Publicado originalmente no Portal Infonet, em 24/10/2016
Parabéns ao Atheneu Sergipense – 146 anos de História
Aniversário do Atheneu Sergipense
Por Eva Maria Siqueira Alves *
O evento cultural mais importante da década de 1870 na
Província de Sergipe foi a criação do Atheneu Sergipense. Manuel Luiz Azevedo
D’Araújo (24/11/1838 – 21/10/1883) desempenhava o cargo de Inspetor Geral da
Instrução e elaborou o Regulamento Orgânico da Instrução Pública da Província
de Sergipe, assinado em 24 de Outubro de 1870.
Desde então o Atheneu Sergipense não se afastou dos seus
objetivos: ministrar uma instrução secundária, de caráter literário e
científico, necessária e suficiente para proporcionar subsídios aos seus alunos
matricular-se nos cursos superiores como também no desempenho dos deveres de
cidadão.
A documentação produzida e acumulada pela instituição
educacional de ininterrupto funcionamento carecia de cuidados. O Centro de
Educação e Memória do Atheneu Sergipense - CEMAS, instituído no ano de 2005,
guarda documentos que possibilitam aos historiadores investigar diferentes
aspectos da História da Educação, além do incontestável objetivo de sua
criação, a salvaguarda das fontes históricas daquela “Casa de Educação
Literária”, parte significativa da história da educação de Sergipe.
Narremos parte dessa história.
O Atheneu Sergipense iniciou seus trabalhos em uma casa da
Câmara Municipal, um local inadequado para as aulas. Com algumas contribuições
novo prédio foi erguido, com “elegância e solidez”, na Praça da Conceição, hoje
Praça Olímpio Campos, sendo inaugurado em 3 de dezembro de 1872.
Há indícios de que o Atheneu Sergipense esteve localizado
por volta de 1899 na Rua de Boquim. Mudou-se para a Praça Camerino em 1921,
para a Avenida Ivo do Prado em 13 de agosto de 1926 e em 1950 para a Praça
Graccho Cardoso.
Qualquer que tenha sido a localização geográfica em que o
prédio do Atheneu Sergipense funcionou, esteve sempre na região central da
cidade de Aracaju, à vista da sociedade.
Diferentes denominações recebeu: Atheneu Sergipense (1870),
Lyceu Secundário de Sergipe (1881), Escola Normal de Dois Graus (1882), Atheneu
Sergipense (1890), Atheneu Pedro II (1925), Atheneu Sergipense (1938), Colégio
de Sergipe (1942), Colégio Estadual de Sergipe (1943), Colégio Estadual Atheneu
Sergipense (1970), Centro de Excelência Atheneu Sergipense (2003) e
posteriormente Colégio Estadual Atheneu Sergipense.
Ser diretor do Atheneu Sergipense nos anos iniciais de seu
funcionamento, como também agora, constituiu e constitui uma condição de
prestígio entre os intelectuais e professores. Esta promoção e nomeação era
feita pelo Presidente da Província, tendo como requisito a comprovação do grau
de instrução e moralidade, lembrando que tal incumbência deveria ser exercida
voluntariamente. Administraram com afinco a instituição e não atuaram apenas
nela, mas seguiram vida acadêmica, política, profissional, após a experiência
de diretor.
Em meados da década de 1920 e durante os anos de 1930, o
Brasil atravessou por um movimento denominado de Escola Nova, com base em
frutíferos debates de intelectuais de momentos anteriores. A ênfase era por
aulas experimentais, aulas vivas para a formação dos alunos, práticas
vivenciadas nos laboratórios escolares, principalmente nas disciplinas Física,
Química e Ciências Naturais.
Em Sergipe, a partir do Regulamento de 1925, as cadeiras de
Química, Física e História Natural, ganham ampliação de carga horária,
introduzindo o ensino teórico como reforço nas experiências realizadas nos
laboratórios e gabinetes. O Atheneu Sergipense possuía gabinetes de Física,
Química e História Natural.
Visitar o Atheneu Sergipense era roteiro obrigatório de
autoridades políticas, governadores, membros do clero, ex-alunos,
ex-professores, desembargadores, jornalistas, militares, inspetores escolares e
diretores de órgãos públicos. Registravam tais personagens em documento
denominado “Livro de Visitas” suas impressões sobre a instituição, o
funcionamento da escola, as aulas nos gabinetes e laboratórios de Física,
Química e História Natural, avaliando-os como modernos, equipados, que atendiam
às necessidades e finalidades experimentais.
Outro espaço instituído no Atheneu Sergipense nesses anos de
funcionamento foi a Biblioteca. Seu primeiro Diretor, Manuel Luiz,
mostrava-sepreocupado com a situação dos livros empilhados nas estantes velhas
e empoeiradas de uma sala da instituição e sugeriu a criação de uma biblioteca.
Em 1873, o mesmo diretor apresentou detalhes da composição da biblioteca,
afirmando que existiam 663 volumes.
A Biblioteca é tema de atenção dos Diretores, que buscam
ampliar o espaço, adquirir obras didáticas para alunos e professores,
fazendo-os ganhar o hábito da leitura e do estudo. As consultas são registradas
com assinaturas nos Livros de Frequência da Biblioteca, prática que permanece
na instituição, cumprindo a função de salvaguardar, contabilizar o acervo
existente e historiar os leitores.
Digna de admiração e respeito, a Banda Marcial do Colégio
Atheneu Sergipense possui destaque nos desfiles patrióticos devido ao seu
desempenho, bem treinados percussionistas que ditam o ritmo perfeito das
marchas e dos passos coreografados harmonicamente, fazendo jus aos troféus e
medalhas recebidos.
É convidada constantemente a abrilhantar desfiles em outras
cidades, levando o nome do Atheneu Sergipense, divulgando sua trajetória que em
forma de marcha ritmada embeleza as ruas e avenidas das cidades durante as
solenidades públicas.
Relativo a organização estudantil em agremiações, há até os
dias atuais o Grêmio Literário Clodomir Silva, criado em 10 de janeiro 1934, com
principal finalidade o desenvolvimento de atividades literárias. As práticas
giravam em torno da leitura de obras literárias, recitar e produzir poemas,
novelas e contos. Publicaram os seguintes jornais: A Voz do Atheneu (1934), A
Voz do Estudante (1942), O Atheneu (1953), O Eco (1959). Direção e professores
participaram ativamente das sessões, contribuindo com palestras, discursos,
ideias e sugestões de leituras.
Por fim, presenteamos o Atheneu Sergipense com o desempenho
do CEMAS, almejando receber por doações de ex-alunos, ex-professores,
ex-funcionários, materiais que revelem práticas daquela “Casa de Educação
Literária”.
Importante cativar outros membros, parceiros, incentivar
outras instituições públicas e privadas, a valorizarem sua história preservando
os vestígios de seu passado e consequentemente salvaguardando o patrimônio
cultural, social e educacional, assegurando também a memória da educação
brasileira e em especial a de Sergipe.
* Eva Maria Siqueira Alves (E-mail: evasa@uol.com.br)
Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe
Diretora do Centro de Educação e Memória do Atheneu
Sergipense
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/getempo
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