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Texto publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 22 de outubro de 2018
Lourival, o primeiro governador do regime militar
Por Marcos Cardoso
O primeiro governador sergipano indicado pelo regime militar
foi Lourival Baptista, cujo aniversário de nascimento aconteceu neste mês. Ele
foi um importante político sergipano que poderia ser lembrado pela habilidade e
astúcia, pela popularidade e pela capacidade de realização, mas ficou marcado
pela associação do seu nome aos militares.
Lourival soube tirar proveito da ditadura para crescer como
homem público. Na linguagem popular atual, ele se deu bem. Mas a sua biografia
não pode ser resumida a isso.
Baiano do quase vizinho município de Entre Rios, onde nasceu
em 3 de outubro de 1915, Lourival chegou a Sergipe em 1943 para trabalhar como
médico. Veio exercer sua profissão na Fábrica de Tecidos São Gonçalo, em São
Cristóvão, a convite de Augusto do Prado Franco, da família proprietária da
indústria, de quem tinha sido colega na Faculdade de Medicina da Bahia. Já
chegou casado com dona Hildete Falcão Baptista, com quem teve quatro filhos.
Revelando-se hábil político, com o apoio do colega udenista
soube aproveitar os ventos favoráveis do fim da ditadura Vargas para eleger-se
deputado estadual em 1946. Em 1950, elegeu-se prefeito de São Cristóvão e, em
1958, conquistou o primeiro de dois mandatos consecutivos de deputado federal.
O golpe de 1964 lhe foi favorável. Já escolado nas artes e
nas artimanhas da política, em 1966 deu o seu próprio golpe de mestre. A
sucessão estadual daquele ano transcorria da forma como preceituava o Ato
Institucional n° 2, ou seja, a Assembleia Legislativa de cada estado escolheria
três nomes que seriam submetidos ao voto decisivo do presidente Humberto de
Alencar Castello Branco.
Na lista tríplice de Sergipe constavam os nomes do
ex-governador Leandro Maynard Maciel, do ex-governador e então deputado federal
Arnaldo Garcez e do empresário Augusto Franco, que até então não tinha ocupado
cargo público.
A história nunca esclareceu os argumentos apresentados por
Lourival Batista, mas ele conseguiu passar a perna nos três fortes candidatos,
convencer o marechal presidente e acabar sendo ungido governador de Sergipe,
cargo que ocupou a partir de 31 de janeiro de 1967, tendo como vice-governador
o advogado e professor da Universidade Federal de Sergipe, Manoel Cabral
Machado.
Dizem que o amigo Luiz Viana Filho, ministro de Castelo e que
governou a Bahia no mesmo período, foi peça fundamental no convencimento do
presidente. Naquele mesmo ano de 1966, Leandro Maciel foi eleito senador e
Augusto Franco foi eleito pela primeira vez deputado federal, todos pela Arena,
o partido oficial do governo.
Primeiro governador nomeado pelos generais — os outros foram
Paulo Barreto de Menezes, José Rollemberg Leite e Augusto Franco —, o que se
sabe é que Lourival Baptista manteve uma relação muito próxima, que alguns
consideram até de bajulação, com os militares.
Enquanto durou o regime, é de conhecimento público os mimos
que ele fazia às autoridades em Brasília, a quem levava com frequência
presentes regionais típicos, como os sorvetes de mangaba da Cinelândia, a mais
famosa sorveteria de Aracaju na época. Se teve relação direta com as
arbitrariedades do regime militar é algo que a Comissão da Verdade pode
esclarecer.
Mas graças a essa relação de proximidade e ao bom momento
econômico vivido pelo Brasil no período, Lourival conseguiu fazer um governo
operoso, realizador de obras importantes, como o Edifício Estado de Sergipe,
uma espécie de centro administrativo que ficou conhecido com o nome de Maria
Feliciana. Com 28 pavimentos, é até hoje o maior prédio construído no Estado e
do alto do qual, diz a lenda, ele gostaria de avistar a sua querida São
Cristóvão.
Construiu o estádio de futebol que ainda é a principal praça
de esportes local — inaugurado no dia 9 de julho de 1969 com a Seleção
Brasileira comandada por Pelé, que venceu a Seleção Sergipana por 8 a 2 —, a
rodovia ligando a BR-101 a Lagarto e um teatro no bairro Getulio Vargas, todas
as obras batizadas com o seu nome. Também se chama Lourival Baptista um
conjunto habitacional no bairro Capucho.
Além de construir casas, estradas e escolas, ele ampliou a
presença da Chesf no Estado, criou o Distrito Industrial de Aracaju, trouxe um
escritório da Petrobras para Sergipe e implantou o Tribunal de Contas do
Estado. Nas palavras do historiador Ibarê Dantas, ele foi um “administrador
operoso e conciliador”, tendo atuado em um contexto favorável.
Lourival governou até o dia 14 de maio de 1970, quando se
afastou para disputar o Senado. Ocupou a câmara alta por três mandatos, de 1971
a 1994, sendo que o segundo mandato de senador não foi conquistado nas urnas,
mas por indicação.
Ele foi um dos senadores biônicos, parlamentares eleitos
indiretamente por um Colégio Eleitoral por obra e graça do Pacote de Abril de
1977, que foi uma resposta dos militares ao resultado das eleições anteriores,
de 1974, quando a grande maioria das vagas do Senado em disputa foi conquistada
por políticos do MDB. Em Sergipe, o jovem médico Gilvan Rocha foi a surpresa
que derrotou nas urnas o experiente Leandro Maciel.
Mas na eleição de 1986, Lourival reelegeu-se para o último
mandato de senador. No derradeiro pleito eleitoral que disputou, em 1994,
perdeu a vaga para o petista José Eduardo Dutra. O velho político morreu em
Brasília quase 19 anos depois, no dia 8 de março de 2013, aos 97 anos.
Nas palavras do então governador Marcelo Déda, foi um homem
que ao longo de sua trajetória aportou contribuições para o desenvolvimento de
Sergipe, “seja como médico de fábrica atendendo aos operários em São Cristóvão,
no começo da sua carreira política, seja como senador que se destacou pelo
combate ao fumo, chamando a atenção da nação brasileira para as consequências
nefastas do tabagismo para a saúde pública, seja no período quando governou o
Estado e teve a oportunidade de edificar obras públicas que até hoje são
utilizadas pelos sergipanos”.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br
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