sábado, 28 de julho de 2018

A aviação sergipana e o comandante Walmir Almeida

Foto do arquivo de Eduardo Almeida e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no Blog Luiz Eduardo Costa 

Artigo de Eduardo Almeida,  filho de Walmir Almeida

Dia do Aviador - A aviação sergipana e o comandante Walmir Almeida 

Nas comemorações do Dia do Aviador e da Semana da Asa, um nome não pode ser esquecido em Sergipe, o do Comandante Walmir Lopes de Almeida.

Sergipano de Riachão do Dantas, Walmir migrou para Aracaju ainda criança, aos 5 anos de idade com a família. Despertado pelo desejo de voar, o menino Walmir acordava ainda de madrugada e, sozinho, escondido da mãe, caminhando em completa escuridão, ia da Rua Estância, onde residia, até o Campo de Aviação, o atualmente extinto Aeroclube de Sergipe, vencendo morros, areais, pistas de lama e mato, vestindo apenas um short, devido às suas poucas condições e lá, encostava na cerca e deleitava-se observando os aviões de guerra decolarem e pousarem em seu ballet aéreo que tanto o encantava. Foi caso de amor à primeira vista e de quem nunca mais se separou, fazendo disso uma relação estável e apaixonada que perduraria até seus últimos dias.

“...Ave! Sobe ao ar, grande bólido alado, linda garça voadora...”

O Campo de Aviação, denominado de Campo de Anipum, era o antigo Aeroporto de Sergipe, onde as pessoas embarcavam para suas viagens a outros estados do Brasil, nos tempos áureos do glamour e do romantismo da aviação, a bordo invariavelmente dos Douglas DC-3, um dos ícones da aviação que interligou o país pelo ar. Depois veio a se tornar Aeroclube de Sergipe.

De tanto ficar na cêrca, certa feita alguém chamou aquele menino para empurar o avião para dentro do hangar e aí pronto(!), tocando a máquina, despertou definitivamente no menino o vírus das alturas que, depois de infectado, não há mais cura. Em outra ocasião, um dos pilotos o chamou para dar um vôo e lá se foi o menino Walmir, já com pose de aviador ao encontro do que sua alma clamava, tornando presença constante em seus sonhos, dormindo ou acordado, aquele momento mágico.

Tornou-se arrimo de família aos 13 anos de idade com a perda do Pai e dividia seu tempo entre o trabalho, a família e a aviação. Vindo a trabalhar no Palácio do Governo como fotógrafo oficial, obteve a ajuda do Interventor do estado, General Maynard, para concluir seu curso de piloto.

Desde então fez do campo de aviação a sua segunda morada ou talvez, a primeira. Lutou bastante por aquela instituição, se fez presente, ocupou cargos, entregou-se de corpo e alma, sem que houvesse reconhecimento por isso.

A aviação sergipana muito deve ao Comandante Walmir Almeida, pois, sempre comprometido com a aviação e com o próximo, sustentou durante 8 anos, às suas custas, todas as despesas do Aeroclube de Sergipe, em um período de crise, evitando assim seu fechamento e o encerramento das atividades aéreas no estado, sendo considerado um dos Patronos da Aviação Sergipana.

Foi proprietário da Concorde-Distribuidora de Combustíveis de Aviação, único posto do estado, à época, de revenda de gasolina para aeronaves. Venceu competições aéreas e ostenta até hoje o título de maior proprietário sergipano de aeronaves particulares, tendo possuído 13 aviões próprios, além de dedicar sua vida à aviação. Foi o piloto sergipano com maior número de horas de vôo. Visitou todos os países do mundo e um dos feitos de Walmir foi realizar a rota do Correio Aéreo Nacional pela Cordilheira dos Andes, sozinho, em seu próprio avião, em um vôo solitário e perigoso.

Como fotógrafo e cinegrafista aéreo, foi considerado pelos Governadores Leandro Maciel e Lourival Batista como o “Mestre das Lentes”, tendo este útilmo citado “...foram as imagens aéreas mais lindas do nosso estado que já tive o prazer de contemplar!”. Walmir registrou fatos sociais e políticos da época durante vários governos, também do alto, a bordo do seu Cessna que pilotava com maestria, à exemplo das imagens aéreas da inauguração do Estádio Lourival Batista, o 'Batistão', que foram amplamente veiculadas nos jornais do sul do país, bem como em um documentário cinematográfico, realizado pela sua produtora Cine-Produções Atalaia, que tinha como contratado niguém menos que Cid Moreira, sobre a sêca no nordeste que foi exibido em todo o Brasil pelo Canal 100 e pela Ponte Cinematográfica Nacional, bem como em diversos países da Europa, à exemplo da Suécia, Itália, Alemanha, França, entre outros, com imagens aéreas do Rio São Francisco e de algumas cidades do nosso estado, levando ao conhecimento do Brasil e do mundo os problemas enfrentados e que gerou a sensibilização de governos desses países, conseguindo assim ajuda internacional para o combate ao mal que assolava o nosso sertão, sendo inclusive condecorado pessoalmente em Brasíllia pelo Presidente João Goulart por duas vezes.

Seu maior orgulho era ter ensinado seus filhos e seu neto, o "Cmte. Dudu", a voar, inserindo-os na aviação desde os 2 anos de idade, dando-lhes asas, ao invés de raízes, como ele costumava dizer. Foi revendedor de aviões Cessna em Sergipe. Iniciou o primeiro serviço de táxi-aéreo sergipano, utilizando suas aeronaves para transportar autoridades, enfermos e quem necessitasse, entre eles o Ministro Mário Andreazza, Amyr Klink-o navegador solitário, entre outros,  chegando inclusive a pousar nas areias da Praia 13 de julho e na Colônia 13, em Lagarto, contratado por Dom José Vicente Távora para uma inauguração no povoado. Nessa passagem com D. Távora, Walmir, sempre espirituoso e com um tirocínio que lhe era peculiar, foi questionado pelo Padre se eles conseguiriam pousar lá, visto que naquele tempo as estradas eram intransitáveis e Walmir então respondeu rapidamente:

Padre, não se preoucupe, porque lá em cima a gente não fica não!”.

Walmir era um daqueles românticos da aviação, que tinha o voar no sangue e reconhecia aeronaves pelo cantar dos motores e pelo perfume deixado em sua passagem, inebriando-se com isso. Conversas sobre aviação invariavelmente duravam horas, sem que se percebesse a passagem do tempo, pois os ouvintes deleitavam-se em suas histórias e 'causos' da sua experiência de vida, ávidos por aprender a essência dos 'velhas águias'. Todos os anos participava, por força de uma promessa, da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes, efeuando evoluções com suas aeronave, tornando-se uma tradição aquele aviador junto à procissão, e elogiado pelo Governador Leandro Maciel, que disse ser “as acrobacias aéreas mais bonitas que já presenciei. Esse rapaz nasceu pra isso e é um talento legitimamente nosso. Dá-nos orgulho!”

Realizava gratuitamente “vôos de coqueluche”, após o encerramento dessa atividade pela FAB em nosso estado e que era um efetivo remédio para os acometidos dessa enfermidade. Mesmo tendo perdido uma de suas aeronaves em um acidente em Vitória, no Espírito Santo, no qual ele comandou uma aterrissagem forçada em um morro e a aeronave logo após explodiu, Walmir, apesar do susto, não abandonou a aviação, ao contrário, narrava em tom jocoso o fato aos alunos. Devido à sua reconhecida e notória experiência na área, foi o único sergipano autorizado pelo Comando da Força Aérea Brasileira a trasladar um avião doado pelo Governo Federal para o ensino de alunos, à noite e sem que a aeronave possuísse equipamentos para vôo noturno! Foi homenageado pela Força Aérea Brasileira no Aeroporto Santa Maria, na Semana da Asa. Membro da FAA-Federal Aircraft Association, foi homenageado na maior feira de aviação do mundo, a Air Venture, em Oshkosh, nos Estados Unidos, a qual visitou por vários anos. Pioneiro na revenda de aeromodelos em Sergipe, deu inicio à modalidade no estado. Foi também capa da maior e mais respeitada publicação mundial sobre aviação, a revista FLYING.

Quando os aviões do Aeroclube se encontravam parados por manutenção ou falta de recursos, Walmir empregava seus aviões gratuitamente para o ensino dos alunos, sempre evitando que a aviação fosse interrompida em nosso estado. Apesar de ter perdido um de seus filhos, o Cmte. Walmir Jr., em um acidente aéreo, Walmir não abandonou a aviação, realizando um vôo solitário poucos dias após; um vôo em homenagem ao filho morto…

O mesmo conselho que dava aos seus filhos e neto, dava aos alunos. Quando algum deles  tinha medo de entrar em nuvens de chuva, ele dizia: “pois é para lá que nós vamos! Feche os olhos e nivele o avião, inclusive nas curvas, aí eu vou saber que você esta preparado. Limpe sua mente, faça de vocês dois um só. O bom avião é como o bom piloto, ele gosta de voar.”.

Um exemplo de homem, cidadão, trabalhador, vencedor em todas as áreas que atuou, fllho, irmão e Pai, infelizmente o espaço que dispomos é muito curto para falarmos de Walmir Lopes de Almeida e da sua extensa experiência de vida, tanto que seu filho, o Cmte.Eduardo ou "Carlinhos", como seu querido Pai o chamava, seu maior admirador, pré-lançou com o Pai ainda em vida, sua biografia, durante seu aniversário, na Maçonaria, no ano de 2010, intitulado "Meu Pai, o Comandante Walmir / A história que se tornou um livro, um livro que se tornará história" e o primeiro de uma série de volumes em literatura de cordel que fará sobre a vida do seu querido Pai.

Todos os anos, o Alto Comando do Ministério da Aeronáutica envia mensagem oficial ao seu filho, parabenizando o Comandante Walmir pela data, agradecendo pela sua valorosa contribuição à aviação brasileira, eternizando-o.

Walmir é um legítimo exemplo dos abnegados, um palinuro da aviação que escreveu seu nome na história para a eternidade criando uma relação de amor puro entre homem e máquina que jamais se extinguiria, fazendo deles um só.

Walmir nos deixou em 2012 e, na sua última mensagem, disse: “Quando eu partir para meu último vôo, não se preocupem comigo, eu estarei bem, estarei nas nuvens, onde eu sempre quis estar. Lá é o meu lugar.”

Fica então a nossa homenagem a esse nosso orgulho legitimamente sergipano.

Câmbio final...

AVE, Walmir!

Texto reproduzido do blogluizeduardocosta.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário