quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Almir do Picolé relembra dores e agradece a honraria na Alese

Foto: Jadilson Simões

Publicado originalmente no site da ALESE, em 21 de agosto de 2018

Almir do Picolé relembra dores e agradece a honraria na Alese

Por Aldaci de Souza – Rede Alese

Abandonado pelos pais aos quatro anos de idade, Almir Almeida Paixão, 48, sabe de perto o que é sobreviver da boa vontade e passar por cima dos obstáculos nas ruas de Aracaju. Conhecido como Almir do Picolé (era vendedor), as dores e marcas da infância o fizeram correr atrás de um sonho: construir uma creche para que dezenas de crianças e adolescentes não passem as amarguras que ele sofreu juntamente com sua irmã.

Desejo realizado, Almir não consegue deixar as ruas e é nos semáforos que ele pede ajuda para levar seu projeto adiante. Em meio às dificuldades, uma alegria: no próximo dia 23 de agosto, o presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, deputado Luciano Bispo (MDB), lhe entregará a Medalha do Mérito Parlamentar, a maior honraria da Alese. “Já escolhi o terno, estou me sentindo importante. Vai ser aqui no mesmo lugar que os deputados ficam?”, indaga com toda a simplicidade que lhe é característica.

Quem contribui para a Creche Almir do Picolé nos semáforos da capital sergipana não sai de mãos limpas. Recebe um texto contando a história da entidade localizada em Nossa Senhora do Socorro e uma canetinha. Quem não doa nada, pode levar os brindes sem problema. Como bem diz Almir do Picolé, o importante é que a população conheça o seu trabalho intenso para que não falte alimentação, saúde e educação aos

“Eu tive uma vida de infância sofrida, fui garoto de rua e dormi muito na rodoviária velha, inclusive na rua de Arauá, tem uma casa recuada, que eu pedia todo dia comida e a finada d. Noêmia Almeida me dava. Ela me ajudou muito. Eu e minha irmã sofremos muito, mas ela também conseguiu superar, casou, tem cinco filhos e todos estão se formando. Eu estudei até a terceira série porque tenho problemas visuais”, conta.

Abandono

Difícil é saber que foi abandonado pelos pais com quatro anos, a irmã com apenas dois e perdoar. Mas para Almir do Picolé difícil mesmo é não ter como proporcionar dias melhores aos seus filhos naturais e adotivos. “A gente foi abandonado muito pequeno e minha irmã não quer perdoar minha mãe, mas eu já perdoei. Minha mãe mora em São Paulo e meu pai já faleceu. Ela pegou um ônibus cinco horas da manhã para ir para São Paulo trabalhar e deixou a gente na rodoviária confiando que os parentes de Lagarto viessem buscar. Ela não fez por maldade. Já fui me encontrar com ela em São Paulo e perdoei. Morei em orfanatos, mas voltava pras ruas pra vender picolé. Tenho uma gratidão grande a d. Ildete Falcão Batista que me tirou das ruas e me colocou no Instituto Lourival Fontes. Mandou o motorista Seu Candinho me pegar na Kombi, nas proximidades da rodoviária velha e dizia que eu era um menino bom; me tratava como filho”, relembra sem conseguir conter as lágrimas.

Trabalho Social

O sonho começou a se transformar em realidade no ano de 2003, com dez crianças de meses até cinco anos de idade.

“Agora eu tenho 93 meninos e meninas que se alimentam e estudam. Além da creche eu dou assistência funeral às pessoas carentes, dou remédios e faço outros trabalhos sociais. Tenho um trabalho fantástico dentro da rodoviária nova com as pessoas desabrigadas; fico nos semáforos e tenho o sistema de telemark, em que as pessoas podem ajudar pelos telefones (79) 3248-1413 e (79) 3254-7644, além de contas bancárias nas agências do Banese, da Caixa Econômica e Banco do Brasil”, diz.

Na Creche Almir do Picolé, as atividades são desenvolvidas por ele, a esposa, a filha de 17 anos e o filho de 14 anos, além 27 funcionários. “São 27 pais de famílias registrados para recolher INSS e FGTS todo mês. Tenho 28 anos de trabalho social e agora está chegando o Dia das Crianças, onde vai ter o palco e o som em frente à creche para a diversão das crianças”, afirma lembrando que na creche, as crianças chegam antes das sete horas da manhã, recebem três refeições e participam de atividades pedagógicas até às 17h quando as mães retornam.

Homenagem

Sobre a homenagem que receberá da Assembleia Legislativa de Sergipe, Almir do Picolé disse ter ficado muito feliz quando foi informado.

“Essa homenagem que o deputado Luciano Bispo junto com os outros deputados vão fazer pra mim é o reconhecimento do meu trabalho. Eu já recebi quase 50 prêmios, já apareci no Fantástico e no programa de Luciano Huck. Isso me dá mais responsabilidade com as minhas responsabilidades no que eu faço para manter os salários dos meus funcionários em dia e ajudar as crianças com as doações que recebo não só nas ruas, mas de vários órgãos públicos e empresas particulares. A gente recebe doação do mais humilde até os empresários, a imprensa, o Poder Judiciário. É uma honra receber essa homenagem dia 23, vou chegar de terno aqui e estou convidando um monte de amigos, estou dando entrevistas nas rádios”, comemora...

Texto e imagem reproduzidos do site: al.se.leg.br

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