Imagem reproduzida do site: academiamaconicadesergipe.com.br
Postada pelo blog SERGIPE..., para ilustrar o presente artigo.
Texto publicado originalmente no Portal Infonet, em 29/08/2017.
O papel das academias literárias no século XXI
Palestra na Academia Maçônica Sergipana de Artes
* Palestra proferida por Domingos Pascoal em comemoração aos
20 anos da Academia Maçônica Sergipana de Artes, Ciências e Letras
Estamos aqui para falar um pouco sobre uma instituição
milenar que conhecemos como “Academia Literária”, mas que pode ser também
universitária, artística, científica, esportiva, musical, filosófica... O nosso
objetivo é pensar esta instituição no Século XXI. Porém necessário se faz jogar
um pouco de luz na história e, mesmo que em rápidas palavras, dizer um
pouquinho mais sobre esta tão antiga entidade.
Ela nasceu na era clássica do pensamento grego, no auge da
filosofia, exatamente no tempo dos maiores pensadores da humanidade: Sócrates,
Platão e Aristóteles. Mais precisamente, foi Platão quem fundou sua escola
naquele lugar chamado “Jardim de Academus”, daí o nome “Academia”, um espaço de
estudos, na verdade, uma confraria, uma congregação, de pessoas que buscavam o
conhecimento. As principais matérias ali discutidas foram: aritmética,
geometria, astronomia e a filosofia.
Naquele espaço sagrado ao saber, Platão forjou a ideia e o
nome que até hoje se pratica. Mas os três mestres quase contemporâneos –
Sócrates (470/399), Platão (428/347) e Aristóteles (384/322) a.C. – construíram
muito mais, criaram história e escolas. Escolas do pensamento. Sócrates, o
primeiro, com a Maiêutica ou “partos das ideias”. Ele andava pelos jardins,
ruas e praças de Atenas levantando questões básicas de moralidade e política.
As pessoas reuniam-se à sua volta e a cada resposta dada, ele fazia uma nova
pergunta, pois, segundo ele mesmo, queria aprender também. Afirmava com muita
sabedoria: "eu só sei que nada sei".
Diferente de Platão, Sócrates não fundou nenhuma escola num
lugar determinado. As suas “salas de aula” como se viu eram as ruas e praças.
Aristóteles também criou uma escola, o Liceu, e também uma
sistemática nova e diferenciada de educar. As suas aulas aconteciam ao ar
livre, caminhando pelos jardins do Liceu, lendo e fazendo preleções. Esta forma
de transmissão do conhecimento ficou conhecida como “aulas peripatéticas”.
Pelo que vimos, a Academia Literária nasceu escola,
“ensinante” de um lado e “aprendente” do outro, entremeados com o conhecimento
e saberes transitando através de proposições dialogais, numa dialética do
ensinar e aprender.
Mas a nossa referência aqui no Brasil é a Academia Francesa,
fundada por Richelieu, em 1635. A Academia de Richelieu tem uma conformação
diferente, é mais estruturada com número determinado de membros: 40 cadeiras,
40 patronos, vitaliciedade acadêmica, a admissão de um novo membro só acontece
por falecimento de um dos ocupantes e há eleição para o preenchimento da vaga.
Este foi o modelo por nós brasileiros adotado.
Nos séculos que se seguiram, surgiu na Europa uma
"onda" de academias, a partir da Itália, passando por França, Espanha
e Portugal. Esta agitação cultural ficou conhecida por “movimento
academicista”. Em Portugal, dentre as várias academias fundadas, uma teve
particular importância para o surgimento da primeira academia aqui no Brasil
ainda colônia.
Foi o caso da Academia Real da História Portuguesa (1720 –
1776), em Lisboa. Esta academia, segundo registrou Alberto Lamego, aceitava
membros de todas as outras colônias – exceto do Brasil. Esta discriminação fez
com que os brasileiros, sentidos com a arbitrariedade daquela Arcádia
portuguesa, criassem aqui, em março de 1724, na cidade de Salvador, Bahia, a “Academia
dos Esquecidos”. Mas esta academia teve vida efêmera e foi encerrada já em
fevereiro de 1725.
Após 34 anos, em junho de 1759, o conselheiro do ultramar na
Bahia, o grande intelectual José Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho Melo,
tentando resgatar a Academia dos Esquecidos, fundou a Academia dos Renascidos.
Porém esta é que teve vida curta, inclusive com a prisão do seu fundador, em
novembro do mesmo ano. Pombal mandou então "sepultá-lo vivo",
encarcerando-o junto com toda sua criadagem e livros na Fortaleza de Santa Cruz
de Anhatomirim, em Santa Catarina, e depois de 1774, na Fortaleza de São José
da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, permanecendo em cativeiro por dezessete
anos. Contudo, sua traição nunca ficou provada, e após a morte de dom José I e
a queda do Marquês de Pombal, foi indultado por dona Maria I, regressando, já
muito velho, a Portugal.
A Academia mais antiga do Brasil, ainda em funcionamento, é
a Academia Cearense de Letras, fundada no dia 15 de agosto de 1894, três anos
antes da Academia Brasileira de Letras, criada no dia 20 de julho de 1897. A
Academia Sergipana de Letras foi fundada no dia de 1º de junho de 1929. Com
base territorial em todo o estado de Sergipe, tem um trabalho muito bom junto à
sociedade intelectualizada há mais de oitenta anos. O MAC – Movimento de Apoio
Cultural Antônio Garcia Filho – da Academia Sergipana de Letras também vem já
há muitos anos prestando apoio à Academia Sergipana de Letras, fazendo um bom
trabalho, inclusive preparando acadêmicos para a Academia Sergipana de Letras.
É o meu caso... E lançará em breve a primeira Antologia dos Macadêmicos, com
simbólico nome “Sob o Sol do Sodalício”.
Até 2010, com exceção da capital, não havia nas cidades
sergipanas nenhuma academia literária. A partir de então vem sendo feito um
trabalho apoiado pela Academia Sergipana de Letras, o que já resultou na
criação de 17 Academias, a maioria funcionando muito bem. Inclusive fazendo um
trabalho significativo junto aos estudantes de todas as escolas daquelas
unidades. As academias que estão chegando acreditam na semeadura e descobriram
que a verdadeira vocação de uma Arcádia Literária é exatamente aquela que foi
mostrada há 2.400 anos pelos seus criadores.
As novas academias do interior, no dizer do prof. Jorge
Henrique, ex-presidente da Academia Gloriense de Letras, são as “Mediadoras e
promotoras do conhecimento” semeando ações.
Semear... esta é a palavra certa para o processo. Estamos
certos de que:
“É até muito fácil você contar quantas sementes há dentro de
uma laranja, mas será impossível você contar quantas laranjas poderá haver
dentro de uma semente”.
Pense nisso! Você pode até saber quantas ideias você semeia,
mas é impossível você prever o resultado.
A academia do século XXI está preocupada em semear boas
ideias com a certeza de que a colheita, embora de difícil mensuração, será
muito boa. Esta semeadura está acontecendo por todos os lados, inclusive pela
Academia Sergipana de Letras e Academia Maçônica de Sergipe: publicação de
livros, de antologias, encontros de escritores e leitores, acadêmicos indo às
escolas, escolas indo às academias, palestras, oficinas, saraus, criação de
grupos de estudo e apoio aos grupos já existentes de poetas, cronistas, contistas,
cordelista... Só no eixo do sertão: Monte Alegre, Canindé, Glória (ALAS, várias
cidades), Dores, Feira Nova, Poço Redondo, Aleixo e Aparecida. Já temos mais de
10 grupos estudando poesia, conto, crônica, somando com os grupos de Jovens
Escritores de Itabaiana, Lagarto, Tobias Barreto, Neópolis, Riachuelo,
Cristinápolis, Estância, Propriá...
Aqui na capital temos: Academia Sergipana de Letras,
Academia de Letras Estudantil de Sergipe, Academia de Letras de Aracaju,
Academia Sergipana de Medicina, Academia Literária de Vida, Academia Sergipana de Ciências Contábeis,
Academia de Ciências da Administração, Academia de Letras Jurídicas de
Sergipe e a Academia Maçônica Sergipana de Artes,
Ciências e Letras, também uma academia do século XXI, fundada no dia 6 de
outubro de 1997, sob a liderança do nosso Irmão José Francisco da Rocha,
Rochinha, juntamente com os valorosos irmãos: Antônio Fontes Freitas, José
Geraldo Dantas Bezerra, José Augusto Machado, Menilson Menezes, Jason Ulisses
de Melo, Juvenal Francisco da Rocha Neto, José Sérgio de Aguiar Rocha e
outros... Todos Maçons regulares, oriundos das duas potências, também
regulares, do nosso Estado: Grande Oriente do Brasil Sergipe, que tem como Grão
Mestre Estadual o Eminente Irmão Lourival Mariano de Santana, aqui representado
pelo Grão Mestre adjunto, Clairton de Santana; e da Grande Loja Maçônica do
Estado de Sergipe, que tem como Sereníssimo Grão Mestre o nosso Irmão Jorge
Henrique Pereira Prata.
Academia Maçônica também segue a regra da Academia Francesa
de Richelieu, exceto em dois aspectos: no número de membros, pois por
simbologia maçônica a AMSACL tem apenas 33 cadeiras, e não 40, como as demais
academias. E, também, por ser a primeira Academia que se tem notícias que tem
um patrono vivo, no caso o fundador, valoroso irmão José Francisco da Rocha.
Usamos as nossas roupas Acadêmicas, temos as seguintes
condecorações: Medalhão Acadêmico, Medalha de Honra ao Mérito e Comenda José
Francisco da Rocha – Rochinha, nosso patrono. No mais, segue o modelo francês.
É uma instituição altruística, evolucionista, sem fins lucrativos, pugna pelos
valores morais e éticos da vivência e convivência entre seus membros e, destes,
para com a sociedade.
Tem como finalidade congregar os maçons que se dediquem às
artes, ciências e letras; incrementar a difusão da doutrina e dos postulados da
maçonaria universal e do ideal maçônico; manter cursos nos campos: educativo,
cientifico e cultural; promover concursos, palestras, conferências e mesas
redondas; prestar homenagens especiais a pessoas e entidades que se façam
merecedoras.
Temos um site onde editamos as nossas notícias, os livros
dos acadêmicos e de outros irmãos também, já publicamos um livro sobre a Liga
Sergipense Contra o Analfabetismo, da professora Clotildes Farias, da
Universidade Federal de Sergipe, e temos um projeto de, já a partir do próximo
ano, publicar pelo menos um livro de valor histórico maçônico. E, ainda este
ano, vamos publicar a nossa revista da Academia Maçônica de Sergipe.
Apresentei aos senhores o modelo que na concepção dos tempos
realmente representa qualquer Academia do Século XXI. Elas, as academias, ou
qualquer instituição que vise crescer e fazer algo pelo outro, criadas agora ou
há mais tempo, ou se enquadram e se modernizam ou vão ficar tomando espaço e
definhando até sucumbir, visto que não há mais interesse...
Como diz a parábola do apocalipse: seja quente ou seja frio,
não seja morno, senão eu te vomito. Porque, na vida, ou você está verde e
amadurecendo ou maduro e apodrecendo.
Obrigado.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/domingospascoal
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