Juiz Osório de Araújo Ramos.
Publicado originalmente no blog Luiz Eduardo Costa.
A História de um cidadão sergipano.
Por Luiz Eduardo Costa.
O menino
Osório, nasceu em família pobre, veio ao mundo marcado por uma deformação que
lhe fez curvar a espinha e causar aquilo que vulgarmente se chama “uma giba”.
Ele seria por toda a vida um corcunda.
Nascera,
então, um condenado pelo destino a permanecer, vida afora naquela faixa de
penumbra e esquecimento, onde vivem os pobres e esquecidos, no caso dele, pior
ainda, por ter de enfrentar a carga desumana do preconceito.
Os pais,
carinhosos e a ele dedicados, logo foram descobrindo, enquanto a criança
crescia, que o seu menino frágil parecia uma fortaleza de espírito incomum.
O
“gibudinho” gostava da escola, tinha os livros como amigos e companheiros
permanentes.
Anos depois,
os comerciantes aracajuanos, que conviviam com o jovem contador Osório
organizando as suas finanças, haviam constatado que o problema físico que lhe
encurvara a espinha, teria causado, por outro lado, um fortalecimento moral,
que o mantinha hirto, perfilado com decente elegância aos valores morais, à
coragem cívica, ao espírito solidário, que soube incorporá-los, todos, e de
forma tão arraigada quanto humilde, à sua personalidade.
Esses
valores o acompanharam sempre e eles prevaleceram no cotidiano do pai de
família, na faina do dia a dia pela sobrevivência, desde o início, até à banca
de advogado, à toga que envergou como magistrado, à roupa que não o
diferenciava dos outros presos políticos. Isso aconteceu em 1952. Vivíamos,
então, o que esperávamos ser um tempo permanente de democracia, mas, que se
tornou apenas um interregno entre duas ditaduras.
Naquele ano,
chegou a Aracaju o contra-almirante Penna Botto. Era um extremado intolerante,
ao qual incomodava a simples ideia de presença popular na cena política, de
reivindicações, partidas fossem de onde fossem, dos seus próprios comandados,
marinheiros, ainda discriminados, ou de qualquer setor que representasse a voz
subjugada do povo.
Criou, por
cima da Constituição então vigente, o seu campo de concentração particular.
Ficava nos arredores de Aracaju e o encheu de presos políticos. Lá foi parar
Osório, Tinha então 37 anos. Cursava o terceiro ano da faculdade de Direito de
Sergipe. (na época não havia a universidade, apenas 4 faculdades isoladas).
Para o
campo de concentração de Penna Botto foi levado até um menor, apenas 15 anos,
estudante do Atheneu. Não foi preso na sala de aula, porque a diretora, a professora
Thetis Nunes, à frente do colégio, impediu a entrada dos policiais. Era
Ezequiel Monteiro, que se tornaria um respeitado intelectual, (falecido há dois
anos). O colocaram no fundo de um jeep, amarrado. Ao chegar onde estava o
almirante, começou a cantar a Marselhesa. O bravo homem do mar o interrompeu
aos gritos: “Cale a boca comunista! Cale a boca comunista!”.
Foram nove
meses de cadeia que Osório suportou com resignação e decência. José Francisco
da Rocha, o nosso sempre festejado Dr. Rochinha, lembra que era contemporâneo
de Osório e assistiu ele sair preso da faculdade, sem perder a altivez.
José Francisco da Rocha,
o festejado Dr. Rochinha.
Juiz, o Dr.
Osório continuou semeador de iniciativas, operário das boas causas. Morou nas
três comarcas onde jurisdicionou, Riachão do Dantas, Lagarto e Estância e com
ele a esposa, Dona Abgail, e a numerosa prole. Lembram os seus filhos, entre eles
o desembargador Osório de Ramos Filho, um seguidor dos seus passos, que o pai
lhes recitava quase todos os dias: “Estudem, o conhecimento é cumulativo”.
O Juiz,
todas as noites, dava aula numa das escolas da Campanha Nacional de
Alfabetização. Togado, continuava desprendido, servidor por excelência, ao
ofício público ao qual dedicou a vida.
Na
Estância, talvez buscando dar organicidade ao seu espírito fraterno e
solidário, ele tornou-se, em 1966,
obreiro da Loja Maçônica Piauitinga. Um dos que assinaram a sua proposta de
ingresso à Ordem Maçônica foi o líder maçom e grande empresário Constâncio
Vieira.
Osório,
neste abril, estaria completando 100 anos. A OAB-SE, incorporou-se às
homenagens pelo centenário e fez sessão solene. Houve assim, presença da
entidade na celebração da memória do advogado, que por duas vezes a presidiu e
dela foi, enquanto advogou, um atuante membro.
Com a sede
da OAB lotada, falou o seu atuante presidente Henry Clay Andrade; o secretário
geral Aurélio Bonfim; a presidente da Academia Sergipana de Letras Jurídicas
Adélia Pessoa; o ex-presidente da Ordem, ex- governador e acadêmico Gilton
Garcia e o filho do homenageado,
desembargador Osório de Araújo Ramos Filho. Presentes, entre outros, o
desembargador Luiz Mendonça e esposa; a Procuradora Maria Cristina Foz
Mendonça; o desembargador e acadêmico Edson Ulisses, ex-presidente da OAB-SE; o
Procurador Geral do Município de Aracaju, desembargador aposentado Netônio
Machado; o presidente da Academia de Letras de Sergipe, Anderson Nascimento; o
presidente da Academia Brasileira de Medicina, Hamilton Maciel e o
representante da Academia Maçônica de Sergipe, engenheiro José Lauro de
Oliveira Filho.
O presidente da OAB/SE. Henry Clay e o desembargador Osório, filho do Juiz Osório.
Texto e imagens reproduzidos do site: blogluizeduardocosta.com.br
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