Foto: César de Oliveira
Publicado originalmente no site Espaço Livre Noticias, em 30
de maio de 2018
José Carlos Teixeira e a resistência ao golpe militar de
1964
Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
José Carlos Teixeira morreu ontem, 29 de maio de 2018, em
sua residência, aos 82 anos de idade. Está sendo lembrado pelos cargos de
vice-governador, prefeito de Aracaju, secretário de Estado da Cultura, fundador
da Sociedade de Cultura Artística de Sergipe – SCAS, empresário e tantas outras
iniciativas que tomou ao longo da sua produtiva vida. Talvez, neste momento,
seja necessário lembrar uma outra iniciativa desta notável figura que marcou a vida
política brasileira, principalmente a dos sergipanos, durante a segunda metade
do século XX.
O golpe militar de 31 de março de 1964 depôs o presidente do
Brasil, João Goulart, e, em Sergipe, o governador João de Seixas Dória. O
Congresso Nacional sob pressão militar elegeu o marechal Humberto de Alencar
Castelo Branco para a Presidência da República. Castelo Branco governou
editando atos institucionais e banindo da vida pública os principais
adversários do novo regime. O governador de Sergipe, João de Seixas Dória, foi
preso na ilha de Fernando de Noronha, ao lado do governador de Pernambuco,
Miguel Arraes.
A partir do estabelecimento do bipartidarismo, com a edição
do ato institucional número dois, em 1965, as principais lideranças políticas
do Estado de Sergipe chamaram de conciliação as discussões que levaram a
fundar, em 1966, a Aliança Renovadora Nacional – Arena, reunindo tradicionais
adversários políticos em torno do partido que buscava sustentar a ditadura.
Antagonistas extremados concordaram em buscar fórmulas para a divisão do poder
estadual. Chefes políticos como Arnaldo Garcez, Dionísio Machado e Leandro
Maciel, ex-governadores do Estado, e outras lideranças como Augusto Franco,
Lourival Baptista e Manoel Cabral Machado, sentaram lado a lado para fundar a
Aliança Renovadora Nacional. Todos os deputados que tinham assento à Assembléia
Legislativa do Estado de Sergipe aderiram ao governo. A maior parte dos líderes
do antigo Partido Social Democrático – o PSD não teve dificuldade de se juntar
aos inimigos de ontem da antiga União Democrática Nacional – a UDN.
Foram poucas as lideranças políticas que resistiram ao
ambiente de pressão criado em Sergipe. Um dos mais importantes empresários de
Sergipe, Oviedo Teixeira concordou com a posição do seu filho, o jovem deputado
federal José Carlos Teixeira, de fundar o Movimento Democrático Brasileiro –
MDB em Sergipe. Era um gesto ousado para um deputado que ainda não havia
chegado aos 30 anos de idade e que se encontrava no exercício do seu primeiro
mandato parlamentar. Fora eleito a primeira vez pela legenda do extinto Partido
Social Democrático – o PSD e agora aceitava a tarefa de organizar em Sergipe o
partido que faria oposição à ditadura militar. Era o único parlamentar
sergipano a assumir tal posição, posto que toda a bancada federal e estadual
havia assumido a filiação ao partido governista, a Arena.
Não foi pequeno o de José Carlos Teixeira e dos demais
dirigentes do MDB, a fim de manter o partido organizado em Sergipe. O deputado
federal José Carlos Teixeira denunciou a pressão exercida pelo governo contra o
MDB e o uso da máquina pública para beneficiar a Arena no processo de
filiações.
O partido enfrentou percalços, resistiu e cresceu. Para
fortalecer o MDB, José Carlos Teixeira criou, em 1978, o Jornal de Sergipe,
buscando abrir espaços na mídia impressa uma vez que a maior parte dos veículos
tinha compromissos políticos e econômicos com os grupos de poder que ocupavam
espaços no Governo de Sergipe. O jornal teve suas instalações inauguradas no
dia 18 de fevereiro de 1978 e começou a circular no dia seguinte, o domingo, 19
de fevereiro. José Carlos Teixeira já tinha experiência como empresário do
setor e fora, em 1963, um dos proprietários do Sergipe Jornal, adquirido
posteriormente pela empresa Diários Associados, de Assis Chateubriand, e
transformado, em 1965, no jornal Diário de Aracaju.
A partir do golpe militar de 1964, instituiu-se eleição
indireta para presidente e vice-presidente da República. Com a edição do ato
institucional número três, em 1966, foram estabelecidas eleições indiretas para
os cargos de governador e vice-governador de Estado, prefeitos das capitais,
dos municípios considerados áreas de segurança nacional e das estâncias
hidrominerais. Em Sergipe, o único dos 74 municípios com tais características
foi Aracaju, capital do Estado.
O MDB teve dificuldades em Sergipe para compor a sua
primeira chapa e registrar os nomes dos candidatos. A adesão ao governo militar
era tamanha que naquelas eleições o maior problema da Arena para compor a chapa
era o excesso de candidatos. No Movimento Democrático Brasileiro, o problema
era inverso. O próprio Oviêdo Teixeira aceitou o lançamento do seu nome como
candidato ao Senado, tendo como suplente o médico Lucilo da Costa Pinto. A
lista de candidatos a deputado federal era encabeçada por José Carlos Teixeira,
Valter Batista e Ariosto Amado, que buscavam a reeleição. José Carlos Teixeira
depositava suas esperanças no eleitorado urbano, mais sensível a influência da
organização dos trabalhadores e das camadas médias, principalmente nas cidades
de Aracaju, Propriá, São Cristóvão, Estância e Neópolis nas quais o partido
acreditava obter êxito. Os arenistas, principalmente os ex-udenistas, estavam
preocupados com a movimentação de Oviedo Teixeira. Detentor de muito prestígio
ele era visto como um líder capaz de incorporar as insatisfações existentes em
face da animosidade, ainda não sepultada, de lideranças do antigo PSD que
resistiam ao nome do ex-governador Leandro Maciel, tradicional chefe da antiga
UDN e candidato ao senado pela Arena, apesar de conviverem agora,
ex-pessedistas e ex-udenistas, todos no mesmo partido – a Aliança Renovadora
Nacional.
O empresário Oviedo Teixeira foi derrotado pelo engenheiro
Leandro Maciel que conquistou a cadeira de Senador da República. Contudo, como
previam as lideranças da oposição, Oviedo foi o vencedor do pleito em Aracaju.
José Carlos Teixeira renovou o seu mandato de Deputado Federal. O partido
conquistou seis vagas de deputado estadual.
A história da resistência a ditadura é longa. José Carlos
Teixeira e outros democratas que se reuniram em torno da sua liderança, como
Jackson Barreto de Lima, dedicaram 20 anos de suas vidas (1964-1984) à luta em
defesa da democracia no Brasil. Este é o maior legado da memória de José Carlos
Teixeira, principalmente em dias tão sombrios quanto os que vivemos atualmente.
Texto e imagem reproduzidos do site: espacolivrenoticias.com.br
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