Foto reproduzida do site wikimedia e postada
pelo blog "SERGIPE, sua terra e sua gente".
Texto publicado originalmente no site SERIGY, em 01/09/2006
Senado IX – Gilvan Rocha, Um fenômeno eleitoral
Por Luiz Antônio Barreto
Ao ser fundado em Sergipe, em 1966, o Movimento Democrático
Brasileiro – MDB, reuniu apenas um político com mandato, o então deputado
federal José Carlos Teixeira, eleito em 1962 pelo PSD. Os três senadores e os
sete deputados federais preferiram ingressar na Aliança Renovadora Nacional –
ARENA. Intelectuais, professores, estudantes, profissionais liberais, em grande
número, aderiram ao MDB, mas poucos aceitaram candidaturas pelo novo partido,
que tinha no País a função de cumprir um arremedo democrático de buscar a
alternância do Poder, como oposição. As regras do jogo de cartas marcadas
permitiam a competição, mas presumia a derrota dos oposicionistas.
A eleição de 1966 foi um grande teste. Para o Senado
concorreram Leandro Maciel, velho líder udenista, fortalecido pelas forças
militares que tomaram o Poder em março de 1964, pela ARENA, e o empresário
Oviêdo Teixeira, pelo MDB. Cerca de nove mil votos separaram os dois
candidatos, com a vitória de Leandro Maciel. Em 1970 repetiu-se a candidatura
de Oviêdo Teixeira, enfrentando Augusto Franco, que era deputado federal, e
Lourival Baptista, que saía do Governo do Estado.
Oviêdo Teixeira perdeu por 13 mil votos, aproximadamente,
para Augusto Franco e por quase 22 mil votos para Lourival Baptista. O MDB
insistiu em apresentar candidato a senador em 1974, mas não contou com Oviêdo
Teixeira, que preferiu ser candidato a deputado estadual, elegendo-se. Nem
contou com seus quadros, que preferiam disputar mandato para a Câmara Federal,
como José Carlos Teixeira, que naquele ano reconquistou uma cadeira de deputado
federal.
A ARENA escalava sua principal liderança, Leandro Maciel,
que queria permanecer por mais 8 anos como senador. O MDB não tinha estrelas,
até que surgiu um candidato, o médico e professor João Gilvan Rocha, que na
juventude, formava ao lado do pai, José da Rocha, como um leandrista
apaixonado, em Própria, sua terra natal. Os dirigentes do MDB não acreditaram
na candidatura de Gilvan Rocha, mas aceitaram, por falta de opção, que ele
enfrentasse Leandro Maciel.
No dia do lançamento da candidatura de Gilvan Rocha, quando
ele apresentou um pequeno Manifesto, a sala do MDB contava com seis ou sete
pessoas, mas isto não intimidou o candidato. A campanha começa, ganha corpo,
toma as ruas de Aracaju e penetra, pouco a pouco, no interior. De um lado, a
ARENA acomodava os líderes dos velhos partidos, em torno de um candidato que
era, na verdade, um divisor de água, um chefe à antiga, do outro lado o MDB
utilizava o rádio e a televisão, instrumentos novos nas campanhas eleitorais,
para o enfrentamento.
O resultado eleitoral surpreendeu o Estado. Gilvan Rocha
venceu Leandro Maciel, em Aracaju, com cerca de 77% dos votos, botando uma
vantagem de aproximadamente 30 mil votos, contra 15 mil, mais ou menos,
favoráveis a Leandro Maciel. Gilvan Rocha foi eleito senador da República, com
mais de 103 mil votos, contra 86.611 votos dados a Leandro Maciel.
A vitória do MDB estaria incluída na avalanche de votos que
o Brasil deu à oposição, em 1974. As vitórias do MDB em 14 Estados levaram o
presidente Ernesto Geisel a criar a figura do senador indireto, ou “biônico”,
premiando amigos nos Estados e garantindo ao partido governista um terço das
cadeiras do Senado Federal.
No Senado Federal, Gilvan Rocha brilhou com seu talento,
fala fácil, capacidade de argumentação, preparo e atualização política. Liderou
o MDB, esteve por algum tempo no PP – Partido Popular fundado por Tancredo
Neves e outros políticos para apressar a abertura democrática, sendo líder do
partido no Senado, voltou ao MDB/PMDB, cumprindo um mandato irrepreensível como
representante do Estado de Sergipe, chegando a 2º Vice presidente da Casa,
integrando importantes Comissões, presidindo ou relatando Comissão de Inquérito
do MOBRAL, da Mulher, e representando o Senado em eventos internacionais.
Nascido em Própria, em 26 de agosto de 1932, estudou no
Colégio Ateneu, em Aracaju, na Faculdade de Medicina da Bahia,
especializando-se em Ginecologia, fazendo pós –graduação em Oncologia, no
Instituto de Ginecologia de Lisboa. Clínico e cirurgião do Hospital Santa
Isabel, em Aracaju, professor da Universidade Federal de Sergipe, publicou
diversos trabalhos sobre a função oposicionista no Brasil e abordando temas que
pautaram a sua atuação no Senado Federal.
Artista plástico, chargista de jornais locais, Gilvan Rocha
ingressou na Academia Sergipana de Letras, ocupando a Cadeira 35, fundada e
muitos anos ocupada pelo também médico e senador constituinte Augusto César
Leite.
Texto reproduzido do site: clientes.infonet.com.br/serigysite
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