Pai e filho: uma imagem de afeto que sempre seguiu estes
dois
nos caminhos da vida e dos negócios
Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 21 de agosto
de 2020
Opinião - Raymundo Juliano Souto dos Santos, nosso pai,
acordou para a outra vida
Por Juliano Cesar Faria Souto * (da coluna APARTE)
Um hábito herdado de minha mãe, que consegui colocar em
prática, foi o da leitura noturna. Na insone noite deste 20 para 21 agosto,
estava eu lendo o famoso clássico da literatura mundial “Guerra e Paz”, de Liev
Tolstoi (1828-1910) - alguns chamam-no de Leon Tolstoi - e, para minha
surpresa, dentre as suas mais de 3 mil páginas, deparei-me exatamente às 3
horas da madrugada, na de número 1.173, com uma descrição do que é a morte na
visão do personagem do príncipe russo Andrei.
Tomo aqui a liberdade de transcrever trechos do texto do
Tolstoi: “Amor? O que é o amor? O amor atrapalha a morte. O amor é a vida. Tudo
existe só porque eu amo. O amor é Deus, e morrer significa que eu, uma
partícula de amor, vou voltar para a fonte universal e eterna”.
Em sonho, o príncipe Andrei se vê num quarto rodeado de
pessoas com os mais diversos afazeres e discutindo assuntos supérfluos. Aos poucos,
as pessoas começam a desaparecer e tudo é substituído por uma só pergunta a
respeito do fechamento de uma porta.
Andrei tenta fechá-la e “tudo” certamente depende de ele
conseguir deter aquela porta. Ele emprega todas as suas forças físicas e ali está
a metáfora do temor, do medo da morte: atrás da porta está “aquilo”. Aquela
coisa, empurrando do outro lado, começa a abrir a porta.
Não é algo humano empurrando. Na pena livre de Tolstoi, é a
morte que força a porta. Andrei agarra a porta, com suas últimas energias, e
ela abre e fecha. Por fim, as duas partes da porta se abrem sem fazer ruído.
Finalmente, “aquilo” entrou. E “aquilo” é a morte, essa senhora rigorosamente
democrática.
Então, o príncipe Andrei conclui laconicamente: “Sim, era a
morte. Eu morri - eu acordei. Sim, a morte é um despertar”. A ideia se acendeu
de repente e a cortina, que até então ocultava o desconhecido, foi erguida
diante de seu olhar espiritual.
Naquela leveza que não o abandonou mais a partir de então,
ele sentiu como que uma libertação de energias antes presas dentro dele.
Esta cena, com a qual Tolstoi ritualiza a passagem desta
para uma outra vida em seu “Guerra e Paz”, me acode solenemente nesta hora em
que meu pai, Raymundo Juliano Souto dos Santos - 8 de julho de 1932/21 de
agosto de 2020 - faz o “despertar” dele.
Nosso pai “acordou”, na figura de imagem do russo da minha
leitura noturna herdada da minha mãe. Triste? Se há algo que pode nos confortar
em tal momento esse algo é a certeza, clara, como o balançar de uma cortina, da
existência da eternidade.
Sim, a certeza de uma eternidade que pode ser sentida nas
lembranças, nos atos e nas lições dos grandes homens que nos deixam, como acaba
de fazer o nosso pai. No caso dele, como gostava de frisar, foram “88 anos negociando
e fazendo amigos”.
Aliás, essa herança de Seu Raymundo Juliano Souto dos Santos
me permite até uma correção: gente como nosso pai jamais nos deixará com esse
seu “despertar” de hoje. Porque, e de novo recorro ao romance russo, “morrer
significa que eu, uma partícula de amor, vou voltar para a fonte universal e
eterna”. Seu Raymundo Juliano inicia hoje a sua volta.
* Nesta hora, juntamente com mais Cynthia Faria Souto e
Ana Suely Souto Teles, é apenas um filho de Raymundo Juliano Souto dos Santos!
Vindo da cidade de São Paulo, o corpo do empresário Raymundo Juliano chegará às
17h no Aeroporto de Aracaju e de lá seguirá diretamente para o Cemitério Santa
Isabel. Organizado pela Fecomércio, um cortejo de empresários deve seguir em
automóveis o corpo até cemitério.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário