domingo, 3 de dezembro de 2017

A Cerca do Insuperável Joel Silveira

Joel Silveira (23.09.1918 - 15.08.2007). Foto de Bel Pedrosa/Folha Imagem, 
postada pelo  blog "SERGIPE...", para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no blog Academia Literaria de Vida, em 06/11/2017.

A Cerca do Insuperável Joel Silveira. 
Por Sandra Natividade.

    Joel Silveira traz à memória terna inspiração único como cada um de nós. Viveu em plenitude, intensamente e às vezes perigosamente; nos últimos anos de existência como bem dizia, solitário, creio por opção. Assim não morreu e suas obras estão aí a falar dele e sobre ele, da maneira que gostava de construir lépido e faqueiro, brincalhão por excelência, às vezes quando zangado um tanto ácido nas palavras, coisas intrínsecas ao temperamento humano. Trabalhar com ele era interessante e gratificante, parece que ouço sua voz falando ao telefone com alguém influente da República, incisivo “... manda livro para Sergipe homem, manda livro para Sergipe...”, Joel titular da Secretaria de Estado Especial da Cultura dos sergipanos tinha uma perspectiva hercúlea, talvez um sonho: equipar as sofridas bibliotecas dos 75 municípios sergipanos com novos volumes - ao assumir a pasta sua meta era conseguir 20 mil livros para prover essas - e construir um grande centro cultural. Ideias arrojadas - os livros ele no pouco tempo que passou por estas plagas conseguiu, sonho realizado - quantas entregas fez!  No rosto do já idoso escritor sergipano o belo sorriso que nunca lhe faltou, acompanhado por assessores diretos da pasta, convidava cheio de contentamento prefeito, secretário de educação e cultura do município contemplado e oficialmente fazia a entrega dos livros.

    A postura do ilustre sergipano de Lagarto, além de jornalista, escritor renomado, contista, poeta e prosador cheio de graça fez diferença, influenciando a organização do XIV Fórum Nacional de Secretários de Cultura realizado em Goiânia a trazer para Sergipe a XV edição do Fórum Nacional, uma tacada de mestre do novel secretário de cultura dos sergipanos. A XV reunião tinha como foco entre outros pontos, debater a política de aprimoramento e consolidação das estruturas da Administração Cultural. Sob a coordenação nacional de José Carlos Capinam, Secretário de Estado da Cultura da Bahia e de Beth Mendes, Secretária de Cultura do Estado de São Paulo assumindo na época a função de secretária geral, o evento foi realizado com significativas representações das regiões Nordeste, Sudoeste, Centro-Oeste, Sul e Norte no Salão de Convenções do imponente Hotel Parque dos Coqueiros, no período de 3 a 5 de dezembro de 1987. Foram os palestrantes na pauta: Ministro da Cultura, Celso Furtado, o Embaixador Wladimir Murtinho do INL representantes dos órgãos Regionais de Desenvolvimento, Fundação Nacional de Artes Cênicas, Fundação Nacional de Cinema, entre outros que já não lembro. A realização se constituiu uma conquista de peso para o pequenino Estado de Sergipe.

    Joel Silveira deixou grande legado, mais de trinta obras publicadas e perfil cidadão que influenciava, casado com Dona Iracema, o casal se completava com a pequena prole que constituiu composta pelos filhos Elizabeth e Ismael - falava pouco da família e muito do neto Rodrigo - entendo a atitude como preservação da privacidade. Enquanto o inesquecível intelectual escrevia na inseparável Olivetti e fazia seu merchandising, a esposa cuidava de tudo, nos mínimos detalhes. O apartamento onde residia em Copacabana era impecável - a pinacoteca com 80 quadros e a biblioteca com 22 mil livros - cobria as paredes da aconchegante morada. Quanto trabalho de Dona Iracema na manutenção daquele patrimônio, ela nada reclamava, vivia a alegria do marido.  Joel e Iracema foram tão unidos que após três anos da partida dele para a eternidade, parece que a vida da eficiente e dedicada esposa perdeu o sentido, indo ao encontro do seu eterno amor.

    As pessoas passam e deixam marcas indeléveis. Joel Silveira colaborador de jornais em Sergipe, mudou-se em 1937 para o Rio de Janeiro e construiu sem pretensão uma biografia profissional fascinante. Iniciando ali a carreira como repórter, aos 26 anos foi enviado à Itália pelos Diários Associados comandado pelo desbravador Assis Chateaubriand como correspondente de guerra, fato que lhe rendeu novas experiências tornando-se destacado colunista e editor. Colecionou prêmios extraordinários: Esso, Jabuti, Golfinho de Ouro, Machado de Assis e Líbero Badaró. Partiu passou a povoar uma nova morada, certamente por lá encontrou vários intelectuais participes da boa prosa, a exemplo de Silvio Romero, Tobias Barreto, dos irmãos Gilberto e Genolino Amado e tantos outros notáveis da constelação literária que dignifica o Estado de Sergipe, o Brasil e o mundo.

Aracaju, 15/08/2017.

Texto reproduzido do blog: academialiterariadevida.blogspot.com.br

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