domingo, 26 de outubro de 2025

'Expressão & cultura', por Neu Fontes


Artigo compartilhado do blog NEUFONTES, outubro de 2025

Expressão & cultura
Por Neu Fontes

Olá, gente boa!

Já comentei por aqui que comecei minha vida na música aos oito anos, cantando no coral do Colégio Sagrado Coração de Jesus da minha querida professora Maria José. Eu e Lula Ribeiro éramos a primeira e a segunda voz — e, muitas vezes, os solistas das canções de Roberto Carlos, como Jesus Cristo e A Montanha, entre os cânticos das missas.

O coral era regido por Manuelzinho, então ligado ao Colégio Arquidiocesano e, mais tarde, proprietário do Colégio Dinâmico, em Aracaju. Ele era o maestro e coordenador, e sempre elogiava as vozes dos meninos do Sagrado.

Minha mãe, Susete, ouvindo nossas cantorias, resolveu comprar um violão Estudante Di Giorgio da famosa Dona Caçula — uma vendedora nata, mãe do maestro Heribaldo Prata, da Escola de Música Carlos Gomes, onde eu estudaria anos depois.

Com o violão nas mãos e a voz afinada, comecei a estudar, aos nove anos, com o professor João Argolo, no Conservatório de Música de Sergipe. Por lá, já se falava nas bandas da Jovem Guarda e nos bailinhos da época: Los Guaranys e Sol Nascente; em Boquim, Os Nômades; em Tobias Barreto, a Orquestra Cassino Royale; em Estância, Os Cometas e a Orquestra Unidos em Ritmos; em Nossa Senhora das Dores, o Embalo D; em Propriá, os Átomos; e ainda Os Comanches, Los Tropicanos, Os Vickings, Brasa 10, R-Som 7, Topkap’s, Gerusa e seus Big Loys, a Orquestra do Maestro Medeiros e The Tops.

The Tops era uma das mais comentadas. Lembro que meus tios Sérgio e Moacyr falavam sobre os integrantes, que eram seus amigos. A banda era formada por Rubinho (órgão elétrico), Pithiu (contrabaixo), Marcos (guitarra base), Marcelo Brito (guitarra solo) e Pascoal Maynard (bateria). Teve ainda a participação de Tonho Baixinho.

Confesso que devo ter assistido a uma ou duas apresentações deles na Atlética — eu ainda era muito criança para frequentar os bailinhos da cidade. Mais tarde, na Academia Carlos Gomes, o professor Heribaldo falava com carinho de todos os músicos sergipanos, e sempre dizia: “Os meninos do The Tops são bons demais”.

Essas palavras ficaram na minha cabeça. Naquele tempo, a falta de registros fonográficos e midiáticos tornava quase impossível recuperar as performances dessas bandas — tudo ficava apenas na memória dos que tiveram o privilégio de ouvi-las ao vivo.

Anos depois, conheci alguns desses músicos: Marcelo Brito, Rubinho e o próprio Pithiu, que também é um grande artista plástico. Muito tempo depois, conheci o baterista Pascoal Maynard — mas, curiosamente, por intermédio do meu pai.

Foi ele quem me apresentou ao senhor e consagrado jornalista sergipano Pascoal D’Ávila Maynard, um nome que marcou a imprensa de Sergipe. Meu pai disse:

— Pascoal, esse é meu filho, ele quer ser músico.

E o jornalista respondeu, sorrindo:

— Tenho também um doido em casa… é baterista!

Perguntei:

— É o Pascoal Maynard do The Tops?

Ele riu e confirmou.

Assim soube que o “Pascoalzinho” trabalhava em banco, lidando com seguros, mas era um apaixonado pela música e pelo jornalismo. O pai comentou:

— Quem sabe um dia ele realiza essas vontades.

E realizou.

Pascoal D’Ávila Maynard Júnior foi corretor, bancário, jornalista e um dos grandes boêmios de Aracaju. Amigo e compadre do grande Ismar Barreto, ganhou dele uma homenagem na canção Viver Aracaju, interpretada pela também comadre Amorosa: “A noite vou lá no Fans, tomar chope com Pascoal, papo vai, papo vem, fofocar não faz mal.”

Pascoal Maynard é, antes de tudo, um ativista cultural. Com o tempo, tornou-se um verdadeiro agente da cultura sergipana: jornalista, produtor, cineasta, roteirista, assessor, gestor público e, acima de tudo, um incentivador incansável das artes.

Em 2005, criou o programa Expressão, que há 20 anos dá voz e visibilidade à arte, à cultura e aos artistas de Sergipe — um marco na comunicação cultural do estado.

Foi diretor dos teatros Atheneu e Tobias Barreto, chefe de gabinete e assessor da Secretaria de Estado da Cultura, assessor da Funcaju, diretor de Cultura da Funcap, e hoje preside o Conselho Estadual de Cultura. Também integra a Academia Aracajuana de Letras e o Movimento Antônio Garcia (MAC), da Academia de Letras de Sergipe.

Pascoal também participou da criação do lendário Grupo Memória, onde voltou a tocar bateria, unindo o amor pela música à paixão pela história e pelas tradições sergipanas. E até hoje ele se apresenta, com a mesma alegria e pegada firme, levando ritmo e sorriso por onde passa.

Dizem — e com muita graça — que Pascoal foi o grande incentivador musical de Edvaldo Nogueira, ex-prefeito de Aracaju, principalmente quando o assunto são os instrumentos de percussão. Falam por aí que foi ele quem botou o ex-prefeito pra sentir o balanço da zabumba, e de vez em quando ainda dá uns “toques de ritmo” nas rodas de conversa.

Pascoalzinho, como gosto de chamá-lo, acaba de completar 75 anos. Sua história se confunde com a própria sergipanidade. Concordamos e discordamos em muitas coisas — e é assim que deve ser entre pessoas que pensam e vivem cultura. Mas o carinho, a admiração e o respeito pelo que ele representa superam qualquer divergência.

Pascoal é, literalmente, “Expressão”: o cuidado com a palavra, o abrigo do bom trato, o elogio generoso e o ouvido atento a todas as tendências artísticas.

Um amigo, um mestre, um companheiro de jornada.

Um símbolo vivo da cultura sergipana.

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Porque contar essas histórias é também manter viva a nossa memória e nossa identidade cultural

Texto e imagem reproduzidos do site: neufontes com br/expressao-cultura

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