sábado, 12 de maio de 2018

Rochinha lembrando um exemplo de ontem


Publicado originalmente no Blog Luiz Eduardo Costa

Rochinha lembrando um exemplo de ontem

Por Luiz Eduardo Costa

Rochinha, que aqui referimos, é o Dr. José Francisco da Rocha, advogado, professor da UFS aposentado, ex-Juiz eleitoral e ativíssimo obreiro maçônico, há sessenta anos frequentando, influindo, comandando, orientando a Loja Maçônica Cotinguiba. É também assíduo frequentador de uma academia de ioga, isso aos 91 anos.

O exemplar Dr. Rochinha

Num dia desses, Rochinha que é um “causer” desses que conferem prazer e gosto ao bate papo, lembrava de algumas figuras públicas de Sergipe, entre elas de Sálvio Oliveira, também, como ele, obreiro da Cotinguiba. Sálvio faleceu em 1986 quando se aproximava dos cem anos. Vindo de Cícero Dantas na Bahia, iniciou-se no comércio e chegou a criar, com um sócio judeu, uma firma de exportação de açúcar. O negócio cresceu muito, mas, na depressão econômica mundial (1929 – 1934), seu negócio fechou as portas, falido. Sálvio dedicou-se então a pagar todas as dívidas, limitou seu patrimônio a casa onde residia, mas não deixou um só credor com uma promissória sem resgate na mão. Já havia se envolvido em todas as revoltas dos anos vinte chefiadas pelo tenente Maynard, que, com a vitória da revolução de 1930, tornou-se interventor em Sergipe. Então, convidou seu amigo de absoluta confiança, Sálvio Oliveira, para ser o Diretor do Tesouro Estadual. Sálvio estabeleceu um estilo de rigor com o dinheiro público e mantinha equilibradas as precárias finanças. Esse estilo, fez com que todos os governadores que se sucederam após a redemocratização o convocassem para permanecer no cargo.

Quando Leandro Maciel assumiu o governo em 1955, levando pela primeira vez ao poder a UDN, derrotada duas vezes antes e com ímpetos de revanche, criou as Mesas Redondas, uma espécie de devassa pelos governos passados. Convocava servidores públicos para interrogatórios transmitidos pelas emissoras Liberdade e Difusora. Havia uma chuva de acusações ao governo passado de Arnaldo Rollemberg Garcez, que era um homem rigorosamente honesto e herdeiro de grande fortuna. Alguns servidores aproveitavam-se para agradar ao novo poder instalado, despejando críticas no anterior. Chegou a vez de Sálvio Oliveira, ele fez um relato sucinto e seguro das finanças públicas, prestou contas sempre se referindo respeitosamente ao ex-governador Arnaldo Rollemberg Garcez, sem preocupar-se em agradar o que chegava. Finda a exposição, respondido todos os questionamentos, Leandro Maciel tomou a palavra e disse: “Estamos diante de um servidor que honra o serviço público e engrandece o seu cargo, eu o convido, publicamente, para que ele permaneça no cargo que ocupa. Meu governo precisa de homens probos”. Sálvio Oliveira aposentou-se no limite da idade. Até então nunca tivera um automóvel, nem usara carros oficiais, a não ser para viajar ao interior. E lembra Rochinha: “usando invariavelmente um terno branco, gravata preta e um guarda chuva à mão, ele saía da sua casa na Barão de Maruim, ia e voltava caminhando do trabalho, nos dois expedientes. Passou à inatividade com proventos razoáveis, uma aposentadoria que o amigo e ético Aloísio de Campos sugeriu ao governador que a Sálvio fosse concedida.

Aposentado, criou, com o filho Augusto Barreto e o cunhado jornalista e Promotor Paulo Costa, uma firma de representação. Vendia pianos Brasil, motonetas, produtos químicos e representava a fábrica gaúcha de armas e munições Amadeu Rossi. Então, comprou um carro para a filha solteira Virgínia, que o levava para aonde ele desejasse. Em 1980, Heráclito Rolemberg, presidindo a Assembleia Legislativa, entregou a Sálvio Oliveira o título de Cidadão Sergipano. O sertanejo que pouco frequentou a escola mas se fez com brilho um autodidata, pronunciou um discurso emocionante, contando a sua vida.

Texto e imagem reproduzidos do blogluizeduardocosta.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário