Publicado originalmente no site F5 News, em 16/08/2017.
Marcas da guerra: 75 anos do ataque alemão em Sergipe
Por Márcio Rocha
Há 75 anos, em 16 de agosto de 1942, as águas da praia do
Robalo amanheceram com um tom carmesim, depois de uma tragédia sem precedentes
que manchou a história sergipana e de seu povo. Três navios brasileiros foram
destruídos na costa sergipana, após um ataque a torpedos feito por um submarino
alemão que navegava pela costa brasileira.
No total das 1.051 pessoas que
morreram nos ataques navais no Brasil, país que havia declarado sua
neutralidade até o incidente em Sergipe, 551 perderam a vida na costa
sergipana. Os ataques do submarino alemão U-507 levaram o país a entrar em
estado de beligerância, consequentemente à declaração de guerra contra o
“Eixo”, composto por alemães sob o comando de Hitler, italianos comandados por
Mussolini e japoneses que tinham seu poderio bélico coordenado por Hideki Tojo.
O ataque dos U-boots, de acordo com o historiador Otávio Arruda, deixou
centenas de mortos, dezenas de sobreviventes amedrontados e um clima latente de
xenofobia contra imigrantes de origem dos países que tentavam dominar o mundo.
Dos navios Bapendi (*), Aníbal Benévolo e Araraquara, não restaram mais que
destroços e corpos que eram trazidos à praia pela força da maré, juntamente com
poucos sobreviventes. Os navios eram de origem mercante e não tinham nada a ver
com a guerra, pondo os alemães comandados por Harro Scacht fim a 551 vidas de
seres inocentes. Parte desses homens se encontram em solo sergipano, no pouco
lembrado Cemitério dos Náufragos (foto), na rodovia Inácio Barbosa, local onde
a maioria dos corpos dos marinheiros foi encontrada.
O clima em Aracaju era de
medo, pois o Brasil não estava em guerra, mas enfrentava um temor presente,
porém oculto. Os pouco menos de 100 mil habitantes, segundo informações da
época, viviam numa situação de inquietude. De acordo com o historiador Dilton
Maynard, Aracaju foi uma das poucas cidades do continente americano que
sofreram a consequência direta da guerra, com o ataque aos navios.
Comoção
Um
navio, em especial, o Aníbal Benévolo, deixou marcas ainda maiores na memória
dos aracajuanos. A embarcação iria aportar na capital sergipana, tendo sua
tripulação composta por muitos moradores da cidade. Todos os marinheiros
sergipanos morreram no ataque do U-507, o que causou uma grande comoção na
cidade, mantendo um clima de tristeza, luto, mas com muita apreensão.
Medidas
foram tomadas para evitar que os alemães desembarcassem em Aracaju. Segundo
Armando Andrade, que tinha 13 anos na época, foi instituído toque de recolher,
o corte de energia elétrica, em caso de invasão à noite, patrulhas por parte de
civis e a proibição da navegação nos rios sergipanos, além da não devastação
dos manguezais, que serviam de barreira natural para impedir o contato visual
da Kriegsmarine com a cidade.
Destruição
Em mais dois dias, o U-507 ainda
afundaria mais três navios no mar brasileiro - desaparecendo por meses, até ser
destruído no estado do Piauí, em 13 de janeiro de 1943, por um avião da USAF,
Força Aérea dos Estados Unidos, de acordo com o historiador Arthur Saldanha.
O
ataque aos navios na costa sergipana motivou o então presidente Getúlio Vargas
a atender ao clamor popular e declarar guerra contra o Eixo. Entretanto, houve
a demora, pois já haviam sido afundados 21 navios da Marinha Mercante
Brasileira, antes da declaração de guerra, que somente aconteceu após o ataque
em águas sergipanas.
(*) Também registrado com os nomes de Baependi e Baipendy em
jornais da época.
Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br
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