quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Morre João Alves, o tocador de obras

 

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 25 de novembro de 2020

Morre João Alves, o tocador de obras

O ex-governador João Alves Filho (DEM) morreu, na madrugada desta quarta-feira (25), no Hospital Sírio Libanês, em Brasília, onde estava internado, após ter sofrido uma parada cardíaca em seu apartamento e contraído coronavírus. Desde julho do ano passado, o ex-governador recebia cuidados intensivos em uma unidade Home Care para controlar um estado avançado de Alzheimer. Segundo a família, o corpo de João Alves Filho será cremado em Brasília e as cinzas trazidas para serem sepultadas em Aracaju. O ex-governador tinha 79 anos, era casado com a senadora Maria do Carmo Alves (DEM), com quem teve duas filhas e um filho.

Resumo biográfico de João do Povo

João Alves Filho nasceu em Aracaju no dia 3 de julho de 1941, filho do empresário da construção civil João Alves e de Maria de Lourdes Gomes. Em 1960 assumiu o cargo de diretor técnico da construtora de propriedade de sua família. Um ano depois, ingressou na Escola Politécnica da Universidade da Bahia, pela qual se graduou em engenharia civil em 1965. No mesmo ano fundou e assumiu a presidência da “Habitacional Construções S.A.”, que viria a ser uma das maiores empresas de construção civil do Nordeste. Do seu casamento com Maria do Carmo Alves, teve três filhos.

Iniciou-se na política em 1975, por intermédio do então governador de Sergipe, José Rolemberg Leite, que o nomeou prefeito de Aracaju. Filiado à Arena, tornou-se muito popular durante sua gestão, adquirindo a fama de tocador de obras e administrador competente. Ao longo de sua gestão, encerrada em 1979, não teve nenhum de seus projetos derrubados pela Câmara Municipal, embora a maioria dos vereadores fosse filiada ao MDB, partido de oposição.

Após o fim do bipartidarismo em novembro de 1979, entrou para o PP. Pouco tempo depois, afastou-se da vida partidária e voltou às atividades empresariais, sob o argumento de que o PP se tornara inviável no estado. Em fevereiro de 1982, o partido acabou sendo incorporado ao PMDB, como forma de enfrentar a situação política decorrente da aprovação pelo Congresso, em dezembro de 1981, do pacote de reformas da legislação eleitoral proposto pelo presidente João Figueiredo.

Primeiro governo

A realização de eleições diretas para governador em novembro de 1982, mobilizou os partidos recém-formados na busca de candidatos. Nesse novo contexto, a convite do então governador Augusto Franco, João Alves Filho se filiou ao PDS, partido sucessor da Arena. Em seguida, foi indicado candidato ao governo estadual, tendo seu nome referendado por Albano Franco, e apoiado pelos prefeitos e pelas bases pedessistas.

Detentor de um grande prestígio político em Sergipe, e tendo como companheiro de chapa o candidato a vice Antônio Carlos Valadares, João Alves foi muito bem-sucedido em sua disputa com os candidatos Gilvan Rocha (PMDB), Marcelino Bonfim (PT) e Manuel Ferreira dos Santos (PDT). Eleito com 76% dos votos válidos, uma das mais expressivas votações no estado, João conseguiu, pela primeira vez em 30 anos, que o partido do governo vencesse na capital. Assumiu o cargo no dia 15 de março de 1983.

Coerente com suas principais promessas de campanha, de estímulo à agricultura e combate à seca e à miséria, o governador João Alves Filho buscou implementar projetos que, no seu entender, possibilitassem um desenvolvimento rural integrado das áreas atingidas pela seca. Com o financiamento do Banco Mundial, pôs em andamento o projeto Chapéu de Couro, que procurava beneficiar a região do agreste semiárido com a perfuração de poços artesianos e a construção de cisternas, estradas vicinais, redes de energia elétrica, escolas e postos de saúde.

Rompe com os Franco

Em março de 1985, João Alves rompeu politicamente com a família Franco e ingressou no PFL, partido originado da Frente Liberal, dissidência do PDS que se havia unido ao PMDB para apoiar a eleição presidencial de Tancredo Neves e José Sarney pelo Colégio Eleitoral. Ainda em 1985, envolveu-se na disputa eleitoral pela Prefeitura de Aracaju. Procurando consolidar no nível municipal a Aliança Democrática, aliou-se ao PMDB de Aracaju em apoio a Jackson Barreto, que foi eleito com grande votação.

Em 1986, o PFL sergipano tentou manter a aliança para a sucessão de João Alves no governo estadual, mas suas esperanças foram frustradas pela união entre a ala moderada do PMDB e o PDS dos Franco, que lançou o peemedebista José Carlos Teixeira. Inviabilizada tal articulação, Alves decidiu apoiar seu vice para o governo. Beneficiado pela popularidade de Alves e pela composição de partidos que incluía o PCB, o PCdoB e os “progressistas históricos” do PMDB, Antônio Carlos Valadares venceu a disputa, tornando-se o único governador do PFL eleito naquele pleito.

Ministério do Interior

Após passar o governo de Sergipe a Antônio Carlos Valadares, João Alves voltou às atividades empresariais e ajudou a reorganizar o PFL sergipano. Em agosto, foi empossado no Ministério do Interior. Aceito por grande parte dos governadores peemedebistas do Nordeste, o ex-governador de Sergipe defendeu a permanência do pacto entre o PFL e o PMDB, afinal rompido em fins de setembro.

Criticando tal atitude, o ministro do Interior afirmou que o partido deveria permanecer unido em torno do presidente da República, apoiando, inclusive, o mandato de cinco anos para Sarney, proposta que acabou sendo aprovada na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988). Em 15 de março de 1990, João Alves deixou o ministério.

Na política sergipana

Apesar de ter rechaçado inicialmente qualquer possibilidade de aliança com o PMDB, controlado pela família Franco em Sergipe, a chapa da qual fez parte como candidato a governador acabou sendo composta por Albano Franco, que pleiteava uma vaga no Senado. Por intervenção direta de Collor, o PFL e o PMDB formalizaram uma aliança no estado para impedir uma disputa entre Albano e João Alves. Obtendo 73,7% dos votos válidos, venceu as eleições do dia 3 de outubro. Seus únicos adversários, José Eduardo Dutra (PT), e Gilberto Selles dos Anjos (PRT), obtiveram, respectivamente, 25,1% e 1,2% dos votos válidos.

Em relação ao novo governo, João Alves Filho manteve uma postura de aceitação, buscando a conciliação entre as forças governistas nos momentos mais críticos. Em setembro de 1993, discordou da atitude de Luís Antônio Fleury, governador de São Paulo, que rompeu com o governo federal, e afirmou que os partidos que tinham apoiado a saída de Fernando Collor deveriam dar sustentação política ao presidente Itamar Franco para que fosse garantida a governabilidade do país.

Eleição de Albano

João Alves optou em não deixar o governo visando preparar sua sucessão, que ocorreria no final de 1994. Articuladas as alianças, o candidato apoiado pelo governo do estado seria o senador Albano Franco, do (PSDB. Realizada a eleição, Albano e Jackson Barreto (PDT) alcançaram votações semelhantes, o que levou a disputa para o segundo turno, tendo o candidato pedetista foi derrotado no pleito realizado em 15 de novembro.

Em 1996, João Alves Filho envolveu-se novamente em uma disputa eleitoral na tentativa de garantir a eleição de sua mulher, Maria do Carmo Alves (PFL), para a prefeitura de Aracaju. O pleito, contudo, foi ganho por João Augusto Gama da Silva, do PMDB. Dois anos depois,

Em 3 de outubro de 1998, enquanto sua mulher Maria do Carmo Alves (PFL) era eleita senadora, João Alves foi derrotado na disputa pelo governo de Sergipe pelo antigo aliado, o então governador Albano Franco (PSDB), que se reelegeu. Em 2002, João Alves saiu novamente candidato ao governo do estado com o apoio da coligação “João na cabeça e Sergipe no coração”, liderada por seu partido, o PFL, tendo conquistado seu terceiro mandato.

Derrotado por Déda

Durante sua terceira gestão, iniciada em 2003, criou a Secretaria de Combate à Pobreza, seguindo o programa federal de combate à fome, chamado de Fome Zero, criado pelo recém-empossado presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Sua mulher, Maria do Carmo Alves, licenciou-se do Senado para assumir a nova secretaria, que também procurou desenvolver programas nas áreas de saúde e habitação.

Em 2006, foi candidato pela quarta vez ao governo do estado numa campanha marcada por discussões entre PFL e PSDB em torno das alianças eleitorais. Na convenção, o PSDB rompeu com o PFL, passando a apoiar o candidato do PT, Marcelo Deda. Depois de acirrada disputa, o petista derrotou João Alves, que deixou o governo em 31 de dezembro.

Prefeito 30 anos depois

Em 2012, o ex-governador se candidatou a prefeito de Aracaju. Com uma coligação formada por 13 partidos, disputou com o candidato do PSB, Valadares Filho. Com 52,72% dos votos válidos, João Alves Filho foi eleito e empossado novamente na Prefeitura após mais de 30 anos, em Janeiro de 2013.

Desde 1993, João Alves Filho é membro da Academia Sergipana de Letras e autor de diversos livros, entre os quais “No outro lado do mundo” (1988), “Irmãos de raça” (s/d), “O Caminhoneiro do Brasil” (1994), “Nordeste – estratégias para o sucesso” (1997), “Matriz energética brasileira” (2003) e o mais recente “Toda a verdade sobre a transposição do rio São Francisco” (2008).

Com informações da biografia de João Alves Filho produzida por Márcio Magalhães/ Letícia Nunes de Moraes, da Fundação Getúlio Vargas.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

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