Publicado originalmente no Facebook/JorgeNascimento Carvalho,
em 31/05/2018
O Agrônomo e o Professor
Por Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
Durante dezesseis anos o professor Laonte Gama da Silva
dirigiu a Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão, no Estado de Sergipe.
Neste ano de 2018 ele completa 80 anos anos de idade. Sou autor de alguns
trabalhos que objetivam analisar a trajetória de vida deste engenheiro
agrônomo, nascido em Aracaju no dia 16 de dezembro de 1938, a partir das suas
memórias e também dos depoimentos de estudantes, professores, agrônomos e
outros profissionais que com ele conviveram. Nesses trabalhos, serviram como
fontes as entrevistas obtidas pelo autor deste estudo e os documentos
existentes nos arquivos da Escola Agrotécnica, nos quais é possível captar a
atmosfera dos debates e embates do ensino agrícola no Brasil, durante as
décadas de 1960 a 1990. Os registros documentais e o discurso dos entrevistados
permitem a verificação das práticas educativas, do cotidiano escolar e das
representações que estudantes e professores faziam acerca do ensino técnico
agrícola e a responsabilidade da qual se achavam imbuídos como artífices da
difusão dos padrões modernizadores da produção agrícola brasileira. As análises
que realizei apanham fundamentalmente as contribuições de Norbert Elias, Roger
Chartier, Denice Catani e Viñao Frago. Filho do cearense João Gama da Silva,
Laonte Gama da Silva nasceu 27 anos após a chegada da sua família a Sergipe,
que veio acompanhando o seu tio avô, D. José Tomaz Gomes da Silva, primeiro
bispo de Aracaju. A sua mãe, Zalda Barreto Gama da Silva, era uma sergipana
nascida no município de Estância, filha de um pastor protestante, o tenente
Aquino. A partir dos nove anos de idade, após a morte da sua mãe, foi aluno
interno do Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, em Aracaju, cursou o
ensino médio no Atheneu Sergipense e ingressou na Escola Federal de Agronomia
do Nordeste, em João Pessoa, na Paraíba, onde fez o curso de engenheiro
agrônomo. Laonte Gama da Silva ingressou na Escola Agrotécnica Benjamin
Constant em 1961, como engenheiro agrônomo e professor, tendo assistido a sua
transformação em Colégio Agrícola Benjamin Constant, no ano de 1964. Quando, em
1979, a instituição foi transformada em Escola Agrotécnica Federal de São
Cristóvão, ele era o seu diretor, função que ocupava desde o ano de 1966. As
entrevistas realizadas com Laonte Gama e os demais depoentes foram
semi-estruturadas e obedeceram a um roteiro previamente elaborado, que serviu
como guia com o objetivo de direcionar a conversa. Porém, algumas vezes, a
entrevista não seguiu rigidamente o roteiro estabelecido e a conversa
transcorreu com mais liberdade. Considerando os estudos de Norbert Elias, essa
incursão à memória dos entrevistados considera que conceitos como indivíduo e
sociedade não dizem respeito a dois objetos que existiram separadamente, mas a
aspectos diferentes, embora inseparáveis, dos mesmos seres humanos. Daí a
fertilidade da trajetória de vida de Laonte Gama da Silva para o estudo de
alguns aspectos da história do ensino agrícola no Brasil. Indivíduo e sociedade
se revestem do caráter de processos e não há a menor necessidade, na elaboração
de teorias sobre seres humanos, de abstrair-se este processo-caráter. Na
verdade, é indispensável que o conceito de processo seja incluído em teorias
que tratem de seres humanos.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento
Carvalho
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