Joel Silveira (23.09.1918 - 15.08.2007). Foto de Bel Pedrosa/Folha Imagem,
postada pelo blog "SERGIPE...", para ilustrar o presente artigo.
postada pelo blog "SERGIPE...", para ilustrar o presente artigo.
A Cerca do Insuperável Joel Silveira.
Por Sandra Natividade.
Joel Silveira traz
à memória terna inspiração único como cada um de nós. Viveu em plenitude,
intensamente e às vezes perigosamente; nos últimos anos de existência como bem
dizia, solitário, creio por opção. Assim não morreu e suas obras estão aí a
falar dele e sobre ele, da maneira que gostava de construir lépido e faqueiro,
brincalhão por excelência, às vezes quando zangado um tanto ácido nas palavras,
coisas intrínsecas ao temperamento humano. Trabalhar com ele era interessante e
gratificante, parece que ouço sua voz falando ao telefone com alguém influente
da República, incisivo “... manda livro para Sergipe homem, manda livro para
Sergipe...”, Joel titular da Secretaria de Estado Especial da Cultura dos
sergipanos tinha uma perspectiva hercúlea, talvez um sonho: equipar as sofridas
bibliotecas dos 75 municípios sergipanos com novos volumes - ao assumir a pasta
sua meta era conseguir 20 mil livros para prover essas - e construir um grande
centro cultural. Ideias arrojadas - os livros ele no pouco tempo que passou por
estas plagas conseguiu, sonho realizado - quantas entregas fez! No rosto do já idoso escritor sergipano o
belo sorriso que nunca lhe faltou, acompanhado por assessores diretos da pasta,
convidava cheio de contentamento prefeito, secretário de educação e cultura do
município contemplado e oficialmente fazia a entrega dos livros.
A postura do
ilustre sergipano de Lagarto, além de jornalista, escritor renomado, contista,
poeta e prosador cheio de graça fez diferença, influenciando a organização do
XIV Fórum Nacional de Secretários de Cultura realizado em Goiânia a trazer para
Sergipe a XV edição do Fórum Nacional, uma tacada de mestre do novel secretário
de cultura dos sergipanos. A XV reunião tinha como foco entre outros pontos,
debater a política de aprimoramento e consolidação das estruturas da
Administração Cultural. Sob a coordenação nacional de José Carlos Capinam,
Secretário de Estado da Cultura da Bahia e de Beth Mendes, Secretária de
Cultura do Estado de São Paulo assumindo na época a função de secretária geral,
o evento foi realizado com significativas representações das regiões Nordeste,
Sudoeste, Centro-Oeste, Sul e Norte no Salão de Convenções do imponente Hotel
Parque dos Coqueiros, no período de 3 a 5 de dezembro de 1987. Foram os
palestrantes na pauta: Ministro da Cultura, Celso Furtado, o Embaixador
Wladimir Murtinho do INL representantes dos órgãos Regionais de
Desenvolvimento, Fundação Nacional de Artes Cênicas, Fundação Nacional de
Cinema, entre outros que já não lembro. A realização se constituiu uma
conquista de peso para o pequenino Estado de Sergipe.
Joel Silveira
deixou grande legado, mais de trinta obras publicadas e perfil cidadão que
influenciava, casado com Dona Iracema, o casal se completava com a pequena
prole que constituiu composta pelos filhos Elizabeth e Ismael - falava pouco da
família e muito do neto Rodrigo - entendo a atitude como preservação da
privacidade. Enquanto o inesquecível intelectual escrevia na inseparável
Olivetti e fazia seu merchandising, a esposa cuidava de tudo, nos mínimos
detalhes. O apartamento onde residia em Copacabana era impecável - a pinacoteca
com 80 quadros e a biblioteca com 22 mil livros - cobria as paredes da aconchegante
morada. Quanto trabalho de Dona Iracema na manutenção daquele patrimônio, ela
nada reclamava, vivia a alegria do marido.
Joel e Iracema foram tão unidos que após três anos da partida dele para
a eternidade, parece que a vida da eficiente e dedicada esposa perdeu o
sentido, indo ao encontro do seu eterno amor.
As pessoas passam
e deixam marcas indeléveis. Joel Silveira colaborador de jornais em Sergipe,
mudou-se em 1937 para o Rio de Janeiro e construiu sem pretensão uma biografia
profissional fascinante. Iniciando ali a carreira como repórter, aos 26 anos
foi enviado à Itália pelos Diários Associados comandado pelo desbravador Assis
Chateaubriand como correspondente de guerra, fato que lhe rendeu novas
experiências tornando-se destacado colunista e editor. Colecionou prêmios
extraordinários: Esso, Jabuti, Golfinho de Ouro, Machado de Assis e Líbero
Badaró. Partiu passou a povoar uma nova morada, certamente por lá encontrou
vários intelectuais participes da boa prosa, a exemplo de Silvio Romero, Tobias
Barreto, dos irmãos Gilberto e Genolino Amado e tantos outros notáveis da
constelação literária que dignifica o Estado de Sergipe, o Brasil e o mundo.
Aracaju, 15/08/2017.
Texto reproduzido do blog: academialiterariadevida.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário