Publicado originalmente no Blog Luiz Eduardo Costa
Rochinha lembrando um exemplo de ontem
Por Luiz Eduardo Costa
Rochinha, que aqui referimos, é o Dr. José Francisco da
Rocha, advogado, professor da UFS aposentado, ex-Juiz eleitoral e ativíssimo obreiro
maçônico, há sessenta anos frequentando, influindo, comandando, orientando a
Loja Maçônica Cotinguiba. É também assíduo frequentador de uma academia de
ioga, isso aos 91 anos.
O exemplar Dr. Rochinha
Num dia desses, Rochinha que é um “causer” desses que
conferem prazer e gosto ao bate papo, lembrava de algumas figuras públicas de
Sergipe, entre elas de Sálvio Oliveira, também, como ele, obreiro da
Cotinguiba. Sálvio faleceu em 1986 quando se aproximava dos cem anos. Vindo de
Cícero Dantas na Bahia, iniciou-se no comércio e chegou a criar, com um sócio
judeu, uma firma de exportação de açúcar. O negócio cresceu muito, mas, na
depressão econômica mundial (1929 – 1934), seu negócio fechou as portas,
falido. Sálvio dedicou-se então a pagar todas as dívidas, limitou seu
patrimônio a casa onde residia, mas não deixou um só credor com uma promissória
sem resgate na mão. Já havia se envolvido em todas as revoltas dos anos vinte
chefiadas pelo tenente Maynard, que, com a vitória da revolução de 1930, tornou-se
interventor em Sergipe. Então, convidou seu amigo de absoluta confiança, Sálvio
Oliveira, para ser o Diretor do Tesouro Estadual. Sálvio estabeleceu um estilo
de rigor com o dinheiro público e mantinha equilibradas as precárias finanças.
Esse estilo, fez com que todos os governadores que se sucederam após a
redemocratização o convocassem para permanecer no cargo.
Quando Leandro Maciel assumiu o governo em 1955, levando
pela primeira vez ao poder a UDN, derrotada duas vezes antes e com ímpetos de
revanche, criou as Mesas Redondas, uma espécie de devassa pelos governos
passados. Convocava servidores públicos para interrogatórios transmitidos pelas
emissoras Liberdade e Difusora. Havia uma chuva de acusações ao governo passado
de Arnaldo Rollemberg Garcez, que era um homem rigorosamente honesto e herdeiro
de grande fortuna. Alguns servidores aproveitavam-se para agradar ao novo poder
instalado, despejando críticas no anterior. Chegou a vez de Sálvio Oliveira,
ele fez um relato sucinto e seguro das finanças públicas, prestou contas sempre
se referindo respeitosamente ao ex-governador Arnaldo Rollemberg Garcez, sem
preocupar-se em agradar o que chegava. Finda a exposição, respondido todos os
questionamentos, Leandro Maciel tomou a palavra e disse: “Estamos diante de um
servidor que honra o serviço público e engrandece o seu cargo, eu o convido,
publicamente, para que ele permaneça no cargo que ocupa. Meu governo precisa de
homens probos”. Sálvio Oliveira aposentou-se no limite da idade. Até então
nunca tivera um automóvel, nem usara carros oficiais, a não ser para viajar ao
interior. E lembra Rochinha: “usando invariavelmente um terno branco, gravata
preta e um guarda chuva à mão, ele saía da sua casa na Barão de Maruim, ia e
voltava caminhando do trabalho, nos dois expedientes. Passou à inatividade com
proventos razoáveis, uma aposentadoria que o amigo e ético Aloísio de Campos
sugeriu ao governador que a Sálvio fosse concedida.
Aposentado, criou, com o filho Augusto Barreto e o cunhado
jornalista e Promotor Paulo Costa, uma firma de representação. Vendia pianos
Brasil, motonetas, produtos químicos e representava a fábrica gaúcha de armas e
munições Amadeu Rossi. Então, comprou um carro para a filha solteira Virgínia,
que o levava para aonde ele desejasse. Em 1980, Heráclito Rolemberg, presidindo
a Assembleia Legislativa, entregou a Sálvio Oliveira o título de Cidadão
Sergipano. O sertanejo que pouco frequentou a escola mas se fez com brilho um
autodidata, pronunciou um discurso emocionante, contando a sua vida.
Texto e imagem reproduzidos do blogluizeduardocosta.com.br
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