Publicado originalmente pelo site da Infonet, em 01/09/2016.
Aldeia Xokó (SE): turismo comunitário na Ilha São Pedro.
Rio São Francisco, histórias e comunidade.
Por Sílvio Oliveira/Blog Infonet.
Às margens do rio São Francisco, na denominada Ilha de São
Pedro, a comunidade indígena Xokó é um bom destino para quem quer vivenciar
contato com a natureza, ruínas históricas, rituais indígenas e muitas histórias
para contar.
A localidade fica em Porto da Folha, distante cerca de 220km
de Aracaju, no Alto Sertão sergipano. Para chegar até lá não é fácil, mas
quando chega, a beleza da região em consonância com o bioma de caatinga, além
de ruínas de construções jesuíticas conferem uma agradável surpresa a ser
desbravada.
Das águas esverdeadas do Velho Chico e da terra árida do
sertão sergipano, a comunidade retira o sustento. A canoa continua sendo meio
de pesca e de transporte para as regiões vizinhas. Na parte central da aldeia,
a conversa olho no olho embaixo da árvore mais próxima é o meio de comunicação
mais eficaz, mesmo que através do sistema wi-fi da escola permita completar o
diálogo através das redes sociais e aplicativos.
A comunidade indígena Xokó é um pedaço do sertão sergipano
resguardado turisticamente, mas de uma beleza sem igual. A localidade completa
37 anos como reserva oficial indígena do povo Xokó neste 9 de setembro de 2016
e, aos poucos, passa a desvendar seus segredos históricos para o turismo
sustentável de base comunitária, ou seja, para os turistas que buscam vivenciar
a experiência da rotina da comunidade a ser visitada.
Com uma população estimada em cerca de 400 habitantes, a
Ilha de São Pedro dista quase que 220km de Aracaju e ostenta o patamar de ser a
única comunidade indígena vivendo em aldeia de Sergipe.
Modernidade - O bucolismo das aldeias primitivas é lembrado
ao presenciar os índios mais velhos sentados à porta das casas numa prosa mansa
com os vizinhos, enquanto que outros tercem redes de pesca, sentados embaixo de
uma árvore na área central da aldeia. A presença de uma torre de telefone
quebra o quadro indígena e demonstra que a civilização também é bem-vinda, já
que por muitos anos a comunidade viveu no esquecimento dos projetos sociais.
O povo é acolhedor. Basta pedir a licença para uma prosa que
a conversa entra tarde adentro. Os olhos meio puxados, a cor avermelhada e o
andar desconcertado são marcas que se misturam com os traços físicos do povo
branco da região. A reticência do pensamento por receio de falar algo a mais do
que devido é vestígio de povos outrora massacrados.
Entre casas de um lado e de outro da aldeia, resquícios da
história podem ser vistos através das ruínas de um convento junto à igreja e um
cemitério indígena com um cruzeiro à sua frente. Há indícios de que D. Pedro II
passou por lá em visita à região do São Francisco. E não faltam lendas contadas
pelos mais velhos sobre esta passagem.
À beira-rio, diversas canoas colorem as águas esverdeadas.
Pequenos índios fazem dos bancos de areia campos de futebol. Se seguir por sua
margem, conferirá que em alguns trechos do curso, o rio é acompanhado por
paredões de pedras, além de vegetação pluvial, cactáceos, bromélias e outras
plantas do bioma de cantiga, desenhando a região uma paisagem bem típica de
sertão.
O clima quente não é tão legal assim, mas as águas em
temperaturas amenas causam sensação de bem-estar. A Ilha de São Pedro
apresenta-se como um promissor destino de turismo sustentável de base
comunitária a ser desbravado. Basta seguir o roteiro e ver o que lhe aguarda.
Como Chegar
Para se chegar à Ilha de São Pedro, passa-se por um
verdadeiro rally ecológico. A melhor opção partindo de Aracaju é pela BR101 e
acessar a BR 235 sentido Itabaiana/ Ribeirópolis/ Nossa Senhora Aparecida/
Nossa Senhora da Glória. Segue-se pela Rota do Sertão e deve-se ter atenção
para a entrada da estrada de piçarra do lado direito para o povoado Niterói e
Mocambo. Percorre-se pouco mais de 40km e no povoado Lagoa da Volta entra à
direita por uma estrada de piçarra e mais 13km.
Dica de viagem
Vale à pena fazer um contato com antecedência com o
articulador e cacique Lucimário Apolônio através do telefone (79) 99650 7071. A
aldeia não costuma receber muitos visitantes, porém, não há dificuldade de
acesso. O cacique é o jovem índio Lucimário Apolônio, sempre solicito em dar as
boas-vindas.
Os índios aprendem a ler e escrever e tem noções da história
indígena da comunidade na escola Dom José Brandão de Castro. Visite-a.
Um dia de passeio é o suficiente, pois no entorno da Ilha
não há hospedagem, a não ser que prefira se hospedar nos municípios vizinhos de
Porto da Folha ou Monte Alegre, mas se for no sistema bate-volta para a
capital, a viagem lhe reserva horas de estrada.
Vale a pena também conhecer o povoado Mocambo, comunidade
quilombola de mais de 800 habitantes. As comemorações de independência de suas
terras acontecem em 27 de maio, data que também há várias festividades na
localidade.
No povoado Niterói há um restaurante simples, mas agradável
que serve comida caseira. Os pratos à base de pescados do São Francisco são os
melhores.
O sol é escaldante na região. Não deixe de usar roupas
leves, protetor solar, e levar bastante água.
O povo Xokó comemorara 37 anos de retomada das terras
Caiçaras em 9 de setembro de 2016 com a dança do Toré, o consumo da Jurema
(bebida sagrada), o ritual do Oricuri e muita pintura no corpo à base de
jenipapo, água e carvão.
Na igreja restaurada realiza-se uma missa em homenagem à São
Pedro, com cânticos indígenas e fala do pajé, além de entrega de certificados
aos ex-caciques, professores da escola indígena, políticos e companheiros dos
Xokó...
Texto e imagens reproduzidas do site:
infonet.com.br/blogs/silviooliveira
Fotos/Legendas:
F/1 - Rio São Francisco é local de lazer e de sustento.
F/2 - Igreja de São Pedro - Patrimônio do Estado.
F/3 - Carro de bois está presente na comunidade.
F/4 - Vida passa lentamente na prosa da tarde na aldeia.
Créditos: Sílvio Oliveira.
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