sábado, 28 de novembro de 2020

“J. A. sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos”


Texto publicado originalmente no site do Jornal CORREIO DE SERGIPE, em 27/11/2020

“João Alves, sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos”

João Fontes, ex-deputado federal e empresário, gosta de declarar o que pensa, sem firulas. Com isso, amealha admiradores e adversários no campo da política. Mas uma coisa nem uns e nem outros ousam: duvidar do conhecimento histórico que João Fontes possui sobre a política sergipana. Por isso, e para garantir a máxima isenção opinativa, convidamos João para falar de João. No caso, João Fontes falando o saudoso João Alves. E, a seguir, temos afirmações viscerais. “A nomeação de João para prefeito muda a história política de Sergipe, pois nascia ali uma liderança que não veio de oligarquia, que veio do povo, filho de um mestre de obras, de uma família pobre e, como ele mesmo gostava de dizer, um homem negro, o “Negão”, chega ao poder e muda a história”. Mas João, o Fontes, também revela curiosidades sobre João, o Alves. “Eu ouvi um bêbado, quando João perdeu a eleição de 2010, ali ao lado da igreja São Pedro e São Paulo, e eu estava com João naquele momento, que veio até ele, chorando, e disse: “Dr. João, o senhor perdeu a eleição, mas o senhor vai ficar marcado pelas suas obras em todo o Estado”. Ou ainda: “Marcelo Déda era um grande orador, mas não se pode comparar a gestão e a visão futurista, a realização das obras, com Déda, que tem um outro perfil na história política de Sergipe. O que eu posso dizer é que ambos foram brilhantes”. Para o Fontes, o Alves é incomparável. “Olhe, eu sou afilhado de Leandro Maciel, que foi um grande governador. E quando eu coloco isso aqui, coloco sob o ponto de vista da história: sem sombra de dúvidas, João Alves foi o “the best’ na política de Sergipe”. Saiba mais nessa entrevista exclusiva.

Correio de Sergipe – João Fontes, você acompanhou a trajetória política de seu xará João Alves desde o princípio. Assim, vamos fazer um exercício de imaginação: se José Rollemberg Leite, em 1975, tivesse escolhido outro nome que não o de João Alves para a prefeitura de Aracaju e, consequentemente, o colocado na administração pública, qual seria o Sergipe de hoje?

João Fontes – É um fato interessante da história. Pois a escolha de Zé Leite pelo nome de João Alves para prefeito de Aracaju veio, depois, a mudar a história política de Sergipe. Mudou a história do homem que se tornou tocador de obras; da cidade, pois temos Aracaju antes e depois de João Alves; mas ali nasce também a história que mudaria o ciclo político de Sergipe. Zé Leite escolheu João Alves por uma questão de ordem técnica. Ele era amigo do pai de João, o construtor, que ali estava começando a Construtora Alves. Mas Zé Leite assistiu a uma palestra, na Escola Superior de Guerra, em outubro de 1972, proferida por João Alves. E ali ele se apaixona, fica encantado com João Alves. E quando ele foi escolhido governador do Estado por Giesel, em 1975, como estavam suspensas as eleições para prefeito de capitais, a escolha cabia ao governador nomeado. Ao ser escolhido, João Alves passa a fazer uma grande revolução, pois Aracaju passa a ser conhecida como antes e depois de João Alves. As grandes avenidas, a Coroa do Meio. E ele tomava muita porrada, pois quando ele foi fazer a Coroa do meio, a turma ligada ao meio ambiente, à esquerda, que era contra os militares, também era contra João Alves. Agora, imagine hoje o que seria de Aracaju sem a Coroa do Meio? E ao fazer um conjunto de obras em Aracaju, como dizia Brizola, “o gongo bate na capital, mas ressoa no interior”, a imagem de João como grande tocador de obras, como um homem visionário, que fez uma outra Aracaju, isso se transporta para o Estado. Por isso que a nomeação de João para prefeito muda a história política de Sergipe, pois nascia ali uma liderança que não veio de oligarquia, que veio do povo, filho de um mestre de obras, de uma família pobre e, como ele mesmo gostava de dizer, um homem negro, o “Negão”, chega ao poder e muda a história.

C.S. – Dentre as obras estruturantes realizadas por João Alves, qual é a mais importante de todas, na sua opinião?

J.F. – São tantas as obras que fica difícil dizer a mais importante. Na capital marcou muito a ponte Aracaju/Barra, pois dela vieram a expansão da Barra, diversas obras nesse sentido, a ligação com o litoral norte. Mas ainda temos a Orla de Atalaia, que é fundamental, uma vez que João projetou Sergipe para o turismo. Mas ainda temos a Rodovia José Sarney (hoje Ignácio Barbosa), a ponte Joel Silveira, que foi João que começou, mas que teve muitos problemas, pois, para prejudicar o governo de João Alves, começaram a segurar os recursos em Brasília. Mas, quando ainda se atravessava de balsa, ele já tinha feito o asfalto até a praia do Saco, em direção ao litoral sul todo. Mas ele ainda fez obras estruturantes interessantíssimas, como na captação de água e das adutoras, as represas que ele fez em todo o Estado. São muitas as obras. Em Aracaju ele deixou grandes marcos, como as pontes, as avenidas, mas em qualquer cidade do interior tem obras deles. Friso que sobretudo na questão da água e, vale lembrar, na defesa do rio São Francisco, que é outra obra muito importante, pois revelou a sua preocupação com o meio ambiente. E tem uma história interessante: eu ouvi de um bêbado, quando João perdeu a eleição de 2010, ali ao lado da igreja São Pedro e São Paulo, eu estava com João naquele momento, que veio até ele, chorando, e disse: “Dr. João, o senhor perdeu a eleição, mas o senhor vai ficar marcado pelas suas obras em todo o Estado”.

C.S. – Além de um gestor de mão cheia, construtor inveterado de grandes obras, João Alves também fazia muita engenharia política. Ao longo dos anos, qual teria sido o arco de alianças mais impactante que João costurou?

J.F. – Quando ele saiu da prefeitura, tomou gosto pela política. João estava fundando o PP em Sergipe, já era muito próximo de Tancredo Neves – aliás, ele era um apaixonado por dois mineiros, Juscelino Kubitscheck e Tancredo. Na primeira eleição dele, em 1982, que era a primeira eleição direta para governador em muito tempo, ele tinha uma força popular muito grande. E isso fez com que Albano, filho mais próximo de Augusto Franco em termos de política, com receio de João ganhar sem a anuência dos Franco, convencesse Augusto de apoiar João Alves. Assim, Augusto o convidou para ingressar no PDS, que dava sustentação aos candidatos aliados do governo federal, dos militares. E João conquistou uma expressiva vitória, ali numa chapa casada. Augusto Franco teve 33% dos votos para deputado federal, ainda é o deputado federal mais votado em todos os tempos no Brasil. Valter Franco, para deputado estadual, foi muito bem votado. Albano se elege senador. E João vence Gilvan Rocha para governador com uma votação estupenda: ele teve 275 mil votos contra 77 mil de Gilvan. Logo depois, eles rompem, os Franco e João. Depois vem o período das eleições diretas, do colégio eleitoral, João ajudou a eleger Jackson Barreto prefeito de Aracaju em 1985. Mas o maior marco como político, como engenharia política de João Alves, foi na eleição de 1986, pois João ficou no governo e fez Valadares governador, que foi uma vitória de João, pois ele foi o único governador do país eleito pelo PFL, pois naquela época, o PMDB, embalado pelo Plano Cruzado, por Sarney, por Funaro, elegeu todos os governadores, menos o de Sergipe, que foi Valadares e quem elegeu foi João Alves. Esse resultado foi tão forte que, em 1987, quando Joaquim Francisco deixou o Ministério do Interior, no governo Sarney, de quem João ainda não era tão próximo naquela época, o Nordeste começou a brigar pela indicação do novo ministro. E, nesse caso, se ressalte a importância de Valadares, de Lourival Batista, para aproximar João Alves de Sarney, quando ele virou ministro e foi um grande ministro. Ali João deixava de ser apenas de Sergipe, de ser apenas do Nordeste, e passava a ser o João Alves do Brasil. O País começou a conhecer mais João Alves como escritor, pelas suas obras. E o que João Alves falava naquela época, todo mundo ouvia.

C.S. – Dos últimos governadores sergipanos, dois se foram em um breve espaço de tempo: Marcelo Déda, em 2013, e João Alves, agora em 2020. Você vê semelhanças entre os dois? E quais seriam as principais diferenças entre eles?

J.F. – São coisas diferentes, Marcelo Deda e João Alves. Déda foi o melhor orador que Sergipe já teve. Ele e Fausto Cardoso. Mas João Alves era gestor. Tem um fato interessante, em 2007, quando Nilson Lima, que era secretário da Fazenda de Déda, vai a Assembleia e, sob juramento, diz que o Estado tinha R$ 1,2 bilhão em caixa. Ou seja: João saiu em 2006 mas deixou o governo saneado. Então, João foi o grande tocador de obras, o grande Executivo. Tanto que ele nunca se candidatou para nenhuma eleição no Legislativo. E Marcelo Déda era um grande orador, mas não se pode comparar a gestão e a visão futurista, a realização das obras, com Déda, que tem um outro perfil na história política de Sergipe. O que eu posso dizer é que ambos foram brilhantes.

C.S. – Em 2012, João Alves venceu a prefeitura de Aracaju e, na verdade, essa teria sido a última vitória expressiva da oposição, que tem amargado sucessivas derrotas. Teria sido João, seu carisma e sua capacidade de aglutinação, o responsável por essa vitória oposicionista?

J.F. – Participei de muito perto da eleição de 2012, porque quando ele perdeu a eleição de 2010, ele ficou sem mandato e eu até brincava com ele. Eu dizia, “olhe, João, eu gosto de você fora do poder, porque, fora, você é o Negão. No poder, você é o Galegão”. E ele passou a me procurar muito nesse período, eu ajudei a colocar na cabeça dele que ele devia se candidatar a prefeito de Aracaju e esquecer um quarto mandato de governador, que era com o que ele sonhava de manhã, de tarde e de noite, ser candidato em 2014. E eu mostrei a ele, inclusive num encontro como José Calos Machado, Batalha e ele em minha casa, que ele devia ser candidato a prefeito de Aracaju e encerrar a carreira ali. Ele começou como prefeito e terminaria, em 2016, como prefeito da capital. E eu ajudei muito nesse período, pois tinha os rachas e eu acompanhei isso de muito perto. E ele terminou cedendo e acabou se candidatando. Mas, lamentavelmente, ele começou a ficar doente. Mas ele marcou sua gestão com o Calçadão da Praia Formosa, na 13 de Julho, e outras coisas. Mas a verdade é que ele terminou o mandato já muito doente. Mas a eleição de 2012 teve, sim, a força dele para garantir a sua vitória, sem dúvida.

C.S. – Pra fecharmos: é possível colocar João Alves como o maior governador da história sergipana? E, nos anos vindouros, será que teremos a oportunidade de ver surgir alguém com o mesmo potencial e o mesmo sucesso que João teve em sua trajetória?

J.F. – É difícil encontrar uma outra figura com o perfil de João Alves. As coisas não se repetem na política. Eu diria que nós tivemos, em Sergipe, dois engenheiros visionários, Leandro Maciel, em um outro período da história, e, nos últimos 45 anos, João Alves que, sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos. É muito raro nascer um João Alves na política. E isso também como ser humano, pois ele era muito inteligente, uma pessoa de convicções religiosas profundas, um bom pai, um bom amigo, discreto. Ele era incapaz de, ao a gente contar alguma coisa para ele, e isso sair dali para diante como fofoca. Era uma figuraça. Conviver com João Alves foi um grande presente que Deus me deu em minha vida. E eu ainda tive o privilégio de conviver com João Alves os últimos momentos de lucidez. Uma figuraça! Bem humorado, uma figura de bem com a vida, um sujeito porreta, como a gente diz em Sergipe. Olhe, eu sou afilhado de Leandro Maciel, que foi um grande governador. E quando eu coloco isso aqui, coloco sob o ponto de vista da história: sem sombra de dúvida, João Alves foi o “the best’ na política de Sergipe. Como político, três mandatos de governador, ministro do Interior, duas vezes prefeito da capital. E, como já citei o bêbado lá atrás sobre as obras dele, “pelos frutos conhecereis a árvore”. Então tá aí: João Alves deixou bons frutos, foi uma boa árvore que deixou bons frutos na política de Sergipe.

FRASE

Maior marco como político, como engenharia política de João Alves, foi na eleição de 1986, pois João ficou no governo e fez Valadares governador. Foi uma vitória de João.

Texto reproduzido do site: ajn1.com.br

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