Foto atual para Divulgação/Reproduzida do site: infonet.com.br
Postada pelo blog "SERGIPE...", para ilustrar o presente artigo.
Texto publicado originalmente no Facebook/Amaral Cavalcante, em 13 de março de 2013.
O Piano’s Bar do Zenóbio.
Por Amaral Cavalcante.
Cuidado!
Neste bar a natureza indomada de Zenóbio Alfano se precipita
sobre os teclados.
Irrompe por aqui uma tempestade de sons tão poderosa que
pode arrancar da gente a lucidez, o tino.
O Piano’s Bar ficava na pracinha da Atalaia numa casa sem
graça, enterrada meio metro abaixo da rua. Terá sido, nos primórdios, morada de
pescador, ainda guardando nas paredes de reboco a fuligem de antigos
candeeiros.
Duvido que algum outro bar nos anos 80, tornasse Aracaju tão
aldeia universal, irmã do mundo. Ali, a moçada inquieta se gastava em
reverência à grande musica, desde os lundus de Nepomuceno às lisergias de Pink
Floyd, desde a serena Nara Leão aos espantos da tropicalia. Essa cidade já foi
assim.
Vamos entrar! Na varanda, sob a proteção de amendoeiras
frondosas ficava a gataria sarada. Era onde a "jeunesse dorée" da
província afiava as garras com o olhar cacheado e certo enfado fortuito. Eram
os cobiçados pomos do jardim, delícias expostas como no éden o pecado
cor-de-rosa das maçãs. Adiante, no patamar da calçada, mesas de papo solto,
onde os amantes se apalavram, os amigos se queriam, os inimigos se
reconciliavam. E lá pra dentro, sob um telhado de caibros tortos e a
persistência de um sagüi chamado Nico - guinchador de primeira e viciado em
batata frita –, dominava a melodia selvagem de Zenóbio Alfano, com seu piano
envenenado a conduzir com danações e cânticos, o sabá de emoções coletivas.
O palco era no chão e cabia às mesas mais próximas suprir de
uísque e reverência os bruxos da orquestra. Era Pantera menino - um galgo de
dedos tristes dedilhando o coração - era Ademir, era o pequeno Fradinho, que
acreditávamos ter conluio com o diabo, tal mefistofélica era a gravidade do seu
baixo. Tuum! O som apolíneo do contrabaixo nos trazia à tona, quando o
desesperado jazz afogava nos quintos dos infernos o descompassado coração da
casa.
Zenóbio, ao piano, um cataclismo sem limites, um gênio se
esgarçando em sons como uma potestade louca a naufragar costados.
Na bateria, o timoneiro Pascoal, maneiro como se nem
estivesse ali, manso e preciso. E finalmente a elegância de Alexandre no
trompete, a placidez do intermezzo apaziguando as águas como a providência de
um farol conduzindo de volta nossas redes pródigas de sonoros peixes.
Assim era o Piano’s Bar do Zenóbio Carmelo Alfano.
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Texto reproduzido do Facebook/Amaral Cavalcante.
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