sábado, 5 de maio de 2018

A História de um cidadão sergipano

 Juiz Osório de Araújo Ramos.

Publicado originalmente no blog Luiz Eduardo Costa.

A História de um cidadão sergipano. 
Por Luiz Eduardo Costa.

          O menino Osório, nasceu em família pobre, veio ao mundo marcado por uma deformação que lhe fez curvar a espinha e causar aquilo que vulgarmente se chama “uma giba”. Ele seria por toda a vida um corcunda.

          Nascera, então, um condenado pelo destino a permanecer, vida afora naquela faixa de penumbra e esquecimento, onde vivem os pobres e esquecidos, no caso dele, pior ainda, por ter de enfrentar a carga desumana do preconceito.

          Os pais, carinhosos e a ele dedicados, logo foram descobrindo, enquanto a criança crescia, que o seu menino frágil parecia uma fortaleza de espírito incomum.

          O “gibudinho” gostava da escola, tinha os livros como amigos e companheiros permanentes.
  
          Anos depois, os comerciantes aracajuanos, que conviviam com o jovem contador Osório organizando as suas finanças, haviam constatado que o problema físico que lhe encurvara a espinha, teria causado, por outro lado, um fortalecimento moral, que o mantinha hirto, perfilado com decente elegância aos valores morais, à coragem cívica, ao espírito solidário, que soube incorporá-los, todos, e de forma tão arraigada quanto humilde, à sua personalidade.

          Esses valores o acompanharam sempre e eles prevaleceram no cotidiano do pai de família, na faina do dia a dia pela sobrevivência, desde o início, até à banca de advogado, à toga que envergou como magistrado, à roupa que não o diferenciava dos outros presos políticos. Isso aconteceu em 1952. Vivíamos, então, o que esperávamos ser um tempo permanente de democracia, mas, que se tornou apenas um interregno entre duas ditaduras.

          Naquele ano, chegou a Aracaju o contra-almirante Penna Botto. Era um extremado intolerante, ao qual incomodava a simples ideia de presença popular na cena política, de reivindicações, partidas fossem de onde fossem, dos seus próprios comandados, marinheiros, ainda discriminados, ou de qualquer setor que representasse a voz subjugada do povo.

          Criou, por cima da Constituição então vigente, o seu campo de concentração particular. Ficava nos arredores de Aracaju e o encheu de presos políticos. Lá foi parar Osório, Tinha então 37 anos. Cursava o terceiro ano da faculdade de Direito de Sergipe. (na época não havia a universidade, apenas 4 faculdades isoladas).

           Para o campo de concentração de Penna Botto foi levado até um menor, apenas 15 anos, estudante do Atheneu. Não foi preso na sala de aula, porque a diretora, a professora Thetis Nunes, à frente do colégio, impediu a entrada dos policiais. Era Ezequiel Monteiro, que se tornaria um respeitado intelectual, (falecido há dois anos). O colocaram no fundo de um jeep, amarrado. Ao chegar onde estava o almirante, começou a cantar a Marselhesa. O bravo homem do mar o interrompeu aos gritos: “Cale a boca comunista! Cale a boca comunista!”.

          Foram nove meses de cadeia que Osório suportou com resignação e decência. José Francisco da Rocha, o nosso sempre festejado Dr. Rochinha, lembra que era contemporâneo de Osório e assistiu ele sair preso da faculdade, sem perder a altivez.

José Francisco da Rocha, 
o festejado Dr. Rochinha.

          Juiz, o Dr. Osório continuou semeador de iniciativas, operário das boas causas. Morou nas três comarcas onde jurisdicionou, Riachão do Dantas, Lagarto e Estância e com ele a esposa, Dona Abgail, e a numerosa prole. Lembram os seus filhos, entre eles o desembargador Osório de Ramos Filho, um seguidor dos seus passos, que o pai lhes recitava quase todos os dias: “Estudem, o conhecimento é cumulativo”.

          O Juiz, todas as noites, dava aula numa das escolas da Campanha Nacional de Alfabetização. Togado, continuava desprendido, servidor por excelência, ao ofício público ao qual dedicou a vida.

           Na Estância, talvez buscando dar organicidade ao seu espírito fraterno e solidário, ele  tornou-se, em 1966, obreiro da Loja Maçônica Piauitinga. Um dos que assinaram a sua proposta de ingresso à Ordem Maçônica foi o líder maçom e grande empresário Constâncio Vieira.

          Osório, neste abril, estaria completando 100 anos. A OAB-SE, incorporou-se às homenagens pelo centenário e fez sessão solene. Houve assim, presença da entidade na celebração da memória do advogado, que por duas vezes a presidiu e dela foi, enquanto advogou, um atuante membro.

          Com a sede da OAB lotada, falou o seu atuante presidente Henry Clay Andrade; o secretário geral Aurélio Bonfim; a presidente da Academia Sergipana de Letras Jurídicas Adélia Pessoa; o ex-presidente da Ordem, ex- governador e acadêmico Gilton Garcia e o filho do homenageado,  desembargador Osório de Araújo Ramos Filho. Presentes, entre outros, o desembargador Luiz Mendonça e esposa; a Procuradora Maria Cristina Foz Mendonça; o desembargador e acadêmico Edson Ulisses, ex-presidente da OAB-SE; o Procurador Geral do Município de Aracaju, desembargador aposentado Netônio Machado; o presidente da Academia de Letras de Sergipe, Anderson Nascimento; o presidente da Academia Brasileira de Medicina, Hamilton Maciel e o representante da Academia Maçônica de Sergipe, engenheiro José Lauro de Oliveira Filho.

O presidente da OAB/SE. Henry Clay e o desembargador Osório, filho do Juiz Osório. 

Texto e imagens reproduzidos do site: blogluizeduardocosta.com.br

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