora? O grupo tinha participado
ativamente do movimento estudantil na UFS, quase todos de esquerda, como
representar uma categoria tradicional? Tivemos uma ideia, vamos convidar um
médico antigo e que tenha legitimidade. Quem? Não tivemos dúvidas: Nestor Piva.
A maior cultura médica de Sergipe. Combativo, corajoso, não fugia de conflitos,
e respeitado por todos. Ninguém enfrentava Piva e quem enfrentou perdeu.
Procuramos o Dr. Piva e fizemos o convite: professor, precisamos do senhor para
legitimar o nosso Sindicato. Ele aceitou... Dr. Piva foi militante no antigo
Partido dos Trabalhadores, no tempo que isso significava acreditar em mudanças
para o Brasil. (no momento que escrevo, estou ouvindo a delação de Palocci na
TV).
Pesquisador destacado na área da patologia parasitária, a
sua tese de doutoramento em 1961, foi sobre Esquistossomose do Aparelho Genital
Inferior. Nesse período, só existiam dois doutores em Sergipe: Luciano Duarte
em filosofia e Nestor Piva em medicina. Piva fez Pós-graduação em histoquímica
com o Prof. Vialli – Universidade de Pávia – Itália, de janeiro a julho de
1961, recebendo o Prêmio Pravaz. Pós-graduação em Patologia no National
Institute of Pathology - Prof.George Glenner - Bethesda-MDUSA, de julho de 1965
a julho de 1966. Publicou (Parasitology - USA, Acta Dermato Venerealogia
Scandinávia, Riv. Italiana de Histochimica). Foi presidente da Sociedade
Brasileira de Patologia no período de 1985 - 1987.
Em 1956, Piva casou-se com a baiana Bernadete Rabello e com
ela constituiu uma família com quatro filhos: Ana Cristina, Marta, Nestor Piva
Filho e Augusto César. Em seu tempo livre, costumava distrair-se com a família
e amigos, na pesca com molinete, percorrendo nos finais de semana, as praias de
Sergipe e Alagoas, participando de campeonatos. Faleceu, sem deixar fortuna, em
decorrência de um câncer pulmonar, em 21 de outubro de 2004, em Aracaju/SE, com
74 anos. Tentou o tratamento no Hospital Universitário de Porto Alegre, e foi
tratado como indigente. Retornou a Aracaju, sabia da gravidade do seu problema
e não aceitou nenhum tratamento invasivo, só cuidados paliativos. Sepultado no
Cemitério Colina da Saudade, Aju/SE. Rendo as minhas homenagens ao querido
professor...
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Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Antônio Samarone.
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