terça-feira, 12 de setembro de 2017

O Piano’s Bar do Zenóbio

Foto atual para Divulgação/Reproduzida do site: infonet.com.br
Postada pelo blog "SERGIPE...",  para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no Facebook/Amaral Cavalcante, em 13 de março de 2013.

O Piano’s Bar do Zenóbio.
Por Amaral Cavalcante.

Cuidado!
Neste bar a natureza indomada de Zenóbio Alfano se precipita sobre os teclados.
Irrompe por aqui uma tempestade de sons tão poderosa que pode arrancar da gente a lucidez, o tino.

O Piano’s Bar ficava na pracinha da Atalaia numa casa sem graça, enterrada meio metro abaixo da rua. Terá sido, nos primórdios, morada de pescador, ainda guardando nas paredes de reboco a fuligem de antigos candeeiros.

Duvido que algum outro bar nos anos 80, tornasse Aracaju tão aldeia universal, irmã do mundo. Ali, a moçada inquieta se gastava em reverência à grande musica, desde os lundus de Nepomuceno às lisergias de Pink Floyd, desde a serena Nara Leão aos espantos da tropicalia. Essa cidade já foi assim.

Vamos entrar! Na varanda, sob a proteção de amendoeiras frondosas ficava a gataria sarada. Era onde a "jeunesse dorée" da província afiava as garras com o olhar cacheado e certo enfado fortuito. Eram os cobiçados pomos do jardim, delícias expostas como no éden o pecado cor-de-rosa das maçãs. Adiante, no patamar da calçada, mesas de papo solto, onde os amantes se apalavram, os amigos se queriam, os inimigos se reconciliavam. E lá pra dentro, sob um telhado de caibros tortos e a persistência de um sagüi chamado Nico - guinchador de primeira e viciado em batata frita –, dominava a melodia selvagem de Zenóbio Alfano, com seu piano envenenado a conduzir com danações e cânticos, o sabá de emoções coletivas.

O palco era no chão e cabia às mesas mais próximas suprir de uísque e reverência os bruxos da orquestra. Era Pantera menino - um galgo de dedos tristes dedilhando o coração - era Ademir, era o pequeno Fradinho, que acreditávamos ter conluio com o diabo, tal mefistofélica era a gravidade do seu baixo. Tuum! O som apolíneo do contrabaixo nos trazia à tona, quando o desesperado jazz afogava nos quintos dos infernos o descompassado coração da casa.
Zenóbio, ao piano, um cataclismo sem limites, um gênio se esgarçando em sons como uma potestade louca a naufragar costados.

Na bateria, o timoneiro Pascoal, maneiro como se nem estivesse ali, manso e preciso. E finalmente a elegância de Alexandre no trompete, a placidez do intermezzo apaziguando as águas como a providência de um farol conduzindo de volta nossas redes pródigas de sonoros peixes.

Assim era o Piano’s Bar do Zenóbio Carmelo Alfano.
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Texto reproduzido do Facebook/Amaral Cavalcante.
Reações, comentários e curtidas, em post original, no Perfil do
Facebook/Amaral Cavalcante >  http://bit.ly/2jkdGZz

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