segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

35 Anos Depois


Facebook/JorgeNascimento Carvalho 9 de dezembro de 2018

35 Anos Depois

Por Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento

O livro História da Educação em Sergipe, de Maria Thétis Nunes, foi publicado em 1984, pela Editora Paz e Terra. Em 2019 ele completará 35 anos em circulação. O livro apresenta a única síntese produzida até hoje sobre o assunto, tornando-se referência obrigatória dentre os estudos sergipanos da área. Maria Thétis Nunes, a sua autora, foi uma aplicada estagiária do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB, na década de 1950, quando se ligou a intelectuais como Nelson Werneck Sodré e Álvaro Vieira Pinto. Na História da Educação em Sergipe, Thetis Nunes manteve a mesma perspectiva teórica e o mesmo rigor metodológico que assumira desde o estudo que publicara em 1962, ainda no ISEB, sob o título de Ensino Secundário e Sociedade Brasileira. Historiadora de profissão, ao tratar da educação sob a perspectiva isebiana, Thétis assumiu o viés interpretativo que dizia ser a história das lutas de classes o modelo interpretativo fundamental do fenômeno educativo, licenciando-se para, a partir daí, fazer uma série de operações analíticas, nas quais as evidências que extraía das fontes se prestavam a localizar as relações entre burguesia e proletariado. Também para identificar os interesses defendidos pelas classes dominantes. Na sua interpretação, ela assumiu os pressupostos da história monumento que Fernando de Azevedo estabeleceu, sob os quais somente se viabilizara uma política educacional consistente no Brasil depois que o campo foi dominado pela ação dos chamados “Pioneiros da Educação Nova”.

Maria Thetis Nunes não apenas produziu uma narrativa histórica, mas elaborou um modelo teórico. Ela buscou apreender na estrutura os modos através dos quais a sociedade atuava no indivíduo, uma vez que, como entendia, mesmo sendo autônomos, os indivíduos estavam subordinados a tal estrutura. Apoiada nos marcos cronológicos estabelecidos por Fernando de Azevedo, Thetis Nunes lançou seu olhar sobre a legislação referente à educação. Para contextualizar o seu objeto se valeu de fontes secundárias (bibliográficas e manuscritas) a fim de apreender o panorama econômico, base do seu estudo. Entendeu que a educação no Brasil, desde as suas origens, se constituiu num transplante de ideias importadas de outras realidades e que, por isso, não se ajustavam ao panorama nacional.

Dessa forma, afirmou que o Estado sempre abdicou da responsabilidade sobre o sistema educacional.

Thétis Nunes interrogou suas fontes de modo a manter a escrita da história dentro do viés econômico determinista. A História da Educação em Sergipe, de Maria Thetis, valorizou a importância do sujeito/indivíduo que ocupava posição destacada na gerência dos negócios educacionais da Província e do Estado de Sergipe. Ao estudar os processos educativos, ela buscou compreender o modo como tais homens atuaram. Este foi um esforço presente nos seus estudos. Das discussões emergiram problemas que concerniam à historiografia educacional e à teoria da história que orientava a sua produção. A autora buscou os sentidos da experiência histórica e das vivências que analisou. O pioneirismo dos seus estudos e o esmero com o rigor metodológico das perspectivas teóricas que assumiu transformaram a autora, juntamente com José Calasans e José Antônio Nunes Mendonça, numa espécie de “santíssima trindade” da historiografia educacional sergipana, inspirando teórica e metodologicamente as gerações de pesquisadores que trabalharam tomando os seus estudos como fonte. Do legado da História da Educação em Sergipe, a herança mais forte foi a marca de uma peculiar teoria marxista e a referência obrigatória aos estudos do campo neste Estado. As discussões a respeito da obra de Maria Thetis revelam que, em 2019, ao completar 35 anos de publicada, a sua História da Educação continua importante para recompor trajetórias e lugares de intervenção no campo educacional, ensejando uma compreensão mais acurada dos processos mediante os quais foram cotejados e postos em disputa os padrões de formação da vida educacional sergipana.

O livro de Maria Thetis Nunes, nos últimos 34 anos, cumpriu diversos papéis. Dentre eles, o da celebração de uma memória que criou vínculos de identidade entre os profissionais da educação e os pesquisadores da História da Educação em Sergipe do tempo presente e aqueles que atuaram sob o período da Província e da Primeira República. Ao verificar essa experiência, ela trabalhou o sentido da construção de um passado de lutas gloriosas para os intelectuais da educação em Sergipe, tentando demonstrar os momentos no quais intelectuais sergipanos do campo se puseram à frente dos seus pares de outras regiões do Brasil. Sempre foi explícita em relação a esse tipo de problema ao falar do trabalho do historiador e político Felisbelo Freire, afirmando que o regimento da instrução pública aprovado por aquele governante do Estado de Sergipe, no período republicano, antecipou a reforma Benjamin Constant, implementada posteriormente a partir do Rio de Janeiro, a capital da nascente República.

Esta sempre foi uma discussão ao gosto da historiadora Maria Thetis Nunes. A polêmica a respeito do pertencimento das ideias e a busca incansável das novidades que nasceram na periferia. A História da Educação em Sergipe, de Maria Thetis Nunes, trouxe a marca forte de uma vigorosa, original e criativa historiadora que, acima de tudo, celebrou a memória da educação. Na memória que produziu, a educação atuou invariavelmente como instrumento fundamental para a modernização da vida de Sergipe e do Brasil, viabilizando o progresso.

Maria Thetis Nunes era membro da Academia Sergipana de Letras e morreu em 2009. Sua História da Educação em Sergipe completará 35 anos de publicada em 2019. Suas ideias são imortais.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho

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