Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 22 de Junho de 2023
Josa, O Vaqueiro do Sertão e a poesia lírica de uma vaquejador genuíno
Por Mário Sérgio Félix*
O lirismo na poesia tem início na Grécia antiga. Na época, a manifestação poética era feita no gogó, acompanhada apenas por uma Lira. Em Simão Dias, surge um poeta que manifesta o seu canto através do aboio. A lira dela era a sanfona.
Josa, O Vaqueiro do Sertão nasce José Gregório Ribeiro em 12 de março de 1929, na cidade de Simão Dias. No Rio de Janeiro, como militar, chegou à patente de sargento.
Sua admiração pela música, o fez ingressar na Banda da Polícia Militar. Num acidente, ao andar de cavalo, foi obrigado a encerrar a carreira militar. Porém, a música já estava em seu sangue.
Naquela época, Josa já era fã incondicional de Luiz Gonzaga e com o fim da carreira militar teve seu regresso a Sergipe antecipado. Com a sua música, começa a despertar o sentimento de cantar e apresentar a sua sanfona aos quatro cantos de Sergipe. Suas composições começam a fazer sucesso.
A poesia na música de Josa ultrapassa a subjetividade e vira uma manifestação interior. Interior não somente da alma. Se materializa na condição de cumplicidade. Chega a ser juvenil.
No seu grande sucesso “Na Sombra da Jaqueira” se observa uma poesia singular, porém, de grande sentimento. Estamos falando de um homem “rude” do interior do Brasil que canta o amor com a singeleza da poesia vinda da alma, a ponto de dividir com uma árvore, seu grande sentimento:
“Adeus querida jaqueira
Não sei quando voltarei
Sempre me guarde segredo
De ti não esquecerei...”
Lembremos que a poesia acima descrita na letra de seu grande sucesso nos fala de um amor que tem na árvore jaqueira a cumplicidade desse amor:
“No outro dia cedinho
Fui correndo na jaqueira
Encontrei um bilhetinho
Dizendo assim
Nada mais existe
Meu amor é triste
Sem o seu carinho”
Josa compôs mais de 300 músicas, sendo uma marca da cultura sergipana. Suas apresentações se deram por todo o Brasil, entre elas no famoso programa do Chacrinha.
Assim como Dominguinhos e Gerson Filho, Josa também gravou pelo selo “Cantagalo”, do nordestino Pedro Sertanejo, que abrigava em sua gravadora grandes talentos do Nordeste.
Sempre que Luiz Gonzaga visitava Sergipe, um papo com Josa era garantido. O Rei do Baião nutria um carinho muito especial pelo Vaqueiro do Sertão, assim como também Dominguinhos.
Josa tinha uma marca muito definida com a sua música, bem como as músicas gravadas que escolhia de outros compositores. A poesia nas letras dele era um tema sempre recorrente.
Outro grande sucesso gravado por Josa, de uma bela poesia, foi escrita por Osvaldo Eurico e Vadeca Lima. Seu nome: “Valente é o bem-te-vi”.
“Que digo com certeza
Eu amo a natureza
Ai quem me dera poder voltar
Pra ter a sensação de ver em pleno ar
Um bem-te-vi desafiando um carcará”
Josa era tão agarrado e ético às letras das músicas que compunha e gravava, que quando surgiram os grandes sucessos de letras com duplo sentido, ele preferiu se afastar desse modo musical.
Decidido, esse nosso compositor não gravaria esse tipo de música, ficando fiel à sua convicção de que a poesia deveria prevalecer sobre as músicas de duplo sentido. Mas aí já é assunto para um outro artigo.
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* Articulista Mário Sérgio Félix - É radialista, jornalista e pesquisador da MPB.
Texto reproduzido do site: jlpolitica com br
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