terça-feira, 13 de julho de 2021

A Casa Lilás - Memórias de um crime

Legenda da foto: Imagem reproduzida do site da SEGRASE e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto compartilhado de postagem no Perfil do Facebook de Paulo Roberto Dantas Brandão, de 12 de julho de 2021.

A Casa Lilás.

Acabo de ler “A Casa Lilás” do jornalista Luis Eduardo Costa.  O livro relata o chamado “Crime da Rua de Campos”, onde foi vítima o médico Dr. Carlos Firpo, em 1958.  Luis Eduardo tem um dos melhores textos da imprensa sergipana.  Sua descrição sobre a sociedade aracajuana do final da década de 1950 é impagável.  Muito bom.

Luis pesquisou o processo judicial, e chegou a conclusão que o crime teria sido político.  Bom, eu discordo das conclusões de Luís.  Mas não poderia ser diferente posto que, mais de 60 anos após o ocorrido ainda se discute na sociedade sergipana se o crime foi passional, perpetrado pela própria esposa, Milena, e seu amante o Coronel Afonsinho; ou um crime político como chega a conclusão Luis Eduardo.  O fato é que o assassinato do Dr. Carlos Firpo ainda provoca discussões, esquentadas recentemente com o falecimento de Milena, em Salvador, e continua dividindo nossa sociedade.

Luis Eduardo, porém, não entrega a motivação do crime político, nem explicita o mandante.  Deixa a entender, sem isso afirmar, ora que seria Heribaldo Vieira, que como Secretário de Justiça conduziu o inquérito, ora que o governador Leandro Maciel teria pelo menos concordado com o crime.  Mas não desfaz categoricamente o mistério, como seria de se esperar.

Não acredito em crime político.  Como o próprio Luis Eduardo relata, Dr. Carlos Firpo não era político.  Havia ocupado interinamente e por poucos meses o cargo de Prefeito de Aracaju, mas nunca havia disputado uma eleição.  Apesar de filiado à UDN Carlos Firpo não era, nem nunca foi um dirigente partidário.  Não detinha qualquer poder dentro do partido.  Não participava das decisões, não tinha força para barrar ou impor nomes.  Não era empecilho para quem quer que fosse candidato a qualquer cargo.  Quem decidia de fato era Leandro Maciel.

Dr. Carlos Firpo era completamente dedicado ao Hospital Santa Isabel, que atendia os pobres, e isso Luis também relata.  E vivia à busca de verbas para aquela casa de saúde, sempre carente.  Dr. Carlos Firpo estava aventando a possibilidade de ser candidato a Vice-Governador.  Acredito que buscava com isso, e essa é uma interpretação pessoal, uma posição para facilitar sua busca constante de dinheiro para sustentar o Hospital.  Mas não era ele quem definia candidaturas.  Qualquer objeção, bastava um não da cúpula da UDN, ou pessoalmente de Leandro Maciel, que podia chamá-lo e dizer que sua candidatura não dava, e pronto.  Dr. Carlos Firpo não teria força política, e não acredito que teria vontade, para reverter uma negativa.  Ou seja, Dr. Carlos não era um obstáculo nas composições políticas da UDN ou de sua cúpula.  Apesar do crime político naquela época ser algo normal em Sergipe, sempre estava ligada às desavenças, e não me parece que Dr. Carlos Firpo as cultivasse.  E para corroborar com essa visão, é inverossímil pensar que alguém mata uma pessoa por um cargo de vice-governador.

A tese do crime político carece de um motivo plausível.  Carece de um beneficiário com a morte.  Quem ganharia?  O que ganharia?   Heribaldo Vieira que nas entrelinhas aparece como vilão no livro, não tinha rixas aparentes com a vítima, nem seria beneficiado, como não foi.

Luis Eduardo relata as falhas, omissões, e desvios do inquérito.  Chama torturas de “Métodos Empíricos”, conduzidos por Heribaldo Vieira.  Sem querer justificar, mas com uma polícia recheada de jagunços como Alemão e Zé Rozendo, era a polícia que se tinha, então.  Sem embargo que o inquérito hoje seria eivado de nulidades e aberrações.  Mas nem isso autoriza a se concluir pelo crime político, e sim pelo barbarismo da polícia na época.

Heribaldo tinha pretensões de ser governador, mas Leandro Maciel que é quem decidia dentro da UDN optou por Luis Garcia, muito mais maleável e suscetível a se submeter à sua liderança.  Heribaldo reclamou, rebelou-se por algum tempo, mas por fim compôs como candidato ao Senado.  Não era um santo, ao contrário, mas era inteligente demais para fazer besteiras.

Eu era um bebê quando o crime ocorreu, não havia completado três anos.  Mas lá em casa, como em todo sociedade aracajuana, discutiu-se por muito tempo o crime da rua de Campos.  E a tese do crime passional sempre foi tida como certa, ou a mais plausível. 

Texto reproduzido do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

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