sábado, 2 de junho de 2018

Dom Luciano José Cabral Duarte (1925 - 2018)

Foto: arquivo UFS
Reproduzida do site: ufs.br

Texto publicado originalmente no site da UFS, em 30 de maio de 2018
  
UFS determina luto oficial pelo falecimento de dom Luciano José Cabral Duarte

Ele foi professor aposentado e emérito e um dos fundadores da UFS

O reitor Angelo Antoniolli assinou portaria determinando luto oficial de três dias por conta do falecimento de dom Luciano José Cabral Duarte (veja a portaria aqui). Professor aposentado e emérito e um dos fundadores da UFS, o arcebispo emérito de Aracaju faleceu na tarde de ontem, 29, aos 93 anos.

Natural de Aracaju, Dom Luciano nasceu em 1925 e foi ordenado sacerdote em 1948. Foi professor e primeiro diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Com honras, obteve doutorado em Filosofia pela Sorbonne e foi o primeiro presidente do Conselho Diretor da UFS.

Homenagem

Dom Luciano foi um dos homenageados na cerimônia dos 50 anos da instituição, que ocorreu no último dia 15 de maio. Leia aqui o texto produzido por Ednalva Freire Caetano, pró-reitora de Gestão de Pessoas, que refez a trajetória de dom Luciano.

Ascom

comunica@ufs.br

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Morre Dom Luciano Cabral Duarte aos 93 anos


Um dos fundadores da UFS, foi primeiro presidente do Conselho Diretor e arcebispo emérito de Aracaju


Faleceu na tarde desta terça-feira, 29, aos 93 anos, o arcebispo emérito de Aracaju e um dos fundadores da Universidade Federal de Sergipe, Dom Luciano Cabral Duarte.

Natural de Aracaju, Dom Luciano nasceu em 1925 e foi ordenado sacerdote em 1948. Foi professor e primeiro diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Com honras, obteve doutorado em Filosofia pela Sorbonne e foi o primeiro presidente do Conselho Diretor da UFS.

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Homenagem

Dom Luciano foi um dos homenageados na cerimônia dos 50 anos da instituição, que ocorreu no último dia 15 de maio. Abaixo, leia o texto produzido por Ednalva Freire Caetano, pró-reitora de Gestão de Pessoas, que refez a trajetória de Dom Luciano:

“O movimento em prol da criação da universidade envolveu muitos atores sociais como o Estado, a Igreja, os intelectuais os estudantes e a sociedade em geral. Vários nomes se destacaram nessa criação, porém, na impossibilidade de retratarmos todos eles, a nossa homenagem é dirigida a uma figura que, pelo grau de envolvimento, se destacou nesse processo.

No dia 12 de março de 1951 foi instalada a Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, funcionando provisoriamente no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, em reunião da congregação na qual foi eleito o Padre Luciano Cabral Duarte como primeiro diretor. Como professor, lecionou Filosofia, Latim e Psicologia. Para abrir novos caminhos e preocupado com a excelência do seu trabalho, foi doutorar-se em Filosofia pela Sorbonne, na França, cuja tese foi defendida em 1957 obtendo a menção ‘trés honorable’.

Em 1963, D. Luciano José Cabral Duarte é nomeado para o Conselho Estadual de Educação, assumindo, em seguida a presidência da Câmara de Ensino Superior. É, então, designado pelo Secretário de Educação, Luiz Rabelo Leite, para coordenar um grupo de trabalho, visando à criação de uma universidade federal em Sergipe.

Logo após o ato de criação da Fundação Universidade Federal de Sergipe foi nomeado o Conselho Diretor que ficou encarregado de elaborar os estatutos da nova fundação. No dia 30 de setembro de 1967 D. Luciano foi eleito Presidente da Fundação Universidade Federal de Sergipe função que exerceu durante três mandatos consecutivos de dois anos.

Em 07 de março de 1968 D. Luciano foi nomeado membro do Conselho Federal de Educação, onde permaneceu por mais de quinze anos.

A contribuição de D. Luciano Cabral Duarte para a criação, instalação e manutenção da Universidade Federal de Sergipe nesses 50 anos é atestada por todos aqueles que tiveram o privilégio de participar da sua convivência.”

Ascom

comunica@ufs.br

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30 de maio de 2018

Dom Luciano Duarte: um dos esteios da criação da UFS

Por Angelo Roberto Antoniolli *

A UFS perdeu não apenas um professor aposentado e emérito, mas, especialmente, perdeu um dos esteios da sua criação

Não foi somente a Igreja Católica que perdeu o seu Arcebispo Emérito, Dom Luciano José Cabral Duarte. Sergipe inteiro perdeu. Perdeu um dos seus filhos mais ilustres. Em particular, a Universidade Federal de Sergipe também perdeu. E perdeu não apenas um professor aposentado e emérito, mas, especialmente, perdeu um dos esteios da sua criação.

A criação da Universidade Federal de Sergipe foi precedida de muitos embates, nos anos 1960. Calorosos. Desafiadores. Pensamentos opostos. Aspirações diferentes. No fundo, destacaram-se duas correntes, amiudadas, ambas, por algumas conotações periféricas. Uma corrente tinha sua liderança maior na pessoa do então Bispo Auxiliar de Aracaju, Dom Luciano Duarte, diretor da Faculdade Católica, e que viria a ser, depois, Arcebispo Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju (1971-1998). Costuma-se dizer que Dom Luciano Duarte representava as forças conservadoras. Ele tinha, todavia, um norte traçado, que atendia ao que preconizavam as diretrizes do governo federal para o ensino superior e, em particular, para a criação de Universidades, tanto na era do governo de João Goulart, quanto nos anos seguintes em que os militares governavam o Brasil. Do lado oposto ao prelado, despontavam estudantes, professores e outros segmentos sociais, que se posicionavam contra o anteprojeto elaborado pelo Bispo Duarte, ou por ele coordenado. Uma das vozes contrárias ao referido anteprojeto era a do professor e diretor da Faculdade de Medicina, Antônio Garcia Filho, católico, mas, nem por isso, adepto do pensamento do Bispo Auxiliar no que dizia respeito à criação da Universidade. A Faculdade de Direito, de natureza autárquica, também resistia à criação nos moldes preconizados pelo Bispo. Deu-se um embate entre os dois líderes através da imprensa, cada um defendendo as posições que abraçavam.

Uma das divergências da época dizia respeito à natureza jurídica que deveria ter a Universidade. Uns argumentavam que o ideal seria dar à Universidade a natureza fundacional, como era o caso de Dom Luciano. Outros alegavam que o certo seria dar-lhe a natureza autárquica, como entendia Antônio Garcia. Nessa questão, pairavam, naquele tempo, entendimentos jurídicos diferentes. As autarquias deveriam gozar de autonomia administrativa, a partir da própria nomenclatura. Já a fundação não gozaria da autonomia que tinha a autarquia. Temia-se, então, que as fundações ficassem a reboque do Ministério da Educação. Ora, tanto as autarquias quanto as fundações eram, como ainda o são, vinculadas a um órgão público (Ministério, no caso federal, ou Secretaria, no caso estadual, distrital ou municipal). Em suma, salvo algumas particularidades, autarquias e fundações equivalem-se. Ao menos, para fins de suporte orçamentário-financeiro que advém da administração direta, como é o caso específico das Universidades federais.

Ao que tudo indicava as duas Faculdades mais expressivas em termos de visibilidade social, Medicina e Direito, sem desmerecer as demais, pois cada uma tinha a sua importância no seio da sociedade sergipana, juntavam-se contra o anteprojeto conduzido por Dom Luciano Duarte. Sem dúvida, eram duas forças consideráveis. Professores e alunos formavam fileiras contra a forma como era conduzida a situação. Todavia, o Bispo tinha muita força social e também nos meios políticos. Dom Luciano era uma voz ouvida e respeitada, apesar de ainda muito novo. Como membro do Conselho Federal de Educação, conhecia o que se passava nas raias do poder.

As aspirações dos sergipanos por uma Universidade vinham da década de 1950 e aumentariam na década seguinte, especialmente após a criação da Faculdade de Medicina, no mandato do governador Luiz Garcia (1959-1962). Atravessou os governos de Juscelino Kubitscheck, Jânio Quadros e João Goulart. Em 1963, através da Lei nº 1.194, de 11 de junho, o governador do Estado de Sergipe, João de Seixas Dória, autorizou a transferência dos estabelecimentos de ensino superior existentes no Estado para a futura Universidade Federal de Sergipe. A UFS começava, assim, a ser gestada.

É inegável que o Estado e a Igreja, esta representada, sobretudo, por Dom Luciano Duarte, uniram-se para a criação da Universidade Federal de Sergipe. As Faculdades então existentes e que se congregaram eram: Faculdade de Ciências Econômicas, Faculdade de Química, Faculdade de Direito (federalizada), Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (que ofertava os cursos de Filosofia, Letras Anglo-Germânicas, Matemática, Geografia, História e Pedagogia), Escola de Serviço Social e Faculdade de Medicina.

Pela letra do Decreto-Lei nº 269, de 28 de fevereiro de 1967, da lavra do presidente Castelo Branco, a Universidade Federal de Sergipe foi criada. Enfim, a 15 de maio de 1968, no governo do presidente Costa e Silva, depois de muitas marchas e contramarchas, a UFS foi solenemente instalada com natureza fundacional, como defendeu Dom Luciano, e cujo primeiro reitor foi o professor de Medicina, João Cardoso Nascimento Júnior.

Nunca se deverá negar a contribuição decisiva de Dom Luciano para a criação da Universidade Federal de Sergipe. Embora por muito tempo o patrulhamento ideológico esquerdista posicionou-se radicalmente contra Dom Luciano, cometendo injustiça contra ele, não haverá como apagar da UFS o nome deste homem da Igreja que nos deixou na última terça-feira, dia 29.

Há tempos, o CONSU aprovou o nome de Dom Luciano Duarte para a Biblioteca Central – BICEN. Tal aprovação não pôde ser efetivada por força de lei federal que impede nominar bens públicos imóveis com o nome de pessoas vivas. Agora, nada mais impede que a UFS efetive a homenagem a quem tanto lutou pela sua criação.
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* Reitor da Universidade Federal de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do site: ufs.br

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