sábado, 10 de setembro de 2022

Conjunto musical "Os Bárbaros", com Augusto Popó na bateria


Publicação compartilhada do Perfil do Facebook/Fernando Cabral, de 4 de setembro de 2022

Publico hoje, uma lembrança de minha infância, o registro fotográfico do conjunto musical "Os Bárbaros", com a formação Tacão, Luizinho, Reynold e Augusto Popó. Momentos, que não saem da minha memória, as apresentações na Tv Sergipe, em sua fase experimental, subindo o morro da piçarra no Jeep de Seu Luiz Tarcísio.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil do Facebook/Fernando Cabral

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

REGISTRO (21/02/2022) > Sergipe se despede do fotógrafo Lineu Lins

Legenda da foto: Lineu Lins entre os vice-reitores da Unit à época, Jouberto Uchôa e Amélia Cerqueira Uchôa -  (Acervo da foto: Unit/2011)

Legenda da foto: Lineu Lins entre família durante inauguração de espaço no campus Centro da Unit. Na ponta da direita, sua filha Cristal Carvalho - (Crédito da foto: Acervo Unit/2011)

Lineu Lins






Crédito das fotos antigas: Acervo Lineu Lins

REGISTRO de publicação, em 21/02/2022

Publicação compartilhada do site do PORTAL UNIT, de 21 de fevereiro de 2022

Sergipe se despede do fotógrafo Lineu Lins

Lineu Lins foi responsável pela documentação fotográfica de importantes fatos e acontecimentos no estado. Unit tem acervo com mais de 25 mil fotos

Ontem, 20, Lineu Lins faleceu na cidade de Aracaju aos 84 anos. O conhecido fotógrafo de Sergipe era considerado por muitos um dos melhores profissionais da área da fotografia no estado. Lineu enfrentava problemas de saúde em decorrência do Alzheimer e marcou a história sergipana pela documentação fotográfica de importantes acontecimentos e fatos da vida empresarial em Sergipe.

Segundo o reitor da Universidade Tiradentes, Jouberto Uchôa de Mendonça,  Lineu foi além de um grande amigo pessoal, um parceiro da Unit e de Sergipe. “Sempre atento ao que mais de interessante havia na época, ele foi um homem à frente de seu tempo e que muito contribuiu com a nossa história e identidade cultural com seus registros históricos de uma Aracaju antiga que muita gente viveu e que a juventude precisa sempre conhecer para entender seu presente. Temos a alegria de termos sidos escolhidos para abrigar mais de 25 mil itens de seu acervo na Biblioteca Central da Unit, uma dádiva para a sociedade que hoje lamenta, profundamente, sua partida”, reflete Uchôa. 

Cristal Carvalho, filha de Lineu Lins e professora do Unit Idiomas e afirmou, com emoção, a dedicação do seu pai à profissão. “Meu pai vivia pela família e pela arte de fotografar. A fotografia não era apenas registro, era a forma como ele enxergava o mundo e como queria mostrar aos outros o que via”, relata. 

O fotógrafo do Complexo de Comunicação Social (CCS) da Unit, Luiz Dinarte, endossa. Contemporâneo de Lineu, destaca sua importância para a evolução dos profissionais da fotografia em Sergipe. “Onde ele chegava, reunia-se um grupo de pessoas da área para conversar sobre fotografia. Ele era uma pessoa que se atualizava constantemente e passava esse conhecimento para todos os fotógrafos. Ele era considerado o nosso pai na área da fotografia”, conta. 

História imortalizada

A história contada pelas imagens de Lineu é imortalizada no acervo que tem curadoria da Universidade Tiradentes, por meio da Biblioteca Jacinto Uchôa. Nela, é possível encontrar um acervo com mais de 25 mil fotos, além de diversos microfilmes. Sendo o primeiro fotógrafo de Sergipe a fazer o uso da máquina digital, Lineu se dedicou, ao longo de sua vida profissional, a capturar imagens do dia a dia de Aracaju.

Para o diretor do Sistema Integrado de Bibliotecas da Unit, prof Marcos Wandir, o acervo permite que alunos da instituição conheçam aspectos importantes da cidade, estabelecendo um elo entre o passado e o presente. “O professor Uchôa, um sergipano que garimpa sempre o que há de melhor para nossas futuras gerações, trouxe para nossa biblioteca todo o acervo de imagens de Lineu Lins, um espaço de estudos e pesquisas para que os professores, pesquisadores e alunos produzam conteúdo e conhecimento. A fotografia é uma arte, mas também é uma ciência, que se aprende e que se admira. Muitos trabalhos de conclusão de curso terão esse acervo como referência em suas pesquisas. A biblioteca sede tem um laboratório de Imagens Lineu Lins e todo acervo de imagens está sendo inserido no Pergamum para facilitar o acesso”, reitera. 

Já o professor doutor do curso de História da Unit, Rony Rei do Nascimento Silva, reforça que Lineu é um dos grandes nomes do estado de Sergipe no século XX. “Sob seu olhar humanista, ele registrou o cotidiano de pessoas simples, eventos políticos, visitas de autoridades, artistas e intelectuais. Ele também registrou a arquitetura da capital e do  nosso interior. Fica o seu legado, conservado pela biblioteca da Unit e aberto a visitação para o público. Por toda a sua majestosa história, é conferido a Lineu Lins um lugar de autoridade na nossa lembrança e na nossa memória”. 

O velório aconteceu até às 16hs desta segunda-feira, 21, no OSAF, rua Itaporanga, 436, centro da capital.  A família informou que o corpo será cremado.

Texto e imagens reproduzidos do site: portal.unit.br

Artigo: Paulo Barreto e o livro de Lena, por Marcos Melo


Crédito das fotos: Reprodução/internet

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 06 de agosto de 2022  

Artigo: Paulo Barreto e o livro de Lena - Por Marcos Melo

Estudante em Maceió, fui gozar as férias de junho em casa. Nesse mês, de 1962, estava sendo encenada no Cineteatro Propriá o monólogo “O Homem Que Perdeu a Fé”, de autoria do dramaturgo Paulo Barreto (1911-1990).

A peça estava fazendo enorme sucesso. Lembro-me que quando fui vê-la, a ampla sala do Cine Propriá estava lotada. Tal êxito se devia a três fatores básicos: primeiro, porque o ator – Élinton Cunha –, Etinho na intimidade, era gente da terra, partícipe do recém-formado Grupo de Teatro Amador de Propriá – GTAP, sob a direção do mestre Manoel Ferreira Rocha. Todos queríamos ver a atuação de Etinho que, frise-se, se saiu muito bem.

 Segundo porque, àquela época, o teatro amador, ou melhor, o teatro brasileiro, estava de vento em popa, no auge, por assim dizer, no Brasil e em Sergipe. Isto devido a existência de grandes companhias profissionais, como o TBC, que tinham em seus quadros atores e atrizes talentosos a exemplo de Procópio Ferreira, Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Rodolfo Mayer, Cacilda Becker, Cleyde Yáconis, Maria Della Costa, Tônia Carrero, Ruth de Souza, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro e por aí vai. 

 No que se refere ao teatro amador, basta lembrar o “Teatro do Estudante”, movimento criado pelo embaixador Paschoal Carlos Magno, que percorreu o país numa verdadeira maratona de divulgação das artes cênicas e que promoveu a descoberta de novos talentos. Houve, se não me falha a memória, um importante seminário sobre teatro, na histórica Penedo, realizado no portentoso Cine São Francisco inaugurado em 1960.

 Em Sergipe, à época, importantes iniciativas amadorísticas foram realizadas, no âmbito estudantil, pelos professores Caetano Quaranta e João Costa. Caetano, estudante de medicina e que foi meu professor de Química Geral, no Ateneu, dirigiu algumas peças, com destaque para “Zefa Entre os Homens”, que tinha Valfredo Neri, meu colega de turma, num importante papel. Essa peça também foi encenada no Cine Propriá, com êxito. Da mesma forma que a premiada “Recital Sem Opus”, do dramaturgo João Costa, encenada pelos estudantes Luiz Antônio Barreto, Chico Varella, João Gama, o ator Orlando Vieira e os professores Antônio Joaquim e João Costa. Essa peça foi muito aplaudida em João Pessoa e no Rio de Janeiro.

E, em terceiro, porque “O Homem Que Perdeu a Fé” é um texto maduro, pungente, que reflete a condição humana em suas dúvidas existenciais. Tem um quê shakespeariano na medida em que avulta a hesitação do personagem diante dos mistérios vida e da morte. É uma obra inserida nos cânones filosóficos do existencialismo, vigente nos anos 1940/1950, quando foi concebida. Ela atesta que Paulo Barreto tinha uma acurada leitura das angústias que povoavam corações e mentes de sua geração e que, intelectualmente, é a geração de Camus, Malraux e Sartre a santíssima trindade que decodificou tais padecimentos d’alma no pós-guerra.

 Portanto, “O Homem Que Perdeu a Fé” é uma obra seminal da dramaturgia sergipana e brasileira e, sem dúvida, Paulo Barreto pontifica na linha de frente dos autores que modernizaram o teatro brasileiro a exemplo de Ziembinski, Pongetti e Nelson Rodrigues. Seus textos teatrais, como bem ressalta seu filho Cleandro Barreto, na contracapa do recém lançado livro “Histórias de Meu Pai & Estórias por Meu Pai...” organizado por Lena Barreto, sua irmã, foram representados por atores do porte de Procópio Ferreira, Ítalo Cúrcio, Barreto Júnior, Rodolfo Mayer e Milton Carneiro.

Mas, Paulo Barreto, como muito bem ressalta o precioso livro de Lena, era um homem de inquebrantável fé cristã, de enorme compaixão pelos desvalidos da sorte, um escritor sensível à problemática social. Era, também, um bem-humorado cronista do cotidiano. Os textos selecionados por Lena Barreto, são biscoito fino de uma prosa elegante. Paulo, foi ainda, um poeta inspirado. O belíssimo “Mesa Vazia” diz muito da passagem do tempo no âmbito familiar, das idiossincrasias, do crescimento e das escolhas dos filhos, de suas partidas. Fez-me lembrar de “As Pombas”, belo soneto do parnasiano e diplomata Raymundo Correia. Como bem ressalta sua filha Cleia Tereza Barreto de Araújo: “Sensível como todos os poetas, apaixonado pela família e amigos, extremamente humano Paulo Barreto deixou um legado de honradez, dignidade, inteligência, simplicidade e humor nos seus trabalhos cômicos, trágicos, verdadeiros, sonhadores, sempre uma reflexão permanente sobre a condição humana.”

 Por fim, não se pode falar em Paulo Barreto, ou melhor, na família Barreto, sem que se mencione o Cine Teatro Rio Branco, histórica sala de projeção e representação localizada no epicentro da Rua João Pessoa. O cinema Rio Branco, como era chamado, fundado por Juca Barreto, irmão de Paulo, foi palco de grandes eventos cinematográficos, teatrais e políticos. Sim, políticos, porque era em suas dependências que os partidos realizavam suas convenções. Local de Inesquecíveis produções cinematográficas, como os filmes dos surrealistas Buñuel e Fellini, que em sua tela foram exibidos; e palco de grandes representações teatrais de companhias em passagem por Aracaju.

Lembro que, em uma de suas paredes, estavam afixadas placas de mármore ressaltando as presenças de renomados artistas em seu palco, a exemplo do icônico tenor lírico Tito Schipa, num ano da década de 1920.

Certamente, muito do aprendizado de Paulo Barreto, nas artes cênicas, se deveu às fitas que viu na tela do Cinema Rio Branco e dos espetáculos teatrais que foram encenados em seu palco.

O Livro de Lena Barreto – Histórias de Meu Pai & Estórias por Meu Pai – traça um perfil magistral do intelectual Paulo Barreto. É, também, uma comovente homenagem a Josefa Batista Barreto, Dona Joselita, esposa amantíssima de Paulo Barreto e mãe adorada pelos nove filhos, em face da recente passagem de seu centenário. Vale a pena conferir.

Marcos Melo é professor emérito da UFS e membro da ASL

Texto e imagens reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

'Tríade das cordas', por Neu Fontes

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 2 de agosto de 2022

Tríade das cordas
Por Neu Fontes*

Venho de um tempo onde respeitar e valorizar que faz bem-feito e responsável era natural, minha bisavó Noemi Brandão sempre dizia: – ande com os melhores e aprenda com eles. Minha mãe Susete me colocou aos 10 anos no Instituto de Música de Sergipe que ficava situada no prédio que hoje é o memorial da Justiça na praça Olímpio Campos, logo no segundo semestre nos mudamos para o atual prédio na Rua Santa Luzia e já com o nome de Conservatório de Música de Sergipe.

Foi lá que aprendi as primeiras notas e acordes do violão com o professor João Pires Argollo, Baiano radicado em Sergipe, grande professor que introduziu o ensino de violão clássico no Conservatório de Música de Sergipe e fundou a cadeira de violão na instituição. Um instrumentista de alta categoria que eu ficava admirando nas aulas. Mas, principalmente nos saraus da casa do meu avô José Domingues. Fui também algumas vezes na sua própria residência aos domingos no chorinho que ele organizava com os maiores músicos da nossa cidade, além dos convidados que chegavam. Constituiu a família mais musical do nosso estado com todos os filhos músicos, onde três se destacaram por tornar a música suas profissões Alvino Argollo, Eliane Argollo e João Pires Argollo Filho.

Nos anos 70 tive ainda como professores, os músicos Eribaldo Prata e o Henrique Souza. O primeiro filho de uma grande amiga de minha mãe Dona Caçula e que vendeu a minha mãe meu primeiro violão e um contrabaixo. Heribaldo fez o curso superior de música na Bahia no Conservatório de Música Regina se especializando em piano e acordeon. Compositor, participou de inúmeros festivais, conquistando o 3º lugar no “1º Concurso de Música Sergipana”; 1º lugar no “Festival Estanciano da Canção”; 3 medalhas de melhor arranjo e vários outros troféus. Criou sua Academia de Música Carlos Gomes de onde passaram centenas de músicos e cantores. Eribaldo Prata está na história da cultura sergipana com uma participação de suma importância na área musical, atuou como instrumentista, compositor, regente e arranjador.

Henrique Souza o “Jovem” como era conhecido, era alagoano, formado em música, foi professor do conservatório de música de Sergipe e instalou seu método Prático, Rápido e Eficiente, revolucionou o ensino do violão, e por isso rapidamente ficou conhecido nas rodas músicas, montou o grupo D’Aqui com Wilson Cordeiro, Vanderley Souza, Tourino e José Amaral. Um grande instrumentista e compositor, participou de inúmeros projetos e Festivais, um sujeito agradável, amigo e companheiro, sempre disposto a ajudar. E assim fui construindo minha base musical.

Por mais de 18 anos gravei discos e fiz muitos shows. Comigo tocaram grandes músicos, entre eles os baixistas: Jairo Bala, Gilson Batata, Robson, Flor, Manguito, Fradinho, o pianista Maurico Botto, o flautista Cal Alencar, os bateristas Marcos Passos, Ademir, Ednor, Nego, Carlinhos e Rominho, os tecladistas, Carlinhos Menezes, Waltinho, Diogo Montalvão, Alegria, Peta, Valdo França, os guitarristas Zezinho, Lito Nascimento, Vigú, Benezão, Miltinho Goulart, Marcus Vinícius, Fred Tex, e as percussões de Pedrinho Mendonça, Ton Toy, Marcos Mancada, Sanfoneiros como Erivaldinho e Cobra Verde, nos metais Gentil, Carlinhos, Haroldo e Sousa, Julinho Vasconcelos gaita entre tantos outros instrumentistas virtuosos e competentes e que contribuirão com o meu crescimento artístico e musical.

Nos anos 2000 construí o Estúdio Capitania do Som e lá conheci novos nomes da nossa música, meninos chegando com tanto talento e com uma preocupação enorme de ter além do talento nato de cada um, a formação necessária para a prática da profissão que eles estavam escolhendo. E assim conheci um menino magrinho de óculos de grau e um violão na mão, entrou no meu estúdio para gravar e fiquei impressionado com tanto talento, além de muito educado e gentil com todos. O ano passado devido a pandemia não pude comemorar meus quarenta anos de música profissional e esse ano resolvi gravar alguns trabalhos, serão três cd´s e um livro com essas minhas histórias.

Pensei em três nomes um para cada trabalho e assim convidei o menino de óculos para produzir um desses trabalhos além de fazer os arranjos das canções e claro, tocar. Não tinha certeza se ele aceitaria mais o danado aceitou. Esse menino que conheci no estúdio Capitania dos Som hoje é o Mestre Saulo Ferreira, guitarrista, compositor, professor, formado em música pela Universidade Federal de Sergipe e mestre em Educação Musical pela Universidade Federal da Bahia, um músico versátil e que tem um trabalho autoral maravilhoso resultante de múltiplas influências, sobretudo do jazz, da música brasileira e da africana, um arranjador e produtor desejado por todos os artistas.

Saulinho como é carinhosamente chamado, é um estudioso da música além dos seus discos, lançou recentemente o livro SCAT SINGING, onde auxilia os guitarristas e violonistas a utilizarem o recurso da vocalização em sua prática instrumental. Com todo esse potencial e talento, o que salta aos olhos de qualquer um que tenha a honra de trabalhar e conviver com ele, é o modo afetuoso que ele trata a todos, muito carinhoso, atencioso sempre com uma palavra boa e com significado, um ser humano ímpar, que todos devem conhecer. Gravamos 12 canções e, sem dúvida, é o trabalho mais bonito e consistente que fiz, reaprendi o significado da minha música nos meus

62 anos, e Saulinho tem uma importância profunda e especial nesse aprendizado. Os outros dois nomes da nova safra desses excelentes músicos são Alberto Silveira e  Ricardo Vieira. E, me parece que a gemada que eles tomaram quando criança é a mesma que o Saulinho tomou também, pois os dois são da mesma casta do Saulo, talentosos, estudiosos, competentes e afetuosos, pessoas boas, seres humanos do bem.

O violonista Alberto Silveira é músico versátil: compositor, arranjador e tem uma técnica impecável de fingerstyle, forma de tocar apenas com os dedos, sem utilizar a palheta. Já tinha ouvido falar do cabra, foi quando convidei o Alisson Coutto para participar comigo do Festival Sescanção e ele me trouxe o Alberto, e tudo que já tinha ouvido sobre ele era pouco. O rapaz tem uma execução primorosa. Ótimo músico, simples, gentil e generoso. No final do ano passado convidei Alberto para juntos fazermos um show só com músicas do Vander Lee, seria o começo das  comemorações dos meus 40 anos, foi a primeira vez que fiz um show sem músicas autorais. Ele topou, montou os arranjos e realizamos o show, criamos uma afinidade e amizade. Alberto é compositor, arranjador, grande professor e um homem de bem, talentoso coloca todo seu conhecimento em favor da música.

A tríade se completa com o Ricardo Vieira: violinista, compositor, produtor musical e artista multimeios é graduado em música pela UFS, Mestre na areá de criação e execução musical pela UFBA e doutorando em processos criativos pela UNIRIO. Ricardo é uma pérola rara, um músico com tanta técnica e talento que toca com a alma quando dedilha os acordes e solos no seu violão de sete cordas. Uma sonoridade que ouvi pela primeira vez no Sescanção, festival que coordenei por diversos anos. Ele participo em muitas edições e sempre com sucesso. Soube que antes ele atuava em regionais e diversos projetos como solo, duos, trios com a música brasileira de câmara. Depois avistei o Ricardo tocando com o artista nacional Xangaia, aí não tive dúvida: ele era a essência da música nordestina e brasileira, a sonoridade do seu violão é inigualável. Pensei um dia ainda vou convidá-lo para produzir alguma música minha.

Em janeiro de 2022, fui convidado a participar de um jingle da retomada do carnaval da nossa Aracaju, como sempre topei, pois se me convidar eu vou, e assim reencontrei o Ricardo Viera pois ele era o compositor, arranjador e produtor do Jingle. Gravei a minha voz e conversamos muito sobre algumas ideias, rimos muito e ficamos de conversar depois. O tempo passou e quando resolvi começar o projeto com Saulinho, comecei a perceber que precisaria de um profissional de canto para tentar me desenferrujar, afinal tinha muitos anos sem cantar profissionalmente. Procurei algumas pessoas e todas me indicaram uma cantora Capixaba que está morando por aqui, Rebeca é o nome dela e a referência maior era que ela fazia parte do Duo Vieira tanto na música como na vida, ela é a esposa do Ricardo Vieira. Não me fiz de rogado e liguei para o Ricardo, ele alegremente me atendeu e me passou o contato da Rebeca e disse feliz, claro que ela topa. Liguei para ela e muito educada me explicou que tinha tido bebê recentemente, mas pensaria uma forma de trabalharmos juntos.

Dias depois ela me ligou e marcou alguns horários e dias. Fiz aulas com a Rebeca e pude aproveitar do seu conhecimento, talento e determinação, uma cantora como poucas que conheci. Na pequena convivência com eles puder perceber como os dois se completam. Ricardo é um excelente músico, dedicado, competente e com todas as misturas rítmicas, harmônicas e melódicas da nossa música, um celeiro de ideias com suavidade e delicadeza. Quando os dois estão juntos no palco, a música se transforma em una, e o mundo silencia para que não possamos perder uma nota se quer. O Duo Vieira nos traz paz e alegria, feito luz praieira e a dança da Taieira.

Imagine essa tríade de cordas, misturadas com Mestrinho, Glauber, João Ventura, Italo Neno, Igor Côrtes, Licas Pinheiro, Fábio Cavalieiri, Lucas Campelo, Julio Andrade, Igor Brasil entre tantos e talentosos músicos da ótima boa safra da nossa música.

* É cantor, compositor, publicitário e gestor cultural

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Professor Joaquim Vieira Sobral e seu mecenato estudantil

Post compartilhado do Perfil do Facebook/Sílvia Menezes Leroy, de 1 de agosto de 2022

Um pouco da vida do Prof. Joaquim Vieira Sobral

Professor Joaquim Vieira Sobral e seu mecenato estudantil

Publicada: 31/12/2008

Texto: Manoel Cabral Machado (Ex-vice-governador de Sergipe)

Por influência do meu amigo Lauro Barreto Fontes, (falecido recentemente), em 1935 fui transferido do colégio Salesiano para o Atheneu Pedro II, nesse tempo dirigido pelo professor Zequinha.

Logo depois, no Governo Eronides de Carvalho, a direção do estabelecimento fora ocupada pelo professor Joaquim Vieira Sobral que então lecionava Desenho e Inglês. Houve com a nova direção uma mudança total. O professor Joaquim era amável e acolhedor. Tratava os alunos com cordialidade, valorando a classe estudantil. Logo no início de sua administração, dirigiu-se aos estudantes da quinta série pedindo a nossa colaboração. No Ateneu fez administração revolucionária com inovações pedagógicas ampliando os laboratórios de Ciências Físicas Naturais, criando biblioteca, apoiando o grêmio estudantil Clodomir Silva e o seu jornal A Voz Do Ateneu. E realizando o mecenato estudantil com amparo aos estudantes pobres e assim formar muitos dos jovens talentosos de Sergipe nas Faculdades da Bahia ou do Rio.

O professor Joaquim Vieira Sobral, nasceu em 03 de abril 1898, na cidade de Japaratuba, no engenho São João, pertencente à família, filho do doutor Domingos Dias de Menezes Sobral (Dr. Mingu) e sua esposa D.Ana Vieira Sobral. O Doutor Mingu era agrônomo e formara-se em Salvador na escola de agronomia de Itapajipe, sendo colega do meu tio Dr. Matheus de Souza Ferreira Machado, pai do desembargador Antonio Machado falecido há pouco tempo. Dr. Mingu casara-se com D.Ana Vieira Sobral, filha do Doutor Joaquim Manoel de Almeida Vieira, médico nascido em Capela e que esteve na Guerra do Paraguai voltando cheio de glória falecendo muito moço. Fora padrinho de minha mãe e possivelmente seu parente. Sua esposa muito jovem casa-se com o coronel Semeão Telles de Menezes Sobral. Este casara-se duas vezes do 1° Consórcio com D. Rosa Cândida Dias Sobral e tivera 17 filhos. Entre estes o desembargador Semeão de Menezes Sobral, Pedro Sobral (Promotor de Japaratuba) e outros inclusive o Dr. Mingu. Do 2° Consórcio com D.Luiza Francisca Acioly Sobral teve seis filhos, entre estes o arcebispo D. Adalberto Sobral, Dr. Otavio Acioly Sobral, usineiro da Usina Oiterinhos, José Sobral, Dr. Francisco Acioly Sobral, avô dos meus netos, Jorge do Prado Sobral Junior e Paulo Henrique Machado Sobral e ainda duas mulheres Alzira e Eulina. Ver-se que os descendentes do coronel Semeão Telles Sobral casam-se uns com os outros fazendo um enlaçamento familiar acontecendo, por exemplo, que D. Adalberto Sobral seja irmão de Dr. Mingu e irmão também de sua esposa D. Ana Vieira Sobral, mas Mingu não era irmão de sua esposa Ana Vieira Sobral, pois, que tem o mesmo pai mais não tem a mesma mãe. Voltando ao professor Joaquim Vieira Sobral diria que por algumas vezes, ele dirigiu o Ateneu Pedro II e muitos dos estudantes pobres do Ateneu formaram-se com a sua ajuda. Seja distribuindo bolsas de estudos, empregos ou mesmo ajuda financeira sua e dos seus amigos. Fora um verdadeiro mecenato. Quando em 1943, já formado, vim residir em Aracaju e passei pouco tempo depois a ensinar no Colégio Nossa Senhora de Lourdes e na Escola de Comércio Conselheiro Orlando, o professor Joaquim convidou-me para lecionar História no Ateneu e conseguiu-me um documento que permitiu o meu registro como Professor Ginasial.

Professor Joaquim Sobral, estudara as primeiras letras em Riachuelo, no Engenho Escuta pertencente aos seus pais. Crescendo conheceu e fez amizade com Dr. Silvio Leite participando das tertúlias literárias do engenho Lira do Dr. Dionísio Telles de Menezes. Já rapazinho resolveu estudar no Colégio Salesiano Santa Rosa, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Em 1911, retorna a Sergipe passando a lecionar no Colégio Salesiano em Aracaju. Em 1912, retorna ao Rio de Janeiro ensina no Colégio Salesiano Santa Rosa e faz curso na Escola Politécnica. Em 1913 outra vez interrompe os estudos voltando a Sergipe para cuidar dos haveres da família administrando o Engenho Escuta em Riachuelo. Sete anos depois, casa-se com a sua prima Alzira Garcez Sobral, numa festa de grande alegria para as famílias. Depois de algum tempo, é nomeado professor de desenho do Ateneu Pedro II de Aracaju, onde passou toda a sua vida seja como professor de Desenho ou de Inglês ou mesmo de Diretor do estabelecimento, ganhando destaque e projeção graças as suas qualidades de administrador e habilidade com que tratava os seus alunos. Do seu casamento com D. Alzira teve vários filhos, Dr. Hernani Sobral, (professor de matemática da Faculdade de Engenharia da Bahia) Clovis Sobral (funcionário público, aspirando ser Agrônomo, realizou a vocação no seu filho Dr. Lafaiete), Maria Silvia (professora), Carmem (casada com Luciano Menezes alto funcionário do Banco do Brasil) e Letícia.

E quando foi criada a Sociedade dos ex-alunos do Colégio de D. Bosco em Aracaju, ele fora eleito Presidente da Sociedade - sendo eu também eleito Orador Oficial -. O professor Joaquim, logo depois, conseguiu recursos para comprar um casarão para a sede da sociedade na rua de Propriá. Extinta a sociedade, o prédio passou para a Diocese de Aracaju, onde hoje funciona a Rádio Cultura. Porque falava e escrevia inglês, o professor Joaquim criara um escritório de representação de máquinas inglesas para atender as necessidades da nossa indústria açucareira. O professor Joaquim, irmão do desembargador Carlos Vieira Sobral, Dr. Semeão Vieira Sobral, coronel do Exército José Vieira Sobral, Dr. Luiz Bosco Sobral, Eduardo Vieira Sobral pai de D. Clara Sobral Souza, esposa do conselheiro José Carlos de Souza. Quando da sua aposentadoria, após mais de trinta anos de magistério aposenta-se havendo uma despedida festiva no Ateneu, sendo saudado pelo poeta Freire Ribeiro, inclusive recitando um belo poema. Aposentado, passa a dirigir o asilo Rio Branco, cuidando com afeto os velhinhos empobrecidos.

Faleceu o professor Joaquim aos 83 anos, no dia 28 de setembro de 1980, cercado do afeto dos seus filhos e netos e ainda da admiração dos seus ex-alunos e amigos.

Quando do seu centenário de nascimento, a professora Maria Tethis Nunes liderou o movimento para a comemoração do centenário do mestre Joaquim Sobral, nos festejos, muitos ex-alunos falaram inclusive eu e a professora Tethis. Compareceu também à solenidade sua ex-aluna professora Maria de Loudes Burgos da Universidade Federal de Medicina da Bahia. Fora um homem admirável pelos seus serviços prestados a educação em Sergipe, e ainda fora um pai benévolo e dedicado aos seus alunos, especialmente os pobres. Foram muitos os estudantes pobres amparados e protegidos pelo professor Joaquim Vieira Sobral. Sendo assim, ele poderá integrar a galeria dos sergipanos excepcionais e receber as homenagens dos seus coestaduanos.

JORNAL DA CIDADE - CADERNO B - PUBLICADO EM 31/12/2008

FOTO DAS BODAS DE OURO DO CASAL, em presença de todos os filhos, netos e respectivos cônjuges.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil do Facebook/Sílvia Menezes Leroy

quarta-feira, 13 de julho de 2022

'Rosa Faria', por Ismael Pereira

Legenda da foto: Rosa Moreira Faria 28.04.1917 - 01.05.1997

Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida, em  30 de abril de 2022

Saudade 

Rosa Faria 
Por Ismael Pereira*

E um poeta disse: “Fala-nos da beleza”. E ele respondeu:

Onde procurareis a beleza e como a podereis encontrar a menos que ela mesma seja vosso caminho e vosso guia? (Khalil Gibran.)

    Quando nasceu Rosa Faria, ilustre sergipana de Capela, em 28 de abril de 1917, com certeza um coro de anjos celestiais repartiam talentos e dons. Coube a Rosa, por antecipação da sua dignidade e do seu merecimento, o botão da criatividade que se faz arte como fortuna inviolável e herança divina, que a nossa Rosa sabiamente multiplicou, chancelando-a com o selo indispensável do cuidado, do compromisso com a sua vocação, e especialmente pelo amor cívico que dedicou à história do seu país e às pessoas da sua terra. Rosa cresceu como uma flor de rara beleza, suavidade e nobreza, aprendendo com a família: seu pai, o artista João Guimarães Faria, conhecido como João da Luz –, que trabalhava no Serviço de Luz e Força -, e sua mãe, Arminda Faria, pessoas simples e generosas, que lhe deram farto exemplo de convivência humana. Destaca-se a presença da sua avó, Rosa Moreira Frião, professora de ilustres sergipanos, pianista e poetisa que também contribuiu para o aperfeiçoamento intelectual e artístico dos tesouros humanos herdados por Rosa.

    Assim, Rosa Moreira Faria, cresceu e aprimorou seu cabedal artístico-cultural ao fazer o curso de artes plásticas no Departamento Nacional do Serviço de Aprendizagem Industrial, no Rio de Janeiro e o curso de desenho artístico com autorização para lecionar em qualquer parte do território brasileiro, servindo apenas como um complemento, vez que ela ao receber o sopro da vida, concomitantemente foi abençoada pela luz da sabedoria, como dádiva do Criador.

    Mulher admirável, detentora de irretocável formação religiosa, moral e cívica, a nossa Rosa se tornou única, desenvolvendo um dinamismo ímpar, inspirando-se em inesgotável fonte de criatividade. Peculiar, face aos limites da mulher no contexto da sua época, colocou a sua dignidade inteira à disposição do seu talento artístico e das suas múltiplas vocações, exercitando as suas escolhas acadêmicas ou profissionais, sempre com firmeza e suavidade. Foi professora, artista plástica, pesquisadora, historiadora, escritora, biógrafa, telegrafista, jornalista, taquigrafa e poetisa. Foi, portanto uma mulher extraordinária, que se entregou à diversidade e às exigências da sua arte e do seu trabalho, empreendendo os fazeres da vida com tanto amor, probidade e dedicação, e de tal modo se entregou as ações que desenvolveu que hoje, todos nós, capelenses, sergipanos, brasileiros, afortunadamente podemos nos orgulhar e compartilhar a soberania do seu exímio talento no portfólio da sua (da nossa) história.

    Sua obra foi calcada notadamente na inconfundível escola Naif, uma escola de origem francesa transposta para a circunstância cultural brasileira. A paixão de Rosa Faria pela arte Naif, ou primitiva para alguns críticos, se ajusta perfeitamente no que disse o fundador do Museu de Arte Naif do Rio de Janeiro – Lucien Finkeistein: “Uma paixão não se explica, vive-se.” Assim foi a paixão de Rosa Faria, como também foi a paixão dos consagrados pintores Naifs: Henri Rousseau, Louis Vivin, Andre Bauchant, Monsueto, Heitor dos Prazeres, Chico da Silva, Valdomiro de Deus, Antonio Poteiro e outros titãs vinculados ao primitivo moderno. Rosa Faria descobriu no mundo encantado e encantador do Naif, a singeleza das cores básicas e o belo universo das formas simplificadas, sem rodeios e sem os rigores das formalidades programáticas; seus traços, decisivos e firmes, percorriam religiosamente o caminho por ela traçado para chegar onde pretendia no contexto de sua obra, sublimando assim seus mais puros sentimentos estampados na planimetria das telas e na delicada superfície multifacial das peças de porcelana que tão esmeradamente pintou.

    Mulher singular e ao mesmo tempo plural, inquieta, polivalente e perfeccionista, características marcantes da artista da terra do saudoso Padre Juca, Capela, a gloriosa – “princesa dos tabuleiros.” Nos longos caminhos percorridos em vida, Rosa, com seu carisma natural, recebeu muitas rosas, mas também teve que enfrentar com determinação, altivez e coragem a agudeza dos espinhos encontrados no caminhar. Foi assim que a nossa inesquecível artista capelense pesquisou, telegrafou, taquigrafou, com mestria fez poesia, ensinou o que sabia, escreveu, fez noticia para o jornal, bordou e pintou com as tintas de sua alma pulcra os mais sagrados cantos e recantos da sua querida Aracaju, capital do pequeno notável Estado de Sergipe, ao qual Rosa Faria prestou relevantíssimos serviços.  

    Por julgar oportuno, louvo esta tão feliz iniciativa da Associação Sergipana de Imprensa, capitaneada pelo dinâmico Presidente Cleiber Vieira, pois acender todos os seus litúrgicos turíbulos para incensar a memória de tão insigne figura sergipana, é praticar o nobre gesto do necessário reconhecimento. 

Portanto, é importante ressaltar que a nossa Rosa Faria, cuidou muito bem dos tesouros que Deus lhe deu, e por sua persistente vocação, por seus sonhos quase sempre solitários e carentes de apoio à preservação e elevação da nossa cultura, e da nossa memória, essa mulher invulgar construiu com as suas próprias mãos sempre ocupadas com a arte de incomparável talento, uma obra de inestimável valor histórico, seu legado de eterna referência à nossa própria história.

    Finalizo afirmando com a mais absoluta convicção – se mais vida tivesse por amor a Sergipe muito mais “Rosa Faria.”

* Artista Plástico

Texto e imagem reproduzidos do blog: academialiterariadevida

'Amaral, esse adeus não dado', por Carlos Cauê

Publicado originalmente no Perfil do Facebook de Carlos Cauê, em 11 de julho de 2022

Amaral, esse adeus não dado.
Por Carlos Cauê

Digo num poema que a partida de Amaral Cavalcante não causou ainda a justa dor da nossa perda. Imersos na esquizofrenia do isolamento causado pela pandemia, deslocados por uma realidade inesperada, atônitos, começamos a naturalizar a morte. Milhares iam-se para sempre, todos os dias. E a gente numa janela esquisita da vida, máscara na cara, impotentes. Aí ele se foi. 

Era sete de julho e, a quatro dias dali, num 11 de julho que ele não viveu, faria anos. Não esperou. Cingido por “malinculias” que foram aos poucos lhe arrancando o costumeiro vigor e inquietude, o poeta ia das invasivas hemodiálises aos já incorporados cuidados com o diabetes e outros males, com a galhardia com que sempre trilhou seus quase setenta e quatro anos. As últimas vezes que fora lá em casa, já recusando as bebidas e os complexos manjares, pilotava uma cadeira de rodas, e ainda achava jeito de divertir-se com sua falta de senso de direção. Tirava onda da sua própria dor.

Olhos marejados, peito arfante, dor espetada pelo trajeto de décadas de convivência e cuidados, foi Samuel quem me trouxe a indesejável notícia. E foi com ele no carro, silêncio impedindo qualquer palavra, que acompanhamos o carro funéreo leva-lo. Num veículo atrás de nós, suas irmãs também cumpriam aquele trajeto de despedida. Cruzamos o Vaza-Barris pela ponte Joel Silveira, mas o que poderia ser um bafejo de homenagem era apenas o caminho fatal para o adeus.  

Numa rodovia erma de Itaporanga, ladeado apenas pelo nada, entregamos seu corpo ao crematório solitário que cumpriria as funções finais. Nem um último olhar no caixão, ninguém além da meia dúzia de gente que chegara ali, nem o choro merecido pela perda, nem a rememoração das espetaculares histórias que ele legou à cidade e às pessoas, nem suas crônicas, seus poemas, seus formidáveis maus-humores, sua genialidade sensível e visionária. Nada. 

O sorriso solidário e generoso do funcionário do local deu à cena torturante um pequeno alívio. E ele se foi. Nada mais havia a ser. Nem abraços, nem soluços, nem corpo baixando à terra. Apenas, novamente, o silêncio encravando aquele dia no para sempre até hoje.

Vou ao poema: 

(...) 

É como se não houvesses partido

Fizesses um feriado prolongado

Uns dias sabáticos

Um Hare Krisna de si

Tua partida definitiva

Ainda não mostrou a justa dor

Da nossa perda

Não há dia útil a te retornar

Ao expediente da vida

Praia de onde possas retornar

Campo

Montanha

Nunca mais virás

E a ausência da necessária dor

Põe à prova a minha humanidade 

(...)

Adeus, poeta.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Carlos Cauê

Publicação original no Facebook > https://bit.ly/3uFltUb

sexta-feira, 8 de julho de 2022

O 8 de julho, independência de Sergipe: passado, presente e lições da história

Publicação compartilhada do site da UFS, de 9 de julho de 2021

O 8 de julho, independência de Sergipe: passado, presente e lições da história
Por Edna Maria Matos Antonio

Celebramos o dia 08 de julho, data fundamental na história política do estado de Sergipe. Num longínquo ano de 1820, a carta régia emitida por D. João VI determinava que a capitania alcançava a condição de autonomia política e administrativa em relação à Bahia e, a partir daí, deveria responder ao governo da mesma forma que as demais capitanias nesta parte deste vasto Império colonial.

O processo de autonomia política de Sergipe e sua transformação em província autônoma nos remete a conhecer um intricado processo histórico que tem sua origem nas transformações administrativas na primeira década do século XIX, precisamente no efeito das reformas econômica e administrativas postas em prática pelo governo de D. João VI, desterrado no Brasil desde 1808. A colônia portuguesa experimentava um processo de desenvolvimento econômico sendo estimulado o potencial produtivo de cada região colonial para fornecer riquezas diversificadas para Portugal, num contexto de práticas econômicas que poderíamos chamar Reformismo Ilustrado.

Em Sergipe, tal orientação do Estado metropolitano reforçou seu papel de produtor de gêneros de abastecimento interno e de produtos para o mercado internacional. Para melhor administrar o território, controlar as atividades produtivas e a população e fazer o Estado mais presente, D. João e seus ministros procuraram fortalecer o poder real em todos os cantos nestas terras americanas. Essas iniciativas visavam, ainda, à construção do Rio de Janeiro como referência central de poder na América portuguesa, questão que assumiu importantes contornos, pois o modo de relacionamento da Corte com as demais regiões levou a demarcar aquela cidade como metrópole em relação demais possessões na América portuguesa.

Para o sucesso desta reforma, era importante a subordinação dos colonos ao poder real, no sentido de obedecer às determinações do Rio de Janeiro sem intermediação de outras esferas de poder regional, que fragmentassem, hierarquizassem ou mesmo contrariassem a autoridade monárquica originada na Corte, como acontecia na relação entre a Bahia e Sergipe.

O gesto de separar Sergipe da Bahia, transformando-a de território anexo em capitania regida e equiparada ao mesmo nível das outras, também poder ser interpretado como uma forma de expressão da gratidão de D. João VI aos colonos que lhe foram fiéis, defensores da causa monárquica ante uma das mais importantes insurgências do período colonial: a Revolução Pernambucana, movimento separatista e republicano, ocorrido na capitania de Pernambuco em 1817. As tropas de Sergipe e da Bahia ajudaram a reprimir o movimento sedicioso e, por recompensa, a autonomia administrativa teria sido concedida. Estes fatores podem ser considerados pertinentes pois faz emergir a cultura política do Antigo Regime em que os atos dos monarcas são vistos como promotores de dádiva, benesses ou graças. Isso contribuiu para reforçar a visão do rei como um ente generoso com seus vassalos e o bom pai que sabe recompensar seus filhos obedientes. Importante elemento do mundo político naqueles tempos, o reconhecimento deste componente cultural ajuda a compreender o vigor da figura monárquica nas concepções de sociedade e de Estado em que a importância da monarquia e suas funções não foi abandonada por completo, mesmo num contexto de intensa transformação política. Pelo contrário, foi mantida desde que reformulada para atender aos critérios do Liberalismo político e econômico.

A ocupação de um cargo de comando administrativo na estrutura colonial, um processo que normalmente deveria ocorrer sem maiores abalos, foi permeado de reveses e conflitos. Quando o primeiro governador Carlos Burlamaqui chega a Sergipe em fevereiro de 1821 para dar início a sua administração como capitania autônoma, o Brasil encontrava-se envolvido com os efeitos da Revolução do Porto, ocorrida em agosto de 1820 naquela cidade portuguesa. O movimento liberal português exigia o retorno de D. João à Portugal e a elaboração de uma Constituição e, para tanto, solicitava que as capitanias enviassem representantes coloniais para participar desse congresso (as Cortes de Lisboa) e da elaboração das novas leis que iriam envolver todos os indivíduos espalhados por todo Império.

As lideranças políticas da Bahia acataram prontamente essa solicitação, pois simpáticos ao Liberalismo, aderiram ao constitucionalismo e decidiram formar um bloco de apoio na região norte da América Portuguesa a essas determinações, numa clara posição de enfrentamento ao poder que vinha do Rio de Janeiro. Para isso, as lideranças políticas e militares da Bahia anularam o decreto de D. João VI, prendendo o primeiro governador e anexaram novamente Sergipe ao domínio baiano. O poder na localidade é assumido por Pedro Vieira de Melo, militar, alinhado às ideias propostas pelas Cortes portuguesas e representante de um grupo numeroso na capitania que concordava com a anexação a Bahia e reprimia fortemente as ações de resistência ou confronto a essa situação. Assiste-se, então, um longo processo de lutas, locais e gerais, guiado pelas decisões tomadas em Lisboa, no Rio de Janeiro, na Bahia e em Sergipe.

Sergipe carrega a especificidade de ter que lidar com as questões políticas de um duplo movimento de autonomia: o interno e o da colônia em relação à Portugal. O momento foi muito intenso e rico em debates políticos, pois as pessoas naquela época estavam discutindo e escolhendo os caminhos que afetariam a sociedade como um todo e de modo permanente. O dilema, e razão dos conflitos, dizia respeito a necessidade de definir qual projeto possuía a efetiva capacidade de solucionar os problemas econômicos e sociais e traria os benefícios esperados: se manter ligados a Portugal ou anuir ao projeto de autonomia da colônia capitaneado pelos políticos do Rio de Janeiro tendo D. Pedro como liderança que, a essa altura, já considerava protagonizar a independência e formar uma nação nova. O movimento da Independência e transformação da colônia em nação envolveu amplos setores da sociedade colonial e atingiu diferentemente seus agentes: donos de engenhos e de escravos, produtores e comerciantes, elementos do clero, militares, libertos, escravos, pobres e ricos, pessoas que nutriam expectativas diversificadas, viam na mudança de condição política o caminho para a mudança de condições sociais, a exemplo de negros, mestiços e seus descendentes, que acreditavam que a separação traria a contemplação de direitos para a população pobre, livre e escrava, pela possibilidade da construção de uma realidade melhor, justa e digna.

Para Sergipe, a estratégia de alinhamento ao projeto de D. Pedro e do Rio de Janeiro – sem que isso expressasse a aceitação plena de sua autoridade, problema que exigirá ações violentas e autoritárias na região por meio de mercenários - significou a possibilidade de obter a confirmação da tão desejada autonomia da província. Essa escolha justificava-se não somente pela satisfação e preservação dos interesses autonomistas dos sergipanos, mas pelo vigor da autoridade e lealdade monárquica, heranças dos atos de D. João VI para a capitania e o esvaziamento das propostas das Cortes portuguesas principalmente pelo descrédito dos deputados brasileiros temerosos de que as regras de relacionamento entre os dois reinos fossem injustas para o Brasil.

Se as palavras “polarização política” estão na ordem do dia em tempos de discussão política amplificadas pelos suportes digitais (para o bem e para o mal), é oportuno esclarecer que, enquanto fenômeno político, ela sempre existiu. Entendida como a divisão de uma sociedade em dois polos a respeito de um determinado tema, no contexto das independências, como demonstrado acima, a confrontação envolveu modos diferentes de conceber os projetos para o futuro do Brasil, o que levava a defesa do projeto que parecia melhor assegurar a efetivação das transformações jurídico-institucionais avaliadas como imprescindíveis para o seu desenvolvimento econômico e social.

Apesar de todas as disputas e o projeto vencedor conhecido por nós, a Independência do Brasil, foi mantida uma estrutura de dominação e de exclusão social fortíssima, com o impedimento de participação política institucional de indivíduos pobres, mulheres, índios, negros e mulatos, questões que até hoje nossa sociedade se debate em resolver. Enfim, na montagem do novo país, nem todos os brasileiros teriam reconhecimento de cidadania, embora participassem da construção da nação e fossem a essência dela.

De qualquer forma, aproveitemos o 08 de julho como alegria e civismo pois é a data que marca a liberdade política e conforma traços e identidade específicas da sociedade sergipana e a conquista de sua autonomia administrativa, processo fundamental para seu desenvolvimento econômico e social. E atuou e contribuiu de forma intensa no complexo processo de construção do que somos hoje, nação brasileira. A experiência que envolveu a Independência de Sergipe nos lembra, ainda, da capacidade de agir e transformar que os indivíduos possuem em toda temporalidade histórica. Comprova que a realidade não é imutável e nem deve ser um fardo irreparável; que as pessoas vivem as questões de seu tempo e que sempre haverá muitos interesses em jogo em momentos de decisões políticas fundamentais cabendo escolher e lutar pela transformação e melhoria de suas condições de vida. A capacidade de planejar, pensar o futuro, defender convicções justas e coragem para a construção de projetos de sociedade livres constituem importantes aprendizados derivados do passado que em nossa época assumem contornos decisivos uma vez que a política, mesmo com as decepções e sensação de fracasso, deve ser a instância de atuação e participação das sociedades maduras democraticamente para a tomada das decisões sobre um povo e seu destino.

Texto reproduzido do site: ufs.br

terça-feira, 5 de julho de 2022

'Rita Peixe Mulher Lendária', por Ribeiro Filho

Legenda da foto: Rita e Zé Peixe sendo homenageados na Marinha do Brasil, 
Capitania dos Portos de Sergipe.

Legenda da foto: Rita com os filhos Robert Shunk Ana Luiza Nunes Shunk Ana Rita Shunk e as netas Maíra e Luana Shunk.

Texto compartilhado de post do Perfil/Facebook/Ribeiro Filho, de 4 de julho de 2022

Rita Peixe Mulher Lendária
Por Ribeiro Filho

Ontem foi um dia triste, dia de despedida de Rita Ribeiro Nunes Shunk, um ícone da "Geração Oxente", que mexeu com os brios da recatada sociedade provinciana de Aracaju, das décadas finais do século passado. Como toda lenda urbana, muito do que se conta e se propaga tem um fundo de verdade. A curiosidade sempre fica aguçada, quando se trata de pessoas de grande projeção, criam-se realidades paralelas, alguns exageros são cometidos e, o preconceito as vezes reproduz fatos irreais.

Vamos começar esclarecendo que Rita Peixe era Irmã de Zé Peixe - José Ribeiro Martins Nunes, o prático sergipano, mais famoso do mundo. Muita gente pensa que Rita Peixe era a mãe ou esposa de Zé Peixe. Contudo, olhando pelo plano familiar, Rita Peixe era a mulher forte e esteio de toda família. Era ela quem cuidava da vida cotidiana de Zé Peixe e do irmão Antônio Ribeiro Martins. Era ela quem cuidava das compras básicas da casa e da vida financeira dos irmãos. Pois Zé Peixe não tinha nenhuma vocação para o trato com dinheiro, se deixasse, ele distribuía todo seu salário de Prático, com os pedintes e pessoas que o procuravam para pedir ajuda.

Durante a semana era comum encontrar "Dona Rita" acompanhada de Seo Júlio, percorrendo suas casas e apartamentos, para fazer os reparos, para alugar ou vender. Rita era uma mulher dinâmica, era a mãe, avó, irmã e pai de toda familia Ribeiro Martins e Shunk. Como sou amigo da família, tinha uma convivência mais particular. Além da vida de glamour das noites musicais da boemia de Aracaju, costumava encontrar com ela, nas lojas de material de construção, nas lojas de material escolar, fazendo compras para resolver, cuidar e administrar a vida familiar, como qualquer mulher proativa da atualidade. PS. Seo Júlio era o fiel escudeiro de Rita Peixe, era uma funcionário faz tudo, que fazia os reparos hidráulicos, marceneiro e pedreiro. 

Além dos irmãos, Rita Peixe tinha todo cuidado com os seis filhos, fruto do casamento com o engenheiro norte-americano Dwight Shunk. Ainda jovem Rita Peixe se viu com a responsabilidade de cuidar dos filhos. Abandonada pelo marido, ele teve que cuidar da educação e do futuro da extensa prole, e ainda enfrentar o preconceito da provinciana e católica sociedade sergipana, dos anos de 1970 e 1980.

A Rita das noites boêmias e da arte 

Se vocês pensam que ela deixou de ser feliz e celebrar a vida em alto estilo, enganaram-se. Rita acolheu outra mulher forte e destemida, Lu Spinelli, ela alugou sua casa da avenida Ivo do Prado para, que Lu Spinelli abrisse sua primeira academia de Dança. Em sua casa do sítio, na Visconde de Maracaju, Rita reunia a nata da intelectualidade rebelde de Aracaju, os poetas, músicos, atores, artistas plásticos, escritores, dançarinos, e toda uma plêiade da fina boemia da cidade, parte da "Geração Oxente". Assim, Rita reunia em seu sítio, todos os filhos rebeldes, que a sociedade conservadora sergipana rejeitava.

Aliada a esse exército de rebeldes intelectuais, Rita encontrou forças para enfrente o preconceito, e a pesada pecha de mãe solteira. Com esses fortes aliados, a Rita levou seu sorriso, e sua beleza para as noites da boemia de Aracaju. Ninguém ousava apontar um dedo, ou torcer o nariz para essa turba de artistas irreventes. Eram a vanguarda das artes, que estavam em sintonia com os movimentos culturais e sociais que fervilhavam pelo mundo. A rebeldia da geração pós Festival de Woodstock, dos iconoclastas do Movimento Hippie, que pregavam o amor livre, o pacifismo e harmonia com a natureza. Eram jovens que pensavam e viviam alem do seu tempo. Estavam antenados com o movimento da Contracultura, que questionava e negava todos os padrões da cultura vigente, que visava quebrar tabus e contrariar normas e padrões culturais que dominam uma determinada sociedade. Em geral, as ações de contracultura surgiram de jovens descontentes com a vida e os padrões estabelecidos por seus pais.

Essa geração de artistas rebeldes impôs seus novos conceitos de família, e de convivência social, as vezes chocando toda sociedade aracajuana, com suas atitudes e discursos em atos públicos, e na noite boemia da cidade. Rita Peixe foi amiga particular do colunista social e jornalista João de Barros "Barrinhos", que realizou durante mais de uma década o Baile dos Artistas. O Baile dos artistas abria o Carnaval de Aracaju, era a festa mais radical, quando se tratava de romper com os conceitos vigentes. O Baile dos artistas quebrava todos os tabus e conceitos constituídos da sociedade careta e hipócrita, da nossa provinciana cidade. Rita Peixe era a madrinha e a Rainha desse baile do Barrinhos. 

No final da década de 1980, uma amigo, filho de uma tradicional família de Aracaju, resolveu assumir sua homossexualidade, mais ainda, decidiu desfilar como travesti, nas noites da Rua da Frente. Para esconder sua identidade, ele dizia para os outros travestis, que era filho da famosa Rita Peixe.  Quando falei para ela sobre o esse caso, ela deu boas risadas e disse, que ela poderia sim, continuar usando seu nomee sobrenome. Rita era assim, uma mulher além do seu tempo e dos conceitos da sociedade conservadora em que viveu.  Recebia e acolhia com muita alegria, todos os rebeldes e deserdados, todos que sofriam com os preconceitos vigentes. Além dos seus filhos que foram criados com sua proteção de super mãe e super mulher, dos irmaos que ela tambem protegia e cuidava, Rita Peixe abriu sua casa para acolher os filhos rebeldes de outras tantas famílias, que não compreendiam e não aceitavam, as mudanças sociais, que aconteciam em várias partes do mundo. 

Todas as vezes que a gente se encontrava em lugares públicos, ela fazia questão de pedir um beijo de lábios, um selinho. Ela nunca perdeu sua alegria desafiadora, e nunca cedeu aos padrões e normas caretas de sociedade em que viveu. Detalhe, apesar de gostar da vida boêmia, das noites de seresta e música, Rita Peixe não bebia uma cerveja sequer, não gostava  de beber nenhuma bebida alcoólica. Ela gostava mesmo era de cantar, dançar e ouvir a cantoria dos românticos. Ela era a companhia ideal para os bêbados e loucos da cidade. Era o anjo que conduzia todos com segurança, ao amanhecer. 

Eitcha ia esquecendo, Rita Peixe, assim como seu irmão Zé Peixe, era uma exímia nadadora, participou e venceu várias vezes a Travessia Almirante Tamandaré, prova que acontecia da Capitania dos Portos para a Barra dos Coqueiros, prova de 800 metros atravessando o Rio Sergipe. 

Rita Peixe está sendo festejada com seresta, pelos amigos que já a esperam no céu dos artistas e rebeldes.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Ribeiro Filho

domingo, 3 de julho de 2022

Morre Rita Ribeiro Nunes Shunk (Rita Peixe)


Fotos reprodução de seu Perfil no Facebook

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Artigo de Clara Angelica Porto, postado originalmente no seu Perfil do Facebook, em 3 de julho de 2022.

Foi-se Rita. Rita Peixe. A sereia de várias gerações. Bater com Rita por aí era sempre alegria e aprendizado. De como viver sem algemas, e usar as mãos para acariciar. De como viver sem fronteiras e alcançar as fronteiras das pessoas. Rita, sempre cercada de gente, com esse sorriso aí da foto, dando boas vindas a quem chegasse. Rita das muitas histórias, dos amores, da dignidade de quem sabe ser o que é. Rita do coração aberto, mãe de tantos filhos, além dos filhos que pariu. Rita, a menina mulher desbravadora, que atravessava o rio Sergipe com a mesma facilidade que atravessava a rua. Rita era presença forte em Aracaju. Mesmo quem a criticava, o fazia com uma ponta de inveja. Quem não gostaria de assim ser, com tanta coragem e ousadia? Com tanto talento para apreciar a vida? Para viver? Rita foi colecionando tristezas, como tantos o fazem. Ficou imobilizada anos. Mas tenho certeza de que a mulher peixe de Aracaju continuou mergulhando nos mares da vida até o fim. Faz tempo que não lhe via, Rita Peixe, mas nunca deixei de lhe ver. Descanse, Rita, mas não descanse muito não. Os anjos por aí têm muito o que aprender com você. Jamais esquecerei o seu sorriso, quando chegava ao Gavetão, você na rede do sítio depois do 28, suas histórias que me entretiam e fascinavam. Todas vividas. Sem nada a acrescentar, pois você chupava aquela manga do sítio até o caroço ficar limpo. Rita, mande aqui pra baixo um pouco daquela alegria contagiante. O mundo precisa.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil Facebook/Clara Angelica Porto

Publicação original no Facebook > https://bit.ly/3NLobhw

sábado, 11 de junho de 2022

A morte do Roninho

Foto reproduzida do Facebook/Ronald Cabral Simas e postada pelo blog SERGIPE...

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook/Jorge Lins, em 10 de junho de 2022

A morte do Roninho

Eu realmente não sei como encarar a morte e já com 65 anos, ainda não entendo como enfrentar a perda de amigos e contemporâneos. Sofro de uma forma que parece que meu coração sangra. Acho que penso que cada vez que perco alguém da minha geração, morro um pouquinho ou tomo consciência que a "viagem" está mais próxima.

Ronald Cabral Simas ou Roninho era um pouquinho mais velho que eu e muito mais maluco...

Uma vez encontrei com ele em Rio Branco do Acre. Eu, dirigindo um show pelo Projeto Pixinguinha e ele, vivendo uma experiência com a seita do Santo Daime e seu chá...

Hoje, quando eu soube da sua morte, senti mais uma vez aquele calafrio e tristeza de quem vê seus amigos partirem...

Saudade !!!!

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Jorge Lins

Roninho - "Um nome que marcou a cena aracajuana como poucos!"

Foto reproduzida do Facebook/Ronald Cabral Simas e postada pelo blog para ilustrar o presente post

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook/Luiz Eduardo Oliva, em 10 de junho de 2022

Simplesmente atônito, chocado! Foi-se Roninho e eu não sabia. Um nome que marcou a cena aracajuana como poucos! A vida não foi, ao meu ver, justa com a exuberância de Roninho! Brilhante,  ativo, diferente! Filho de Roque Simas, foi um dos criadores da Folha da Praia, um nome de uma geração brilhante! Era negro e como se destacava lhe deram um apelido estupidamente preconceituoso. Escrevia com estilo mas pouco publicou.  Li textos seus que me mostrou.  Cheguei  a ser advogado dele em um único momento e desfrutava da sua amizade. Se um dia a historiografia registrar a cena aracajuana, não necessariamente aquela que está nos destaques da mídia, caberá um lugar especial para Roninho, Ronald Cabral Simas! Com os olhos marejados recebi a notícia quando estava almoçando com amigos dos anos 80 e fizemos um brinde àquele que brilhava. Mas somente os que estiveram perto dele sabia da sua exuberância! Ave Roninho!

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Luiz Eduardo Oliva

Link do post original no Facebook > https://bit.ly/3MJmzEm

'Roninho, socialista moreno, nosso dândi tropical', por Luciano Correia

Foto reproduzida do site Pinterest e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto Publicado originalmente no Perfil do Facebook/Luciano Correia II, em 10 de junho de 2022

Roninho, socialista moreno, nosso dândi tropical

     Morreu Roninho, o intrépido Ronald Cabral Simas, morador da rua Socorro, moleque criado nas velhas indjagens de Aracaju, entre as boates da Atlética, Iate Clube e os bares da malucada dos anos 60. Porte atlético, moreno escuro, parecido com o tipo “cabo verde”, cheio de ginga, namorador, bom de papo e de murro. Já o conheci rapaz, dez anos mais velho do que eu, moleque recém chegado de Itabaiana e já de saída da UFS para cursar Jornalismo na Bahia. Durante quatro anos fui uma espécie de correspondente da Folha da Praia em Salvador e, quando vinha por Aracaju, sempre passava na redação da Folha para pegar uns trocados e, principalmente, me fascinar com a loucura que foi a primeira geração do semanário.

     A redação era aberta o dia inteiro, começando pelo gerente Moura, o único que não era cachaceiro, portanto, podia chegar cedo e abrir o jornal. Os demais iam e vinham o dia todo. Amaral, editor e dono, Fernando Sávio, Carlos Magno, Bittencourt, Gigi, o carlista Cesinha, Zenóbio Melo, Ilma Fontes, Marcos Cardoso, criador da genial tirinha de Max, O Dogmático, Mabrafa, Henrique Barbudo’s, depois Antônio Passos, o cartunista Guga de Oliveira, Elton Coelho, o fotógrafo César, Roberto Lessa e mulheres, muitas e lindas mulheres. Muita conversa inteligente, alguma bebida e maconha de hora em hora, no terraço do edifício Cultura Artística, a lendária SCAS, onde funcionava a redação da Folha, no segundo andar, e outros escritórios ocupados por uma fauna não muito diferente daquela turma esquisita do jornal. Roninho era o diretor comercial, bom vendedor, sempre às voltas com algum mirabolante projeto que dividiria o mundo em antes e depois de sua ideia. Eu, embora vivesse uma vida efervescente como estudante de Jornalismo na UFBa, entre as festas e revoluções do movimento estudantil – muito mais festa que revolução, é bom dizer – ficava impressionado com a gente torta e interessante que encontrava ali. 

     Pouco tempo depois Roninho saiu da Folha, sem brigar, mas reclamando de Amaral, sobre comissões, participação de lucros e coisas que tais. Uma briga de dois sabidos, embora eu achasse, no fim, que Roninho tivesse mais razão. Nunca deixamos de ser amigos, sempre me divertindo quando o encontrava, na rua ou nos bares. Sempre metido com novos projetos, amores recentes. Irônico, cáustico, disparava uma metralhadora de impropérios em cima do desafeto da hora. Uma vez, eu trabalhando na Prefeitura, fui avisado pela secretária que “um rapaz todo quebrado, com o rosto inchado e cheio de curativos” me procurava na antessala. Dei com um Roninho exasperado contra a Prefeitura de Aracaju, a quem iria processar, culpada do buraco na rua de Arauá que provocou sua cinematográfica e violenta queda da bicicleta. Foi um dos primeiros jovens de uma classe média viciada em carros a trocar o motor pelas rodas da bike. Não sei no que deu, mas ficou décadas falando mal do prefeito de então, repetindo sempre uma mesma piada que ele julgava engraçada e ferina. Até hoje não entendi a tal piada.

     Ainda no período da Folha da Praia, voltou de uma longa viagem ao Acre trazendo para Sergipe as maravilhas do Santo Daime, que ele transformou em um misto de ritual, festa e meio de fornicar com as minas. Em outro momento, quando eu trabalhava na sucursal em Sergipe da Tribuna da Bahia, irrompeu na redação do jornal, na rua Itabaiana, com um sujeito que ele chamava de “Madeirinha, o homem que come bosta”, que ele descobrira, o tal fenômeno, na simpática cidade de Frei Paulo. Fiquei mais irritado com a interrupção do meu trabalho do que achei graça na história. Eu tinha horário pra enviar minhas matérias para Salvador e já redigia meu texto no próprio telex, onde, ao concluir, já despachava através de uma fita onde gravávamos nossa produção do dia. Mas, em atenção a uma velha amizade, parei para ouvir a história do incrível homem que comia merda. Felizmente eu consegui adiar para outro dia a demonstração prática e cabal das habilidades do nosso herói freipaulistano. De modo que jamais foi cumprida a promessa, ou ameaça. A partir daí, sempre que o encontrava, não deixava por menos: “E o Madeirinha, tem notícia?”. 

     Bonito, gostava de um terno de linho branco que às vezes usava na noite, cheirando a patchouli e acompanhado de alguma morena. Transbordava em eloquência, seja para anunciar a mais nova ideia, ou para encantar a moça. Assim viveu, nesse sonho que, vendo de cá, não sei se deu certo. Porque, apesar da verve e da inteligência, sempre me pareceu infeliz, de alguma frustração que atravessou seus caminhos sempre. Fui perdendo os companheiros da Folha da Praia aos poucos: Sérgio Picolé, Zenóbio Melo, Altamiro, Iran, Caga Voando e os três que eram a alma do periódico: Fernando Sávio, Ilma Fontes e o próprio Amaral. Depois de alguns anos sem vê-lo, sempre que passava em sua casa, na rua Socorro, me perguntava por anda andaria essa versão de Don Quixote do bairro São José. Até que, no ano passado, num evento da Lei Aldir Blanc no Centro Cultural de Aracaju, reencontro Roninho, um jovem setentão, falante, ainda atlético, com as ironias de sempre e uma menina muito linda e décadas e décadas mais jovem. Deixei os dois na casa dela, na rua Dom José Thomaz. Nunca mais os vi. Soube que a guria era uma paixão platônica. Não tive como tirar essa história a limpo com meu querido amigo Roninho. Foi embora esta semana, carregando essa tristeza que eu suspeitava latente no seu coração de menino.

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Luciano Correia II

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