Juciara interpretou uma índia na quadrilha.
Andrew conta que vive o ano inteiro em função das apresentações.
Fotos: Felipe Goettenauer.
Publicado originalmente no site da PMA, em 27/06/2017.
Festejos da Rua São João mantêm viva a tradição das
quadrilhas juninas
A história conta que as quadrilhas surgiram por volta do
século XVIII, lá em Paris, como uma dança de salão da elite. No Brasil, ela
chegou no período da Regência e tomou as cortes do país. Porém, se alguém pedir
para um nordestino contar como é uma quadrilha, qualquer um poderá acreditar
que ela nasceu no Nordeste. Se a conversa for com algum sergipano, pode até
dizer, que as quadrilhas nasceram na Rua São João, no bairro Santo Antônio,
tamanha é a adoração que se tem por elas na região.
Há 107 anos, quando se deu início a festa da Rua São João,
as quadrilhas têm espaço mais do que garantido e são presenças ilustres como
principais atrações. As cores, o balanço das roupas, as batidas de pés e de
mãos que dão ritmo, as frases soadas em tons altos como gritos de guerra, o som
autêntico do xote, do xaxado e do baião, todos esses componentes fazem parte de
uma pequena parcela do que representam as quadrilhas. Para quem apenas admira, é o bastante para
causar encantamento suficiente para levar para o restante do ano.
Foi esse encantamento que levou dona Tereza Santos, de 55
anos, moradora do bairro América, até a Rua São João. Apreciadora de um bom
forró, ela saiu de casa, colocou uma roupa nos moldes juninos e seguiu para a
festa. Admirada com a beleza da quadrilha que avistou assim que chegou, ela
tratou de puxar uma cadeira e se posicionou em um ponto estratégico.
"Cheguei até cedo para ver as quadrilhas. É muito bonito ver como elas
acontecem. Parece tão fácil dançar, mas só parece mesmo. Deve ser um esforço tão
grande para fazer uma dança tão bem feita. A gente fica até meio
deslumbrada", contou.
Noel Santana, de 79 anos, é um daqueles que entende bem do
assunto quadrilha. Há anos envolvido nessa área, ele hoje só aprecia, mas, não
deixa de dar sua opinião sobre cada detalhe. "Sempre que posso, vou aos
concursos de quadrilha. Houve um tempo em que achei que a tradição fosse se
acabar, mas, quando vejo as festas da Rua São João ainda valorizando essa
riqueza que temos, tenho a certeza de que vai durar ainda muito anos. É uma das
nossas maiores expressões culturais, sem dúvida", afirmou.
Há 15 anos Luiz Carlos Moura, de 35, é integrante de uma
quadrilha, porém, foi à festa da Rua São João para prestigiar outros grupos.
Para ele, Sergipe respira quadrilha não só em junho. "Quem faz quadrilha
se prepara o ano inteiro praticamente e , todas as vezes que vejo uma se
apresentando, tenho mais certeza de que é um dos maiores bens culturais que nós
temos. Na Rua São João é bonito ver que essa tradição é mantida e valorizada",
ressaltou.
Dia Nacional do Quadrilheiro.
Quem tem a oportunidade de ver a apresentação das quadrilhas
juninas, se encanta com a quantidade de efeitos que elas são capazes de
produzir para os olhos e para a alma. Para quem tem na quadrilha uma fonte de
vida, como os quadrilheiros, junho é a época mais esperada do ano. Foi pensando
naqueles que tanto se dedicam à arte das quadrilhas que, em março de 2011, a
Lei 12.390/11 instituiu o dia 27 de junho como o Dia Nacional do Quadrilheiro
Junino.
Juciara da Silva é uma das milhares de quadrilheiras
espalhadas Brasil à fora e, neste ano, interpretou uma índia na apresentação da
quadrilha Meu Xodó, que falou sobre a preservação das florestas. Há sete anos
ela muda de personagem, de roupa e, durante todo o mês de junho se dedica
exclusivamente à quadrilha. "Começo me preparando em outubro do ano
anterior e não paro mais. Temos muitas dificuldades, mas, todas as vezes que me
apresento, me recordo os motivos que me trouxeram até aqui. Eu sinto como se eu
respirasse quadrilha e isso é o que me traz satisfação", ressaltou ao
término de mais uma apresentação.
O seu par na quadrilha, Andrew Moura, é dançarino quando não
está na quadrilha, mas, confessa, é nela que ele se sente realizado. "Há
12 anos eu me dedico à quadrilha, vivo para isso o ano inteiro. Quadrilha é
muito mais do que ter jeito para dançar, quadrilha é uma questão de amor,
porque só com amor se consegue transmitir a grandeza que é essa tradição que
precisa ser mantida porque faz parte da nossa história", reforçou.
Componente da quadrilha Asa Branca, de Simão Dias, Yuri
Henrique, de 24 anos, tem a quadrilha como a sua única ocupação e caso de amor.
"Me dedico a ela há 17 anos da minha vida e sinto que é o que sei fazer de
melhor, afinal, é a coisa que mais me dá alegria. Tenho um prazer enorme a cada
junho que chega, mas sabendo da rotina de sair às 13h e voltar para casa só de
madrugada e tantas outras dificuldades. Tudo vale a pena", completou.
Com apenas 13 anos, Joyce Menezes descobriu há dois anos que
queria seguir como quadrilheira. Também integrante da quadrilha de Simão Dias,
ela se enxerga dançando quadrilha no futuro. "É claro que é muito bom
viajar para vários lugares com a quadrilha, conhecer gente nova, mas, não foi
isso que me fez entrar. Sempre me encantei quando eu via as quadrilhas e sentia
o coração bater rápido e era como se algo me chamasse para fazer isso e não me
vejo de outra forma mais na frente. Posso até ter outra profissão, mas a
quadrilha eu vou levar junto", vislumbrou.
Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br
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