Publicado originalmente no Perfil Facebook/Nestor Amazonas,
em 22 de março de 2021
Garçom, por favor, mais cerveja para a mesa 5...
Um raio se abateu sobre a nossa família neste final de
semana.
Com diferença de horas, a corona vírus matou pai e filho,
Edson e Fladson.
Perdemos o Tio Edinho e o nosso “Rambinho”. Esperei diminuir
o impacto da notícia para poder falar deles e o legado que deixaram para a
família e os amigos.
Edson Vieira de Melo era bastante conhecido em Aracaju.
Exibia com orgulho o registro no Creci de número 5, tinha um histórico de
compras e vendas de imóveis que narrava o crescimento da cidade nos últimos 50
anos. Dono de um humor invejável nunca teve ou fez inimigos, preferia desistir
de um bom negócio se isto custasse arranhão na amizade com algum corretor
colega. Edinho era um lorde.
Quando o conheci, eu ainda menino e ele já rapaz namorador,
era atleta do futebol de salão do Flamengo, clube de São Lourenço da Mata,
cidade que hoje faz parte do Grande Recife. Namorava uma irmã de minha mãe,
Flávia, com quem viria a se casar anos depois. A noite em que nos conhecemos
ficou marcada em mim, na mão dele e no rosto de um valente. Ao tentar acalmar
um começo de briga no meio de um baile de carnaval, recebeu um murro do
provocador da confusão: esqueceu que estava com um copo na mão e revidou – copo
quebrado, corte na mão e uma fonte de sangue do rosto do agressor. Fuga rápida
para a Kombi do meu pai que estava estacionada nos fundos do clube. Ficou a
lenda, Lagartixa (seu apelido no clube) também briga.
Tixa, como ficou abreviado na nossa família, se casou com
Flávia, entrou para o rol dos homens sérios e nunca mais brigou. Bandeira
branca era seu lema de paz. Fui reencontra-lo anos depois, já em Aracaju, na
Cidade dos Funcionários. Dono de uma energia fantástica, sua vida era tocada
com a trilha sonora dos grandes sucessos musicais do passado, usava as letras
como mote para assuntos e comentários. Alegria pura. Uma festa permanente como
naquele baile de carnaval onde o conheci, mas sem o final sangrento.
Teve 3 filhos – Fladson, Edson Jr e Lincolin.
Fladson era a cópia do pai, sempre alegre, uma legião de
amigos. Chegou a publicar um jornal para os de sua geração, foi um sucesso. Era
bom de festas, não à toa montou uma empresa de infraestrutura para eventos – a
Bond Festas. O nome já refletia a maior qualidade dele, animador de alegria e
acompanhou o pai nesta partida.
Edson Jr, o famoso Papagaio é o atleta profissional da
família, se dedicou ao surf e fez história. Também está contagiado mas com
sintomas leves. Que assim seja e se recupera logo para a nossa tranquilidade.
Lincolin herdou o empreendedorismo do pai e montou a
DiskCarro, empresa de aluguel de carros- , bem-sucedido e até lançou um
movimento de valorização das empresas sergipana.
Para nossa família, Edson, Edinho, Lagartixa, Tixa...era e
sempre será Negão, que era a forma que ele usava para se referir carinhosamente
de quem gostava. Torcedor fanático do Santa Cruz do Recife, em dia de jogo,
sentava-se na varanda, pegava o rádio, cervejas e ficava em estado de graça,
rindo até das derrotas.
No imaginário do Negão, nossa família fazia parte de uma
grande festa, onde a mesa 5 era dele. Era o epicentro da alegria. Todos
convergiam para lá e o grita de guerra era...Garçom, mais cerveja para a mesa
5...A mesa 5 era o centro do universo onde tudo era mais bonito e festivo.
Negão, que a sua Mesa 5 nunca feche a conta aí, onde você
está agora. Espero voltar ao seu convívio e desfrutar de sua alegria, creio que
vou demorar um pouco mais, porém tenha a certeza de que irei para sua Mesa 5
com muito orgulho.
E pede mais cerveja...
Saudades.
Texto reproduzido do Facebook/Nestor Amazonas
Nenhum comentário:
Postar um comentário