domingo, 27 de maio de 2018

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História

Atento, escuto o discurso de Gileno Lima na sessão inaugural da
Academia Sergipana de Medicina, há 20 anos na História
Foto: acervo ASM

Publicado originalmente no site Infonet/Blog/Lucio A. Prado Dias, em 24/12/2014 

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História

Por Lúcio Antônio Prado Dias

Parte 1

Vinte anos se passaram desde a memorável noite de nove de dezembro de 1994. Naquele dia, no auditório da Sociedade Médica de Sergipe, vinte e seis médicos sergipanos assinaram a ata de fundação da Academia Sergipana de Medicina, escrita com exatidão pelo secretário geral ad - hoc daquela sessão, o saudoso professor e colega José Leite Primo. Ninguém me contou. Eu mesmo estava lá, de corpo e alma, como presidente da Sociedade Médica, participando desse momento histórico e, mais ainda, assinando a ata, como o mais jovem integrante do sodalício, com apenas 40 anos de idade, fato que honra a minha trajetória de vida associativa e do qual sou eterno devedor.

Uma delegação de médicos vinda da Bahia, liderada por Geraldo Mílton da Silveira, então presidente da coirmã baiana e Thomaz Rodrigues Porto da Cruz, sergipano ilustre que pontifica no cenário médico da terra de Castro Alves, abrilhantou a sessão. Coube ao saudoso Gileno da Silveira Lima fazer a explanação inicial sobre as providências que culminaram com a fundação e instalação da Academia, naquela memorável noite. Liderando um grupo de destacados médicos, Gileno foi de um estoicismo e determinação incomuns. Sabia que outras tentativas haviam ocorrido no passado, sem sucesso, mas mesmo assim aceitou o desafio de levar a cabo tão importante realização e assim o fez. Fica justificado, pois, o pensamento com o qual iniciei esse artigo: “ Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe por provar o contrário”.

 Pela sua tenacidade, Gileno da Silveira Lima foi escolhido para ser o Presidente de Honra da Academia. Seu amor e dedicação ao sodalício e sua paixão incontida pela criatura, terminaram sendo reconhecidas pelos seus pares quando se referem à entidade: “A Casa de Gileno Lima”. Como bem disse Ralph Waldo Emerson, "os nossos atos  são os nossos anjos".

Sinto-me, pois, no dever de relatar um pouco da vida de Gileno Lima, em curta pincelada. Quando chegou a Aracaju, vindo de Laranjeiras, onde foi médico na cidade no início dos anos 50, ele veio atuar no Hospital Santa Isabel, chegando à direção do nosocômio em 1958, substituindo a Carlos Firpo, tragicamente assassinado, no rumoroso episódio que ficou conhecido como “A tragédia da Rua Campos”.  

No Hospital Santa Isabel ele implementa uma ampla e geral reforma, transformando a centenária instituição num hospital moderno. Para viabilizar essa grande obra, Gileno recorre a um organismo internacional, a alemã Miserior ( associação católica que através dos donativos recebidos nas missas ajuda obras humanitárias em todo o mundo), que doa recursos significativos para a obra de restauração do hospital.

Outra ação marcante de Gileno Lima foi promover o retorno à casa do ilustre cirurgião Augusto Leite, para as comemorações do Jubileu de Ouro da primeira laparotomia (cirurgia abdominal) feita em Sergipe, em 1914. Conto-lhes o que se sucedeu. Corria o ano de 1962 – ano do Centenário do Hospital Santa Isabel - e com a aproximação da data, Gileno prepara uma solenidade para a inauguração das novas instalações do complexo cirúrgico, a quem denomina de “CENTRO CIRÚRGICO Dr. AUGUSTO LEITE.” Superando todas as dificuldades e apelando para a interferência de  amigos fraternos de Augusto Leite, (que prometera nunca mais pisar os pés no hospital após divergências com a diretoria da entidade), o velho cirurgião finalmente cede aos apelos e comparece ao ato inaugural. Duas grandes surpresas, porém, ainda estavam reservadas. Com mãos firmes e técnica ainda apurada, mesmo com idade já avançada, Augusto Leite repete o procedimento cirúrgico realizado 50 anos atrás, em uma paciente com fibrossarcoma uterino. Sensibilizado com a iniciativa da direção do   Santa Isabel, Augusto Leite, num gesto magnânimo, doa à entidade o BISTURI DE OURO, que havia recebido em 1958, dos seus colegas do Hospital de Cirurgia, por ocasião do Jubileu de Ouro de sua formatura. O bisturi é recebido com todo o carinho pelo Hospital Santa Isabel, que o instala numa redoma iluminada encravada nas paredes centenárias da instituição. Esse episódio é um dos mais marcantes da medicina sergipana e tem em Gileno Lima o seu idealizador e principal articulador.

 Disse Augusto Leite, naquela oportunidade: “ Não há quem possa dizer, nem pressagiar, em termos seguros, a grandeza de seu futuro, nesse seu grande voo de progressos. Estamos tranquilos. Gileno está com ele; está dentro dele, com alma e coração.” E conclui: “Cada instrumento tem uma história. O bisturi conta a história de todos. Ainda estudante, o bisturi me abria caminho à cirurgia, circunscrito às pequenas operações de estreante. Embalou-me, cedo, nas suas promessas, instigado pelos pequenos sucessos operatórios. Não parou mais. Não tive mais sossego aqui, no  Santa Isabel. A história é longa. Chegou afinal à maturidade; envelheceu, radiante, no trabalho. Homenagearam-no, certa feita. Vestiram-no de ouro. Milagres da bondade e generosidade de colegas do Hospital de Cirurgia. Voltou, de surpresa, à Casa Materna. Sentiu-se feliz, acolhido por Gileno Lima. Aqui está, na sua casinha iluminada, a recordar, com santo orgulho, a história da cirurgia em Sergipe”, arremata.

Tempos depois, o bisturi desapareceu de sua casinha iluminada, nem a parede existia, dele não mais se sabia o paradeiro. Conseguimos recuperá-lo e, doado pelo Hospital Santa Isabel, encontra-se hoje no Museu Médico de Sergipe, devidamente restaurado e guardado, como símbolo da Medicina de Sergipe.

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Geraldo Milton com o Medalhão da Academia Sergipana de Medicina, em 2004

28/12/2014 

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História

Parte 2

No artigo anterior, contei pra vocês um episódio marcante na vida de Gileno Lima, presidente de honra da Academia Sergipana de Medicina que foi o de trazer de volta ao Hospital Santa Isabel, em 1962, o médico Augusto Cezar Leite, para inaugurar as novas instalações do centro cirúrgico e, dois anos depois, em 1964, dessa vez para as comemorações do Jubileu de Ouro da primeira cirurgia abdominal feita em Sergipe, pelo notável cirurgião, em 1914.

   De espírito irrequieto, mesmo já aposentado, Gileno Lima não se afasta das atividades médicas e cabe-lhe, em 1994, desencadear o processo de fundação da Academia Sergipana de Medicina. Instigado pelo primo e médico baiano Geraldo Milton da Silveira, Gileno viaja a Salvador para um encontro com ele. Geraldo Milton presidia àquela época a Academia de Medicina da Bahia. 

Entusiasmado com a ideia de ver fundada a congênere sergipana, o ilustre esculápio baiano fornece-lhe estatutos da coirmã baiana e de outras congêneres,  alimentando-o com preciosas informações. De volta a Aracaju, Gileno forma uma comissão, composta pelos médicos Cleovansóstenes Aguiar, Alexandre Menezes, Hugo Gurgel, Osvaldo de Souza, José Leite Primo e Lauro Porto, para compor os primeiros quadros de patronos e outras providências devidas.

   Convidou-me então para ser um de seus fundadores, após eu colocar, na condição de presidente da SOMESE, toda a infraestrutura da entidade à disposição da comissão. Gileno sempre ressaltava esse fato. Dizia que o meu nome já estava há muito tempo aprovado em função da minha atuação em prol da categoria mas, na oportunidade, ele omite a informação. Somente depois da minha decisão, ele me comunica o fato.

   Gileno Lima poderia ter sido o primeiro presidente. Aliás, deveria. Declinou por humildade e amor à Academia. Queria que outros colegas compartilhassem desse momento de alegria e realização. No seu discurso, ele faz um histórico de todos os passos e ações para que a Academia se tornasse realidade. Traça um breve perfil de cada membro fundador e é aplaudido de pé pela assistência que lota o auditório.

   Em toda a história da Academia, foi um dos mais assíduos atores, vibrando com todas as suas ações e conquistas e se colocando sempre à disposição para colaborar no que fosse preciso. Tínhamos muito em comum. Fomos amigos e conselheiros. Trocávamos ideias e preocupações. Em várias ocasiões encontrávamos na livraria que eu mantinha na SOMESE e  ficávamos ali, por horas a fio, alimentando sonhos, escalando montanhas, cruzando  rios, perseguindo todos os arco-íris, sonhando com dias cada vez melhores para a nossa Academia.

   Gileno Lima partiu para a sua última morada em 5 de maio de 2006, privando-nos da sua companhia experiente e conciliadora. Mesmo sem a presença física, a sua obra permaneceu,  eterna e imortal a nos guiar, como facho de luz iluminando os nossos caminhos.

   Não poderia, do mesmo modo, deixar de falar de Geraldo Milton da Silveira

(foto). Nesse momento, é imperativo e dever de honra. De temperamento afirmativo e rígido defensor das suas teses e princípios, Geraldo esteve, ao longo de sua vida, sempre à frente das lutas e iniciativas das entidades médicas associativas, científicas e culturais da Bahia. Presidiu a Federação Brasileira de Gastroenterologia e a Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, comandou com brilhantismo o congresso nacional da entidade em Salvador. Foi também presidente da Academia de Medicina da Bahia e um dos mais atuantes e ferrenhos defensores da vetusta Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, a primeira escola médica do país, lutando pela sua recuperação e preservação. Era um entusiasta em tudo que fazia e muito rigoroso no cumprimento dos princípios que defendia.

   Mas o que eu gostaria mesmo de chamar a atenção é para a sua relação com a medicina de Sergipe. Ele notabilizou-se como um dos principais artífices para a fundação da nossa Academia, fornecendo a Gileno da Silveira Lima, seu primo e fraternal amigo, todas as informações necessárias para o processo de sua criação, fato que me parece justo ressaltar.

   Na sessão festiva de  instalação da nossa Academia, em 9 de dezembro de 1994, na condição de presidente da Academia de Medicina da Bahia, ele proferiu importante discurso de saudação aos seus confrades sergipanos. Veio da Boa Terra chefiando expressiva delegação, com destaque para os doutores Thomaz Rodrigues Porto da Cruz, filho ilustre da terra de Tobias Barreto, Alberto Serravalle, José Ramos de Queiroz, um dos fundadores da coirmã baiana e a professora Maria Tereza de Medeiros Pacheco, professora de Medicina Legal da Universidade Federal da Bahia.

  No discurso, Geraldo manifestou a sua grande satisfação em poder estar naquele momento 
testemunhando o nascimento de mais uma nova academia de Medicina e, sobretudo, a sergipana, para a qual deu todo o seu apoio e entusiasmo.

  Um ano após, em 1995, retornou para as comemorações do primeiro aniversário da Academia, assim se repetindo por ocasião dos festejos dos cinco anos de fundação e finalmente, pela quarta e última vez, na sessão comemorativa do primeiro decênio, ocorrida em 9 de dezembro de 2004, liderando novamente  outra delegação de notáveis baianos. Por tudo que fez pela criação e desenvolvimento da nossa Academia, Geraldo Milton da Silveira foi distinguido com o título de Sócio Emérito.

  O exemplo de vida de Geraldo Milton da Silveira, falecido em Salvador, com 81 anos, em 30 de julho de 2006, curiosamente quase três  meses após a morte do primo, Gileno Lima, permanecerá sempre presente para todos os que tiveram o privilégio de conhecê-lo e para os mais jovens, um caminho a ser seguido.

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Cleovansóstenes, Hamilton e este escriba: os 4 primeiros presidentes, 
sendo que Gileno é Presidente de Honra

02/01/2015

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História

Parte 3

  Com a morte dos primos Gileno da Silveira Lima e Geraldo Milton da Silveira, ocorrida curiosamente no mesmo ano, a questão da imortalidade volta à cena, não compreendida por alguns. No discurso proferido por ocasião da sessão de instalação da recém-fundada Academia Sergipana de Medicina e traduzindo o sentimento dos coirmãos baianos, Geraldo disse: “A imortalidade se traduz pela preservação e divulgação de feitos, trabalhos e pesquisas dos que nos antecederam, concretizando-se assim o pensamento de Alex Carrel ou, de certa forma, o trabalho desenvolvido pelos monges de Salerno”.

  A preservação da história, cujo entendimento e maior significado vêm sendo cada vez mais aceitos e exercitados no Brasil nos dias de hoje, sobretudo através das academias e dos institutos históricos, mantém acesa a chama da memória e o sentido da verdadeira imortalidade do pensamento e da ideia. O melhor retrato de um povo  é a sua memória, que nos propicia o entendimento para absorver as suas mutações. A história distorcida ou irremediavelmente perdida são crimes irreparáveis. As instituições lutam para evitar que tais danos se concretizem. Portanto, a imortalidade concebida por esta visão, nos distingue e engrandece.

  Coube ao acadêmico Cleovansóstenes Pereira de Aguiar a primazia de ser o primeiro presidente da Academia Sergipana de Medicina, de 1994 a 1996. A recusa de Gileno Lima em assumir a presidência, que vinha ao seu encontro por fluidez natural, levou a Academia a encontrar no sanitarista e professor Cleovansóstenes Aguiar o seu porto seguro, aclamado entusiasticamente pelos seus pares. Fato curioso é que tanto Gileno quanto ele, exerceram, no passado, o cargo de prefeito de Aracaju ambos, pois, com experiência administrativa. Sob o comando do sanitarista, a Academia teve o seu primeiro estatuto e regimento aprovados em assembleia. Com a habilidade e generosidade que lhe são peculiares, o eminente professor e homem público administrou com eficiência os dois primeiros anos de existência da Academia, normalmente anos difíceis para qualquer instituição.  No momento da instalação, em 1994, o quadro inicial de patronos totalizava 35 membros e não os 40 previstos na fundação. O seu modelo se baseava na Académie Française, fundada em 1635 pelo cardeal Richelieu, que acabou se tornando o paradigma das academias modernas, tradicionalmente composta por 40 membros, sendo uma das mais antigas instituições da França. Tivemos a oportunidade, eu e Henrique Batista, em momentos distintos, de visitá-la em caráter oficial, no meu caso, com cartas de apresentação assinadas pelo Dr. Ary de Christan, presidente da Federação Brasileira de Academias de Medicina e pelo Dr. Pedro Kassab, ex-presidente da AMB e pai do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

   Pois bem. Instalar inicialmente a Academia sergipana com 35 patronos mostrou-se, no futuro, uma decisão prudencial e sábia dos seus organizadores, com o objetivo de minimizar injustiças. No final do primeiro decenário de existência da Academia, esse quadro estava complementado, bem como gradativamente foram sendo eleitos e empossados os primeiros ocupantes a partir da cadeira 27, sucessivamente, começando em 1998. Até então, nos primeiros quatro anos, a Academia funcionou apenas com os seus vinte e seis membros titulares, que assinaram a ata de fundação.

    Dirigiu a Academia, a partir de 1996, o acadêmico José Hamilton Maciel Silva, dando sequência a sua vida de dedicação ao associativismo, depois de presidir o Conselho Regional de Medicina e a Sociedade Médica de Sergipe, com idêntico sucesso e empreendedorismo.  Na sua gestão foram eleitos e empossados os  acadêmicos William Eduardo Nogueira Soares, na cadeira 27 – Patrono: Maria do Céu Santos Pereira; Anselmo Mariano Fontes, na cadeira 28 – Patrono: Nélson Melo; Sinval Andrade dos Santos, na cadeira 29 – Patrono: Oscar Nascimento; Gilmário Macedo de Oliveira, na cadeira 36 – Patrono: Lourival Bomfim.

   Foi ainda na gestão do Acadêmico José Hamilton Maciel Silva que foi criado o brasão da Academia, mais precisamente em 1997, pelo publicitário Hélvio Dória Maciel Silva, seu filho e prematuramente falecido no primeiro semestre deste ano. A sua sólida formação humanista, sociológica e filosófica foram de fundamental importante para alicerçar, em imagem, todo o simbolismo da nossa Academia.

   A logomarca da Academia Sergipana de Medicina evoca a medicina através do seu símbolo maior, visto no alto. No quadrante superior esquerdo, está representado o objeto maior da ciência médica: o homem. Abaixo, no quadrante inferior direito, a pena, com a qual são registrados os progressos científicos. Nos quadrantes  superior direito e inferior esquerdo os símbolos representam a visão holística a serviço do bem-estar da humanidade e do povo do Estado de Sergipe. Os louros homenageiam a todos aqueles que, alicerçados nos pilares da ética, do humanismo e da busca científica, alcançam sucesso glorificando a profissão médica, na busca incessante do diagnóstico e tratamento. Daí a expressão contida na faixa verde com letras brancas: “Ubi est Morbus” - Onde está a doença? Somente uma pessoa com sólida bagagem intelectual, formação humanista e sensibilidade, predicados existentes em Hélvio Dória Maciel Silva, poderia expressar em imagem todo o contexto da visão e missão da entidade. 

  Durante o mandato de José Hamilton Maciel Silva foi comemorado o Centenário de Nascimento do Dr. Lauro Hora, patrono da cadeira 25, cabendo à acadêmica Zulmira Freire Rezende, ocupante da cadeira, proferir o discurso de saudação ao eminente médico sergipano. Era a Academia Sergipana de Medicina começando a escrever História, nos seus primeiros cinco anos de existência. Muita coisa ainda estaria por vir, mas contarei na próxima 

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ASM nos 10 anos: Hamilton, Roberto Santos, Paes, Eduardo e Gileno Lima

11/01/2015  

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História

Parte 4

  Cinco anos se passaram desde a memorável noite de 9 de dezembro de 1994, na sede da Somese, quando foi instalada oficialmente a Academia Sergipana de  Medicina. Estamos agora em 1999. Por uma deferência dos queridos confrades, à frente Gileno Lima, fui eleito como terceiro presidente da entidade, em março desse ano. Meses depois, mais precisamente em outubro, assumi em paralelo a recém-criada Diretoria de Economia Médica da Associação Médica Brasileira, atendendo convite do Dr. Eleuses Paiva. Essa nova atribuição, no entanto, não foi suficiente para diminuir o meu entusiasmo com a nossa Academia.

   Alguns fatos merecem destaque nesse período: a filiação à Federação Brasileira de Academias de Medicina – FBAM -, graças ao decisivo apoio do Dr. Waldenir de Bragança, que veio a Sergipe especialmente para fazer a entrega oficial do diploma legal. Destaco também a realização, em Aracaju, de 4 a 9 de maio de 2001, do Encontro Nacional das Academias de Medicina, com a ilustre presença do presidente da Academia Nacional de Medicina, professor Aloysio de Salles Fonseca e de diversos presidentes de academias de medicina de todo o país, inclusive o da FBAM, o Dr. Ary de Christan, do Paraná.

   Nesse mandato, a academia obteve o título de Utilidade Pública Municipal, graças a projeto da vereadora Jane Melo, sancionado em lei pelo prefeito de então, o saudoso governador Marcelo Déda, que compareceu pessoalmente à sede da Academia, acompanhado do seu vice- prefeito Edvaldo Nogueira, para fazer a entrega do documento.

  Ainda em nossa administração foram eleitos e empossados os acadêmicos Henrique Batista e Silva, na Cadeira 31 – Patrono: Paulo de Figueiredo Parreiras Horta; Antônio Samarone, na Cadeira 32 – Patrono: Renato Mazze Lucas; e Manoel Hermínio de Aguiar Oliveira, na Cadeira 33 – Patrono: Roosevelt Dantas Cardoso Menezes, todas as posses ocorrendo em 2001.

  Uma sessão solene marcou a homenagem aos acadêmicos falecidos Antônio Garcia Filho e Antônio Fernando Dantas Maynard, que foram saudados pelos acadêmicos Francisco Prado Reis e Luiz Hermínio de Aguiar Oliveira, respectivamente. Trouxemos a Sergipe os professores Antonio Carlos Lima Pompeo e Carlos da Silva Lacaz, que proferiram conferências magistrais. Ambos foram homenageados com títulos honoríficos da Academia.

  O acadêmico Hyder Bezerra Gurgel, membro fundador da cadeira de número três, que tem como patrono Augusto Leite, sucedeu-me no comando da Academia Sergipana de Medicina, de 2001 a 2003. Na sua administração, em 2001, ocorreram as posses  das acadêmicas Déborah Pimentel, na Cadeira 34 – Patrono: Theotonílio Mesquita; e Geodete Batista, na Cadeira 37 – Patrono: José Machado de Souza.

De 2003 a 2005, ano comemorativo do seu primeiro decenário, a Academia foi conduzida pelo médico Eduardo Antônio Conde Garcia, cientista e ex-reitor da UFS. A sessão solene para celebrar o 10º aniversário foi marcante e contou com a presença do renomado professor Antônio Paes de Carvalho (RJ), da Academia Nacional de Medicina, a quem lhe foi conferido, na oportunidade, o título de Sócio Emérito. Da Bahia, desembarcou uma delegação de dez médicos, liderada  por Thomaz Cruz, então presidente da congênere baiana e orador oficial da sessão. Entre os baianos, as presenças de Geraldo Milton da Silveira, Antônio Jesuíno Neto, Roberto Santos ( ex-governador da Bahia), do casal Zilton e Sonia Andrade, de Rodolfo Teixeira, Nelson Barros, Aleixo Sepúlveda e José de Souza Costa.

  Na administração de Garcia foram empossados os acadêmicos Marcos Ramos Carvalho, na Cadeira 30 – Patrono: Octávio Martins Penalva e Antonio Carlos Sobral Sousa, na Cadeira 38 – Patrono: Walter Cardoso. Fato marcante para a preservação da memória da medicina sergipana foi a confecção de uma placa de bronze contendo os nomes de todos os professores pioneiros da Faculdade de Medicina de Sergipe, com suas respectivas disciplinas. Essa histórica placa encontra-se afixada na sede da Sociedade Médica de Sergipe, em posição de destaque. A Academia de Medicina da Bahia também foi homenageada, sendo agraciada com uma placa de bronze em agradecimento pela sua participação na fundação da coirmã sergipana. Nesse período foi comemorado o centenário de nascimento do patrono da Cadeira 4, Benjamim Alves de Carvalho e a Academia obteve o Título de Utilidade Pública Estadual, por propositura da deputada Angélica Guimarães e lei sancionada pelo governador João Alves Filho.

  Com participação em diversos eventos nacionais promovidos pelas coirmãs e pela FBAM, em Belo Horizonte, São Paulo, Brasília, Niterói, São Luiz, Maceió, João Pessoa e Recife, a Academia Sergipana de Medicina foi se consolidando a cada ano e novas ações viriam com a posse da primeira mulher, a médica e psicanalista Déborah Pimentel, no comando da entidade, nas eleições ocorridas em 2008.

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Acadêmicos em sessão de posse

23/01/2015 

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História

Parte 5

  A médica e psicanalista Déborah Pimentel foi a primeira mulher a presidir a Academia Sergipana de Medicina e a primeira a ser reeleita para a função. Nos seus dois mandatos  à frente do sodalício, de 2005 a 2010, ele deu posse ao endocrinologista Raimundo Sotero de Menezes na Cadeira 40 – Patrono: Israel  Bonomo e ao coloproctologista Marcos Aurélio Prado Dias, na Cadeira 39 – Patrono: João Gilvan Rocha, em 2006; ao otorrinolaringologista Jeferson D’Avila Sampaio, na Cadeira 7 – Patrono: Carlos Firpo; ao oncologista José Geraldo Dantas Bezerra, na Cadeira 10 – Patrono: Edelzio Vieira de Melo, ao cardiologista Marcos Almeida Santos, na Cadeira 21 – Patrono: Abreu Fialho e ao dermatologista Fedro Menezes Portugal, na Cadeira 22 – Patrono: Aloysio Andrade, todos no ano de 2007;

  Em 2008, foram empossados o otorrinolaringologista Marcelo da Silva Ribeiro, na Cadeira 5 – Patrono: Canuto Garcia Moreno; o mastologista Virgílio Fernandes Araújo, na Cadeira 8 – Patrono: Clóvis Conceição; ao neurologista Roberto César Pereira do Prado, na Cadeira 12 – Patrono: Eronides Carvalho, ao médico do trabalho Paulo Amado Oliveira, na Cadeira 20 – Patrono: José Thomaz D’Ávila Nabuco; à reumatologista Elizabete Tavares, na Cadeira 24 – Patrono: Júlio Flávio Leite Prado  e  em 2009 foi a vez da médica anestesista Maria Helena Domingues Garcia, na Cadeira 23 – Patrono: Juliano Simões.

  Ainda na administração da acadêmica Déborah Pimentel foi aprovado, em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 28 de novembro de 2007, o novo Estatuto Social e o Regimento Interno e em 2009 foi comemorado o centenário do patrono Edelzio Vieira de Melo. Um ponto a destacar foi a conferência sobre a Vida e a Obra de Delmiro Gouveia, proferida pelo acadêmico alagoano Geraldo Vergetti.

  Outro registro marcante em 2009 foi a comemoração do 15º aniversário de fundação da Academia, oportunidade em que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou o Selo comemorativo à efeméride, em momento único e esplendoroso. O mandato de Déborah foi concluído de forma exitosa com o lançamento, em 2010, do Dicionário Biográfico de Médicos de Sergipe, uma obra inédita em todo o país e que obteve extraordinária repercussão. Tive a felicidade, ao lado dos colegas Antônio Samarone e Petrônio Gomes, de ser um dos coautores da obra. Em 2015, a sua segunda edição, revista e ampliada, deverá será lançada, contando, novamente, com o patrocínio da Universidade Tiradentes, que entendeu de imediato, desde o primeiro momento, a importância da obra, viabilizando sua publicação. Tal gesto de magnitude e respeito à Medicina de Sergipe coincidiu com o lançamento do seu curso médico e agora, com o patrocínio da segunda edição, da formatura da primeira turma, que vai acontecer no final deste ano.

  Gentil e elegante também foi a decisão da Reitoria em denominar as suas salas de aula com  os nomes de todos os membros titulares da Academia Sergipana de Medicina. Uma distinção e reverência dignificantes. Nas comemorações do 20º aniversário da Academia, ocorridas no final do ano passado, a participação da notável instituição de ensino genuinamente sergipana, foi ressaltada e reconhecida. Ainda nessa profícua administração, a Academia comemorou o centenário de nascimento do patrono Lourival Bomfim, em noite memorável.

  Déborah Pimentel foi sucedida na presidência por Fedro Menezes Portugal, que comandou a entidade de 2010 a 2014, sendo o segundo presidente a ser reconduzido por seus pares. Entre as suas realizações destacamos as comemorações do Jubileu de Ouro da Faculdade de Medicina de Sergipe, ocorrido em 2011, quando foram homenageados os professores pioneiros, especialmente o professor Antônio Garcia Filho, com a inauguração de sua herma nos jardins do Hospital Universitário. Colóquios, seminários, sessão solene conjunta da Academia de Medicina com a Academia de Letras e o Concerto do Jubileu, com a Orquestra Sinfônica de Itabaiana, fizeram parte da vasta programação comemorativa, que teve o apoio integral da UFS, Unimed e Somese.

  Na sua administração, Fedro empossou  o cirurgião cardíaco Vollmer Bomfim, na Cadeira 16 – Patrono: Hercílio Cruz e o dermatologista Emerson Ferreira da Costa, na Cadeira 24, vaga com a morte da acadêmica Elizabete Tavares, ocorrida em 2011.

  Foram ainda comemorados os centenários de nascimento dos patronos Carlos Melo, Roosewelt Dantas Menezes, Lucilo da Costa Pinto, Lauro de Brito Porto e Benedicto Guedes e realizado uma sessão solene em homenagem póstuma aos médicos Marcos Aurélio Prado Dias e Gilton Machado Rezende. Em outubro de 2013, graças ao empenho do presidente Fedro Portugal, foi reativada a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Sobrames Sergipe. Foi na sua gestão que aconteceram as noites gloriosas da Cirurgia, da Ginecobstetrícia e da Pediatria, homenageando vultos das três especialidades. Duas ilustres personalidades abrilhantaram sessões solenes da Academia em 2012 e 2013: o médico e padre Anibal Gil, da UERJ  e Genival Veloso de França, da Paraíba, respectivamente.  As administrações de Déborah Pimentel e Fedro Portugal foram das mais operantes na história dos vinte anos da Academia, com muitas celebrações e posses, que ajudaram a consolidar cada vez mais a entidade no contexto da vida médica, cultural e histórica do Estado.
  Finalmente, em 2014, foi empossado no comando da entidade o médico Paulo Amado Oliveira, em cuja gestão se encontra comungados o entusiasmo e a dedicação, razão pelas quais suas realizações já podem ser contadas. E é exatamente o que farei na próxima semana, dando por encerrada essa série que rememora a trajetória de 20 anos da Academia Sergipana de Medicina.

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Paulo Amado, à esquerda,  com ex-presidentes da ASM

31/01/2015  

Academia Sergipana de Medicina – 20 anos na História


Parte 6 - Final

Em apenas oito meses de gestão, Paulo Amado Oliveira, empossado em 23 de abril de 2014 na presidência da Academia, deu seguimento às ações empreendidas pelos seus antecessores e foi mais além, ao deslumbrar a possibilidade de realização de parcerias estratégicas. Prova disso foi estimular e colaborar decisivamente para o início das atividades da Sobrames – Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional Sergipe, reativada na administração anterior. Para demonstrar que o apoio à Sobrames não era uma simples formalidade, fez questão de participar, ao nosso lado, do XXV Congresso Nacional da entidade, ocorrido na cidade de Recife, em outubro, onde manteve importantes contatos com lideranças médicas brasileiras.

  Visionário, liderou movimento pioneiro em todo o país, o de congregar as entidades culturais do Estado em torno de parcerias de cooperação mútua, conforme pôde se observar pela sessão ocorrida em novembro do ano passado e que colocou, numa mesma mesa, a Academia Sergipana de Letras, a Associação Sergipana de Imprensa e o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, fazendo renascer, em parceria com este último, o  Concurso de História da Medicina de Sergipe, em sua quarta edição, cuja ação ocorrerá ainda esse ano. Outra ação conjunta já definida pelas duas entidades será a realização do Colóquio de História da Medicina, em outubro vindouro, como parte da programação comemorativo do Dia do Médico.

   Outra ação marcante foi a Noite dos Anestesistas, dando sequencia à série iniciada na gestão anterior, com as homenagens aos cirurgiões, ginecologistas e obstetras e pediatras. Dessa vez, em parceria com a Cooperativa dos Anestesiologistas do Estado de Sergipe e da Sociedade de Anestesiologia, a Academia homenageou anestesistas sergipanos de todas as gerações. Foi uma noite esplendorosa para a Medicina sergipana. Em 2015, já posso adiantar, a Academia Sergipana de Medicina vai realizar a Noite dos Psiquiatras.

  Em setembro de 2014, ocorreu a posse do médico endocrinologista João Antonio Macedo Santana na Cadeira 39 – Patrono: João Gilvan Rocha. Ele sucedeu ao fundador da cadeira, o médico Marcos Aurélio Prado Dias. Com a posse de Macedo, o ano terminou com todas as quarenta cadeiras ocupadas.

  Novas ações começam agora a ser planejadas e trabalhadas visando a ampliação e preservação da memória médica. Gestões vêm sendo implementadas objetivando a fundação do Memorial da Medicina de Sergipe, em local apropriado para tal fim. Em 2016, quando a Academia Sergipana de Medicina terá a honra de receber, em Aracaju, as Academias de Medicina de todo o país para a realização de mais um Conclave nacional, quem sabe já não teremos o Memorial em funcionamento? Vale ressaltar o  trabalho habilidoso e diplomático do atual presidente Paulo Amado, no último encontro ocorrido em João Pessoa, para viabilizar a captação de tão importante evento, que foi alcançado com a aprovação unânime de todas as academias estaduais.

  Eis, pois, a trajetória vitoriosa da nossa Academia, no instante em que ela comemora o seu Jubileu de Porcelana, em 20 anos de muitas realizações. O presente é a construção da história, da tradição e da cultura. A história é o relato dos fatos que sejam dignos de menção e consideração. A Academia Sergipana de Medicina, a Casa de Gileno Lima, tem por missão preservar a história, a tradição e a cultura da medicina sergipana para, na sua perenidade, deixar esse legado cultural de hoje para o porvir do amanhã.

  A morte, companheira inseparável da vida, tirou do nosso convívio os médicos fundadores Álvaro Santana, Eduardo Vital Santos Melo, José Maria Rodrigues Santos, Antônio Fernando Dantas Maynard, Antônio Garcia Filho, Osvaldo Leite, Nestor Piva, José Leite Primo, Gileno Lima e Lauro Porto, a confreira Elizabete Tavares e por último, o acadêmico Marcos Aurélio Prado Dias, querido amigo, companheiro e irmão. Fizeram todos a grande viagem sem retorno, mas permanecem vivos, na memória afetiva de nossa saudade imorredoura.

  Tenho um carinho todo especial pela Academia Sergipana de Medicina, não somente porque nela adentrei ainda jovem, pelo beneplácito unânime da comissão organizadora comandada por Gileno Lima e outros insignes descendentes de Hipócrates, mas principalmente por ver nela um campo fértil para a preservação da memória médica  de Sergipe.

  Tomando por empréstimo as palavras de Thomaz Cruz, proferidas na sessão comemorativa ao decenário da nossa Academia, ocorrida em dezembro de 2004, lembro que “sonhos e feitos  se relacionam porque realizações costumam resultar de aspirações. Às vezes, os feitos se confundem ou se dissolvem em sonhos, mas quando anseios se cristalizam e se tornam história há que comemorar, sobretudo se o caminho é percorrido com afinco, dedicação, pujança”.

  Tal tem sido a trajetória da Academia Sergipana de Medicina. Vida longa, pois, para ela!

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/lucioapradodias

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