Foto reproduzida do site da PMA e postado no blog
para ilustrar o presente artigo
Texto publicado originalmente no blog Luiz Eduardo Costa
José Carlos Teixeira, O Homem e a Música
Por Luiz Eduardo Costa
Era mês de junho, já próximo do São João. Nas noites quase bucólicas de
Aracaju, naquela década dos cinquenta, espoucavam vez por outra foguetes, e o
som era ouvido por toda a cidade.
No
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, a Sociedade de Cultura Artística,
SCAS, promovia um concerto realizado por um pianista polonês. Era um
extraordinário intérprete de Chopin, seu conterrâneo, tocava uma Polonaise,
quando se ouviu um foguete. O pianista tremeu as mãos, embaralhou-se, depois
outro foguete e ele agitou-se como se estivesse em transe. O professor Felte
Bezerra foi socorrê-lo, o auditório estava lotado e as pessoas ansiosas se
perguntavam o que teria ocorrido.
Um jovem levanta-se da primeira
fila onde estava, pede silêncio e começa a explicar o que sucedera. As pessoas
ficam sabendo, então, que o pianista era um traumatizado pela guerra e poderia
ter tido aquele acesso em consequência dos estouros. Pediu muitas desculpas e
anunciou que o espetáculo estava suspenso e as pessoas receberiam de volta o
que pagaram. O jovem era José Carlos Teixeira, que já se dedicava ao prazer de
toda sua vida: a música clássica. Talvez, sendo um melomano que não tocava
nenhum instrumento, resolveu então manejar o grande instrumento da política,
para realizar um outro sonho: ser protagonista de transformações.
José Carlos foi um referencial na política em dois tempos: na democracia
e no autoritarismo. Na democracia, empenhado em promover o avanço social, em
contribuir para retirar da letargia a morosa economia sergipana. No
autoritarismo, se colocando corajosamente a combatê-lo, a denunciar os abusos,
as violências, as perseguições. Um exemplo: deputado federal e até ameaçado de
cassação, José Carlos denunciou, em Brasília, as violências cometidas em
Sergipe, contra adversários do regime. Isso em 1976, quando havia censura e as
torturas que eram aqui praticadas não chegavam a ser notícia nos jornais. A ação
de Teixeira evitou que as barbaridades continuassem, ao que se afirmava na
época, praticadas por setores extremados militares, que queriam exagerar a
influência da esquerda, para dar pretextos ao maior endurecimento do regime e
prolongar a ditadura, quando já se anunciava a distensão.
A
melhor definição sobre José Carlos foi dada, ao pé do túmulo, pelo advogado,
ex-deputado federal e ex-vice-governador, Benedito Figueiredo, um dos
fundadores do MDB sergipano: “José Carlos Teixeira foi o pai de todos nós, de
toda uma geração de jovens que ele acolheu no partido e neles despertou o
entusiasmo pela vida pública e a intransigente defesa da democracia”.
Como
deputado federal, Prefeito de Aracaju, Secretário de Estado, Vice- Governador,
José Carlos foi sempre, em todas as etapas da sua vida, um devotado à cultura,
com ênfase sempre na música e, assim, ele construiu uma vida de protagonismo
marcante em diversos setores e, na política, deixou o melhor dos exemplos: a
honradez pessoal.
José
Carlos fez da vida uma ópera que ele compôs em diversos atos, sempre
majestosos.
Texto reproduzido do blogluizeduardocosta.com.br
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