Foto do arquivo de Eduardo Almeida e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo.
Texto publicado originalmente no Blog Luiz Eduardo Costa
Artigo de Eduardo Almeida, filho
de Walmir Almeida
Dia do Aviador - A aviação sergipana e o comandante Walmir Almeida
Nas comemorações do Dia do Aviador e da Semana da Asa, um
nome não pode ser esquecido em Sergipe, o do Comandante Walmir Lopes de
Almeida.
Sergipano de Riachão do Dantas, Walmir migrou para Aracaju
ainda criança, aos 5 anos de idade com a família. Despertado pelo desejo de
voar, o menino Walmir acordava ainda de madrugada e, sozinho, escondido da mãe,
caminhando em completa escuridão, ia da Rua Estância, onde residia, até o Campo
de Aviação, o atualmente extinto Aeroclube de Sergipe, vencendo morros, areais,
pistas de lama e mato, vestindo apenas um short, devido às suas poucas
condições e lá, encostava na cerca e deleitava-se observando os aviões de
guerra decolarem e pousarem em seu ballet aéreo que tanto o encantava. Foi caso
de amor à primeira vista e de quem nunca mais se separou, fazendo disso uma
relação estável e apaixonada que perduraria até seus últimos dias.
“...Ave! Sobe ao ar, grande bólido alado, linda garça
voadora...”
O Campo de Aviação, denominado de Campo de Anipum, era o
antigo Aeroporto de Sergipe, onde as pessoas embarcavam para suas viagens a
outros estados do Brasil, nos tempos áureos do glamour e do romantismo da
aviação, a bordo invariavelmente dos Douglas DC-3, um dos ícones da aviação que
interligou o país pelo ar. Depois veio a se tornar Aeroclube de Sergipe.
De tanto ficar na cêrca, certa feita alguém chamou aquele
menino para empurar o avião para dentro do hangar e aí pronto(!), tocando a
máquina, despertou definitivamente no menino o vírus das alturas que, depois de
infectado, não há mais cura. Em outra ocasião, um dos pilotos o chamou para dar
um vôo e lá se foi o menino Walmir, já com pose de aviador ao encontro do que
sua alma clamava, tornando presença constante em seus sonhos, dormindo ou
acordado, aquele momento mágico.
Tornou-se arrimo de família aos 13 anos de idade com a perda
do Pai e dividia seu tempo entre o trabalho, a família e a aviação. Vindo a
trabalhar no Palácio do Governo como fotógrafo oficial, obteve a ajuda do
Interventor do estado, General Maynard, para concluir seu curso de piloto.
Desde então fez do campo de aviação a sua segunda morada ou
talvez, a primeira. Lutou bastante por aquela instituição, se fez presente,
ocupou cargos, entregou-se de corpo e alma, sem que houvesse reconhecimento por
isso.
A aviação sergipana muito deve ao Comandante Walmir Almeida,
pois, sempre comprometido com a aviação e com o próximo, sustentou durante 8
anos, às suas custas, todas as despesas do Aeroclube de Sergipe, em um período
de crise, evitando assim seu fechamento e o encerramento das atividades aéreas
no estado, sendo considerado um dos Patronos da Aviação Sergipana.
Foi proprietário da Concorde-Distribuidora de Combustíveis
de Aviação, único posto do estado, à época, de revenda de gasolina para
aeronaves. Venceu competições aéreas e ostenta até hoje o título de maior
proprietário sergipano de aeronaves particulares, tendo possuído 13 aviões
próprios, além de dedicar sua vida à aviação. Foi o piloto sergipano com maior
número de horas de vôo. Visitou todos os países do mundo e um dos feitos de Walmir
foi realizar a rota do Correio Aéreo Nacional pela Cordilheira dos Andes,
sozinho, em seu próprio avião, em um vôo solitário e perigoso.
Como fotógrafo e cinegrafista aéreo, foi considerado pelos
Governadores Leandro Maciel e Lourival Batista como o “Mestre das Lentes”,
tendo este útilmo citado “...foram as imagens aéreas mais lindas do nosso
estado que já tive o prazer de contemplar!”. Walmir registrou fatos sociais e
políticos da época durante vários governos, também do alto, a bordo do seu
Cessna que pilotava com maestria, à exemplo das imagens aéreas da inauguração
do Estádio Lourival Batista, o 'Batistão', que foram amplamente veiculadas nos
jornais do sul do país, bem como em um documentário cinematográfico, realizado
pela sua produtora Cine-Produções Atalaia, que tinha como contratado niguém
menos que Cid Moreira, sobre a sêca no nordeste que foi exibido em todo o
Brasil pelo Canal 100 e pela Ponte Cinematográfica Nacional, bem como em
diversos países da Europa, à exemplo da Suécia, Itália, Alemanha, França, entre
outros, com imagens aéreas do Rio São Francisco e de algumas cidades do nosso
estado, levando ao conhecimento do Brasil e do mundo os problemas enfrentados e
que gerou a sensibilização de governos desses países, conseguindo assim ajuda internacional
para o combate ao mal que assolava o nosso sertão, sendo inclusive condecorado
pessoalmente em Brasíllia pelo Presidente João Goulart por duas vezes.
Seu maior orgulho era ter ensinado seus filhos e seu neto, o
"Cmte. Dudu", a voar, inserindo-os na aviação desde os 2 anos de
idade, dando-lhes asas, ao invés de raízes, como ele costumava dizer. Foi
revendedor de aviões Cessna em Sergipe. Iniciou o primeiro serviço de
táxi-aéreo sergipano, utilizando suas aeronaves para transportar autoridades, enfermos
e quem necessitasse, entre eles o Ministro Mário Andreazza, Amyr Klink-o
navegador solitário, entre outros,
chegando inclusive a pousar nas areias da Praia 13 de julho e na Colônia
13, em Lagarto, contratado por Dom José Vicente Távora para uma inauguração no
povoado. Nessa passagem com D. Távora, Walmir, sempre espirituoso e com um
tirocínio que lhe era peculiar, foi questionado pelo Padre se eles conseguiriam
pousar lá, visto que naquele tempo as estradas eram intransitáveis e Walmir
então respondeu rapidamente:
Padre, não se preoucupe, porque lá em cima a gente não fica
não!”.
Walmir era um daqueles românticos da aviação, que tinha o
voar no sangue e reconhecia aeronaves pelo cantar dos motores e pelo perfume
deixado em sua passagem, inebriando-se com isso. Conversas sobre aviação
invariavelmente duravam horas, sem que se percebesse a passagem do tempo, pois
os ouvintes deleitavam-se em suas histórias e 'causos' da sua experiência de
vida, ávidos por aprender a essência dos 'velhas águias'. Todos os anos
participava, por força de uma promessa, da Procissão de Bom Jesus dos
Navegantes, efeuando evoluções com suas aeronave, tornando-se uma tradição
aquele aviador junto à procissão, e elogiado pelo Governador Leandro Maciel,
que disse ser “as acrobacias aéreas mais bonitas que já presenciei. Esse rapaz
nasceu pra isso e é um talento legitimamente nosso. Dá-nos orgulho!”
Realizava gratuitamente “vôos de coqueluche”, após o
encerramento dessa atividade pela FAB em nosso estado e que era um efetivo remédio
para os acometidos dessa enfermidade. Mesmo tendo perdido uma de suas aeronaves
em um acidente em Vitória, no Espírito Santo, no qual ele comandou uma
aterrissagem forçada em um morro e a aeronave logo após explodiu, Walmir,
apesar do susto, não abandonou a aviação, ao contrário, narrava em tom jocoso o
fato aos alunos. Devido à sua reconhecida e notória experiência na área, foi o
único sergipano autorizado pelo Comando da Força Aérea Brasileira a trasladar
um avião doado pelo Governo Federal para o ensino de alunos, à noite e sem que
a aeronave possuísse equipamentos para vôo noturno! Foi homenageado pela Força
Aérea Brasileira no Aeroporto Santa Maria, na Semana da Asa. Membro da
FAA-Federal Aircraft Association, foi homenageado na maior feira de aviação do
mundo, a Air Venture, em Oshkosh, nos Estados Unidos, a qual visitou por vários
anos. Pioneiro na revenda de aeromodelos em Sergipe, deu inicio à modalidade no
estado. Foi também capa da maior e mais respeitada publicação mundial sobre
aviação, a revista FLYING.
Quando os aviões do Aeroclube se encontravam parados por
manutenção ou falta de recursos, Walmir empregava seus aviões gratuitamente
para o ensino dos alunos, sempre evitando que a aviação fosse interrompida em
nosso estado. Apesar de ter perdido um de seus filhos, o Cmte. Walmir Jr., em
um acidente aéreo, Walmir não abandonou a aviação, realizando um vôo solitário
poucos dias após; um vôo em homenagem ao filho morto…
O mesmo conselho que dava aos seus filhos e neto, dava aos
alunos. Quando algum deles tinha medo de
entrar em nuvens de chuva, ele dizia: “pois é para lá que nós vamos! Feche os
olhos e nivele o avião, inclusive nas curvas, aí eu vou saber que você esta
preparado. Limpe sua mente, faça de vocês dois um só. O bom avião é como o bom
piloto, ele gosta de voar.”.
Um exemplo de homem, cidadão, trabalhador, vencedor em todas
as áreas que atuou, fllho, irmão e Pai, infelizmente o espaço que dispomos é
muito curto para falarmos de Walmir Lopes de Almeida e da sua extensa
experiência de vida, tanto que seu filho, o Cmte.Eduardo ou
"Carlinhos", como seu querido Pai o chamava, seu maior admirador,
pré-lançou com o Pai ainda em vida, sua biografia, durante seu aniversário, na
Maçonaria, no ano de 2010, intitulado "Meu Pai, o Comandante Walmir / A
história que se tornou um livro, um livro que se tornará história" e o
primeiro de uma série de volumes em literatura de cordel que fará sobre a vida
do seu querido Pai.
Todos os anos, o Alto Comando do Ministério da Aeronáutica
envia mensagem oficial ao seu filho, parabenizando o Comandante Walmir pela
data, agradecendo pela sua valorosa contribuição à aviação brasileira,
eternizando-o.
Walmir é um legítimo exemplo dos abnegados, um palinuro da
aviação que escreveu seu nome na história para a eternidade criando uma relação
de amor puro entre homem e máquina que jamais se extinguiria, fazendo deles um
só.
Walmir nos deixou em 2012 e, na sua última mensagem, disse:
“Quando eu partir para meu último vôo, não se preocupem comigo, eu estarei bem,
estarei nas nuvens, onde eu sempre quis estar. Lá é o meu lugar.”
Fica então a nossa homenagem a esse nosso orgulho
legitimamente sergipano.
Câmbio final...
AVE, Walmir!
Texto reproduzido do blogluizeduardocosta.com.br
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