sexta-feira, 1 de junho de 2018

O Agrônomo e o Professor


Publicado originalmente no Facebook/JorgeNascimento Carvalho, em 31/05/2018

O Agrônomo e o Professor

Por Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento

Durante dezesseis anos o professor Laonte Gama da Silva dirigiu a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, no Estado de Sergipe. Neste ano de 2018 ele completa 80 anos anos de idade. Sou autor de alguns trabalhos que objetivam analisar a trajetória de vida deste engenheiro agrônomo, nascido em Aracaju no dia 16 de dezembro de 1938, a partir das suas memórias e também dos depoimentos de estudantes, professores, agrônomos e outros profissionais que com ele conviveram. Nesses trabalhos, serviram como fontes as entrevistas obtidas pelo autor deste estudo e os documentos existentes nos arquivos da Escola Agrotécnica, nos quais é possível captar a atmosfera dos debates e embates do ensino agrícola no Brasil, durante as décadas de 1960 a 1990. Os registros documentais e o discurso dos entrevistados permitem a verificação das práticas educativas, do cotidiano escolar e das representações que estudantes e professores faziam acerca do ensino técnico agrícola e a responsabilidade da qual se achavam imbuídos como artífices da difusão dos padrões modernizadores da produção agrícola brasileira. As análises que realizei apanham fundamentalmente as contribuições de Norbert Elias, Roger Chartier, Denice Catani e Viñao Frago. Filho do cearense João Gama da Silva, Laonte Gama da Silva nasceu 27 anos após a chegada da sua família a Sergipe, que veio acompanhando o seu tio avô, D. José Tomaz Gomes da Silva, primeiro bispo de Aracaju. A sua mãe, Zalda Barreto Gama da Silva, era uma sergipana nascida no município de Estância, filha de um pastor protestante, o tenente Aquino. A partir dos nove anos de idade, após a morte da sua mãe, foi aluno interno do Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Aracaju, cursou o ensino médio no Atheneu Sergipense e ingressou na Escola Federal de Agronomia do Nordeste, em João Pessoa, na Paraíba, onde fez o curso de engenheiro agrônomo. Laonte Gama da Silva ingressou na Escola Agrotécnica Benjamin Constant em 1961, como engenheiro agrônomo e professor, tendo assistido a sua transformação em Colégio Agrícola Benjamin Constant, no ano de 1964. Quando, em 1979, a instituição foi transformada em Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, ele era o seu diretor, função que ocupava desde o ano de 1966. As entrevistas realizadas com Laonte Gama e os demais depoentes foram semi-estruturadas e obedeceram a um roteiro previamente elaborado, que serviu como guia com o objetivo de direcionar a conversa. Porém, algumas vezes, a entrevista não seguiu rigidamente o roteiro estabelecido e a conversa transcorreu com mais liberdade. Considerando os estudos de Norbert Elias, essa incursão à memória dos entrevistados considera que conceitos como indivíduo e sociedade não dizem respeito a dois objetos que existiram separadamente, mas a aspectos diferentes, embora inseparáveis, dos mesmos seres humanos. Daí a fertilidade da trajetória de vida de Laonte Gama da Silva para o estudo de alguns aspectos da história do ensino agrícola no Brasil. Indivíduo e sociedade se revestem do caráter de processos e não há a menor necessidade, na elaboração de teorias sobre seres humanos, de abstrair-se este processo-caráter. Na verdade, é indispensável que o conceito de processo seja incluído em teorias que tratem de seres humanos.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho

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