Publicado originalmente no site F5 NEWS, em 21 de agosto de 2020
“Deus abençoe a minha caixa de engraxate” – Raimundo Juliano
Por Marcio Rocha (do blog/coluna)
Com oito anos de idade, um garoto chamado Raimundo Juliano
Santos Souto começou uma trajetória de vida que marcaria a história do comércio
sergipano, se misturando com a própria história do estado. Para poder pagar seu
divertimento, cinema e parques de diversões, o garoto não imaginava que iria
sair dali, de uma caixa de engraxate com uma flanela, escova e um pouco de
pasta, um dos maiores legados do comércio do estado, responsável pela geração
de milhares de empregos em Sergipe. Raimundo Juliano empreendeu e dali cresceu.
Crescendo em tamanho, idade e responsabilidade, ainda
criança aprendeu como trabalhar com o comércio, na cidade de Estância e
pensando à frente do seu tempo, mesmo estando atrás do balcão das Lojas
Esperança, iniciou a atividade comercial de secos e molhados. Crescendo, subiu
no lombo de um burrinho e desbravou terras sergipanas e com muita coragem
seguiu também pela Bahia, o jovem Raimundo Juliano era então caixeiro-viajante,
levando consigo a atividade de representação comercial, levando produtos para
todo o comércio dos dois estados, seguindo por estradas de terra, pavimentou
sua vida com muito trabalho.
Enquanto crescia na idade, Raimundo crescia como empreendedor.
De um barzinho em Estância, surgiu o estalo para projetar-se de vez no mundo
dos negócios, trabalhando com representação e distribuição de bebidas.
Conhecedor do comportamento do consumidor, entendendo os períodos de demanda e
escassez do produto, surgiu então a DISBERJ – Distribuidora de Bebidas Raimundo
Juliano. Foram 45 anos vivendo nessa atividade, o que lhe propeliu a empreender
em muitos outros ramos de negócios, levando a uma vida empresarial de 80 anos
fazendo amigos, conquistando pessoas, fazendo negócios.
Não há em Sergipe uma pessoa que não tenha tomado uma
cerveja, ou um refrigerante, que não tenha passado pelas mãos, de Raimundo.
Pois isso levou os negócios mais além, gerando empregos para as famílias de
Sergipe, levando um nome, uma história para nosso estado. História essa que
ainda brilharia mais, com a sua chegada ao comércio atacadista e distribuidor,
com a Fasouto. Primeiramente levando carga para as cidades e depois uma grande
diversidade de produtos para o nosso comércio. A caixa de engraxate de um
menino sonhador, se tornou a realidade que transformou as vidas de milhares de
pessoas que hoje trabalham nas empresas que levam seu nome como fundador. De
alguns tostões para um garoto, foram gerados milhões para incontáveis famílias.
Aqui volto no tempo aos idos de 2004, quando fiz minha
primeira entrevista com Raimundo Juliano, para o Jornal Povão. A primeira
pergunta dele foi “Você é filho de quem?” Lhe respondi dizendo quem era meu
pai. “Ah, seu pai era meu amigo! Essas orelhas enormes são iguais as de
Cordeiro!” Caímos na risada. Tivemos um ótimo papo lá na Fasouto, conversando
bastante sobre a história de sua vida, que realmente se mistura com a história
de Sergipe.
Encontramo-nos em várias oportunidades, mas a lembrança mais
marcante que tenho é de quando nos encontramos em Terra Caída, no restaurante
de Pascásio. Uma garrafa de Antarctica aberta e eu brinquei com ele,
dizendo-lhe que naquela idade ele não deveria estar tomando cerveja. “Como não
vou beber? Eu tô aqui por causa dela”. Muitas risadas, como de costume... Aí me
contou novamente um pouco da história da empresa que transformou sua vida,
vendendo cerveja. Falou sobre a felicidade de estar com mais de 80 anos, mesmo
com algumas limitações e sobre olhar para trás e ver como tudo começou e como
sua vida se transformou. “Deus abençoe a minha caixa de engraxate.
Tudo que
tenho e sou devo a Ele e a ela”.
Seu Raimundo, obrigado e até um dia...
Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br
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