Legenda da foto: Imagem reproduzida do Facebook/Luiz Adelmo Soares de Souza e
postada pelo blog
Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook de Clara
Angélica Porto, em 20 de julho de 2021
Por Clara Angélica Porto
Conheci-o ainda adolescente. Dançamos muitos carnavais,
caminhamos muitas noites de conversas e gargalhadas pela Ivo do Prado,
namorando o rio Sergipe. No Rio de Janeiro, dirigiu Leila Diniz no show por ele
criado Tem Banana na Banda, com participação especial de Dalva de Oliveira. Fez
questão que eu fosse. E fui! Estava de visita ao Brasil e ao Rio. Leila, com a
bebê Janaína no camarim para amamentar, abusava, vestida de vedete com muitas
plumas e paetês, de mostrar o corpo perfeito de dois meses de parida. Enchia o
show de cacos, reescrevia tudo. Maravilhosa, solta, escolhia o mais sisudo
cavalheiro da plateia para sentar no colo e mostrar o peito cheio de leite,
perguntando se ele estava com sede. O público se deliciava. Leila podia fazer
tudo, o que lhe desse na cabeça e todo mundo amava. Luís Adelmo estava no auge
do sucesso que teve no Rio. Na plateia, eu, toda orgulhosa dele, Denner, Chico
Buarque e Tarso de Castro. Nosso plano secreto era ele dar um jeito de eu
dançar com Chico, mas Chico estava bêbado e dançou com Denner. E como resistir
às pantufas de cetim bordado de Denner? Eu dancei com Tarso de Castro, no auge
do Pasquim, por obra e graça de Luís. Bem, é verdade que Tasso ficou bem
alegrinho em dançar com a moça de 22 anos. A pedido de Luís, Leila também
chegou pra mim e disse que eu estava branquinha daquele jeito porque tinha
chegado dos States. O show era lindo, todo solto, cada noite novas loucuras iam
enriquecendo o texto. Quando Dalva entrou pra cantar, já bem idosa, ao soltar
aquela voz imensa e tão bela, causou um verdadeiro delírio da plateia. Leila
dizia depois que Dalva cantava porque o show precisava de alguém que sabia
fazer alguma coisa, “porque eu não sei fazer nada, mas vocês gostam, não
gostam?” Não tinha como não amar Leila Diniz e sair do show apaixonado. A
intimidade das celebridades presentes com Luís Adelmo era a mesma que tinham
entre si. E o humor cortante dele mais forte do que nunca, bem nutrido pelo
sucesso do momento. Luís Adelmo viveu se reinventando. Aventurava-se, ousava,
subia e descia sem nunca deixar de dançar a vida. Parecia daquelas pessoas que
existem para sempre. E viveu assim, dessa maneira, até o fim. Fazia humor da
própria doença que o consumia: “meu médico disse que já tenho câncer no corpo
inteiro. Ainda bem que não tenho metástase”. Vou sentir a sua falta, Luís
Adelmo. Tenho muitas lembranças boas de você.
Texto reproduzido do Facebook/Clara Angélica Porto
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