Foto: Jadilson Simões
Publicado originalmente no site da ALESE, em 21 de agosto de 2018
Almir do Picolé
relembra dores e agradece a honraria na Alese
Por Aldaci de Souza – Rede Alese
Abandonado pelos pais aos quatro anos de idade, Almir
Almeida Paixão, 48, sabe de perto o que é sobreviver da boa vontade e passar
por cima dos obstáculos nas ruas de Aracaju. Conhecido como Almir do Picolé
(era vendedor), as dores e marcas da infância o fizeram correr atrás de um
sonho: construir uma creche para que dezenas de crianças e adolescentes não passem
as amarguras que ele sofreu juntamente com sua irmã.
Desejo realizado, Almir não consegue deixar as ruas e é nos
semáforos que ele pede ajuda para levar seu projeto adiante. Em meio às
dificuldades, uma alegria: no próximo dia 23 de agosto, o presidente da
Assembleia Legislativa de Sergipe, deputado Luciano Bispo (MDB), lhe entregará
a Medalha do Mérito Parlamentar, a maior honraria da Alese. “Já escolhi o
terno, estou me sentindo importante. Vai ser aqui no mesmo lugar que os
deputados ficam?”, indaga com toda a simplicidade que lhe é característica.
Quem contribui para a Creche Almir do Picolé nos semáforos
da capital sergipana não sai de mãos limpas. Recebe um texto contando a
história da entidade localizada em Nossa Senhora do Socorro e uma canetinha.
Quem não doa nada, pode levar os brindes sem problema. Como bem diz Almir do
Picolé, o importante é que a população conheça o seu trabalho intenso para que
não falte alimentação, saúde e educação aos
“Eu tive uma vida de infância sofrida, fui garoto de rua e
dormi muito na rodoviária velha, inclusive na rua de Arauá, tem uma casa
recuada, que eu pedia todo dia comida e a finada d. Noêmia Almeida me dava. Ela
me ajudou muito. Eu e minha irmã sofremos muito, mas ela também conseguiu
superar, casou, tem cinco filhos e todos estão se formando. Eu estudei até a
terceira série porque tenho problemas visuais”, conta.
Abandono
Difícil é saber que foi abandonado pelos pais com quatro
anos, a irmã com apenas dois e perdoar. Mas para Almir do Picolé difícil mesmo
é não ter como proporcionar dias melhores aos seus filhos naturais e adotivos.
“A gente foi abandonado muito pequeno e minha irmã não quer perdoar minha mãe,
mas eu já perdoei. Minha mãe mora em São Paulo e meu pai já faleceu. Ela pegou
um ônibus cinco horas da manhã para ir para São Paulo trabalhar e deixou a
gente na rodoviária confiando que os parentes de Lagarto viessem buscar. Ela
não fez por maldade. Já fui me encontrar com ela em São Paulo e perdoei. Morei
em orfanatos, mas voltava pras ruas pra vender picolé. Tenho uma gratidão
grande a d. Ildete Falcão Batista que me tirou das ruas e me colocou no
Instituto Lourival Fontes. Mandou o motorista Seu Candinho me pegar na Kombi,
nas proximidades da rodoviária velha e dizia que eu era um menino bom; me
tratava como filho”, relembra sem conseguir conter as lágrimas.
Trabalho Social
O sonho começou a se transformar em realidade no ano de
2003, com dez crianças de meses até cinco anos de idade.
“Agora eu tenho 93 meninos e meninas que se alimentam e estudam.
Além da creche eu dou assistência funeral às pessoas carentes, dou remédios e
faço outros trabalhos sociais. Tenho um trabalho fantástico dentro da
rodoviária nova com as pessoas desabrigadas; fico nos semáforos e tenho o
sistema de telemark, em que as pessoas podem ajudar pelos telefones (79)
3248-1413 e (79) 3254-7644, além de contas bancárias nas agências do Banese, da
Caixa Econômica e Banco do Brasil”, diz.
Na Creche Almir do Picolé, as atividades são desenvolvidas
por ele, a esposa, a filha de 17 anos e o filho de 14 anos, além 27
funcionários. “São 27 pais de famílias registrados para recolher INSS e FGTS
todo mês. Tenho 28 anos de trabalho social e agora está chegando o Dia das
Crianças, onde vai ter o palco e o som em frente à creche para a diversão das
crianças”, afirma lembrando que na creche, as crianças chegam antes das sete
horas da manhã, recebem três refeições e participam de atividades pedagógicas
até às 17h quando as mães retornam.
Homenagem
Sobre a homenagem que receberá da Assembleia Legislativa de
Sergipe, Almir do Picolé disse ter ficado muito feliz quando foi informado.
“Essa homenagem que o deputado Luciano Bispo junto com os
outros deputados vão fazer pra mim é o reconhecimento do meu trabalho. Eu já
recebi quase 50 prêmios, já apareci no Fantástico e no programa de Luciano
Huck. Isso me dá mais responsabilidade com as minhas responsabilidades no que
eu faço para manter os salários dos meus funcionários em dia e ajudar as
crianças com as doações que recebo não só nas ruas, mas de vários órgãos
públicos e empresas particulares. A gente recebe doação do mais humilde até os
empresários, a imprensa, o Poder Judiciário. É uma honra receber essa homenagem
dia 23, vou chegar de terno aqui e estou convidando um monte de amigos, estou
dando entrevistas nas rádios”, comemora...
Texto e imagem reproduzidos do site: al.se.leg.br
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