Publicado originalmente pelo blog Contexto Reporter A, em 7 de junho de 2011
Campanha pelo Hospital do Câncer em Sergipe é nova batalha
da criadora da Avosos
Por Ilton Bispo
Maria Ruth Wynne Cardoso, hoje mais conhecida por Tia Ruth,
nasceu em 1930, em Aracaju. De família simples, aprendeu com seus pais, Eduardo
e Débora Wynne Cardoso, o sentido da vida. Dona de um sorriso meigo e de um
olhar penetrante que cativa qualquer um, principalmente pela sua humildade, tem
a força da mulher brasileira e as mãos sempre prontas para servir.
A luta de Tia Ruth na oncologia teve início com as visitas
diárias que realizava aos pacientes internados no Hospital Cirurgia, levada
pelo compromisso de servir ao próximo. Nestas visitas ela percebeu a carência
tanto de recursos hospitalares, quanto de apoio humano. Doceira de mão cheia
foi através de um simples bolo que começou seus primeiros contatos junto aos
pacientes. Com o trabalho voluntário de distribuir seus bolos, Tia Ruth foi
ganhando a confiança dessas pessoas que já notavam algo diferente naquela
senhora, pois quando algum paciente não podia mastigar, ela molhava o bolo em
um suco e oferecia, com a mesma calma e sorriso de sempre. Levada pela
necessidade, além do bolo, Tia Ruth começou a distribuir lanches, agasalhos e
palavras de conforto.
Em um gesto de bondade, abriu as portas da sua própria casa
para acolher pacientes que ficavam nas calçadas do hospital, alguns chegavam a
pernoitar à espera de um leito, ou até mesmo de uma sessão de quimioterapia:
avia ainda os que recebiam alta, mas não tinham para onde ir. Até o transporte
chegar; muitas dessas pessoas acabavam se instalando na casa de Tia Ruth.
Depois de alguém tempo, sua casa passou a ser frequentada pelos pacientes que
vinham do interior de Sergipe e dos estados da Bahia e de Alagoas. Ela repartia
seu alimento com seus hóspedes e quando acabava, o que era comum, saia pedindo
aos vizinhos. Assim mesmo, sem saber, estava transformando sua casa em casa de
apoio, funcionando informalmente, que ela mesma chamava de “A casa do Caminho”.
Essa aracajuana de 81 anos, mãe de três filhos, sensibilizou
outras pessoas que se uniram a ela na luta pelos pacientes portadores de
câncer. O grupo de voluntários cresceu e passou a ter reconhecimento junto à
comunidade, recebendo doações e mantimentos. Houve então a necessidade de maior
organização no trabalho e em 24 de julho de 1987, foi fundada legalmente a
Associação dos Voluntários a Serviço da Oncologia em Sergipe (Avosos),
instituição filantrópica e sem fins lucrativos. No ano seguinte, foi instalada
a primeira sede oficial da Avosos.
Tia Ruth optou pelos pacientes de câncer pela carência e a
descriminação que existia tempos atrás. Na época nem a palavra “câncer” podia
ser pronunciada. Alguns enfermos chegavam a ser renegados pela própria família,
o que a tocava muito e a motivava cada vez mais. Para diminuir a distância
entre os pacientes e seus familiares, ela passava horas escrevendo cartas, pois
a maioria deles não sabia ler nem escrever. Eram pequenos gestos que
significavam muito para eles.
Ao longo dos anos, Sergipe não desenvolveu uma política de
tratamento do câncer e por isso não possui um hospital específico para o
tratamento do câncer. O estado tem apenas dois centros de oncologia que
funcionam em hospitais da capital, mas os serviços não são ofertados
satisfatoriamente. O HUSE - (Hospital de Urgências de Sergipe) possui apenas
dois aparelhos de radioterapia, quando na verdade são necessário mais dois.
Cada aparelho comporta somente 75 procedimentos por dia, mas atualmente faz
mais de 110 e durante todos os dias da semana. A consequência disso é a quebra
constante do aparelho prejudicando todo o procedimento terapêutico nos
pacientes, piorando uma doença que já é grave.
E em virtude das deficiências do HUSE, a Avosos sofreu a
perda de muitas crianças e adolescentes, fato triste que marcou profundamente a
vida de Tia Ruth e fez com que a instituição implementasse em suas campanhas a
compra de medicamentos oncológicos para suprir a deficiência hospitalar. Em
1992 nasceu a Casa de Apoio à Criança com Câncer Tia Ruth, que faz parte do
Avosos e contribui para suprir as limitações do HUSE, realizando o tratamento
de câncer em nível ambulatorial através de convênios.
Os números de pacientes com câncer em Sergipe são altos.
Segundo o especialista Dr Petrônio Gomes, para 2011 são estimados mais de 4 mil
novos casos de câncer dos quais mais de 1.600 em homens e 2.000 em mulheres. O
câncer de próstata será o mais devastador, atingindo mais de 520 casos e os de
mama e de colo de útero atingirão mais de 600 mulheres. Desses casos, 50%
necessitarão de radioterapia, cirurgia oncológica e quimioterapia. Sem falar
nas crianças e nos adolescentes, que não estão inclusos nessa estatística. A
cada o sofrimento e a mortalidade dos pacientes aumenta no HUSE e fora dele.
São crianças, adolescentes e adultos que necessitam não só de meios médicos,
mas também de um ombro amigo e de uma palavra de conforto.
É nesse cenário que Tia Ruth surge mais uma vez, realizando
suas tradicionais visitas, levando lanches, cuja distribuição se tornou sua
marca registrada. Ela não se cansa de ser voluntária e de se doar, pois
acredita que o trabalho voluntário é uma das formas mais generosas de contribuir
para um mundo melhor, mais justo e sem disparidades. É difícil encontrar
alguém, pelos corredores dos hospitais, que não fale da sua luta. Todos a
admiram pela coragem, força de vontade e generosidade. Tinha Ruth é o exemplo
que todos querem seguir.
Foi em virtude da importância e necessidade de se obter um
hospital especializado para tratar pacientes que sofrem com o câncer que o
senador Eduardo Amorim (PSC) lançou, neste ano, uma campanha para construção de
um hospital do câncer em Sergipe. A sociedade sergipana está se mobilizando
para conseguir, através de abaixo-assinado, as assinaturas necessárias para
mostrar ao governo federal a necessidade de enviar os recursos para a
construção do hospital.
Essa construção é esperada com muita expectativa por Tia
Ruth, que acredita e torce por essa campanha. Ainda assim ela prefere manter os
pés no chão, pois, segundo ela, já houve outras iniciativas semelhantes que,
apesar de serem louváveis, não se concretizaram, por algum motivo. Enquanto o
sonho de Tia Ruth não se realiza, a Avosos vai realizando sua missão junto aos
pacientes. Criando e articulando soluções de forma integral para a melhoria do
tratamento e da qualidade de vida de crianças e adolescentes com câncer e
doenças hematológicas crônicas.
Hoje Tia Ruth é presidente da ONG que se transformou no
Complexo Avosos, formado por duas unidades, a Casa de Apoio à Criança com
Câncer Tia Ruth e o Centro de Oncologia Dr. José Geraldo Dantas Bezerra.
Atualmente mais de 350 crianças e adolescentes com câncer e hemopatias são
assistidas pela Avosos. As atividades da instituição são elaboradas visando
elevar a qualidade de vida dos assistidos e de seus familiares.
Todos dizem que o xodó de Tia Ruth é sua filha biológica e
especial, conhecida como “Jéjé,” que se tornou especial devido à demora da
realização do parto. Extremamente religiosa, não desanimou e acreditou que tudo
poderia ser superado pela força da oração. Cuidar de sua filha, segundo ela, é
uma aprendizagem mesmo em meio às limitações. Um dos medos de Tia Ruth é morrer
e ter que deixar sua filha, por isso desde já começa a se disciplinar. Como
todo brasileiro, gosta de música a predileta de Tia Ruth é o Hino da Avosos,
música de melodia doce que toca profundamente o seu coração. Mas o que ela realmente
gosta de fazer é ser voluntária. Em 2005 foi condecorada em Brasília, com a
medalha do “Mérito Legislativo Câmara dos Deputados”, pelos serviços prestados
a sociedade sergipana e ao Brasil através da Avosos, conquistas como esta são
atribuídas por ela a Deus.
A campanha para o hospital do câncer em Sergipe tem apoio de
Tia Ruth, e está a todo vapor, as assinaturas com abaixo assinado em apoio à
construção do Hospital do Câncer de Sergipe será entregue ao ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, ainda este mês em Brasília/DF. As pessoas que se identificam
com a causa da Tia Ruth podem procurar a instituição, para realizar um cadastro
de voluntário, qualquer pessoa pode ajudar, basta se dirigir a sede da Avosos
onde Tia Ruth e o seu grupo lutam, até hoje, para provar que o “amor cura.”
Endereço da Avosos - Rua Leonel Curvelo, 55, bairro Suissa
Créditos fotográficos: atalaiaagora.com. br, portal da
saúde, emsergipe.com
Texto e imagens reproduzidos do blog: contextoreportera.blogspot.com
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