Publicado originalmente no Facebook/JorgeNascimento Carvalho,
em 04/06/2018
Encontros e desencontros com a professora Ada Augusta
Texto do Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
Acabei de receber a notícia da morte da professora Ada
Augusta Celestino Bezerra. Viuva de Elizeu Silva, deixou dois netos (Pedro e
Dimitri), dois filhos (Elizeu e Elisângela) e três irmãos (Augusto Bezerra,
Augusto Junior e Fabiano). A sua irmã mais velha, Heloísa, assistente social,
morreu alguns anos antes. Nascida no dia 25 de abril de 1949, com brilho
intelectual invulgar, Ada marcou o cenário do debate educacional em Sergipe
durante 47 anos consecutivos como professora, gestora educacional e pesquisadora.
Ada Augusta ingressou no ensino superior em 1968, na
primeira turma do curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe. Colou grau em 1971. No seu primeiro ano como estudante do ensino
superior testemunhou a incorporação da Faculdade de Filosofia pela Universidade
Federal, implantada no mesmo ano do seu ingresso. Na sua turma, conviveu com
nomes que marcariam o cenário intelectual da vida sergipana. Jovens que, como
ela, estavam matriculados naquela primeira turma: Angélica Vieira Donald, Ana
Maria Soares, Clara Angélica Porto, Evanda Maria dos Santos, Ester Alves de
Oliveira, Ione Pais, Gerson Vilas-Bôas, Janice de Oliveira Sales, Judite
Oliveira Aragão, Lílian Leal do Lago, Luci Ferreira de Andrade, Luíza
Nascimento Costa, Manoel Messias Porto, Maria José de Almeida Soares, Maria das
Graças Tavares, Maria Ivanda Bezerra de Sant’anna, Maria Lúcia Souza Ramos,
Nádia Fraga Vilas-Bôas, Vera Lúcia Sobral e Vera Lúcia Fontes. Essa turma teve
como professores nomes igualmente importantes: Juan José Rivas Pascua, João
Costa, Cacilda de Oliveira Barros, Maria Thétis Nunes, Dom Luciano José Cabral
Duarte e Maria Olga de Andrade.
Depois de colar grau, Ada trabalhou como Professora da
Faculdade Tiradentes, ministrando a disciplina Metodologia da Ciência. A partir
de 1974, tomou posse como Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade
Federal de Sergipe, ingressando no quadro docente da mesma instituição na
condição de professora de Administração Escolar, no curso de Pedagogia. Depois
de aposentada trabalhou como professora visitante da Universidade Estadual de
Feira de Santana e por último como professora e pesquisadora dos cursos de
Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Tiradentes.
Colou grau, mas nunca parou de estudar, fazendo uma rica
trajetória de formação. Concluiu o curso de Especialização em Metodologia do
Ensino Superior na própria UFS, em 1973; Especialização em Planejamento e
Administração de Sistemas Educacionais, pelo Instituto de Estudos Avançados em
Educação da Fundação Getúlio Vargas, em 1974; Mestre em Educação pelo mesmo
IESAE/FGV, em 1986; Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, em
1998; Pós-Doutorado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, em
2012.
Conheci Ada quando inciei minhas atividades como
profissional de Educação, no final dos anos 70 do século XX. Eu, um jovem
professor aspirando a carreira de docente e pesquisador da Universidade Federal
de Sergipe, e Ada já profissional consolidada com larga credibilidade e
reconhecida competência. Com ela aprendi, dela divergi em diferentes situações.
Estivemos de mãos dadas na campanha eleitoral de 1985, após a queda da ditadura
militar, quando das primeiras eleições para prefeito das capitais. Fizemos a
campanha de Jackson Barreto de Lima. Após as eleições, fui designado Secretário
Municipal de Educação, aos 29 anos de idade. Ada fez dura oposição ao meu
período como gestor, nos anos de 1986 e 1987.
Em 1989, a situação se inverteu. Wellington Paixão se elegeu
prefeito de Aracaju e nomeou a professora Ada Augusta para o mesmo cargo que eu
havia exercido: Secretário Municipal de Educação. Ela se investiu no posto com
brilho e competência durante quatro anos. Eu era, em 1989, fundador e primeiro
presidente do Sindicato dos Profissionais de Ensino do Município de Aracaju –
Sindipema. Tinha como companheiros de diretoria importantes nomes como Diomedes
Silva, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, Rosângela Santana Santos, Betisabel
Vilar, José Ítalo Augusto Sobreira Correia e Adelmo Menezes, dentre outros.
Fizemos oposição dura e rigorosa a gestão da professora Ada. Lideramos, em
1989, uma greve longa e muito difícil contra a então titular da Secretaria da
Educação. Naquele processo Ada deu a todos nós, grevistas, fundamentalmente uma
lição de equilíbrio, ponderação e temperança. Aprendi muito.
Em 1995, regressei do meu período de Doutorado Sanduiche,
como bolsista na Johan Wolfgang Göethe Universität, em Frankfurt, na Alemanha,
onde permaneci por quase dois anos. Fui trabalhar como consultor da Secretaria
de Estado da Educação. À época, Luiz Antônio Barreto, o Secretário, montou um
grupo especial para desenhar e implementar dois programas importantes: o
Programa de Qualificação Docente – PQD e o projeto de criação da Universidade
Estadual, com o qual ele sonhava. Do grupo, coordenado pelo professor Luiz
Alberto dos Santos, participavam Ada, Consuelo Maia e Eduardo Ubirajara. Eu
discutia permanentemente as ideias centrais da gestão com Luiz Antônio e fazia
muita interlocução com Luiz Alberto e Ada Augusta. O PQD foi um sucesso e em
quatro anos formou em nível superior quase três mil professores leigos da
Educação Básica sergipana que atuavam em escolas estaduais e municipais. A
Universidade Estadual nunca foi implantada e virou um desses projetos
concebidos que nunca se transformam em realidade. Mas, as ideias de muitas
pessoas estavam ali presentes. Em tudo era muito visível o gênio de Ada ao lado
de outros tantos que nem sempre concordavam com ela, como eu e Luiz Alberto.
Concordando ou divergindo, o fato é que foram muitas as
lições do ofício de professor e pesquisador deixadas por Ada Augusta. Ela se
impôs diante de todos nós pela competência, pela capacidade de trabalho, pelo
modo como sabia formar equipes e liderar. O fato é que, todos os profissionais da
Educação que vivemos e trabalhamos em Sergipe temos consciência que ficamos
hoje muito mais pobres.
Siga em paz, cara amiga Ada Augusta. Siga em paz, querida
mestra. Dos encontros e desencontros, ficam as suas lições, o seu ensinamento.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento
Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário