A Famosa fotografia - De pé, a partir da esquerda: Luís Travassos, José Dirceu,
José Ibrahim, Onofre Pinto, Ricardo Vilas, Maria Augusta Carneiro Ribeiro,
Ricardo Zarattini e Rolando Frati. Agachados: João Leonardo Rocha,
AGONALTO PACHECO, Vladimir Palmeira, Ivens Marchetti e Flávio Tavares.
Publicado originalmente no Portal Infonet, em 05/09/2017.
Agonalto Pacheco e o Hércules 56.
Por Marcos Cardoso.
Há dez anos, a morte do velho comunista Agonalto Pacheco...
Há dez anos, a morte do velho comunista Agonalto Pacheco,
aos 80 anos, reduzia a fileira dos que defendiam uma sociedade ideal, um mundo
onde todos seriam iguais e teriam acesso aos bens e serviços de acordo com suas
necessidades. Marxista, defendia o socialismo científico, que estabeleceu os
meios para se atingir a sociedade de iguais que substituiria a ordem injusta e
imoral do liberalismo capitalista. Pura utopia, a história insiste em provar. A
democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os demais, como disse
Churchill, e o homem moderno não conhece democracia fora do sistema
capitalista, infelizmente — ou não.
Agonalto era um romântico que levou às últimas consequências
a realização do seu sonho. Militante desde a adolescência do Partido Comunista
Brasileiro, o Partidão, mudou-se para São Paulo após o golpe de 64, onde se
aliou à Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, principal
dirigente da luta armada contra a ditadura. Era o homem simples, de Aquidabã,
pegando em arma contra o regime militar.
Foi preso em janeiro de 1969 quando organizava uma reunião
nacional de proscritos. Torturado no Dops de São Paulo para delatar Marighella,
que sabia onde estava escondido, resistiu estoicamente. O pau-de-arara e a
cadeira do dragão não dobraram o sergipano magro, comprido, suave, mas de
propósitos definidos, que possuía a convicção dos que sabem onde querem chegar.
“Essa frente que eu abracei é uma frente como outra qualquer,
mas com um agravante: você pode sair aleijado, cego ou para o cemitério”,
contou no depoimento para Osmário Santos mais de dez anos depois do fim da
ditadura, mas ainda como quem guardava um segredo escondido por trás das
palavras. Por causa da tortura e, principalmente, de um murro no estômago
passou vários dias sem poder se mexer.
AGONALTO IMORTALIZOU-SE NA FOTOGRAFIA — No dia 4 de
setembro, os companheiros da ALN e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro
(MR-8), dentre eles o jornalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira e o
jornalista Franklin Martins, realizaram o ato mais ousado da guerrilha urbana
no Brasil: o sequestro, no Rio de Janeiro, do embaixador dos Estados Unidos no
Brasil, Charles Burke Elbrick. O resgate seria pago com a libertação de 15
presos políticos e a divulgação de um manifesto.
Alguns daqueles presos políticos se tornaram conhecidos,
como José Dirceu, que viria a ser homem forte do PT e no primeiro governo Lula,
e Vladimir Palmeira, ex-deputado federal e também fundador do PT. Eles aparecem
na célebre foto onde 13 dos 15 que iriam para o exílio posam, mãos amarradas,
em formação de time de futebol, à porta do Hércules 56 que os levaria ao
México. Antes passariam em duas capitais: Recife, onde apanhariam o legendário
líder comunista pernambucano Gregório Bezerra, e Belém, onde pegariam Mario
Zaconatto, um jovem militante do PCB.
Agonalto Pacheco imortalizou-se naquela foto, o segundo da
esquerda para a direita, entre João Leonardo e Vladimir, agachado na pista do
Galeão. São 13 quase maltrapilhos, aspectos sofridos, barbas por fazer.
“Ficamos sobrevoando o Estado do Amazonas. Eles ficaram
sobrevoando, ameaçando jogar a gente no rio Amazonas. Foi uma viagem
apreensiva. Chegamos ao México no dia 7 de setembro, à tarde, pois eles achavam
que podiam ainda localizar o embaixador. Comunicamos nossa chegada no México, e
aí eles soltaram o embaixador”, contou.
O governo atendeu às reivindicações dos revolucionários, os
presos políticos foram enviados para o México e o manifesto foi publicado nos
principais jornais e divulgado em todas as rádios e televisões. Quando o
embaixador foi libertado, seguiu-se uma feroz repressão, que levou ao
assassinato, ainda em setembro e sob tortura, de Virgilio Gomes da Silva, o
“Jonas”, e de Carlos Marighella. Na noite de 4 de novembro de 1969, o líder da
ALN foi surpreendido por uma emboscada na capital paulista. Foi varado pelas
balas dos agentes do Dops sob a chefia do delegado Sérgio Paranhos Fleury.
O ESPÍRITO CONCILIADOR DO VELHO COMUNISTA — Agonalto Pacheco
viveu no exterior, principalmente em Cuba, retornado ao Brasil após a anistia
sancionada em agosto de 1979. Primeiro São Paulo, depois Aracaju. Na capital
sergipana, onde fora vereador no final dos anos 50, ele voltou à atividade
política, trabalhando no Partidão ou no PMDB e em alguns pequenos cargos
públicos. Nas atividades partidárias, Agonalto era respeitado pela experiência
e pela tranquilidade com que defendia suas teses. Era um conciliador, sempre
disposto a pacificar as posições contrárias.
Depois que o seu querido PCB naufragou, ele desiludiu-se da
política. Morreu amargurado com a vida pública, segundo revelam seus filhos.
Mas manteve a simplicidade e a dignidade até o fim.
O espírito conciliador do velho comunista estava presente no
próprio velório, onde os cristãos se benziam e faziam orações silenciosas
diante do corpo inerte do materialista dentro de um caixão coberto pela
bandeira vermelha do Partido Comunista.
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/marcoscardoso
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