segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

‘‘O cordel seguiu e segue vivo, forte e cumprindo o seu papel’’.


Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 23/01/2017.

‘‘O cordel seguiu e segue vivo, forte e cumprindo o seu papel’’.

Ao desafiar-se na manifestação cultural predominantemente masculina, ela faz a rima, coloca em livreto e declama em vídeos as mais diversas temáticas.

Por: JornaldaCidade.Net

A poeta cordelista Izabel Nascimento herdou do pai Pedro Amaro do Nascimento o gosto pela literatura popular desde criança, quando nem talvez tivesse discernimento da métrica, mas a criatividade era transbordante. Ao desafiar-se na manifestação cultural predominantemente masculina, ela faz a rima, coloca em livreto e declama em vídeos as mais diversas temáticas – feminismo presente, claro! -, alcançando gente de todos cantos, reunindo tantos outros em volta da Literatura de Cordel.

Homens, mulheres, jovens, adultos e crianças. É a tecnologia utilizada em favor de uma expressão cultural que está prestes a ser considerada patrimônio imaterial brasileiro. É sobre isso, as atividades na Casa do Cordel e muito mais que a cordelista Izabel Nascimento revela na entrevista que segue. Boa leitura!

wJORNAL DA CIDADE - Lugar de mulher é...
IZABEL NASCIMENTO - On-de e-la qui-ser. Ponto. (sic!)

w JC - Como foi se desafiar numa manifestação cultural predominantemente masculina?
IN - Algo tão difícil quanto necessário. Ainda hoje é! O tempo foi me mostrando a responsabilidade de atuar neste universo onde a mulher há bem pouco tempo não tinha acesso. As formas de machismo da sociedade em nosso tempo têm novas roupagens e algumas vezes vem travestidas de brincadeiras, comentários, olhares e críticas que não constroem. Procuro sempre estar atenta a isso e, principalmente, colocar os meus versos como instrumento de reflexão e combate a toda forma de opressão à mulher.

w JC - Aqui em Sergipe já possui um grande número de mulheres cordelistas?
IN - Não temos grande quantidade, mas temos grandes nomes de mulheres cordelistas em Sergipe. Gosto de estar próxima a elas. Para isso, formamos um grupo numa rede social só de mulheres cordelistas. Inserimos colegas de outros estados e compartilhamos nossos versos, experiências, lutas e angústias. Algumas pessoas ainda se surpreendem quando conhecem uma mulher cordelista, mas Sergipe tem dentre alguns nomes, os de Salete Nascimento, Nilza Cordel, Josineide Dantas (Gigi), Ivete, Ana Santana (minha mãe), além de Mariana Félix e Daiene Sacramento, que tem se desenvolvido muito bem na escrita do cordel.

w JC - E como tem aliado a literatura de cordel com as novas tecnologias?
IN - Muito bem! Eu nunca considerei as tecnologias como uma ameaça ao cordel, muito ao contrário. Através das redes sociais, estabelecemos contato com cordelistas no Brasil inteiro, divulgamos amplamente o nosso trabalho e fazemos o importantíssimo papel de incentivar a formação de novos poetas cordelistas. Na história da Literatura de Cordel, muitos fizeram previsões do seu fim diante do surgimento do jornal, do rádio, da televisão e agora com o advento da Internet. Felizmente, o cordel seguiu e segue vivo, forte e cumprindo o seu papel.

w JC - Realmente aproxima o público e conquista também leitores?
IN - Sim. Há três anos, a Casa do Cordel vem realizando um trabalho de divulgação de cordel na internet. Este trabalho coincide com as ações que realizamos em nosso Espaço Cultural. O que nos deixa muito felizes e cientes de que nosso trabalho está no rumo certo, é exatamente a resposta que temos do público que conseguimos conquistar. Sempre me encanta o relato das pessoas que afirmam ter “aprendido” a ler cordel e que passaram a se interessar pela nossa arte através do nosso trabalho nas redes sociais. A Casa do Cordel recebe muitas visitas presenciais desse nosso público online.

w JC - O Simpósio do XLII Encontro de Laranjeiras abordou o tema do cordel. Foi frutífera essa discussão e a participação do público?
IN - Gostei muito de ter participado do XLII Simpósio Cultural de Laranjeiras. A participação do público nos debates deu um excelente tom ao evento. Para mim, além da possibilidade de reencontrar amigos poetas, conhecer novos nomes da poesia, foi possível observar e discutir sobre a forma que as pessoas veem a participação da mulher no cordel. A partir do Simpósio, resolvi desenvolver o Projeto #CordelRelampago, que é uma série de vídeos para as redes sociais com o objetivo de expressar e promover reflexões de temas atuais, além de cumprir a função social que a literatura de cordel tem. O trabalho já conta com a edição da publicitária pernambucana Maria Helena.

w JC - Em que pé está o reconhecimento da literatura de cordel como patrimônio imaterial? E o que representa isso para vocês cordelistas e sociedade?
IN - Nós cordelistas estamos nos preparando para ser membros de uma cultura que será patrimônio do povo brasileiro. É possível observar uma movimentação no cenário cordelista, com feiras, simpósios, encontros em todo o país, dialogando sobre o registro e a salvaguarda do cordel. O Iphan ouviu poetas no Brasil inteiro e está elaborando o documento que levará o cordel ao reconhecimento de Patrimônio Imaterial. Este será, sem dúvida, um momento marcante não apenas para os poetas cordelistas, mas para a cultura brasileira, que terá num alto patamar uma literatura nordestina considerada a primeira literatura do Brasil.

w JC - Quanto às atividades na Casa do Cordel, quais são as novidades e projetos para 2017?
IN - Estamos muito motivados com as ações que planejamos para este ano. Iniciamos com a nossa participação no Simpósio de Laranjeiras. Mas há outras datas muito importantes. Em março, faremos uma homenagem às mulheres cordelistas. Junho será marcado pelos aniversários da Casa do Cordel e os 80 anos de idade do meu pai, Pedro Amaro. Estaremos presentes onde houver encontros de poetas e escritores em Sergipe, atenderemos convites para palestrar em escolas e universidades, e continuarei desenvolvendo o meu trabalho na Sala de Cultura Popular da Biblioteca Epifânio Dória. Participaremos da II Feira do Livro e da Leitura de Sergipe (Flise), faremos a V Cantoria de Natal da Casa do Cordel em dezembro e desejamos realizar o I Círculo Sergipano de Cordel, com a possibilidade de representantes de vários estados. Sabemos que cada ação será um grande desafio, mas o fato de não caminharmos sozinhos nos dá a certeza de estarmos prontos.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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