Médicos sergipanos no final da década de 30. Augusto Leite
é o quarto, sentado, a partir da esquerda.
Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 26 de junho de 2020
SOMESE 83
Por Lúcio Prado (Blog Infonet)
A mais antiga instituição representativa dos médicos de
Sergipe, em funcionamento de forma ininterrupta, está comemorando, neste sábado, 27 de junho de 2020, oitenta e
três anos de existência. É a Sociedade Médica de Sergipe – SOMESE – que tive a
honra de presidir por dois mandatos, de 1993 a 1997.
Na verdade, ela não é a primeira entidade representativa da
classe médica de Sergipe. Em 1911 surge a primeira tentativa com a criação da
Sociedade de Medicina de Sergipe, sob o comando dos médicos Daniel Campos e
Helvécio de Andrade. Não dura muito, apenas um ano, mas nesse curtíssimo tempo consegue publicar a primeira revista médica do estado.
Dr. Helvécio Andrade fez uma primeira tentativa
Dr. Daniel Campos
Nova tentativa de organização associativa vai acontecer oito
anos depois, com a criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, em
julho de 1919, agora sob o comando do médico clínico Francisco Quintiliano da
Fonseca, com a participação ainda de jovens médicos que começavam a se destacar
no cenário da nossa medicina, entre eles
os cirurgiões Eronides Carvalho, Juliano Simões e, especialmente, Augusto
Leite.
Dr. Augusto Leite Fundador da Sociedade Médica de Sergipe
Na década de 20, até a data da inauguração do Hospital de
Cirurgia, ocorrida em 1926, a entidade exerce papel preponderante na elaboração
das políticas de saúde do governo Graccho Cardoso. Nesse período de
efervescência científica, Graccho traz a Aracaju o sanitarista Paulo de
Figueiredo Parreiras Horta, auxiliar de Osvaldo Cruz, que implementa
importantes ações de saneamento e controle de endemias e que culmina com a
criação do instituto que mais tarde, em justa homenagem, receberia o seu nome.
Com o funcionamento do novo hospital, Graccho oferece a
Sergipe finalmente um verdadeiro “ambiente cirúrgico”, nas palavras agradecidas
de Augusto Leite. Curiosamente, a partir daí, a entidade vai entrando em
declínio e ninguém mais ouve falar dela. Somente em 27 de junho de 1937, graças
ao interesse do Dr. Augusto Leite na liderança do processo, surge a atual
Sociedade Médica de Sergipe – a atual SOMESE – com sua diretoria sendo
empossada na sede da Biblioteca Pública.
No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não há
registros de ações importantes da entidade médica, somente em 1945 ocorre o que
pode ter sido o primeiro movimento organizado da categoria. Uma reunião
plenária, com a participação de vários médicos, sob o comando de Eraldo Lemos e
Antônio Garcia, define as principais ações de luta da categoria: a criação do
conselho de classe, (que na oportunidade a maioria dos presentes se manifestou
contrária e não o aprovou), a implantação de um piso salarial e a fixação de
médicos nas cidades do interior do Estado.
Augusto Leite mantém-se por doze anos no comando da Somese,
sendo substituído em 1949 pelo pediatra José Machado de Souza. Seu sucessor, o
alienista João Batista Perez Garcia Moreno, assume a presidência em 1952. Em
1953, ele lidera um movimento para a criação de uma escola médica em Sergipe e
chega a criar uma associação mantenedora, mas as condições políticas da época
não favoreceram a efetivação do sonho da faculdade.
A partir da segunda metade da década de 50, a SOMESE
experimenta uma de suas fases mais áureas, de grande prestígio político. Seu
presidente, o Dr. José Machado de Souza, exerce o cargo de vice-governador do
Estado, no governo do udenista Leandro Maciel. Machado, com o apoio decisivo de
Carlos Firpo, médico e diretor do Hospital
Dr. Eraldo Lemos
Santa Isabel e ex-prefeito de Aracaju, passa o comando da
SOMESE para o cirurgião Canuto Garcia Moreno. A partir dessa administração,
forma-se um bloco forte e consistente que vai comandar a medicina de Sergipe
por uma década, com realizações de grande importância para o seu
desenvolvimento, destacando-se a fundação da Faculdade de Medicina em 1961,
instalada por Antônio Garcia Filho, após superar indiferenças e obstáculos de
todas as naturezas. À época, ele também presidia a Sociedade Médica de Sergipe.
Dr. Antonio Garcia Filho
Ainda na década de 50, nacionalmente, a classe médica se
organiza com a fundação da Associação Médica Brasileira – AMB, em São Paulo e
um sergipano participa ativamente desse momento histórico, fazendo parte
inclusive de sua primeira diretoria: Eraldo Machado de Lemos. Justiça se faça,
desde a década de 40, seu nome sempre é citado em todos os movimentos médicos
do Estado.
A SOMESE ainda não possuía sede própria, suas reuniões
aconteciam na Biblioteca Pública e no Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe e somente em 1968, na administração de Hugo Gurgel, com a ajuda do
Governador Lourival Baptista, isso vem a acontecer. À frente da SOMESE até 1969, Hugo conta com o
apoio de valorosos companheiros, como Alexandre Menezes, Gileno Lima, José
Leite Primo, Dalmo Melo.
A SOMESE participa ainda dos primeiros passos para a
fundação do Sindicato dos Médicos, criado na década de 60 e apoia a instalação
da Unimed Aracaju, fundada em 1984. Nos primeiros anos, essas duas instituições
funcionaram gratuitamente na sede da Somese. A tradicional entidade ainda tem
participação decisiva e fundamental para a fundação da Academia Sergipana de
Medicina, ocorrida no final do século XX – 9 de dezembro de 1994 -, graças à
determinação e ao esforço do médico Gileno da Silveira Lima. Ainda hoje a
Academia funciona na sede da SOMESE, com seu total e irrestrito apoio.
Inauguração da primeira sede da Somese em 1968. Três ícones
da Medicina de Sergipe:
Machado de Souza, Augusto Leite e Lauro Porto.
As diretorias da SOMESE que se sucedem de Hugo Gurgel até
então, cada uma com suas características e realizações, menos ou mais empreendedoras,
mantém acesa a chama do associativismo médico, com inestimáveis serviços
prestados à comunidade. No momento em que se comemora essa efeméride, não custa
cobrar dos colegas médicos o compromisso em prestigiá-la, participando com entusiasmo
da vida de sua entidade maior.
Traçando um paralelo histórico, não foi por acaso que as
duas maiores conquistas da medicina sergipana do século passado, a meu ver, o
Hospital de Cirurgia e a Faculdade de Medicina, tiveram como fundadores
respectivamente os presidentes das entidades médicas de então, em pleno
exercício de suas funções: os doutores Augusto Leite, comandando a Sociedade de
Medicina e Cirurgia e Antônio Garcia Filho, liderando a Sociedade Médica de
Sergipe. Difícil imaginar o grande desenvolvimento da Medicina sergipana nos
nossos tempos sem a presença marcante, atuante, agregadora e decisiva da
SOMESE.
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br
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