terça-feira, 9 de julho de 2019

João Oliva, um Riachão de cultura para preservar

Imagem extraída de vídeo do YouTube e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 05 de Julho de 2019

Opinião - João Oliva, um Riachão de cultura para preservar
Por Patrícia Dantas*

Na última quarta, 3 de julho, durante a despedida do senhor João Oliva, cantaram Trem das Onze, de Adoniram Barbosa. Simplesmente não aguentei. Fui surpreendida por aquele som tão familiar, e ao mesmo tempo já tão distante.

Se fechasse os olhos, por segundos, abraçaria o meu pai, que se foi há muito tempo, e vivia cantarolando a canção. A sensação de reencontro foi muito forte, mas veio levemente e caudalosa feito um riachinho.

Foi ali que entendi porque eu e Mércia Oliva, filha do jornalista João Oliva, perdemos horas conversando, nas raríssimas vezes em que nos encontramos, e sempre parece que foi ontem.

Entendi porque com ela não tenho vergonha de ser quem sou. Acho que pertencemos à mesma linhagem. Somos pontes que ligam o ontem ao hoje, as guardiãs de um museu de boas “velharias”.

E naquela quarta, 3 de julho, para a minha alegria, percebi que não estamos sozinhas. O João de Maria, do Riachão, dos 11 filhos, dos netos artistas, fez família numerosa, plantou e colheu abundantemente. Temos uma boa quantidade de museus recém-inaugurados, cheirando a novo, levando adiante o conteúdo cultural dos Oliva.

Sergipe perde o jornalista, intelectual, poeta, escritor, homem de incrível saber que, com certeza, fará muita falta aos que com ele conviveram. Mércia perde o paizinho carinhoso, o amigo confidente, uma verdadeira joia rara do outro século e, por isso tudo, perde muito mais.

Com seu João, vai um tanto de gentileza, honradez, cultura vasta e ética, valores tão raros hoje. O próprio escritor descreve magistralmente, no seu livro “Mural de Impressões”, o que vem a ser um homem gentil, referindo-se ao médico João Garcez, cuja leitura, tão leve quanto ele, recomendo com urgência, para que possamos lembrar, uns aos outros, os valores humanos esquecidos ou pouco valorizados atualmente.

Museus servem para isso. Para nos recordar de nós mesmos, saber quem somos e para onde queremos ir. Por sorte, tivemos seu João por 96 anos a repassar seus saberes e vamos torcer para que as novas gerações visitem os museus da gente e bebam das águas dos nossos riachinhos e riachões. Garanto que elas são cristalinas, cristalinas, cristalinas.

[*] É jornalista, servidora do Ministério Público do Trabalho e bailarina nas horas vagas.

Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br

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