Legenda da foto: Imagem reproduzida do site da SEGRASE e postada
pelo blog para ilustrar o presente artigo.
Texto compartilhado de postagem no Perfil do Facebook de Paulo
Roberto Dantas Brandão, de 12 de julho de 2021.
A Casa Lilás.
Acabo de ler “A Casa Lilás” do jornalista Luis Eduardo
Costa. O livro relata o chamado “Crime
da Rua de Campos”, onde foi vítima o médico Dr. Carlos Firpo, em 1958. Luis Eduardo tem um dos melhores textos da
imprensa sergipana. Sua descrição sobre
a sociedade aracajuana do final da década de 1950 é impagável. Muito bom.
Luis pesquisou o processo judicial, e chegou a conclusão que
o crime teria sido político. Bom, eu
discordo das conclusões de Luís. Mas não
poderia ser diferente posto que, mais de 60 anos após o ocorrido ainda se
discute na sociedade sergipana se o crime foi passional, perpetrado pela
própria esposa, Milena, e seu amante o Coronel Afonsinho; ou um crime político
como chega a conclusão Luis Eduardo. O
fato é que o assassinato do Dr. Carlos Firpo ainda provoca discussões,
esquentadas recentemente com o falecimento de Milena, em Salvador, e continua
dividindo nossa sociedade.
Luis Eduardo, porém, não entrega a motivação do crime
político, nem explicita o mandante.
Deixa a entender, sem isso afirmar, ora que seria Heribaldo Vieira, que
como Secretário de Justiça conduziu o inquérito, ora que o governador Leandro
Maciel teria pelo menos concordado com o crime.
Mas não desfaz categoricamente o mistério, como seria de se esperar.
Não acredito em crime político. Como o próprio Luis Eduardo relata, Dr.
Carlos Firpo não era político. Havia
ocupado interinamente e por poucos meses o cargo de Prefeito de Aracaju, mas nunca
havia disputado uma eleição. Apesar de
filiado à UDN Carlos Firpo não era, nem nunca foi um dirigente partidário. Não detinha qualquer poder dentro do
partido. Não participava das decisões,
não tinha força para barrar ou impor nomes.
Não era empecilho para quem quer que fosse candidato a qualquer
cargo. Quem decidia de fato era Leandro
Maciel.
Dr. Carlos Firpo era completamente dedicado ao Hospital
Santa Isabel, que atendia os pobres, e isso Luis também relata. E vivia à busca de verbas para aquela casa de
saúde, sempre carente. Dr. Carlos Firpo
estava aventando a possibilidade de ser candidato a Vice-Governador. Acredito que buscava com isso, e essa é uma
interpretação pessoal, uma posição para facilitar sua busca constante de
dinheiro para sustentar o Hospital. Mas
não era ele quem definia candidaturas.
Qualquer objeção, bastava um não da cúpula da UDN, ou pessoalmente de
Leandro Maciel, que podia chamá-lo e dizer que sua candidatura não dava, e
pronto. Dr. Carlos Firpo não teria força
política, e não acredito que teria vontade, para reverter uma negativa. Ou seja, Dr. Carlos não era um obstáculo nas
composições políticas da UDN ou de sua cúpula.
Apesar do crime político naquela época ser algo normal em Sergipe,
sempre estava ligada às desavenças, e não me parece que Dr. Carlos Firpo as
cultivasse. E para corroborar com essa
visão, é inverossímil pensar que alguém mata uma pessoa por um cargo de
vice-governador.
A tese do crime político carece de um motivo plausível. Carece de um beneficiário com a morte. Quem ganharia? O que ganharia? Heribaldo Vieira que nas entrelinhas aparece
como vilão no livro, não tinha rixas aparentes com a vítima, nem seria
beneficiado, como não foi.
Luis Eduardo relata as falhas, omissões, e desvios do
inquérito. Chama torturas de “Métodos
Empíricos”, conduzidos por Heribaldo Vieira. Sem querer justificar, mas com uma polícia
recheada de jagunços como Alemão e Zé Rozendo, era a polícia que se tinha,
então. Sem embargo que o inquérito hoje
seria eivado de nulidades e aberrações.
Mas nem isso autoriza a se concluir pelo crime político, e sim pelo
barbarismo da polícia na época.
Heribaldo tinha pretensões de ser governador, mas Leandro
Maciel que é quem decidia dentro da UDN optou por Luis Garcia, muito mais
maleável e suscetível a se submeter à sua liderança. Heribaldo reclamou, rebelou-se por algum
tempo, mas por fim compôs como candidato ao Senado. Não era um santo, ao contrário, mas era
inteligente demais para fazer besteiras.
Eu era um bebê quando o crime ocorreu, não havia completado
três anos. Mas lá em casa, como em todo
sociedade aracajuana, discutiu-se por muito tempo o crime da rua de
Campos. E a tese do crime passional
sempre foi tida como certa, ou a mais plausível.
Texto reproduzido do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão
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