Foto: Wellington Barreto/Agência Aracaju de Notícias
e
postada pelo blog 'SERGIPE...', para ilustrar o presente artigo
José Carlos Teixeira, de mecenas a político de
expressão nacional
Por Tarcísio Teixeira *
Falar de José Carlos Teixeira e de sua profícua vida é algo
que exige entender a história recente do nosso país e da iniciativa de produção
e divulgação da cultura, tanto no seu lado erudito quanto na sua feição
popular. Nascido na cidade de Itabaiana em 1936, a partir de 1939 passou a
residir em Aracaju, para onde seu pai, Oviedo Teixeira, se mudou com a família
para se instalar como um dos mais importantes comerciantes de tecidos da época.
Na juventude, começou a trabalhar com o pai na loja de
tecidos da família, atendendo a todo o povo sergipano. A vida estudantil, com
participação nos grêmios, fez com que José Carlos fosse convidado a participar
da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – SCAS -, fundada por Feltre
Bezerra, assumindo o cargo de presidente. Tinha menos de 22 anos, passando a
produzir, localmente, espetáculos que, até então, só podiam ser assistidos no
eixo Rio-São Paulo.
Para diminuir os custos de produção, José Carlos hospedava
na casa do seu pai os artistas que vinham se apresentar aqui. Após seu
casamento, em 1958, passou a hospedá-los em sua própria casa e ainda na casa do
pai. Durante este período, foram inúmeros os espetáculos de música erudita, contando
com quartetos, orquestras e outras formações, além de peças de teatro, que
abrilhantavam a cena cultural aracajuana.
Apesar de Oviedo Teixeira desejar que José Carlos assumisse
com ele o comando da empresa, a veia política se manifestou de forma muito mais
pujante, talvez por uma admiração precoce do seu tio Sílvio Teixeira, que foi
prefeito de Itabaiana e deputado estadual, tendo assumido a Presidência da
Assembleia Legislativa.
Esta atuação cultural significativa fez com que fosse
convidado pelo senador Júlio Leite, líder do Partido Republicano – PR -, para
se candidatar a deputado estadual. Quando o líder do Partido Social Democrático
–PSD -, senador Leite Neto, soube do convite do Partido Republicano, tomou a
iniciativa de convidá-lo para concorrer ao mandato de deputado federal. Ambos
os partidos atuavam na oposição à UDN, partido do então governador Luiz Garcia.
José Carlos optou por se filiar ao PSD e concorrer a
deputado federal, apesar de não conseguir, inicialmente, o apoio de Oviedo Teixeira,
que não o queria envolvido na política e sim se preparando para sucedê-lo à
frente dos negócios. Quem demoveu seu Oviedo de sua posição, fazendo-o apoiar
José Carlos, foi Luiz Teixeira, irmão de José Carlos.
A partir daí, Oviedo Teixeira entrou na campanha, pedindo
voto para o filho a todos os comerciantes e clientes. Oviedo Teixeira tinha uma
inserção muito grande na sociedade sergipana e foi decisivo na eleição de José
Carlos, fazendo-o o segundo candidato mais votado na eleição, tendo assumido o
mandato em 1962 e sido reeleito em 1966.
Com a eleição, José Carlos mudou-se para Brasília, sem
esquecer da SCAS e do projeto que vira frutificar por seu trabalho intenso em
prol da divulgação cultural em sua terra natal. Seu sucessor na Presidência da SCAS
foi o professor João Costa, que passou a contar com a colaboração de José
Carlos, agora na condição de deputado federal.
Neste momento surgiu a ideia de construir um prédio que, com
o aluguel de salas, possibilitasse a sobrevivência da SCAS. José Carlos foi
fundamental neste projeto, fazendo destinações de verba do orçamento da União
para bancar as obras. O projeto tornou-se realidade e ainda hoje pode ser visto
na esquina da Rua São Cristóvão com a Av. Rio Branco, no centro da cidade de
Aracaju.
Iniciando sua vida política, continuou ligado ao senador
Leite Neto, que presidia no Congresso Nacional a comissão responsável pela
aprovação do Orçamento da União. Desta forma, o prestígio de José Carlos
aumentava, sendo-lhe abertas as portas de todos os Ministérios e os contatos
com políticos de todos os Estados da federação, independentemente de seus
matizes político-ideológicos.
Com a morte de Leite Neto, José Carlos continuou sua atuação
parlamentar com muito empenho e seguindo a linha de ação de seu padrinho
político, aumentando ainda mais o seu prestígio no meio político. Quando Jânio
Quadros renunciou à Presidência do Brasil e assumiu João Goulart, José Carlos
se aliou ao novo presidente, mantendo sua atividade parlamentar enquanto
diversos companheiros assumiam Ministérios. Desta forma, seu prestígio aumentou
e se consolidou, fazendo com que os políticos locais sempre acorressem ao seu
prestígio para conseguir verbas e soluções para os problemas locais.
Com a Revolução de 31 de março de 1964, João Goulart foi
deposto e José Carlos foi para a oposição ao governo, arrastando não só Oviêdo
Teixeira como todos os irmãos. Em 1966 fundou o MDB em Sergipe. Face às
dificuldades para conseguir a adesão de pessoas que se candidatassem pelo MDB,
Oviêdo Teixeira foi candidato a senador em 1966, e como a chapa tinha de ter
suplente e ninguém aceitava se candidatar pelo partido, a busca da viabilidade
da chapa acabou com o convite ao médico Lucilo da Costa Pinto, recém-chegado do
Rio de Janeiro na véspera do prazo final do registro.
A mesma situação se repetiu na eleição de 1970, porém foi
mais fácil de arrumar o suplente, pois Humberto Mandarino aceitou compor a
chapa com Oviedo Teixeira como candidato ao Senado. Mesmo em 1974, quando o
médico Gilvan Rocha se candidatou ao Senado, houve dificuldade de conseguir um
candidato a suplente para compor a chapa, sendo chamado o secretário do partido,
Antônio Cabral Tavares, que só aceitou até que se arrumasse quem estivesse
disposto a concorrer. Como não apareceu ninguém, ele acabou sendo eleito
suplente de Gilvan Rocha.
Em 1974, Oviedo Teixeira foi eleito deputado estadual e José
Carlos Teixeira deputado federal. Mas como o perfil de Oviedo era da amizade e
da conciliação, desistiu de atuar na política como candidato. Mesmo se
candidatando à reeleição, começou a pedir voto para os candidatos do partido e
não para ele. Durante este período da ditadura militar, José Carlos foi o único
parlamentar sergipano a denunciar, no Congresso Nacional, as prisões e as
torturas do regime.
Entre tantos que tiveram sua defesa enérgica, destaca-se um
casal de conterrâneos que participavam de um movimento de guerrilha, tendo sido
presos e estavam sendo torturados em Recife. Já era praxe que estas prisões, se
não fossem denunciadas publicamente, acabariam em sessões contínuas de tortura
e até de assassinato. Um dos parentes do casal, que trabalhava no governo municipal,
que era pró-ditadura, não vendo possibilidade de manifestação entre seus pares,
recorreu a José Carlos para que ele denunciasse a prisão, de modo a preservar a
vida e integridade deste casal.
José Carlos viajou às pressas para Brasília, fez a denúncia
no Congresso Nacional, sendo registrado o pronunciamento nos anais da casa, e o
regime abrandou o tratamento aos presos, tendo, posteriormente, libertado o
casal. Inúmeros são os casos onde a coragem e a sua particular vinculação às
liberdades democráticas, efetivamente, salvaram vidas, como no caso da Operação
Cajueiro.
Com a redemocratização do país, José Carlos cerrou fileiras
com Tancredo Neves, tendo, inclusive a oportunidade de oferecer um jantar para
o candidato a presidente e vice-presidente na residência desse seu irmão aqui.
Com o falecimento do presidente Tancredo Neves, e o prestígio adquirido nas
lutas por democracia, o grupo político o indicou para assumir o mandato de
prefeito de Aracaju, por apenas 7 meses, mas de uma administração extremamente
transformadora para a capital de seu Estado e reconhecida pela população. Para
sucedê-lo, foi eleito em 1985 Jackson Barreto, correligionário e uma nova
liderança que surgia no cenário político do Estado.
Em 1986, nas primeiras eleições diretas para governador após
o período de exceção, José Carlos resolveu candidatar-se a governador do Estado
de Sergipe. Naquele momento, as lideranças do PMDB ficaram divididas entre os
dois candidatos: José Carlos Teixeira, pelo PMDB, e Antônio Carlos Valadares,
pelo PFL. José Carlos Teixeira e Jackson Barreto eram as duas mais importantes
lideranças da época. Nesta eleição, José Carlos foi derrotado, de modo que
Sergipe foi o único Estado em que a candidatura do PMDB não saiu vitoriosa. Com
o resultado das eleições desfavorável, o presidente José Sarney o nomeou
diretor de Captação da Caixa Econômica Federal.
Na eleição seguinte, a de 1990, José Carlos voltou à cena
política, sendo candidato a vice-governador na chapa que elegeu João Alves
Filho para o período de 1991-1995. A última participação de José Carlos
Teixeira na política aconteceu na nomeação dele, pelo governador João Alves
Filho, no período de 2003-2007, para a Secretaria da Cultura.
Nesta última missão, voltando às origens da sua vida, José
Carlos atuou com a energia de um jovem, promovendo várias apresentações
artísticas e a viabilização da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Seu envolvimento
com a cultura era tão grande que, muitas vezes, ele empregava recursos próprios
nas iniciativas da Secretaria de Estado da Cultura, além de solicitar
patrocínio aos amigos e irmãos empresários.
Mas José Carlos sempre pôs acima de tudo os interesses de
nosso povo e das instituições democráticas, relevando toda e qualquer atuação
em momentos de discordância. Quando, em 2014, Jackson Barreto foi eleito
governador do Estado, José Carlos fez questão de comparecer à posse dele e se
congratular pela vitória, desejando um governo que fosse a reafirmação de toda
a trajetória política deles.
Na noite de seu velório, uma composição reduzida da
Orquestra Sinfônica de Sergipe lhe prestou uma homenagem que jamais será
esquecida por seus familiares e amigos presentes. Em um momento em que se fala
tanto em defesa dos direitos humanos, igualdade das mais diversas formas e que
se caracteriza por uma liberdade de expressão ampla, é sempre bom recordar que
nem sempre foi assim.
E, nos momentos em que estas liberdades minguaram, é sempre
bom lembrar daqueles que tiveram coragem de se insurgir contra o poder para que
o nosso povo pudesse vivenciar o verdadeiro espírito da democracia: a
tolerância e o respeito à diversidade como forma de convivência; a discussão
pública dos problemas que nos afligem; a expectativa de sempre poder lidar com
os problemas, grandes ou pequenos, na esperança da honestidade e da justiça.
* É empresário, mantenedor, juntamente com o irmão Luiz
Teixeira, da Norcon-Rossi e ex-presidente da Ademi e Sinduscon de Sergipe.
Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br
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