sábado, 6 de abril de 2024

'Considerações sobre (meu) admirável mundo novo', por Luciano Correia

Legenda da foto: Luciano e Jão, uma dupla inseparável 

Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 4 de abril de 2024 

Considerações sobre (meu) admirável mundo novo
Por Luciano Correia (*)

Quando contei para um amigo que minha mulher estava grávida, ele vaticinou: “Você vai rejuvenescer”. Não duvidei, apesar de que me assaltavam as inseguranças e incertezas decorrentes de ser pai depois dos 60, num mundo tão intoxicado, de retrocessos nas condições de vida, de guerras com risco de levar ao Armagedon e com a natureza pegando fogo, devolvendo toda sorte de violências cometidas desde que o homem foi avançando em cada conquista, do domínio do fogo à descoberta da roda, num crescendo até chegar nos perigosos dias atuais.

Ouvia de gente mais velha uma queixa constante pelas perdas sucessivas de parentes e amigos, restando um vazio melancólico, a perda das ilusões e das utopias. Não sei se eles pensavam assim, mas comigo essa impressão chegou cedo. Aos 28 perdi um precioso amigo, Fernando Sávio, referência pessoal e literária que se considerava, como dizia ele, “um pai profissional”, parceiro de farras e infinitas e maravilhosas histórias. Depois veio Chico Mocó, um amigo irmão, genial, uma espécie de Nelson Rodrigues da crônica oral, que deixou este mundo antes dos 50. A partir daí, foi uma enfieira de grandes amigos, um atrás do outro. Alguns que imaginei insubstituíveis. E, de fato, são.

Para escurecer ainda mais o cenário já desalentador, há a deterioração das amizades que ficam, pelos motivos mais diferentes, mas sempre embalada nessa aura de refregas, agressões, ironias e toda sorte de estranhamentos que a gente jamais esperaria vindos de pessoas queridas. Dos demais, dessa juventude cuja bandeira de vida é o “tudo já”, de todos os direitos e quase nenhum dever, a gente não esperava nada mesmo. É assustador ver que essa onda belicosa que rege as relações atuais, sobretudo no pantanoso terreno virtual, também contaminou nossos velhos e sábios amigos.

Há que descontar, nesse inventário de perdas, aquelas que não resistiram à fadiga, conceito vindo da engenharia que denota envelhecimento, obsolescência e morte. De fato, algumas dessas amizades construídas com muita lógica e esmero em épocas remotas, relações que nos pareciam duradouras, foram perdendo o sentido, o interesse de uma pela outra. Como num casamento: basta que um não queira, morreu Maria Preá. Mas esse não é um processo indolor, que se dê com naturalidade e não deixe de acionar um certo saudosismo das coisas incríveis que vivemos com essas pessoas: conversas, viagens, bebedeiras e – claro – as incontáveis refregas.

Desde que meu amigo falou do rejuvenescimento que o pequeno João traria para a minha vida, fiquei pensando em como isso deveria se materializar. Finalmente eu ficaria mais magro, pra calçar os sapatos com alguma dignidade, sem a obstrução de um infame calombo? Encerraria minha longuíssima carreira de bebedor, de tão nefasta que tem se manifestado nas décadas mais recentes? Tomaria vergonha e finalmente entraria numa dessas academias de ginástica para repor músculos perdidos em anos de inércia? As perguntas fundamentais nunca têm resposta, sejam elas trivialidades como essas ou inquietações existenciais mais profundas. Afinal, qual a chave do que é certo ou errado? Onde está o roteiro das coisas certas? É como imaginar que haveria um hipotético manual de instruções para a vida. Tudo é acaso e circunstância, já disseram.

Talvez eu comece a tomar algumas providências, para meu bem e para que meu bebê tenha um pai por alguns anos, mas é fato que o simples compromisso de ajudar a criá-lo, de ter que estar próximo o máximo possível, já configura o cenário de um mundo novo para mim. Com as perdas que tive que aceitar, mais os distanciamentos impostos por amigos ainda vivos e, pasmem, de parentes, a chegada do João me flagra numa situação de disponibilidade, tempo e coração dispostos a construir com essa nova pessoa em meu mundo uma relação, talvez, menos propícia aos defeitos das outras, ou, pelo menos, livre das intoxicações que regem as sociabilidades na quadra atual. Na realidade, vejo que meu velho mundo, por tudo o que apresentei como causas e sintomas, foi ficando pra trás, sendo ocupado cada vez mais pelo mundo mágico de Jão Cabeça Quente, o Quebra-Tudo, o Berro Grosso que diariamente liga no automático às 5 da manhã e só desliga sabe-se lá que hora da noite..

O primeiro e maravilhoso ganho desse novo universo que se descortina é a minimização do mundo velho, suas certezas, verdades e mazelas. E, junto com a perda de importância das coisas, a das pessoas também, ou melhor, daquelas que as dobras do tempo tornaram irrelevantes ou as que fizeram questão de nos fustigar com algum ataque ou desprezo. No nosso filme do passado, essas imagens já não invocam boas experiências, despachando personagens dessas vivências para o limbo e esquecimento. Paralelamente, a chegada de uma pessoa por quem tenho total responsabilidade, e que terei de cuidar até quando for possível na extensão dos meus dias, traz de forma natural uma abertura de novos mundos, uma fantástica luminosidade sobre o banal cotidiano, minutos mágicos que valem, justamente, pela beleza da simplicidade.

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Luciano Correia - Jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju).

Texto e imagem reproduzidos do site sosergipe com br

'Neu Fontes - um mestre da cultura!', por Mário Sérgio Félix

Legenda da foto: Irineu Silva Fontes Junior: destino é o de trabalhar pela cultura de seu Estado

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 05 de Abr de 2024

Neu Fontes - um mestre da cultura!
Por Mário Sérgio Félix*

Paschoal Maynard tem um “bordão” que usa em seu programa na Tv Aperipê, muito apropriado: “Cultura, é o que a gente faz!” Diga-se de passagem, Paschoal o faz muito bem. Aliás, Paschoal respira cultura, além de ser um exímio baterista.

Do outro lado, temos também um personagem que está ligado à cultura, mais precisamente à cultura sergipana, à cultura nordestina, enfim, à cultura.

Também pudera, bebe da fonte da cultura, do berço da cultura, de sua mãe e sua avó, estancianas “da gema”. Aliás, não há uma só vez que ao falar de cultura não cite suas fontes da Estância. Está no sangue. Em suas veias, corre o líquido precioso da água do Rio Piauitinga.

Desde cedo - e bote cedo, nisso -, Irineu Silva Fontes Junior, mais conhecido como Neu Fontes, já sabia que o seu destino seria o de trabalhar pela cultura de seu Estado. Árdua, difícil, porém de grande valor para o seu reconhecimento.

A sua trajetória mostra esse reconhecimento, essa luta naquilo que ele sempre acreditou. Naqueles que no passado sempre lutaram pelo engrandecimento dessa cultura que Neu fez da sua vida o seu norte de trabalho.

Nesse norte, a música sergipana sempre esteve presente, essa batalha diária de aconchegos, desafios, intrigas, das mais variadas, porém, sempre na defesa da música sergipana.

Como aconteceu no Canta Nordeste, quando chegou a desafiar os diretores do Festival para defender a música de seu Estado, os cantores de seu Estado, a ponto de dar murros na mesa para que o regulamento aprovado fosse colocado em prática.

Não fosse a luta incessante de Neu Fontes naquele festival, talvez não tivéssemos trazidos de lá o primeiro lugar com o “Coco da Capsulana”, de Ismar Barreto e João Alberto, defendido brilhantemente pela nossa Amorosa, que de quebra, venceu como melhor intérprete.

Neu também é um excelente produtor musical. É dele o último CD lançado pelo nosso mestre João Melo, que a pedido da gravadora Som Livre, incumbiu Neu de produzir o lindo disco “Coração Só Faz Bater”, que teve a distribuição do sistema Globo.

Pioneiro naquilo que faz, Neu foi um dos primeiros cantores e compositores a defender a música sergipana com um programa totalmente voltado para a nossa música. O Programa Seleção Brasileira, até hoje tem um quadro criado por Neu, quando apresentava na rádio Aperipê FM “A Música da Semana”, que traz o artista sergipano em evidência.

São dele vários sucessos da “playlist” da rádio, como o grande sucesso do nosso saudoso Rogério, “Pecado de Pássaro”, parceria com Jorge Lins, outro ícone da cultura sergipana.

Neu também aparece no disco “Cajueiro dos Papagaios”, obra de grande importância para a música sergipana, juntamente com Lula Ribeiro e Paulo Lobo. Se elencarmos os grandes sucessos de Neu, um artigo seria pequeno para eles.

Sem ser político, porém ajudando a política, Neu tornou-se secretário de Cultura da cidade de Laranjeiras, onde exerceu um enorme trabalho de divulgação, reconhecimento e valorização desses importantes brincantes da nossa cultura. É visível essa valorização desses artistas junto à sua comunidade e principalmente no apoio logístico e financeiro.

Foi através de Neu que os principais grupos folclóricos tiveram reconhecimento nos últimos anos, claro, sem deixar de citar seus mestres que o ensinaram a trabalhar com esses grupos, a exemplo do professor Luiz Alberto, da professora Aglaé Fontes e do seu mestre Professor Luiz Antônio Barreto.

No próximo dia 23 de abril Neu estará lançando seu primeiro livro, “Som da História”, reunindo seus artigos escritos nos últimos anos através do Jornal Cinform Online. Já adianto que será um excelente livro sobre a cultura sergipana, aliás, escritos que fazem parte das pesquisas do Programa Seleção Brasileiro, do qual me utilizo para aumentar o leque de conhecimentos dos nossos artistas, da nossa música.

O evento acontecerá no Museu da Gente Sergipana, às 16:30 e se você quer conhecer essa obra desse grande agitador cultural sergipano, aparece lá. De quebra, ganha um abraço meu. Mas a festa é do amigo Neu Fontes.

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* O Articulista Mário Sérgio: É radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br

quarta-feira, 3 de abril de 2024

'Lembranças de 1964', por Paulo Roberto Dantas Brandão

Post compartilhado do Perfil do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão, de 30 de março de 2024

Lembranças de 1964
Por Paulo Roberto Dantas Brandão

O dia 31 de março de 1964, ao que me lembro, foi um dia normal.  Lá em casa só foi alterado porque era aniversário de meu pai.  No dia 1º de abril (o dia da mentira), fui para a escola, o Educandário Brasília (então eu cursava o 2º ano primário).  Íamos a pé, eu e a meninada da rua Senador Rolemberg.  Quando lá chegamos, recebemos o aviso que não tinha aula.  Alegria geral.  Voltamos para casa, tiramos a farda, e fomos jogar bola no meio da rua.

Lembro que já estávamos na pelada, quando uma colega passou de carro, com o pai, e estranhando a turma jogando bola, perguntou se não havia aula.  Respondi que não:  Fizeram uma tal de revolução, expliquei, sem ter ideia do que viria a ser isso.

À tarde, ou no dia seguinte, aí as lembranças se embaralham, fui com minha mãe ao comércio, numa loja chamada Dernier Cri, que existia na rua João pessoa.  Minha mãe comprava algumas coisas, e havia um rádio ligado. Daí a pouco entrou uma edição extraordinária do Informativo Cinzano, de maior audiência na época, apresentado por um escroque chamado Silva Lima.  Pronunciando em destaque todos os erres e esses, ele bradou:  “acaba de ser fechado pelas gloriosas forças do exército brasileiro o jornal vermelho da cidade, a comunista Gazeta de Sergipe. Depois passamos pela porta do jornal, na Av. Rio Branco.  Havia um soldado de fuzil guarnecendo a porta. 

Outra lembrança que me vem, é que nesse dia, ou no seguinte, meu pai chegou com um caixote cheio de compras.  Preocupado com um possível desabastecimento, ele comprou logo um monte de coisas que ficaram estocadas na garagem lá de casa.

Uma outra lembrança de alguns dias posteriores foi interessante.  O governador Seixas Dórea havia sido preso, em Fernando de Noronha, junto com o governador de Pernambuco, Miguel Arraes.  Alguns dias depois, não sei a razão, autorizaram que Seixas viesse a Aracaju visitar sua mãe, que morava na rua de Itabaiana, perto de nossa casa. Com forte escolta de soldados do exército, o governador chegou de carro. Por coincidência, vinha passado por lá com minha mãe bem na hora.  Minha mãe, D. Yêda, empurrou alguns soldados, superou alguns populares da vizinhança, e apertou a mão de Seixas Dórea.  Dadas as circunstâncias, era um ato de coragem.

Todos se mostravam preocupados com o meu avô Orlando, uma possível vítima do golpe.  Mas além de uma visita de um oficial ao seu apartamento para avisar que o jornal foi fechado, nada aconteceu de mais grave.  Nos meu oito para nove anos, não tinha ideia do que acontecia.  Não imaginava que viveríamos 21 anos na escuridão.  

As tropas do General Olimpio Mourão podem ter saído de Juiz de Fora na noite do 31 de março, mas o golpe mesmo, foi no dia 1º de abril.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil/Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão.

sábado, 30 de março de 2024

'O menino que viu o golpe', por Jorge Carvalho do Nascimento

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 30 de março de 2024

O menino que viu o golpe
Por Jorge Carvalho do Nascimento*

Alguma coisa fora do comum estava acontecendo naquela noite do 31 de março e naquela madrugada do primeiro de abril de 1964. Lá se vão 60 anos e o ambiente na casa da minha Vovó Petrina e da Tia Teresinha, onde eu morava, nunca me saiu da cabeça. A tensão estava no ar e permitia ao menino Jorge a percepção de alguma coisa fora do comum naqueles acontecimentos. Passamos a madrugada acordados.

Todas as luzes da casa foram apagadas, mas protegidas pelos dois postigos frontais da platibanda da nossa casa, entreabertos, ajoelhadas sobre duas cadeiras estavam a Tia Terezinha e a Vovó Petrina trocando entre si comentários incognoscíveis ao menino de sete anos de idade que somente no dia 28 de agosto daquele ano chegaria ao seu oitavo ano de vida.

O mesmo nível de incompreensão que se me impunha o som do pequeno rádio de pilhas japonês da marca Spica, modelo ST 600, um dos rádios transistorizados mais vendidos à época no Brasil. O radinho, com sua capa de couro marrom, era motivo de orgulho da minha modernosa Tia Teresinha, “alta funcionária” (como costumava jactar-se Vovó Petrina) do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários – IAPI.

Com o aparelho ligado na Rádio Liberdade de Sergipe, elas ouviam a transmissão das notícias que chegavam do Rio de Janeiro e aqui eram comentadas por Silva Lima e Santos Mendonça, titulares de dois programas imperdíveis naquela casa: Informativo Cinzano e Calendário. Silva Lima também mantinha semanalmente o programa Cada Crime Tem Sua História. Eles vararam a madrugada comentando as notícias do golpe militar e do que chamaram fuga do presidente João Goulart para o Rio Grande do Sul e posteriormente para o Uruguai.

O frenesi dos motores e dos freios dos jeeps do Exército cruzando a rua para cima e para baixo era intenso. Bem assim o barulho das botinas dos militares que batiam às portas de casas próximas da nossa. A rua do Bonfim ainda não era chamada de avenida Sete de Setembro. Menos ainda pela sua atual designação – avenida Mamede Paes Mendonça.

Todavia, aquela artéria cumpria uma importante ligação na vida da cidade de Aracaju: era o principal acesso à Estação Ferroviária, de onde partiam os comboios para Salvador, cruzando parte do Estado da Bahia, e, também para Propriá, onde após a travessia do rio São Francisco, feita em balsa, era possível continuar a viagem em outra composição até a cidade de Maceió.

Morávamos entre o morro de areia que é agora a avenida Pedro Calazans e a Estação Ferroviária. Nossa vizinhança era predominantemente composta por líderes da antiga Sociedade União dos Operários Ferroviários – SUOF, sindicato ativo e de intensa combatividade, no qual as principais lideranças militavam também no Partido Comunista Brasileiro – PCB.

Católica e muito conservadora, a Vovó Petrina ia diariamente à missa das sete da manhã na Igreja do Espírito Santo (avenida Simeão Sobral, no bairro Santo Antônio) ostentando a sua fita vermelha no pescoço, privilégio dos membros do Apostolado da Oração. Era anticomunista até a medula, e portava a certeza de que os membros do PCB pretendiam destruir as famílias e a fé católica.

Por isto, de olho grudado através do postigo, comunicava entusiasmadamente à Tia Teresinha o nome de cada um que era visitado pelos jeeps militares. “Graças a Deus levaram o bicho” – assim ela tratava os militantes do Partido Comunista que moravam em nossa rua, e, zelosa, quando andava comigo, não permitia que nossos pés pisassem as calçadas dos líderes ferroviários, ao seu olhar maculadas pela doutrina do marxismo.

A Tia Teresinha, com a cabeça mais aberta, mais ilustrada, ouvia o noticiário da rádio Globo do Rio de Janeiro, pelas ondas curtas do seu rádio transistorizado. Assinava a Gazeta de Sergipe e costumava receber jornais cariocas, como Última Hora, além de ser leitora habitual dos comentários e análises de jornalistas como Hélio Fernandes e Carlos Heitor Cony. Agora, olhando para trás, eu a classifico ideologicamente como uma discreta social-democrata.

Foi necessário que o menino Jorge crescesse, ingressasse na Universidade Federal de Sergipe e na Faculdade Pio Décimo, trabalhasse como repórter nos jornais Diário de Aracaju e Gazeta de Sergipe e redator da rádio e TV Atalaia, bem como da TV Sergipe para compreender claramente o que acontecera naquela noite que durou 21 anos.

O golpe militar de 31 de março de 1964 que agora completa 60 anos, depôs o presidente do Brasil, João Goulart, e alguns governadores estaduais, dentre os quais o de Sergipe, João de Seixas Dórea. Ranieri Mazzili substituiu o chefe do Poder Executivo, mas logo depois o Congresso Nacional referendou a escolha do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco para a Presidência da República.

Castelo Branco governou editando atos institucionais e banindo da vida pública três ex-presidentes (Jânio Quadros, Juscelino Kubitscheck e João Goulart). O governador de Sergipe, João de Seixas Dórea, foi preso, além de governadores de outros Estados, igualmente banidos da vida pública e levados à cadeia, bem como milhares de cidadãos, políticos, intelectuais, sindicalistas e estudantes recolhidos ao xadrez de diferentes unidades das forças armadas que foram cassados ou tiveram os direitos políticos suspensos, boa parte deles submetida a maus tratos.

Somente no ano de 1964 foram computadas 203 denúncias de tratamento inadequado aos presos políticos. Os militares e os líderes civis responsáveis pelo golpe militar de 1964, principalmente aqueles ligados à União Democrática Nacional, a UDN, afirmavam que pretendiam restaurar a ordem no país, citando como exemplos mais graves da desestabilização nacional, o comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que aconteceu no dia 13 de março, 18 dias antes do golpe.

Naquele ato, o presidente João Goulart assinou um decreto de reforma agrária diante de uma multidão estimada em 350 mil pessoas. Os golpistas relacionavam também a proposta apresentada pelo chefe do Poder Executivo ao Congresso Nacional, ainda no mesmo mês de março, com o objetivo de permitir a reeleição do presidente e a candidatura de parentes seus, produzindo a impressão de que ele próprio tentaria novo mandato ou, em outra hipótese, apoiaria a candidatura do seu cunhado, Leonel Brizola, o que era intolerável para os que divergiam do seu projeto.

Além disto, no dia 26 de março se iniciou uma rebelião dos marinheiros contra a prisão do cabo José Anselmo, detido quando tentava organizar uma associação de classe. Os marinheiros protestaram na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, mesmo com a manifestação proibida pelo comando da Marinha.

Os oficiais militares não esconderam a insatisfação com o fato de o Governo deixar de punir os rebelados por insubordinação, o que na prática representava uma quebra da hierarquia militar. O sentimento de revolta da oficialidade se agravou mais ainda no dia 30 de março, quando o presidente João Goulart e sete ministros de Estado compareceram a uma reunião promovida por suboficiais e sargentos na sede do Automóvel Clube do Rio de Janeiro em solidariedade àqueles que organizaram a rebelião dos marinheiros.

O menino daquela noite de 1964 tem agora 67 anos de idade e no dia oito de janeiro de 2023 estava “batendo papo” com amigos em uma área de lazer do condomínio onde mora. Poucos eram os meus vizinhos que, como eu, desconfiavam que Jair Bolsonaro vinha articulando a quebra da ordem institucional desde que perdera a eleição para Lula. Como parte do plano, fugiu para os Estados Unidos da América dois dias antes da conclusão do mandato.

Naquela tarde do oito de janeiro, quando começou a invasão da Praça dos Três Poderes, o clima entre os apoiadores de Bolsonaro era quase de orgasmo quando falavam uns aos outros – “começou a festa da Selma”. Felizmente, a festa foi abortada antes que as fanfarras da ditadura começassem a soar.

Que 1964 fique em 1964. Com todos os percalços, o Brasil continua a ser uma democracia.

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* É jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Texto e imagem reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

segunda-feira, 25 de março de 2024

'Vamos conhecer Aracaju através da música?', por Mário Sérgio Félix

Legenda da foto: Ismar Bareto tem lugar cativo na evocação a Aracaju

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 21 de março de 2024

Vamos conhecer Aracaju através da música?
Por Mário Sérgio Félix *

A nossa capital completou no último dia 17 de março 169 anos. Essa nossa menina cresceu, se tornou uma linda mulher cantada em versos e prosas por nossos poetas, cantores e compositores, poetisas, cantoras e compositoras.

Muitos declararam o seu amor, a sua poesia à nossa capital, e que se fôssemos fazer um programa musical sobre Aracaju acredito que teríamos músicas para promover esse programa em mais de três horas. E com certeza sobrariam músicas para outros programas.

Mas o intuito aqui não é de trazer músicas que enaltecem a nossa capital. Pretendemos mostrar uma forma de passeio, de forma a levar você aos quatro cantos da Aracaju de todos os sergipanos. Garanto: o nosso passeio será maravilhoso.

O professor, cantor e compositor Kleber Melo nos apresenta uma Aracaju de forma diferente, já nos remetendo à periferia. Nos versos de “Circular Cidade”, Kleber passeia e nos indica o quanto cresce essa cidade.

“Entro pela Soledade, saio pelo Lamarão,/ Camarão de água doce,/ ou quem sabe no Mosqueiro,/ que me entreguei por inteiro,/ e onde me fiz, Porto Dantas/ tantas desventuras, Alto do Jaqueira/ escura, ou nas trocas do Siqueira,/ acordei no Sol Nascente,/ peguei onda na Aruanda,/ Rua da Frente, como cresce/ essa cidade em grande velocidade, Matapuã e Getimana”. Sim, eis aí uma boa síntese-retrato!

Legal também é pegar carona com Paulo Lobo e descobrir que Aracaju tem é gente, viu? E gente que anda, passeia nas “Ruas de Ará”. E não pense que todos eles se escondem. Afinal, Paulinho dá o tom e nos diz quem são essas pessoas.

Segundo Paulinho, “tem gente que é terra,/ tem gente do mangue,/ tem velho safado, deputado marajá,/ preto que é nobre,/ tem até aquela senhora/ que vem lá da Soledade,/ um moço que vai trabalhar,/ e espia, dondoca doideca,/ doutor de traveca, tudo isso nas ruas de Ará!”.

E passeando pelas ruas de Ará, Paulinho descobre que “tem gente bacana,/ olha só, falsa baiana,/ boçal, tem vagal, tem paxá”,/ e arremata quando diz que na nossa cidade “tem mentira e verdade,/ todo dia nas ruas de Ará”.

Não sei se você sabe, mas Caetano já escreveu sobre a “Moqueca de Cação” do João do Alho – nosso histórico restaurante que não sobreviveu à pandemia de Covid.

Quem provou, provou e lambeu os “beiço”. Quem não provou, vai ficar com água na boca. Ah, e quer saber onde encontrar “Aracaju” por Caetano Veloso? Vai lá no disco “Cinema Transcendental, de 1979. Aliás, a música é uma parceria com Tomás Improta e Vinícius Cantuária. É muito legal Caetano mostrar o seu carinho por nossa capital.

Antônio Rogério e Chiko Queiroga também trazem o seu local predileto por nossa capital, quando te convidam para visitar as nossas “praças e avenidas tão belas,/ da Colina, vejo a cidade jovem,/ divina, meu coração se apaixona por essa menina”.

Não sei você, mas quando olho Aracaju da Colina, parece que estou abraçando uma “coisa” que muito amo, porque, claro, da colina, você abraça toda a cidade, do Santo Antônio, ao bairro mais longínquo que os nossos olhos podem alcançar.

Ainda em Aracaju, o poeta-cantor e jurista Sérgio Lucas nos convida a passear no Siqueira Campos, nos remetendo ao seu nome de origem, “De Lá do Aribé”.

Lucas invoca o grande agitador cultural Hilton Lopes para nos apresentar o que tem no Aribé. Alegria e muita festa não pode faltar, afinal de contas, “De Lá do Aribé”, tem quermesse, tem fogueira, tem carnaval, cada Igreja tem sua fé, cavalgada, tudo isso sendo trazido pelo alegre Hilton Lopes, com sua dança de pajé. Tudo isso de lá do Aribé.

Nas andanças por nossa capital, a nossa praia maior não pode faltar. Cantada em verso e prosa, uma se destaca pela sua poesia, os seus encantos. Afinal de contas, é lá que o poeta vai se inspirar, sob um céu azul, beijadas pelo mar, e o poeta arremata, chamando-a de “Praia do amor” - Atalaia, composição de Vilela.

Mas, se estamos falando de Aracaju, nada melhor do que sentir saudade e imaginar-se em nossa capital mesmo morando em outro lugar. Assim, se sentiu Ismar Barreto, ao compor “Viver Aracaju”. Realmente, Ismar tinha razão, porque “Tão longe de você,/ dá vontade de morrer,/ um poço de sofrer,/ rezando pra te ver”. Impossível não sentir saudade.

Ismar nos remete a uma saudade incomparável, como aquela que quando chegamos do interior, “descer a Laranjeiras, entrar no Calçadão”. Você já teve essa sensação? Hoje está mudado, mas a sensação antigamente era que realmente você estava chegando em Aracaju.

A cada audição dessa música, vivamos intensamente mais Aracaju. Quem não lembra, nos finais de tarde, de tomar uma lá no FAN’s e se Paschoal estivesse lá, o papo estava garantido.

E pra fechar o passeio, vamos pegar carona na companhia ainda de Ismar e percorrer um pouco as madrugadas de Aracaju. “Madrugada” talvez seja a letra mais fidedigna de um momento vivido em nossa capital. Segundo o próprio Ismar, “é o que se passa na madrugada!”

“A ronda da madrugada,/ é feita por putas, soldados,/ maridos, por gigolôs e garçons,/ por dedos e línguas ferinas,/ por pais infelizes e mãe cafetã,/ boêmios e analistas, loucos e bichas,/ palhaços e compositores,/ banheiros com fedentina e cocaína,/ amendoim, Brahma e cantores,/ madrugada, fauna e flora,/ melancolia foi embora./ Petistas e otimistas, ricos e artistas,/ urologistas e sapatões, atores,/ cheques sem fundos mil,/ mil vagabundos, contrabandeando corações,/ madrugada, inda é hora,/ a tristeza foi e chora (embora)”.

* É radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias com br

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Morre Cabo Duda, dono de um dos bares mais antigos da Atalaia

Publicação compartilhada do site A8SE., de 23 de fevereiro de 2024  

Morre Cabo Duda, dono de um dos bares mais antigos da Atalaia

Sepultamento foi realizado na manhã desta sexta-feira (23)

Por Redação Portal A8SE

Faleceu no final da tarde desta quinta-feira (22) o senhor Cabo Duda, de 83 anos, pescador, comerciante e dono de um dos mais antigos bares da Praia da Atalaia. A causa da morte não foi revelada.

Erivaldo Nunes Chagas, mais conhecido como Cabo Duda, é conhecido por muitas gerações e fez grandes amigos, os quais lamentaram sua perda. Inclusive, o Presidente do Sistema de Comunicação da TV Atalaia, Sr. Walter Franco, era um grande amigo de Cabo Duda, e prestou as últimas homenagens.

O corpo do comerciante foi velado no próprio estabelecimento o qual era dono, e o sepultamento foi realizado na manhã desta sexta-feira (23), no Cemitério da Atalaia.

Texto e imagem reproduzidos do site: a8se com

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

O demorado enterro de um ex-governador numa igreja de Sergipe


Legenda da foto: Leandro Maciel explica renúncia da candidatura a vice-presidente da República
- (Crédito da foto: Acervo Adailton Andrade).

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 3 de setembro de 2022

O demorado enterro de um ex-governador numa igreja de Sergipe

Por Adiberto de Souza *

Era fim da tarde do dia 14 de julho de 1984. A equipe da TV Atalaia, canal 8, concluiu a penúltima reportagem da pauta e se deslocou para a última tarefa daquele sábado: fazer uma passagem rápida sobre o delicado estado de saúde do ex-governador de Sergipe, Leandro Maciel, com quase 88 anos. Essa era uma praxe da emissora desde que o velho líder udenista ficou prostrado em seu sítio, localizado na esquina da rua Dom Bosco com a avenida Desembargador Maynard, bem em frente ao Hospital Cirurgia, área nobre de Aracaju. A movimentação anormal na casa chamou a atenção do repórter, que logo foi informado sobre a morte do caudilho, por décadas o mandachuva da política de Sergipe.

A mesma equipe da TV foi escalada para cobrir o sepultamento, marcado para a manhã do domingo, na Igreja Senhora Sant’Ana, no povoado Massacará, município de Carmópolis, a cerca de 60 quilômetros de Aracaju. Perto da meia-noite, o caixão chegou para o velório no Palácio Olímpio Campos, localizado no centro da capital e sede do governo de Sergipe. Àquela altura, muitos amigos e correligionários já aguardavam a chegada do corpo de Leandro Maciel, que foi quase tudo em Sergipe: deputado federal por três mandatos, governador e senador em duas legislaturas. Também se candidatou a vice-presidente na chapa de Jânio Quadros, porém renunciou no meio da campanha, sendo substituído por Milton Campos.

Queda de militares

Por determinação do coronel Miguel Santana, secretário-chefe do Gabinete Militar do governo, oito policiais se postaram em posição de sentido, quatro de cada lado do caixão. Não passaram 20 minutos, e um grande barulho assustou quem estava na parte externa do Palácio: foi um dos militares que desmaiou e, ao cair, derrubou o pesado fuzil, daqueles antigos, uma mistura de ferro e madeira. Felizmente, a arma não disparou. Minutos depois, outro PM também caiu e em seguida um terceiro. Um oficial do Exército sugeriu que os policiais em torno do caixão ficassem em posição de descansar, mais relaxados, para facilitar a circulação do sangue, principalmente nas pernas. Foi o santo remédio para acabar com as assustadoras e barulhentas quedas.

Legenda da foto: O governador Leandro Maciel, o líder político de Salgado, Durval Militão e, atrás, o jornalista Marques Guimarães, também conhecido como “Pulga Prenha” - (Crédito da foto: Acervo de Ibarê Dantas).

As conversas políticas ajudaram a noite do velório a passar mais rápido. Na madrugada, quando o movimento de pessoas reduziu significativamente, velhos pessedistas apareceram no Palácio para se despedir do líder udenista, que em vida tinha sido um ferrenho adversário. Entre um cafezinho ou um cigarro, eles lembraram grandes disputas, vitórias e derrotas eleitorais. Uma delas foi em 1962, quando o ex-udenista Seixas Dória se filiou ao PR e se juntou ao PSD, PRT, PTR, PSB e PDC para derrotar o ex-governador Leandro e seu slogan “Ninguém se perde na volta”. Ele se perdeu! Segundo escreve o professor e escritor Ibarê Dantas em seu livro Leandro Maynard Maciel na política do Século XX, “a campanha foi longa, marcada de paixões e de radicalismos”.

Manhã de domingo, o cortejo fúnebre partiu para Carmópolis, onde seriam prestadas as últimas homenagens a Leandro Maciel. Uma chuva fina molhava o imenso canavial no entorno da mal cuidada Igreja Senhora Sant’Ana, aberta exclusivamente para o sepultamento. Coube ao senador Passos Porto, um ex-udenista, fazer um emocionado discurso, lembrando a carreira vitoriosa do velho líder político. Em seguida, e diante da impaciência das autoridades, principalmente por causa da insistente chuva, foram prestadas as honras militares, com salva de tiros.

Discurso quilométrico

Legenda da foto: Leandro Maciel foi sepultado no interior da Igreja Senhora Sant’Ana, no Povoado Massacará, em Carmópolis - (Crédito da foto: Portal Infonet).

Mesmo sem a palavra ter sido franqueada, o juiz de Direito aposentado Djalma Ferreira de Oliveira, popularmente conhecido como “Djalma Borboleta”, se aproximou do caixão e começou a sua despedida do líder político. Para desespero dos presentes, incomodados com a chuvinha fina, o discurso de “Borboleta” não era um improviso, como o de Passos Porto, mas laudas e laudas, caprichosamente escritas à mão. Para se proteger da chuva, as pessoas foram entrando, aos poucos, na Igreja escura, úmida e habitada por morcegos, em seus voos rasantes. Do lado de fora, ficaram apenas o eloquente orador e o caixão,  já bem molhados.

Legenda da foto: As despedidas ao velho líder político em frente à Igreja - (Crédito da foto: Jornal da Cidade).

Cerca de meia hora depois, ouviu-se: “Descanse em paz, meu velho amigo”. Foi a esperada senha para o corpo ser levado à sepultura. Verificou-se, então, que a cova, aberta às pressas, era alguns centímetros menor que o caixão, sendo preciso o coveiro entrar para ampliar o cumprimento e facilitar a decida do ataúde. Essa tarefa demandou mais alguns minutos, que pareciam intermináveis, principalmente devido à insalubridade do ambiente no interior do abafado templo religioso. Finalmente, feito o sepultamento e já durante as despedidas na parte externa da secular igreja, não faltou quem dissesse que a chuva fina, o prolongado discurso do udenista “Djalma Borboleta” e a ampliação da cova pareciam sinais de que Leandro Maciel queria ficar mais tempo ao lado dos velhos amigos, dos correligionários e da cansada equipe de reportagem da TV Atalaia. Ufa!

As fotos são do livro “Leandro Maynard Maciel na política do Século XX”, do professor, pesquisador e escritor Ibarê Dantas.

* É editor do Portal Destaquenotícias

Texto e imagens reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Erivaldinho do Acordeon morre aos 47 anos

Erivaldinho do Acordeon enfrentava um câncer (Fotos: reprodução/rede social)

Legenda da foto: Erivaldinho do Acordeon e o pai, Erivaldo de Carira

Publicação compartilhada do site INFONET, de 14 de fevereiro de 2024 

Músico sergipano Erivaldinho do Acordeon morre aos 47 anos em MG

O músico sergipano Erivaldinho do Acordeon, filho de Erivaldo de Carira, faleceu nesta quarta-feira, em Belo Horizonte (MG). Ele estava internado em um hospital da capital mineira para tratamento de um câncer.

A morte do músico foi confirmada por Erivaldo de Carira nas redes sociais. Confira o relato:

Hoje escrevo com lágrimas nos olhos para deixar aqui algumas palavras pelo meu filho primogênito maravilhoso que tive. Não consigo falar dele sem chorar, pois dói muito saber que ele não está mais aqui.

Ele era um exemplo, um filho espetacular que Deus poderia me dá. Um menino amigável, responsável e que estava sempre com um sorriso no rosto.

Ainda não consegui dizer adeus e a saudade assola meu coração profundamente. Perder um filho é a pior tragédia que pode acontecer. A única coisa que me acalma é pensar que, pelo menos, ele está em paz. Amo você, meu filho, por toda a eternidade!

As informações sobre o velório e o sepultamento ainda não foram divulgadas.

Erivaldinho do Acordeon, além de filho de Erivaldo de Carira, é irmão dos músicos e cantores, Mestrinho e Thaís Nogueira. Ele deixa esposa e quatro filhos.

Por Verlane Estácio

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet com br

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Reproduzida do Facebook

Legenda da foto: Velório do músico Erivaldinho — (Crédito da foto: Janaína Rezende/TV Sergipe)

Texto publicado originalmente no site G1 GLOBO SE, em 16 de fevereiro de 2024  

Amigos e familiares se despedem do músico sergipano Erivaldinho

Ele morreu aos 47 anos, durante tratamento de câncer de intestino.

Por g1 SE

Amigos, familiares e autoridades se despedem nesta sexta-feira (16), em um velatório localizado na Região Central de Aracaju, do músico sergipano Erivaldinho, que morreu aos 47 anos em Belo Horizonte, onde morava. Ele estava em tratamento de câncer de intestino desde 2018.

Erivaldinho era filho do forrozeiro Erivaldo de Carira, irmão dos cantores Mestrinho e Thais Nogueira. Ele iniciou a carreira no forró, mas despontou no sertanejo, tocando com grandes nomes da música como Gusttavo Lima, Marília Mendonça e Tierry. Em sua trajetória, gravou com mais de 100 artistas e bandas como Limão com Mel, Mestre Zinho, Amorosa, Rogério e Daniel Diau.

Natural de Nossa Senhora da Glória, no Sertão Sergipano, Erivaldinho cresceu no município de Carira. Autodidata, ele começou a tocar sanfona com sete anos de idade ouvindo o pai. Ainda adolescente se mudou para Aracaju, onde iniciou a carreira profissional e gravou com a Banda Calcinha Preta.

Em 2002, se mudou para São Paulo, mas atualmente morava em Belo Horizonte, onde seguia em carreira solo. Erivaldinho era casado e deixa dois filhos.

Texto reproduzido do site: g1 globo com/se

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

O empresário estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo

Crédito da foto: Governo de Serrgipe - reproduzida da Infonet e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no site F5 NEWS, de 11 de fevereiro de 2024 

Presidente do Grupo Samam, Henrique Brandão morre aos 85 anos

O empresário estava internado no hospital Sírio Libanês, em São Paulo 

Morreu na manhã deste domingo (11) o presidente do Grupo Samam Henrique Brandão Menezes, aos 85 anos. O empresário estava internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

"Não existe nenhuma dor que compare ao que estamos sentindo agora, com a perda desse pai, vovô, biso e chefe. Seu sorriso e seu coração serão sempre lembrados por nós. Descanse em paz, na certeza que cumpriu a sua missão em vida e para nós que ficamos resta a saudade, a tristeza e a certeza de um amor infinito”, disse a família do empresário.

Em 2018, ele foi um dos 25 entrevistados no livro "Comércio em Sergipe - História e Histórias", lançado em comemoração aos 70 anos da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Sergipe (Fecomércio SE).

A publicação traz detalhes da trajetória de Henrique Brandão Menezes, fundador de um dos grupos empresariais mais destacados de Sergipe, o S.A. Manoel Aguiar Menezes - nome de seu pai - e que se tornaria uma sigla conhecida de norte a sul do estado, Samam. 

Na ocasião, Henrique disse se orgulhar de ser o maior recolhedor de impostos em Sergipe, depois dos supermercados, conduzindo um grupo cujas operações incluiam o setor automotivo e o agronegócio, entre outros nichos. "Mas os supermercados não são brasileiros, são estrangeiros, então, de nacional, sou eu", ressalvou na entrevista. 

Aos 80 anos em 2018, ele relatou bem humorado que já vencera três cânceres. "Já tem uns médicos em São Paulo me esperando", disse...

Texto reproduzido do site: www f5news com br

Morre o empresário Henrique da Samam




Imagens reproduzidas das Redes Sociais

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 11 de fevereiro de 2024

Morre o empresário Henrique da Samam

O empresário Henrique Menezes morreu em São Paulo

O empresário sergipano e principal líder do grupo empresarial Samam, Henrique Brandão Menezes, 85 anos, morreu neste domingo (11), num hospital particular de São Paulo. Pelo instagram, o grupo comandado por ele publicou que o “seu legado de responsabilidade, comprometimento e excelência, sempre será o norte do nosso Grupo e nunca será esquecido”.

O velório está previsto para às 8 horas dessa segunda-feira (12), no Velatório Osaf, localizado à rua Itaporanga, em Aracaju. O sepultamento ocorrerá no Cemitério São Benedito, no bairro Santo Antônio, em horário ainda a ser confirmado pela família.

Governador e Prefeito, lamentam.

O governador Fábio Mitidieri (PSD) lamentou a morte de Henrique Menezes. Pelas redes sociais, o pedessista disse que “Sergipe perde um de seus empreendedores mais inovadores e confiantes em nosso potencial”. “Seu Henrique deu continuidade ao grupo criado em 1928 por seu pai, Manoel, e consolidou um conjunto de empresas reconhecidas em Sergipe pela sua diversidade de negócios, solidez e credibilidade nos segmentos de automóveis, agronegócios e indústria”.

Fábio Mitidieri prossesguiu afirmando que a “sua dedicação e capacidade de trabalho contribuíram para o desenvolvimento de Sergipe não só por colocar nosso estado na rota de novos nichos, como quando trouxe a concessionária autorizada Fiat na década de 70, logo após implantação da fábrica italiana no País. Hoje, o grupo gera mais de 3 mil empregos diretos”, concluiu.

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), disse que “foi com muito pesar que recebi a notícia do falecimento de Henrique Brandão, presidente do Grupo Samam. Um grande sergipano, exemplo de trabalho, coragem e visão, que tanto contribuiu com o desenvolvimento e progresso do nosso estado”.

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Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 12 de fevereiro de 2024

Corpo de empresário será sepultado hoje em Aracaju

O corpo do empresário sergipano Henrique Brandão Menezes, 85 anos, chegou em Aracaju às 6h20 desta segunda-feira e será sepultado, às 16h40 de hoje, no Cemitério São Benedito, no bairro Santo Antônio. O velório terá início logo mais às 8 horas, no Velatório Osaf, localizado na Rua Itaporanga, centro da capital sergipana. Henrique das Samam, como era conhecido, morreu nesse domingo (11), em um hospital particular de São Paulo. Ele deixou esposa, filhos, netos e bisnetos.

Em um evento promovido pelo Grupo Samam, o empresário Henrique Menezes lembrou que “foram anos de luta e de dedicação, sempre objetivando o progresso. Desde o início, tínhamos em mente a determinação e o compromisso com o crescimento e a oportunidade de empregos para as novas gerações. Naquela época, atuávamos na área de louças, vidros e ferragens no varejo e atacado. hoje nos orgulhamos de acreditar e de investir em Sergipe”, celebrou o empresário. A história do Grupo Samam  teve início em 1928.

A Federação do Comércio do Estado de Sergipe emitiu nota lamentando a morte do empresário: “O presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac, Marcos Andrade, diretores e equipe, lamentam a morte de Henrique Brandão Menezes, presidente do Grupo Samam”. Por sua vez, o senador Laércio Oliveira (PP) postou nas redes sociais ter pedido um grande amigo: “Sr. Henrique da Samam. Um homem que trabalhou muito por Sergipe durante a sua trajetória e deixou um legado pautado no trabalho e no desenvolvimento. Peço a Deus que conforte o coração dos amigos e familiares neste momento de muita dor”, frisou.

Governador e Prefeito, lamentam.

O governador Fábio Mitidieri (PSD) lamentou a morte de Henrique Menezes. Pelas redes sociais, o pedessista disse que “Sergipe perde um de seus empreendedores mais inovadores e confiantes em nosso potencial”. “Seu Henrique deu continuidade ao grupo criado em 1928 por seu pai, Manoel, e consolidou um conjunto de empresas reconhecidas em Sergipe pela sua diversidade de negócios, solidez e credibilidade nos segmentos de automóveis, agronegócios e indústria”.

Fábio Mitidieri prossesguiu afirmando que a “sua dedicação e capacidade de trabalho contribuíram para o desenvolvimento de Sergipe não só por colocar nosso estado na rota de novos nichos, como quando trouxe a concessionária autorizada Fiat na década de 70, logo após implantação da fábrica italiana no País. Hoje, o grupo gera mais de 3 mil empregos diretos”, concluiu.

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), disse que “foi com muito pesar que recebi a notícia do falecimento de Henrique Brandão, presidente do Grupo Samam. Um grande sergipano, exemplo de trabalho, coragem e visão, que tanto contribuiu com o desenvolvimento e progresso do nosso estado”.

Textos reproduzidos do site: destaquenoticias com br

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"Aguento, transformo e supero" - Henrique Brandão Menezes...

Crédito da foto: Imagem reproduzida do site Caderno Mercado e postada pelo blog SERGIPE...

Artigo compartilhado do site do JORNAL DO DIA SE, de 6 de agosto de 2022

"Aguento, transformo e supero" - Henrique Brandão Menezes e o Grupo SAMAM.

Por Jornal Do Dia Se

Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

Se tem uma coisa que me fascina na oficina do historiador é a capacidade de me surpreender e vibrar com o que as fontes me dizem. E essa semana tive a grata satisfação de conhecer pessoalmente um dos maiores empresários de Sergipe. Ele fez no último dia 31 de julho, 84 anos de idade. Lúcido, com uma energia contagiante e uma saúde de ferro, seu Henrique Brandão Menezes conversou comigo sobre seu cunhado, o médico ginecologista e obstetra, Dr. Hugo Bezerra Gurgel (1922-2015).

O empresário Henrique Brandão Menezes assumiu os negócios do pai, Manoel Aguiar Menezes, em 1956, como seu sócio, procurando diversificar a oferta da antiga Casa das Louças, fundada nos anos 20, localizada na rua João Pessoa, 267. Em 1974, a Sociedade Anônima Manoel Aguiar Menezes (SAMAM) trouxe para Sergipe a Fiat Automóveis do Brasil S/A, primeiro em Aracaju, e, atualmente presente também em Itabaiana.

Nas décadas seguintes, o grupo não parou de crescer. Nos anos 80, investiu no ramo de locação. Na década de 90, ações empresariais no agronegócio, com o plantio de coco, e na comercialização de produtos de concessionárias, além de pneus, vendas de veículos novos e seminovos. E assim também o foi no século XXI, com a Samam Diesel, a Renovadora de pneus Michelin, a Sergipe Veículos, a Concessionária Iveco, passando também a trabalhar com as marcas Honda, Jeep e Hyundai, aberturas de novas filiais, além da agroindústria Taquari, usinas de açúcar e álcool.

Notadamente, trata-se de uma empresa familiar desde o seu nascedouro, com seu Manoelito da SAMAN, seguindo com seu Henrique, que por sua vez também passou para os filhos o gosto pelos negócios: Manoel Aguiar Menezes Neto e Henrique Brandão Menezes Júnior. Neto faleceu no dia 12 de fevereiro de 2021, quando este ocupava a função de Diretor Superintende da empresa. Ele foi uma das muitas vítimas da COVID-19 em Sergipe. Seu irmão, Júnior, passou então a tocar a empresa com o pai até a presente data.

Dono de uma consciência de vida muito clara e precisa, seu Henrique nos disse que já teve uma conversa com Nosso Senhor e combinou com ele viver até os noventa anos: “Ele vai dar um jeito de me levar”. Isto, baseado numa fala de seu pai que chegou aos noventa e dois: “Henrique, foi bom até os noventa, mas depois disso foi péssimo!” (risos).

Apesar de ter tido acesso a bons estabelecimentos de ensino e até mesmo a oportunidade de fazer engenharia, em Nível Superior, seu Henrique queria mesmo era negociar como o pai. Em Aracaju, fez o primário com a professora Maria Bernadete Galrão Leite. Estudou o antigo ginásio no Rio de Janeiro, num colégio marista, o São José, por quatro anos. Na então capital federal do Brasil, ele chegou a ser estimulado pelo tio Godofredo Diniz a seguir adiante, mas não teve jeito. Ele voltou para Sergipe em definitivo.

Para além da frase que intitula esta matéria, ouvimos de seu Henrique outras tantas. Todas elas revelando um empresário para além de bem-sucedido, um ser humano maduro na cabeça e na alma: “sempre satisfeito, tocando para frente!” Isto de quem perdeu um filho nesta idade é um afago e um estímulo para quem para na dor e não consegue mais enxergar nada.

Eu e minha esposa, a professora Patrícia Monteiro, saímos dali, da sede da empresa na avenida Barão de Maruim, 49, Aracaju-SE, com uma vontade de viver renovada, diante daquele homem cheio de entusiasmo e de um entusiasmo contagiante, capaz de transmitir segurança e nos estimular sempre a sonhar e a superar todo e qualquer tipo de adversidade. Para além da riqueza justa e natural de que se vale em razão dos negócios que administra, nada é comparável a sua sabedoria, ao seu idealismo e a sua fortaleza, aspectos que ele, certamente, deixara como grandes legados.

Texto reproduzido do site: jornaldodiase com br

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Morre a amiga Aroldina

Post compartilhado do Perfil no Facebook de Waguinho Aragão, em 8 de fevereiro de 2024.

'Descanse em paz minha querida irmã AROLDINA Aragão Souza Duarte, na companhia de Deus, dos anjos, dos nossos pais e da mana Agna Lúcia. Ficará sempre no meu coração, como uma mulher guerreira, exemplo de esposa, de mãe, de avó, de todos os momentos vividos em família'. (W.A.)

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Waguinho Aragão.

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domingo, 4 de fevereiro de 2024

Um dos mais importantes intérpretes do Brasil é sergipano...

Legenda da foto: Manoel Bomfim (Aracaju, 8 de agosto de 1868 — Rio de Janeiro, 21 de abril de 1932)

Publicação compartilhada do site MANGUE JORNALISMO, de 2 de janeiro de 2024 

Um dos mais importantes intérpretes do Brasil é sergipano, mas quase invisível. Livro da professora Terezinha Oliva joga luzes em Manoel Bomfim

Por Cristian Góes, da Mangue Jornalismo - Entrevista 

Manoel José Bomfim. Para muitos, um nome comum que não convoca memória nenhuma. Talvez um parente antigo. Hoje já não se batizam muitos Manoeis. Outros ligam esse nome a uma rua ou uma escola que já ouviram falar. Um grupo reduzido diz que esse sujeito traz uma vaga lembrança de alguém importante na história, mas nada que isso. Para uma minoria da minoria, sim, trata-se de um grande intelectual brasileiro esquecido.

De fato, Manoel Bomfim é um sujeito quase invisível na história, apesar de ser um dos mais importantes pensadores, formuladores e intérpretes do Brasil e da América Latina. Sim, ele nasceu na pobre Aracaju em 1868, no dia 8 de agosto. Manoel foi profundamente silenciado pela elite letrada e reacionária do Brasil por ele tinha fortes críticas ao colonialismo europeu que produziu exploração e pobreza. Também foi apagado porque fazia uma defesa enfática de que a saída para os males dos países invadidos, como o nosso, é o investir em educação popular.

Nos últimos anos, alguns pesquisadores se esforçam para jogar luzes sobre as extraordinárias contribuições de Manoel Bomfim ao pensamento crítico brasileiro e latinoamericano. A professora Terezinha Oliva (UFS), uma das mais importantes acadêmicas sergipanas, fez isso e em 7 de maio deste ano lançou o livro “Manoel Bomfim, um intérprete do Brasil”, editado pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc). É com ela que a Mangue Jornalismo conversou um pouco sobre esse aracajuano tão pouco conhecido para sergipanos e brasileiros.

Mangue Jornalismo (MJ) – Professora, é verdade que Manoel Bomfim somente foi redescoberto em 1984, quando Darcy Ribeiro, em um ensaio, classificou esse aracajuano como “o pensador mais original da América Latina”? Em que reside a originalidade e centralidade do pensamento de Manoel Bomfim, sua importância ontem e hoje?

Terezinha Oliva (TO) – Manoel Bomfim foi um escritor muito conhecido ao seu tempo e teve livros adotados na escola até a década de 1950. Na década seguinte ocorreu o seu silenciamento; os livros didáticos deixaram de ser adotados e as obras de interpretação sobre o país e o continente, não tinham feito seguidores. Darcy Ribeiro leu “A América Latina”, obra de Bomfim, de 1905, durante o exílio, numa biblioteca de Montevidéu. Isso aconteceu entre 1964 e 1968, o período do exílio. Então ele se surpreendeu com o que leu e julgou Bomfim o “pensador mais original da América Latina”. Mas a surpresa e o estranhamento também foram revelados, no mesmo período, por outros leitores, como Vamireh Chacon, estudioso pernambucano, que em 1965 perguntou, espantado: “Por que não se fala nesse Manoel Bomfim?”

MJ – Não se fala porque seu pensamento se chocava com a ideologia oficial, não é isso?

TO – Sim, a leitura provoca choque, porque a visão de Bomfim sobre a colonização europeia e os motivos do “atraso secular” do continente latino-americano, a suposta incapacidade dos seus povos para o progresso e a atribuição, aos colonizadores, de uma superioridade racial, tudo isso é descartado pelo escritor sergipano, que mergulha na História e nos modos de exploração colonial para mostrar o que acontecia no Brasil e nos outros países da América do Sul. A atualidade desse autor decorre de aspectos para os quais ele chamou a atenção e que ganharam mais importância no processo brasileiro. Mas Bomfim foi marcado por diferentes apropriações do seu pensamento, à direita e à esquerda, ainda no seu tempo e hoje ele pode ser inspirador, mas é claro que algumas das suas leituras estão datadas.

MJ – É exatamente em razão dessa originalidade em seu tempo que Manoel Bomfim é rigorosamente invisibilizado pela historiografia brasileira? Digo “em seu tempo” porque as ideias dele estavam em contraposição ao pensamento dominante. É isso?

TO – Vários estudiosos tentam dar respostas a essa invisibilidade que atingiu a obra de Manoel Bomfim. Darcy Ribeiro, que prefaciou “A América Latina: males de origem” no seu reaparecimento, em 1993, mostra como Bomfim foi contra as correntes de pensamento predominantes e as visões de todos os grandes intelectuais brasileiros do seu tempo, como o nosso Sílvio Romero. A teoria da desigualdade inata das raças e o Darwinismo Social tinham status de teorias científicas e a coragem do autor sergipano em desmascará-las, mesmo sendo um evolucionista, o tornou alvo de terríveis ataques para desqualificá-lo. Além disso, a linguagem de Bomfim é reconhecidamente a de um militante, apaixonado e ele enveredou por uma explicação biológica que ficou datada, de modo que, quando, após os horrores cometidos na II Guerra Mundial, as teorias da superioridade da raça branca começam a ser descartadas, sua obra não foi tomada como referência. É realmente estranho o silenciamento do seu nome, mesmo quando o assunto o obrigaria, como a atual retomada dos estudos sobre eugenia e o que eles causaram no país.

MJ – Além de apagado nacionalmente, Manoel Bomfim também é um ilustríssimo desconhecido em Aracaju e em Sergipe. Isso se deu ainda pelas polêmicas discussões entre Sílvio Romero e ele? Romero defendendo, por exemplo, o branqueamento da população como solução para o “defeito de formação” do brasileiro, e Bomfim valorizando a miscigenação e negando a validade científica das teorias racistas. É isso?

TO – Sim, Sílvio Romero escreveu nos jornais e publicou, depois, uma obra com o mesmo título do livro de Bomfim que ele desqualificou, “A América Latina”, na qual, em mais de 400 páginas ele procura destruir o pensamento do seu conterrâneo e apequena-lo intelectualmente. As visões dos dois sobre a questão racial no Brasil são completamente opostas, com Manoel Bomfim vendo na miscigenação racial um fator que facilitaria o progresso no Brasil e Sílvio Romero propagando a tese de que a imigração europeia seria necessária para branquear a população brasileira e assim tornar possível o progresso. O que aconteceu em Sergipe, ao meu ver, é fruto, em parte, da força e do respeito para com a tradição dos intelectuais da Escola do Recife, como Tobias Barreto, Fausto Cardoso e Sílvio Romero, em que não se inclui Manoel Bomfim e o fato de que nenhum dos intelectuais sergipanos do seu tempo retoma as suas ideias. Além disso, embora tendo revelado o seu amor por Sergipe – a quem ele dedica o livro “A América Latina” – Bomfim teve uma passagem pela política local que não prosperou. Ele ocupou a vaga deixada na Câmara Federal pela morte de Fausto Cardoso, um ídolo em Sergipe; em 1907 ele se tornou deputado federal por Sergipe, mas não conseguiu fazer carreira. Hoje temos ruas, escolas, a biblioteca do Instituto Histórico e uma medalha instituída pela Assembleia Legislativa, com o nome de Manoel Bomfim, além de estudiosos locais e obras importantes, publicadas sobre o seu pensamento. Esperemos que isso o faça mais conhecido dos conterrâneos.

MJ – Manoel Bomfim tinha um pensamento crítico sobre a exploração do povo e o saque de nossas riquezas. Em que medida, esse pensar se articula com suas importantes produções no campo da Educação Pública, da Psicologia, da História, da Cultura e do Jornalismo? Desses campos (Educação, Psicologia, História, Cultura e Jornalismo), o que podemos destacar?

TO – Manoel Bomfim fez parte de uma geração de intelectuais que tinha, na frase feliz do historiador Nicolau Sevcenko, “a literatura como missão”. Intelectuais que queriam “salvar” o país do atraso, de certa forma, redimir a nossa trajetória histórica. A questão reside em que ele não repete as teorias externas sobre o Brasil e a América Latina e na contramão delas, não vê a presença europeia no continente como fruto de um processo civilizatório, mas como fruto da exploração capitalista mais brutal, destruindo o meio ambiente, os saberes acumulados, as culturas construídas e os povos. Então, além de teorizar sobre aquele processo, ele acreditou que a saída para os países colonizados estava na educação popular e admitia que a única inferioridade dos seus povos era a ausência do acesso à educação.

MJ – E Manoel publicou sobre isso, não foi?

TO – Sim, sim, ele usou a imprensa, os livros – e ele escreveu vários títulos didáticos – esteve no grupo que criou a primeira revista infantil no Brasil, O Tico-tico e exerceu cargos de direção nas áreas da educação pública e da formação de professores. O livro didático escrito em parceria com Olavo Bilac, “Através do Brasil”, foi usado nas escolas de vários estados, entre 1910 e a década de 1950. É um compêndio para o Curso Primário com noções de Geografia, de História, de fundamentos da economia e uma mensagem sobre o valor do povo brasileiro. Mas ele escreveu obras de Psicologia, de Composição (escrita), de Ciências, de Didática, foi um incansável divulgador do conhecimento e se dirigiu especialmente aos professores, sobre como tratar as crianças, como fazer funcionar as escolas, enquanto, ao mesmo tempo, mergulhava na História e na Cultura Brasileira, chegando, no seu último livro, “O Brasil Nação”, a formular um programa político para o Brasil.

MJ – Em que medida podemos afirmar que Manoel Bomfim é um dos intérpretes do Brasil no mesmo patamar, ou mesmo superior, de um Caio Prado Júnior, Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Gilberto Freyre, Josué de Castro, Milton Santos, Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Holanda, Maria da Conceição Tavares?

TO – Darcy Ribeiro citou a maioria dos nomes enumerados nessa pergunta, descobrindo neles “ressurreições” das ideias de Manoel Bomfim, mas diz que eles não foram leitores de Bomfim. Ou seja, ele quis dizer que o nosso conterrâneo divulgou interpretações que se tornariam, em parte, correntes mais tarde. Ele não admite a velha história de “pensador adiante do seu tempo”, porque todo autor é filho do seu tempo, mas dá a entender que o que Bomfim viu e analisou, antes deles, terminou se impondo aqui e ali, embora nunca como um todo, nem mesmo como resultado do conhecimento da sua obra. Vários foram os leitores de Manoel Bomfim que destacaram diferentes aspectos do seu pensamento.

MJ – Por exemplo?

TO – A nossa professora Thetis Nunes, desde os anos sessenta mostrava Bomfim como um dos criadores do nacionalismo brasileiro e do pensamento sobre o desenvolvimento nacional ; Dante Moreira Leite destacou a singularidade do seu pensamento sobre a formação do brasileiro e sobre a natureza da exploração colonial; Flora Sussekind e Roberto Ventura destacaram nos anos oitenta, no livro “História e Dependência”, a interpretação da colonização como uma leitura biológica, descobrindo na linguagem usada por Bomfim uma possível dificuldade à sua divulgação. Zilda Lokói chamou a atenção para a atualidade do seu nacionalismo revolucionário e a preocupação com as classes desprotegidas. Enfim, a partir dos anos noventa do século passado houve um interesse na obra do pensador sergipano, foram reeditadas vários dos seus livros, que hoje são totalmente acessíveis, ele foi biografado, inclusive numa obra premiada, “O rebelde esquecido”, de Ronaldo Conde Aguiar e eu mesma estudei a sua visão do Brasil através do pensamento geográfico, que foi publicada pela editora Seduc, sob o título “Manoel Bomfim, um intérprete do Brasil”.

Texto e imagem reproduzidos do site: manguejornalismo org

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Morre o médico José Carlos Pinheiro

Dr. José Carlos Pinheiro, no centro da foto abaixo.

Foto Governo de Sergipe

Texto publicado originalmente no site G1 GLOBO SE, em 23 de janeiro de 2024 

Morre ex-presidente do Hospital e Maternidade Santa Isabel José Carlos Pinheiro

Ele passava por tratamento médico em São Paulo.

Por g1 SE

Morreu nessa segunda-feira (22) o ex-diretor do Hospital e Maternidade Santa Isabel e ex-presidente da Associação Aracajuana de Beneficência, José Carlos Pinheiro da Silva, aos 69 anos. Ele enfrentava um câncer há cerca de dois anos e estava internado no Hospital Albert Eistein, em São Paulo.

Ao g1, o desembargador Rui Pinheiro, que é irmão do dr. José Carlos Pinheiro, contou que está em São Paulo cuidando dos trâmites para trazer o corpo para Aracaju, e que a previsão é de chegada ainda nesta terça-feira (23).

Rui Pinheiro acompanhava o irmão no capital paulista. Segundo ele, José Carlos Pinheiro faleceu por volta das 17h dessa segunda-feira. Ele era casado e deixa quatro filhos.

Em nota, o Hospital e Maternidade Santa Isabel lamentou a morte do ex-gestor e destacou que 'sua dedicação incansável e liderança deixaram marcas indeléveis' na instituição.

O velório e o sepultamento vão acontecer no Cemitério Colina da Saudade, em Aracaju . Os horários ainda não foram definidos.

Texto reproduzido do site: g1 globo com

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sábado, 13 de janeiro de 2024

Homenagem a Manuel Prado Vasconcelos Filho (Pradinho)

Post compartilhado do FACEBOOK/NEU FONTES, de 12 de janeiro de 2024

Acabei de entregar uma moção de aplausos, concedido pelo Conselho Estadual de Cultura, ao empresário Manuel Prado Vasconcelos Filho, Seu Pradinho, como é mais conhecido, pelo incentivo as artes de Sergipe e por sua galeria com mais de 200 obras de artistas Sergipanos. O empresario é dono da Rede Supermercados Prado Vasconcelos.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Neu Fontes