Publicado originalmente no Facebook/Antonio Samarone, em 4
de janeiro de 2019
Gente Sergipana - Rosa Sampaio
Por Antônio Samarone *
Rosa Sampaio nasceu em Aracaju, na maternidade Francino
Mello, em 30 de setembro de 1950. Filha do Cirurgião Fernando Sampaio e de Dona
Maria Carmelita. Rosa cresceu numa Aracaju bucólica, tomando banho na Praia
Formosa, onde hoje é um emissário de esgoto da DESO. Fernando Sampaio foi um
dos primeiros moradores das imediações das Quatro Bocas.
Aracaju era a sultona das águas. Aquele canal fétido do
fundo do Batistão, já foi um Riacho de águas límpidas que corria até a igreja
São José. A ocupação de Aracaju, comandada pela especulação imobiliária,
transformou um paraíso ecológico, num aterro insalubre.
Rosa Sampaio cresceu numa cidade sem a violência urbana. Fez
o primário e o ginásio no Colégio do Salvador, sob a disciplina de Dona Mariá.
Entre as rebeldias da adolescência, frequentou a boate Saveiros, do Iate; e a
vida noturna da Atalaia, inventada por Luiz Adelmo.
Em 1965, Rosa Sampaio tomou uma importante decisão: foi
estudar o científico no famoso Colégio Atheneu, escola pública de excelência,
para onde a sociedade sergipana mandava os seus filhos. Rosa Sampaio deu um
salto em experiência de vida, amadureceu, o Atheneu era uma grande escola. Aqui
uma curiosidade: no Atheneu, Rosa Sampaio foi aluna de física do Senador
Valadares, e segundo ela, ainda lembra da segunda lei de Newton. Pensei, com
uma certa maldade, resta saber se o Senador ainda lembra.
Em 1968, quando o mundo fervilhava em novidades, Rosa entrou
na Faculdade de Medicina. Como toda jovem esclarecida daqueles tempos, amava os
Beatles e os Rolling Stones, mas não descuidava dos estudos. Foi uma boa aluna.
Antigamente, quando os alunos saiam das antigas faculdades estavam prontos para
o exercício da medicina.
Rosa Sampaio frequentou a faculdade no difícil período do
AI-5, tendo sido aluna de EPB do doutor Eduardo Vital Santos Melo, famoso
intelectual católico da província sergipana. Durante o curso, se aproximou de
vários professores, facilitado pelo pai professor e médico importante na
cidade.
Ainda estudante, Rosa Sampaio frequentou um estágio no
Hospital das Clínicas da USP. Numa aula prática, com um paciente suspeito de
calazar, o professor pediu para que os alunos palpassem o fígado do paciente,
foi um Deus nos acuda, ninguém sabia. Rosa, valendo-se das manobras de
palpação, apreendidas com o professor Aloísio Andrade, em Aracaju, fez tudo
corretamente. O professor, um argentino famoso, ficou encantado com o curso de
medicina de Sergipe. Ainda era tempo da medicina artesanal.
Rosa Sampaio formou-se em medicina em 1974. No ano seguinte,
foi aprovada no concurso de professora para a disciplina “fisiologia do
esforço”, ofertada no curso de Educação Física. Com a criação da disciplina de
pneumologia na faculdade de medicina, ofertada pelo professor Dietrich Todt,
Rosa foi convidada para ser auxiliar, e posteriormente assumiu o comando da
disciplina.
Rosa Sampaio, eterna presidente do Colegiado de Medicina,
envolveu-se com as mudanças do currículo do curso, afim de integrá-lo às
exigências da reforma sanitária. Rosa virou o nome da UFS, que se envolveu nas
mudanças. Era o contato dos estudantes, dos militantes da reforma e dos
movimentos populares com a Universidade. Cumpriu um papel decisivo em levar os
alunos de medicina para a comunidade, tirá-los dos corredores hospitalares.
Inicialmente os alunos foram para o Centro de Saúde Francisco Fonseca, ao lado
da Igreja, no bairro 18 do Forte.
Rosa Sampaio tomou gosto pela Saúde Pública, vestiu a camisa
da Reforma Sanitária. Em 1997, assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de
Aracaju, num período de municipalização. Rosa implantou o Programa de Saúde da
Família em Aracaju. São inicialmente doze equipes, todas funcionando bem. O SUS
vivia uma fase de esperança. Rosa teve autonomia e não misturou a politicagem.
Organizou duas conferências municipais, reforçou o Conselho Municipal de Saúde,
incorporou o dentista e a assistente social nas equipes do PSF, e recrutou os
agentes comunitários por critérios técnicos. Infelizmente, o trabalho de
municipalização da Saúde em Aracaju, depois desandou. Parece que até hoje!
A Saúde viveu um período de comando técnico, de boa gestão.
Na semana de vacinação dos animais domésticos, vários pontos foram instalados
em Aracaju. Um famoso professor de medicina que morava numa chácara, no caminho
da Atalaia, ligou para a secretária solicitando uma equipe para vacinar os seus
gatos, em sua chácara. Rosa Sampaio não se intimidou: professor, gosto muito do
senhor, mas não posso mandar a equipe. O senhor traga os seus gatos, para
vacinar nos locais públicos. O professor ponderou, Rosa, é quase impossível,
não existe saco que caibam os meus gatos. Rosa, indagou: e quantos gatos o
senhor tem? O velho mestre foi sucinto: 48 gatos. De fato, nesse caso, a
secretaria mandou não só a equipe de vacinação; como levou o Prefeito e uma equipe
de televisão.
Rosa Sampaio foi a última secretária de saúde de Aracaju que
obedeceu rigorosamente a todos os princípios do SUS. Depois a politicagem
contaminou o sistema, desarrumou, desviou dos princípios, que até hoje a saúde
do município patina.
Por conta do trabalho no SUS de Aracaju, Rosa Sampaio foi
convidada a ocupar um cargo importante no Ministério da Saúde, durante a gestão
de José Serra, e por lá ficou até a aposentadoria. Hoje, Rosa é residente em
Brasília, mas não perde oportunidade de frequentar Aracaju.
Rosa Sampaio foi casada com o famoso jurista Gilberto Villa
Nova de Carvalho, com quem teve três filhos: Gilberto, Graziela e Raquel; e por
enquanto, sete netos. Rosa é uma remanescente da medicina humanista. Aos 68
anos, cabeça boa, missão cumprida na terra, culta, Rosa Sampaio é uma cidadã do
mundo.
* Postagem também no blogdesamarone.blogspot.com
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Antonio Samarone
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