domingo, 25 de abril de 2021

"As Muitas Faces de Luiz Teixeira", por Jorge Carvalho do Nascimento

Publicado originalmente no blog EDUCAÇÃO HISTÓRIA E POLÍTICA, em 24 de abri de 2021

As Muitas Faces de Luiz Teixeira
Por Jorge Carvalho do Nascimento*                                          

O terceiro dos sete filhos de Oviedo Teixeira e Alda Mesquita Teixeira, o engenheiro civil Luiz Antônio Mesquita Teixeira, morreu neste sábado, 24 de abril de 2021, 79 anos após o seu nascimento no dia 20 de junho de 1941. Seu irmão mais velho, José Carlos Teixeira foi importante liderança política em Sergipe, tendo exercido cinco mandatos de deputado federal, um de vice-governador, além de ter sido prefeito de Aracaju.

Luiz Antônio Teixeira, o seu irmão Tarcísio e o seu pai, Oviedo, sempre ofereceram a José Carlos o necessário suporte econômico e de mobilização de lideranças locais e infraestrutura que possibilitaram a este o exercício da condição de chefe político da família e da oposição à ditadura militar entre os sergipanos.

O patriarca Oviedo chegou a exercer um mandato de deputado estadual. Luiz Antônio e Tarcísio sempre atuaram nos bastidores. À família Teixeira, o Estado de Sergipe e os brasileiros devem o mérito da organização do diretório estadual do Movimento Democrático Brasileiro – o MDB, sob a liderança de José Carlos, em 1966.

Foi trabalhando pelo MDB que José Carlos, Luiz Antônio, Tarcísio e Oviedo ofertaram a Sergipe o único espaço de atuação política daqueles que se insurgiram contra a ditadura militar que tomou o poder no Brasil em 1964. Num período em que a ditadura inviabilizava por todos os meios a atividade dos oposicionistas e quase a totalidade dos políticos de Sergipe era filiada a Aliança Renovadora Nacional – Arena (o partido que apoiava a ditadura), a família Teixeira manteve às suas expensas as atividades do MDB e estimulou a projeção de importantes lideranças de esquerda como Jonas Amaral, Jackson Barreto e Rosalvo Alexandre.

Luiz Antônio Teixeira cursou a escola primária no Educandário Menino Jesus, em Aracaju, que funcionava na rua Maruim, 600. Foi aluno das quatro irmãs que eram proprietárias da escola: Myriam, Iracema, Corália e Helena. No curso ginasial foi para o Colégio Tobias Barreto. No curso científico, Luiz Antônio Teixeira frequentou o primeiro ano do colégio Atheneu Sergipense. No segundo ano, transferido para a cidade de Salvador, no Estado da Bahia, fez matrícula no Colégio Marista. O terceiro ano foi cursado no Colégio Central.

Prestou concurso vestibular para Engenharia Civil em Campina Grande, no Estado da Paraíba, juntamente com o cunhado Luciano Franco Barreto que mais tarde casou com sua irmã Maria Celi. Frequentou aquele curso durante os anos de 1959 e 1960, mas em 1961 obteve transferência para a Universidade Federal do Paraná, onde colou grau em 1964.

Logo após a sua colação de grau foi convidado por Celso de Carvalho (o primeiro governador da ditadura em Sergipe) a comparecer a uma reunião privada, ao lado do seu pai. Celso ofereceu a Luiz um emprego de engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem – DER (à época um dos salários mais altos do serviço público sergipano), além de um cargo de diretor na mesma repartição. Isto faria Luiz Teixeira começar sua carreira com uma remuneração muito elevada.

O pai, Oviedo, agradeceu educadamente ao governador, disse da sua felicidade por ter o seu filho lembrado, mas afirmou que havia investido na formação do jovem para que este fizesse carreira como empreendedor. Não aceitou, ainda mais sendo Luiz Antônio irmão de José Carlos Teixeira, deputado federal sergipano que fazia oposição à ditadura tanto no plano federal quanto no cenário da política estadual.

O engenheiro Luiz Antônio Teixeira trabalhou durante três meses com o pai Oviedo na empresa Cimavel, revendedora de carros da marca Ford. Oviedo Teixeira ofereceu ao filho os recursos que ele necessitava e este investiu na aquisição da Sociedade Nordestina de Construções - Norcon, até então pertencente ao empresário Gerci Pinheiro Machado.

Gerci pretendia se desfazer do negócio para regressar a Recife, sua terra natal. A pequena Nordestina mantinha como sua única atividade um contrato de prestação de serviços com o Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS. Luiz assumiu o controle da empreiteira em sociedade com o irmão Tarcísio, economista, que somente foi trabalhar no negócio em 1968, cuidando da gestão administrativa da empresa. O também engenheiro e cunhado Luciano Franco Barreto participava da sociedade, mas, poucos anos depois se afastou e fundou a Construtora Celi.

Na década de 80 do século XX, Luiz Antônio e Tarcísio haviam transformado a Norcon na maior empresa de construção civil da região Nordeste do Brasil. Uma empreiteira que adotou como foco principal a construção de unidades residenciais em edifícios de apartamentos e também em condomínios horizontais.

Na história da cidade de Aracaju, a Norcon foi responsável pela maior revolução no modo de morar, principalmente das camadas medias e das famílias da elite local. Todavia, também foram inúmeros os empreendimentos habitacionais populares que a Norcon plantou nos bairros pobres da capital do Estado de Sergipe.

A Norcon verticalizou a cidade pela visão de desenvolvimento urbano de Luiz Teixeira. Ele comprou terrenos na década de 70 do século XX em áreas inabitadas e investiu fortemente na construção de condomínios verticais em direção a zona sul, levando as famílias de renda média e os ricos aracajuanos a viver na Praia 13 de Julho, ao longo da avenida Francisco Porto, nas avenidas Hermes Fontes e Adélia Franco.

Na primeira década do século XXI, criou um bairro inteiro – o Jardins. Fez vultosos investimentos que levaram milhares de famílias de aracajuanos a buscarem as terras da margem direita do rio Poxim como opção de moradia, expandindo a cidade em direção ao bairro Atalaia e a chamada zona de expansão até a margem esquerda do rio Vaza-Barris e o bairro Mosqueiro.

Sergipe perdeu hoje um importante mecenas que ajudou a e estimulou inúmeros artistas das várias linguagens, nas três últimas décadas do século XX e na primeira década do século XXI. Isto sem falar do boêmio e festeiro que sempre foi. Frequentou bares e conviveu com músicos de todos os matizes.

Figura controversa. Rico, empresário da construção civil, multiplicou sua fortuna, gerou emprego e renda, fez mecenato, estimulou as artes e foi um dos maiores financiadores dos grupos que lutaram e resistiram contra a ditadura militar em Sergipe. Fará muita falta.

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Texto e imagem reproduzidos do blog: educacaohistoriaepolitica.blogspot.com

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