quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Marcas da guerra: 75 anos do ataque alemão em Sergipe


Publicado originalmente no site F5 News, em 16/08/2017.

Marcas da guerra: 75 anos do ataque alemão em Sergipe
Por Márcio Rocha

Há 75 anos, em 16 de agosto de 1942, as águas da praia do Robalo amanheceram com um tom carmesim, depois de uma tragédia sem precedentes que manchou a história sergipana e de seu povo. Três navios brasileiros foram destruídos na costa sergipana, após um ataque a torpedos feito por um submarino alemão que navegava pela costa brasileira. 

No total das 1.051 pessoas que morreram nos ataques navais no Brasil, país que havia declarado sua neutralidade até o incidente em Sergipe, 551 perderam a vida na costa sergipana. Os ataques do submarino alemão U-507 levaram o país a entrar em estado de beligerância, consequentemente à declaração de guerra contra o “Eixo”, composto por alemães sob o comando de Hitler, italianos comandados por Mussolini e japoneses que tinham seu poderio bélico coordenado por Hideki Tojo. O ataque dos U-boots, de acordo com o historiador Otávio Arruda, deixou centenas de mortos, dezenas de sobreviventes amedrontados e um clima latente de xenofobia contra imigrantes de origem dos países que tentavam dominar o mundo. 

Dos navios Bapendi (*), Aníbal Benévolo e Araraquara, não restaram mais que destroços e corpos que eram trazidos à praia pela força da maré, juntamente com poucos sobreviventes. Os navios eram de origem mercante e não tinham nada a ver com a guerra, pondo os alemães comandados por Harro Scacht fim a 551 vidas de seres inocentes. Parte desses homens se encontram em solo sergipano, no pouco lembrado Cemitério dos Náufragos (foto), na rodovia Inácio Barbosa, local onde a maioria dos corpos dos marinheiros foi encontrada. 

O clima em Aracaju era de medo, pois o Brasil não estava em guerra, mas enfrentava um temor presente, porém oculto. Os pouco menos de 100 mil habitantes, segundo informações da época, viviam numa situação de inquietude. De acordo com o historiador Dilton Maynard, Aracaju foi uma das poucas cidades do continente americano que sofreram a consequência direta da guerra, com o ataque aos navios.

Comoção 

Um navio, em especial, o Aníbal Benévolo, deixou marcas ainda maiores na memória dos aracajuanos. A embarcação iria aportar na capital sergipana, tendo sua tripulação composta por muitos moradores da cidade. Todos os marinheiros sergipanos morreram no ataque do U-507, o que causou uma grande comoção na cidade, mantendo um clima de tristeza, luto, mas com muita apreensão.

Medidas foram tomadas para evitar que os alemães desembarcassem em Aracaju. Segundo Armando Andrade, que tinha 13 anos na época, foi instituído toque de recolher, o corte de energia elétrica, em caso de invasão à noite, patrulhas por parte de civis e a proibição da navegação nos rios sergipanos, além da não devastação dos manguezais, que serviam de barreira natural para impedir o contato visual da Kriegsmarine com a cidade.

Destruição

Em mais dois dias, o U-507 ainda afundaria mais três navios no mar brasileiro - desaparecendo por meses, até ser destruído no estado do Piauí, em 13 de janeiro de 1943, por um avião da USAF, Força Aérea dos Estados Unidos, de acordo com o historiador Arthur Saldanha.

O ataque aos navios na costa sergipana motivou o então presidente Getúlio Vargas a atender ao clamor popular e declarar guerra contra o Eixo. Entretanto, houve a demora, pois já haviam sido afundados 21 navios da Marinha Mercante Brasileira, antes da declaração de guerra, que somente aconteceu após o ataque em águas sergipanas.

(*) Também registrado com os nomes de Baependi e Baipendy em jornais da época.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

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