Publicado originalmente no site do Cinform, em 14 de maio de 2018
De agricultor a escritor de sucesso: Saracura recorda trajetória e incentiva a literatura
De agricultor a escritor de sucesso: Saracura recorda trajetória e incentiva a literatura
Por Fredson Navarro
“De um modo em geral as pessoas não valorizam as obras”,
lamenta
O escritor Antônio Francisco de Jesus foi batizado como
Saracura em referência ao nome do sítio em que nasceu e morou, localizado no
Povoado Terra Vermelha, no município de Itabaiana. Saracura estudou em escolas
rurais e trabalhou como agricultor durante sua infância. Em seguida se mudou
com a família para Aracaju, estudou no Colégio Atheneu Sergipense e se formou
em Economia na Universidade Federal de Sergipe, iniciando sua carreira como
escritor aos 62 anos, em 2008.
“Ainda estudei na Universidade do Distrito Federal e
Universidade Cândido Mendes. Fui repórter do Jornal A Cruzada e apresentador da
Rádio Cultura de Sergipe. Desenvolvi diversas atividades, mas a minha relação
com a literatura começou muito cedo”, conta.
Saracura disse que a literatura faz parte da sua vida desde
criança. “Desde os meus 5 anos de idade eu ficava encantado com os romances de
cordel que meu avó materno lia. Ele morava em um povoado de Itabaiana, nas
Flechas. Aos domingos, vinham filhos, netos e vizinhos e meu avô declamava João
Grilo, Pedro Malazarte e Pavão Misterioso. O mundo em volta desaparecia. Aos 12
anos, fui enviado ao seminário e me envolvi com bibliotecas, jornais, muitos
livros. Ao sair do seminário, trabalhei em jornais e rádio nas bandas
culturais. Nunca mais parei de ler e de escrever, mesmo quando a vida me jogou
em outros mundos”, garante.
Carreira
O escritor já lançou seis obras, são elas: Os Tabaréus do
Sítio Saracura (2008), Meninos que não queriam ser padres (2011), Minha querida
Aracaju (2011), Tambores da Terra Vermelha (2013), Os Ferreiros (2015) e Os
curadores de cobra e de gente (2017).
Saracura é membro da Academia Sergipana de Letras, da
Academia Itabaianense de Letras e da Associação Sergipana de Imprensa.
“O primeiro livro que escrevi foi um livro técnico de
informática tratando do bom funcionamento de um centro de processamento de
dados. Teve edição restrita à empresa onde eu trabalhava. O primeiro livro
publicado para o mundo foi um romance, ‘Os Tabaréus do Sítio Saracura’. Eu já
estava aposentado há oito anos e pude redigir, compilar e depurar textos
produzidos desde a adolescência”.
O escritor explica como define o conteúdo de seus livros.
“As obras falam de gente boa, do cotidiano de um povo lutando para viver
dignamente, mesmo atrapalhado pelos governos equivocados e prejudicado pela
natureza adversa. Os livros têm um objetivo sagrado: mostrar ao mundo que aqui
na minha aldeia, Itabaiana, vive um povo inteligente, inventivo e digno: fazer
um povo invejado pelo modo de ser”.
Desafios
O escritor disse que o maior desafio é encontrar leitores
para as suas obras. “Em 2014, começamos o programa de trabalho, ‘O escritor na
livraria’, que leva escritores às lojas e os faz interagir com os leitores que
circulam nelas. Tem sido muito frutuoso. Tornamo-nos conhecidos dos leitores e
livreiros. E aí vendemos mais livros. Até quando não estamos presentes nas
lojas. Há outros desafios, mas todos seriam irrelevantes se muitos leitores
houvessem. De um modo geral, as pessoas não valorizam as obras. Mesmo quem frequenta
as livrarias age como se o livro fosse um supérfluo e reluta em comprar.
Satisfaz-se admirando de longe, como se fosse uma estrela”, lamenta.
“Mas há leitores que sabem valorizar os bons livros e muitos
compram, até livros de autores sergipanos. Passei a vida inteira lendo bons
livros, observando a vida, ouvindo e anotando histórias de minha mãe e de todos
que se dispunham a contar. Agora, preciso apenas de tempo e serenidade para
construir a obra literária que planejei. Falta muito ainda, acho que não vai
dar tempo, estou com 72 anos.”
A falta de recursos é outro desafio enfrentado pelos
escritores sergipanos. “Consegui patrocínio para lançar apenas a primeira
edição de um livro. As primeiras edições dos demais livros, eu publiquei com
ajuda da família e amigos. A internet, os blogs, as redes sociais têm ajudando
muito da divulgação dos livros publicados e desperta o interesse de mais
leitores para nossas obras. Observamos que mais gente lê hoje. O mercado parece
estar em expansão. Ou seria ilusão de ótica?”, questiona.
Incentivo
Saracura disse que nunca é tarde para começar e orienta como
ser um escritor de sucesso. “É necessário ler muito para construir um livro
superior ao melhor livro lido para não ser mais um perdido na barafunda. Uma
dica importante é não ter pressa e nem pena em reescrever, em decepar trechos
que parecem sobrar. A obra deve ser submetida a um revisor intransigente e que
seja humilde. Palavras, frases, trechos sempre podem ser melhorados. Só
publique quando sentir orgulho de sua obra. Quando o livro quebrar os laços que
o prendem a você. Quando não tiver mais jeito de segurá-lo. Publicar é uma
decisão conjunta e de foro íntimo. Leia livros de autores sergipanos”,
recomenda.
O próximo livro de Saracura ainda não foi definido. “Mas vai
ser um livro irresistível. Que tenha um título tentador e um conteúdo
apaixonante, em cada frase lida provoque um grito de louvor”, finaliza.
Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br
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