terça-feira, 2 de julho de 2019

O Menino do bairro Santo Antônio


Publicado originalmente no Facebook/Marlene Alves Calumby Calumby, em 01 de julho de 2019.

O Menino do bairro Santo Antônio

A História do Realizador Perseverante

A capacidade para aceitar responsabilidades indica a medida de um homem (Roy L. Smith).

“Aos doze anos ele sonhou de olhos abertos, o que se tornaria seu sonho preferido. ”

Com o braço confortador do pai sobre os ombros sentaram na amurada que circunda a pequena praça no alto da Colina do Santo Antônio, à tardinha, ao fim daquele dia morno que só existe em Aracaju. Tranquilos, refrescados pela aragem que vinha do bairro Industrial, refestelavam-se olhando enternecidos, a cidade que se espreitava desde o pé da colina até se perder de vista. Estavam voltando de um canteiro de obras que seu pai administrava como Construtor: era preparação de uma área de terras onde seriam levantadas várias novas casas. O garoto gostava demais de acompanhar os trabalhos, ao lado do pai, ouvindo suas orientações de competente mestre de obras, que repassava para dezenas de trabalhadores ordens precisas.

Mais do que admiração natural de pai para filho, ele, na verdade, tinha especial devoção pelo genitor, homem decidido, que trabalhava de sol a sol e que costumava dizer “quando descanso, carrego pedras. ” Transcrito do capítulo 1 do livro – Até onde sei (Aracaju- SE, 2011).

O jovenzinho perguntava a seu pai por que a vida, às vezes, tinha que ser tão difícil.

O pai disse isto: “a vida é uma viagem, você não pediu para nascer, mas está aqui. Dentro de você há tanto caminho para enfrentar a vida, bem como o medo que faz com que você fuja dela. A vida pode lhe dar força. Permaneça forte em direção ao topo da montanha, por mais exausto que você possa estar.”

Diálogo vivido entre o Construtor João Alves e seu filho João Alves Filho; que sempre teve o pai como ícone de sua determinação e amor pela construção civil.

Quando criança de calças curtas, saia do calor humano do lar humilde na rua do Carmo construída no estilo platibanda, porta na frente, ao lado de duas janelas, corredor estreito.

A escola ficava pertinho da rua do Carmo, bairro: Sto Antônio onde aprendeu as primeiras letras, a iniciação do mundo encantado da educação... Numa fase mais adiantada, alcançada mediante “Exame de Admissão” ingressa no Ginásio Jackson de Figueiredo cujo lema era “Instruir e Educar” dos Professores Judite e Benedito Oliveira. Acompanhou de perto também os irmãos mais novos, Roberto e Marlene.

Agora, podia melhor avaliar o sacrifício financeiro dos pais, Lourdes e João, para manter três filhos em colégio particular, mas dar aos filhos o melhor em educação era um princípio de honra familiar. E ele retribuía anualmente com medalhas de honra ao mérito em comportamento e aplicação.

João Alves Filho cursou os dois primeiros anos cientifico no Colégio Atheneu Sergipense, e o terceiro ano no Colégio Central, em Salvador, encantando-se sobremodo pela Bahia. Debruçado em livros noite adentro, logra aprovação no Exame vestibular para o curso de Engenharia da famosa Escola Politécnica da Bahia. Incontida alegria, que nem a sobriedade do seu pai pudera conter, as lágrimas de felicidade de sua mãe, ao ter sido aprovado. Irmãos, amigos e parentes vibraram de orgulho. Senhor do Bomfim atendeu suas preces!

Em seu segundo ano de Curso, além de ser bom aluno nas matérias curriculares tinha sido um líder com experiência na política estudantil e até redator do jornal universitário “O Construtor”. Foi selecionado dentre líderes estudantis de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco para participar de um Curso nos Estados Unidos, sobre a política social e econômica daquele país.

Além da bolsa obtida para o período de quarenta dias nos Estados Unidos, conseguiu em Washington, na Associação Universitária Interamericana (AU), mais dez dias de permanência na Universidade de Harvard.

Sempre teve a sua fixação sobre qualquer assunto que se referisse à água e a sustentabilidade da existência de água no Nordeste, tivera uma razão atávica: sua avó, Luiza chegara a Sergipe num grupo de retirantes perseguidos pela seca.

João Alves Filho, é um Engenheiro Civil e Político. Foi Prefeito de Aracaju por dois mandatos; Ministro do Interior do Brasil; Governador de Sergipe por três mandatos. Membro da Academia Sergipana de Letras, autor de onze livros, homem extremamente honrado com inúmeras homenagens.

Segundo Wallace D. Wattles, “O homem que certamente avançará é aquele que é grande demais para o seu lugar...”

Relembro as palavras sábias do nosso pai, Construtor João Alves: “a vida pode lhe dar forças...”

A vida dá e a vida toma. A vida toma o nosso tempo, e a cada dia que passa estamos mais próximos do final da nossa viagem nesta terra. Ela toma nossos esforços, nosso suor, nossas melhores ideias, sonhos e sacrifícios... E ainda pede mais, em seguida lança obstáculos em nosso caminho, surpresas, decepções, indiferenças, confusão, dúvidas e desgostos.

Entretanto, a vida nos dá mais do que o óbvio.

O texto que ora escrevo é dedicado para esse homem que tanto amo e admiro, meu irmão João Alves Filho, na passagem dos seus setenta e oito anos (03 de julho de 1941/2019).

Aquilo que se faz por amor nunca ficará perdido, antes há de permanecer e de se multiplicar para sempre.

Marlene Alves Calumby.
Membro da Academia Sergipana de Letras.
Aracaju – SE, 01 de julho de 2019.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marlene Alves Calumby Calumby

Link post original no Facebook > encurtador.com.br/jCFRS

Nenhum comentário:

Postar um comentário